quinta-feira, 2 de julho de 2009

O carma ocidental - 50 Complexo de Édipo, ou dos pais?


E como se desce, desse mundo de ironia e razão e veridicidade, ao reinado do sábio de Platão, cujos poderes mágicos o elevam muito acima dos homens comuns, embora não tão alto que dispense o uso de mentiras ou despreze o triste mercado de cada curandeiro, a venda de feitiços, de encantamento e criadores de raça, em troca de poder sobre seus concidadãos!  PEREIRA, J.C., Epistemologia e Liberalismo - Uma Introdução a Filosofia de Karl R. Popper: 153.
A artimanha foi desmantelada; mas o intenso marketing, a presunção edipiana permanece no senso comum. PLATÃO deu as cartas. O mundo ainda se vem de roldão: "As imutáveis leis da História descritas por Marx, a luta desesperada pela sobrevivência de Darwin e as tempestuosas forças da sombria psiquê de Freud devem, em alguma medida, sua inspiração à teoria física de Newton." (ZOHAR, D. e MARSHALL, I.: 16) Uso essas coincidências para propor outra dimensão, um Entwurf, como dizia EINSTEIN nos seus primórdios. Tal ousadia possui carga polêmica, mas contém alguma razão. "A história das ciências emergirá então como a mais reversível de todas as histórias. Ao descobrir o verdadeiro, o homem de ciência barra a passagem de um irracional." ( BACHELARD, GASTON, cit. QUILLET, PIERRE, Introdução ao Pensamento de Bachelard: 45)
O heurístico esboço vem fundamentado com apreciações colhidas de modo dedutivo, mas também indutivo, no fito de temperar o empirismo e a pesquisa com a imaginação.
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Freud baseou-se na tragédia de Sófocles(496-406 a.C.), Édipo Rei, para formular o conceito do Complexo de Édipo, a preferência velada do filho pela mãe, acompanhada de uma aversão clara pelo pai. Na peça (e na mitologia grega), Édipo matou seu pai Laio e desposou a própria mãe, Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua mãe, Édipo fura os seus olhos e Jocasta comete suicídio. O complexo de Édipo é um conceito fundamental para a psicanálise, entendido por esta como sendo universal e, portanto, característico de todos os seres humanos. O complexo de Édipo caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Metaforicamente, este conceito é visto como amor à mãe e ódio ao pai, mas esta idéia permanece, apenas, porque o mundo infantil resume-se a estas figuras parentais ou aos representantes delas. Uma vez que o ser humano não pode ser concebido sem um pai ou uma mãe (ainda que nunca venha a conhecer uma destas partes ou as duas), a relação que existe nesta tríade é, segundo a psicanálise, a essência do conflito do ser humano. (Wikipédia)
Pois nosso carma é seguir essa "civilização" greco-romana: "Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós." (VOLTAIRE, «13.ª carta», Cartas Filosóficas.)
E o pior: graças à faina platônica estamos envoltos não só em seus aspectos epistemológicos, mas, como no caso em tela, até mesmo vendo ciência no que era apenas mitológico. "Platão sentia todo o encanto do mito. Tinha sido dotado com uma imaginação poderosa, o que o capacitava a se tornar um dos maiores criadores de mito da história humana." (CASSIRER, E.: 96) Haja centauros!
De PARMÊNIDES (540-450 a.C.) PLATÃO contrabandeou as alegorias metafísicas ao  ilusionismo; de PITÁGORAS, (VI a.C.) a geometria e a matemática, no fito dedimensionar a justiça;  e por fundamento, a doutrina órfica, a presunção da alma, entendida celestial e pior, separada do corpo, este mundano. Timeu é o grande esteio do simbolismo cristão. Assim crescia a chicana dialética: o fato, a suposição e a resposta, conflito estimulado por distinções polares, paradoxais e enfraquecidas mutuamente, mas desse modo receptiva à introdução da vontade do amo.
A faina de PLATÂO era o poder, o dominio. Em Teeteto ele compara a filosofia grega como um campo de batalha, no qual se digladiam dois exércitos, incessantemente. É impossível afastar o mal, ele diz, porque sempre haverá alguma coisa para se opor ao bem. A premissa encaminha a razão do Estado: a administração da justiça. Como o Estado é um ente imaginário, cabe ao sábio governar, e os ignorantes segui-lo. Ou seja, a dialética entre o bem e o mal, entre o corpo e a alma, entre o individuo e a sociedade, é a ponte pela qual aporta o aspirante ao poder.
Freud se apoia em transmissões imateriais de geração em geração, da mais antiga Pré-História até os dias de hoje. É assim com o complexo de Édipo, a morte do pai, o banquete canibal... Para ele, tudo isso seria inexplicavelmente inscrito e transmitido no inconsciente de cada um de nós. Para Freud, esse mundo superior do inconsciente filogenético prova a verdade de um mundo superior. Daí o porquê de ser uma religião
O célebre DAVID BOHM,, (Totalidade e ordem implicada: 20 ter-lhe-ia aniquilado:
Os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu 
A tarefa coube a R.D.LANG, (cit. CAPRA, F., Sabedoria Incomum, Conversas com pessoas notáveis: 93.
Ele possuía seu aparato mental, suas estruturas psíquicas, seus objetos internos, suas forças - mas não tinha a menor idéia de como dois desses aparatos mentais, cada um com sua própria constelação de objetos internos, poderiam se relacionar. Para Freud, eles interagiam de maneira meramente mecânica, como duas bolas de bilhar. Ele não concebia a experiência partilhada pelos seres humanos. 
De Rousseau a Freud, o homem rolou todos os abismos e, rolando, incapaz de se reter, convencido aos poucos de toda sua negrura interior, perverteu todos os caminhos, comprometeu todos seus atos, justificou todas as acusações futuras e passadas. Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo.” (NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas: 54) E para atingir o mercado sem ser rotulada como ciência abstrata, presumivelmente discutível, a Psicanálise, como a esmagadora maioria dos ramos científicos, logrou o sucesso através do interminável cabo grego:
A influência do neoplatonismo, doutrina filosófica criada por Plotino (205/270) no século III, não se restringiu ao cristianismo (Santo Agostinho, John Scotus Erigena). Na Idade Média influenciou ainda a filosofia judaica, a filosofia dos árabes e, mais recententemente, o filósofo alemão G.W.F. Hegel (1770/1831) e os platonistas de Cambridge (séc. XVII). www.greciantiga.org
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
Forte conceito emitiu o prêmio Nobel de Medicina (1980) Sir PETER MEDAWAR (1): “A psicanálise é aparentada com o mesmerismo e a frenologia: contém núcleos isolados de verdade, mas é falsa na teoria geral”. E detona o edifício de FREUD:“É o mais estupendo embuste intelectual do século XX”.
Bem, não é necessário mais destituí-lo, Trato de oferecer as razões que demonstrarão: antes do famoso complexo ser infantil, é uma introjeção encetada justamente pela luta pelo poder, mas entre os pais, cujo objeto é o próprio filho. "Existem relatos históricos escabrosos sobre violência sexual contra crianças. Sigmund Freud não apenas tinha amplo conhecimento dos fatos, como sabia que seu próprio pai, Jacob, violentava regularmente seu irmão e sua irmã. (BETTONI, J. , Pedofilia, Freud explica? . - Kronika, Porto Alegre, edição 24: 4Custo a acreditar. Presumo que nenhum relator tenha testemunhado tais crueldades.
Se alguém disser que o Sol circunda a Terra, facilmente poderá provar- basta acompanhar o nascente.   NEWTON demonstrou como agem as forças gravitacionais. Todavia, desde a mais tenra idade já somos alertados: não é a estrela maior que viaja, e sim nosso enfeitiçado planeta que a contorna. E ainda que poucos saibam, não são forças que regem a natureza gravitacional, mas apenas relações de massa, espaço e tempo.  Pois assim como não é o Sol o viandante, nem, há forças contrapostas, pode não ser o complexo aventado que se realiza.
O filho muda a vida do casal, e nada pode ser previamente estipulado. O que era a vie-en-rose passa por vários matizes: a famosa depressão pós-parto, ansiedade pelo cuidado com o novo ente querido, a responsabilidade pelo sustento, a divisão das atenções, um certo ciúme, enfim, não há quem não passe por momentos de atribulações, completamente imprevisíveis. Os instantes nevrálgicos se sobrepõem às esperanças, e o sexo frágil se torna ainda mais fragilizado. Junto com as festas pelo rebento se sobressaem apreensões e com elas inéditos pensamentos.
No caso em tela, o objeto de conquista avista-se no próprio filho. A luta pela "propriedade" gera a cisão, incita à esquizofrenia no pequenino. Quando grávida, a mãe tem o novo ente como bem exclusivo, mas ao nascer outros se aproximam com idênticos direitos. Entre esses, o pai se mostra a primeira e sempre maior ameaça, naturalmente. EINSTEIN pagou caro pelas intrigas da esposa, MILEVA MARIC. Assim se manifestou o primogênito HANS ALBERT, (cit. ISAACSON, W.: 225)  "Se você continuar sendo duro com ela, não quero mais ir com você."
O Grande Relativo (idem: 226) pode bem identificar a fonte: "Meu querido menino tem sido afastado de mim há anos por minha mulher, que tem uma vocação vingativa... A causa foi o medo da mãe de que os pequenos se tornassem dependentes demais de mim."
O resultado da insanidade foi o filho EDUARD internado em um hospital psiquiátrico, de onde nunca mais saiu. Deixou a vida precocemente, recluso pelas lúgubres paredes como esquizofrênico. Hoje se conhece a precária condição mental da própria mãe, constantemente depressiva. Arrisco, pois: o complexo nada mais é do que reflexo de disputa desenfreada pelo poder, a rigor mais evidente nos adultos, e muito menos no lúdico infantil. o Dinamarquês e brasileira disputam filho após fim do casamento
O racionalismo priva de energia tudo aquilo que os homens mais amam: o sonho, a fantasia, o vago, a fé, a afirmação gratuita. Acrescentemos que isso é essencialmente inumano: o racionalista persegue seu raciocínio, não se importando em saber se ofende os interesses da família, da amizade, do amor, do Estado, da sociedade, da humanidade. Na realidade, o racionalista é um monstro. BENDA, JULIEN, cit. BOBBIO, NORBERTO, Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea: 56.
Ao longo desse belo 2 de julho, data magna da folclórica Bahia, irei tecendo os fios que ligam minha formulação,  Por enquanto, livrai as criancinhas do banco dos réus, please. Até amanhã.
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Notas
1. The Hope of Progress, London, 1972, cit. Johnson, Paul: 4. Também em Crews, Frederick, O gênio da retórica. - Folha de São Paulo, 22/10/2000, p. 18. Crew ainda relata: “Peter Medawar ficou famoso ao condenar esse sistema como um estupendo conto-do-vigário intelectual."
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Leia o seguimento:
Carma Ocidental - 51. Édipo & dominação

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