segunda-feira, 13 de julho de 2009

Carma Ocidental - 57. A permanência dos EUA

Desde que a guerra contra a pobreza começou em 1965, os governos federal, estaduais e locais gastaram mais de 5,4 trilhões lutando contra a pobreza neste país. Quanto dinheiro vem a ser US$5,4 trilhões? São 70 por cento a mais que o valor do custo da II Guerra Mundial. Com US$5,4 trilhões você pode comprar todas as 500 empresas mais bem-sucedidas, e todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos. Já a taxa de pobreza está realmente mais alta hoje [1996] do que em 1965.
PIPES, 2001: 328
Desde sempre a "guerra contra a pobreza" é apenas justificativa para os governantes extorquirem dinheiro da produção, em proveito pessoal:
A nova lei redigida por Edwin Chadwik, ex-secretário particular de Jeremy Bentham, e aprovada quase sem discórdia, refletia de modo claro a idéia burguesa e liberal sobre o propósito de 'alcançar o maior número defelicidade para o maior número de pessoas'. As depressões econômicas dadécada de 1840 mostraram ser falsa essa idéias e arruinaram os planos dos cuidadores das leis dos pobres. Novamente instituíram os donativos e novamente aumentaram os impostos".
BURNS: 561.
"O período em que o welfare state se fortaleceu, de meados da década de 1970 até o presente, também foi aquele durante o qual os níveis de pobreza (relativa) aumentaram na maioria das sociedades industrializadas." (GIDDENS, A. 1996: 164)
Muitas das reformas da década de 1930 permanecem entranhadas nas políticas atuais: distribuição arbitrária de terras, subvenção de preços e controles de mercado para a agricultura, ampla regulação de títulos privados, intromissão federal sobre as relações entre sindicatos e empregadores, governo fazendo empréstimos e atividades seguradoras, o salário mínimo, seguro-desemprego nacional, Previdência Social e pagamentos assistencialistas, produção e venda de energia elétrica pelo governo federal, papel-moeda de curso forçado - a lista é infindável. A indústria foi praticamente nacionalizada pelo decreto National Industrial Recovery Act, assinado por Roosevelt em 1933. Como a maioria das legislações do New Deal, esse decreto foi o resultado de um acordo conciliatório entre vários grupos de interesses: empresários querendo preços mais altos e mais barreiras à concorrência, sindicalistas buscando proteção e patrocínio governamental, assistentes sociais querendo controlar as condições de trabalho e proibir o trabalho infantil, e os habituais proponentes de gastos maciços em obras públicas. A teoria da economia mista, na qual o estado controla a economia de mercado, ainda é a ideologia dominante que sustenta todas as políticas governamentais. Em lugar da velha crença na liberdade, temos hoje uma tolerância maior com - e até mesmo uma demanda por - esquemas coletivistas que prometem seguridade social, proteção contra os rigores da concorrência de mercado e alguma coisa em troca de nada.
Robert Higgs
"Nem o socialismo nem o Estado do bem-estar social apontam para uma estrada que possa ser percorrida para se construir um futuro coletivo melhor, que incluirá os excluídos." (Thurow: 327)
Disso se tinha conhecimento já no raiar do XIX, muito antes do facho marxista:
Estou profundamente convencido de que qualquer sistema regular, permanente, administrativo, cuja finalidade seja assistir as necessidades do pobre, fará nascer mais misérias do que as que pode sanar, depravará a população que deseja assistir e consolar, reduzirá com o tempo os ricos simplesmente ao papel de funcionários dos pobres, acabará com as fontes da poupança, parará a acumulação de capitais, deterá o progresso do comércio, entorpecerá a atividade e a indústria humanas e terminará por conduzir a uma revolução violenta no Estado, quando o número dos que recebem esmola for quase do tamanho dos que a pagam e quando o indigente, não conseguindo tirar dos ricos empobrecidos o necessário para satisfazer suas necessidades, achará mais fácil espoliá-los de uma vez por todas de seus bens do que solicitar seus auxílios.
Tocqueville, cit. Rodríguez: 56
A outrora Pátria da Liberdade desse modo vem sendo paulatina e crescentemente desencaminhada:
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado.
BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos: 72
Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. "O mundo hoje se parece mais com o do século 19 do que com o do final do século 20." "
REYNOLDS, Paul, BBC News; Folha de São Paulo, 1/10/2008

O pacote de medidas adotadas recentemente pelo governo norte-americano, logo seguido pela União Européia, pelos países asiáticos e pelas principais economias emergentes, inclusive o Brasil, deverá abrir o caminho para a maior intervenção do Estado nas atividades econômicas do planeta, desde a Grande Depressão de 1929, superada, dentre outras medidas, pelo New Deal do presidente Franklin D. Roosevelt.
Econ. DA SILVA, Nilton Pedro, Crise: Estado e Mercado. www.cofecon.org.br
Mr. Obama mostra rara competência, faz um inédito esforço, e tem tudo para contornar o iceberg, mas não do mesmo modo que seus antepassados, especialmente o adorado populista Roosevelt. Seu plano de reativação econômica não encontra respaldo. "É inútil", dizem economistas, conforme pesquisa de conjuntura mensal do Wall Street Journal.
Segundo The Washington Post-ABC, ao fim de junho o número de norte-americanos que acreditam no pacote caiu para 52%.
Lembra o conto.
O pior é que tem mais:
.
"Democratas do Senado e da Câmara parecem em rota de colisão pelo plano de aumentar o imposto de renda dos mais ricos e financiar a previdência social. O montante atinge $550 bilhões." 10/7/2009
.
Nietzsche (cit. Diggins, John Patrick: 162) antecipou:
“Os utilitaristas são ingênuos. E, no fim, teríamos em primeiro lugar que saber o que é útil; aqui novamente a visão deles não se estende além de cinco passos. Eles não tem idéia de nenhuma grande economia que não saiba lidar com o mal.”
Ingênuo era Nietzsche. Utilitaristas sempre foram muito oportunistas, isso sim:
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
Seldon: 60
"A burocracia americana, que se contentava com 350.000 funcionários, saltou para 5 milhões hoje." (Veja, 29/4/1992: 47)
Isso há uma geração. Ora periga beirar o dobro.
O governo norte-americano anunciou em 31/3/2009, a maior reforma no sistema de regulamentação financeira desde 1929, quando o país enfrentou a Grande Depressão. O projeto também daria ao Federal Reserve mais poder para 'proteger a estabilidade do sistema financeiro', enquanto que a supervisão bancária diária estaria a cargo de uma agência, e não de cinco, como acontece atualmente.
Naquela década de 20, dos gangsters e da Lei Sêca, do fascismo, do comunismo e do nazismo, todos se contentavam com fords bigodes, charlestons, um teto, e algo para comer. Poderíamos nos valer dos mesmos utensílios para enfrentar nossas atuais premências? É o que pensam os atuais governantes, e o que desejam seus melhores "investidores de campanha", todos localizados nas caixa-forte:
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou neste sábado em São Paulo, durante encontro do G20 financeiro, que a expansão de gastos do setor público deve ser pensada como instrumento para minimizar os impactos da crise econômica global e incentivar o crescimento da economia.
Entre os encantados, ora se incluem, até mesmo, os outrora criativos ingleses:
Segundo analistas citados pela BBC... as medidas de 'corte keynesiano' para dinamizar a economia, obrigará o Governo a elevar o endividamento público a níveis recorde de 100 bilhões de libras, carga adicional para futuras gerações.
UOL, 24/11/2008

O prefeito Boris Johnson lançou um ataque sem precedentes ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Comparou-lhe a um bêbado jogando com a economia do Reino Unido, como 'uma velha viúva louca por xerez que perdeu na roleta toda a fortuna da família e decide dobrar a aposta, incluindo até a casa'.
Daily Telegraph.

Se insistirem na manivela, os senhores quedarão na portela:
"As idéias de Keynes são as que menos podem ajudar, elas que levaram ao beco sem saída atual." ( www.nivaldocordeiro.net)
A moderna ciência condena, de plano, a pretensão da inferência:
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso.
ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY: 95
Convém mesmo lembrar:
A desordem monetária produzida pelas intrépidas teses keynesianas, teve como conseqüências a inflação, a desorganização institucional, a diminuição real do lucro e, por conseguinte, o empobrecimento dos assalariados. O investimento social, concebido como uma partilha autoritária da riqueza no nível microeconômico ou como programa estatal financiado com emissões monetárias, só provoca a depressão social. Neste caso, a raposa no galinheiro não é o empresário, mas o Estado, que depena as galinhas sem misericórdia.
MENDONZA, MONTANER e LLOSA : 128

2 comentários:

  1. Visitei seu blog e gostei dos posts vi o texto sobre o obama.
    Parabéns pela qualidade!

    ResponderExcluir
  2. Caro Wemerson,
    Grato pelo interesse, lisonjeado por tão gentil registro

    ResponderExcluir