sábado, 11 de julho de 2009

Carma Ocidental - 56 . O mergulho dos EUA

Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida.
EINSTEIN, A., cit. TRATTNER, Einstein por ele mesmo - A vida do grande cientista: 43


O medo atingira o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a da economia a serviço de um novo sonho americano...a solução fascista.
POLANYI: 275

Nossos antepassados atravessaram a dura era das dialéticas.
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões.
SCHWARTZ, J., O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
"Temos que pensar a curto prazo, porque a longo prazo estaremos todos mortos." (KEYNES, J.M., cit. STRATHERN: 229)
Dessarte, tendo como padrinhos o próprio Marx e o professor Keynes pelo lado da Economia; Augusto Comte, o próprio Hegel, e Mussolini pelo lado do Direito, veio ao mundo robusto filhote de proveta, alcunhado New Deal. Por completo, New Deal-Fair Deal, a nacionalização de tudo quanto pudesse sê-lo. Os estados foram reunidos e convertidos em apenas um. Temor e realidade, fatos e maldições puxavam o extenso cordão dos insensatos.
Keynes compreendeu desde cedo que a esperteza empregada com astúcia era o meio de vencer ao tratar com os adultos. A esperteza era a alternativa à submissão ou à rebeldia; pela esperteza podia-se manipular vantajosamente qualquer situação.
Skidelski: 27
Por certo não houve cantos mais estúpidos do que os dois primeiros quartos do século recém findo. Nós, que logramos chegar ao mundo apesar de tanta bestialidade, e mais ainda, sem contaminação, poderíamos repetir tão funestas façanhas, apenas por ouvir parcialmente algumas histórias? Destacaríamos algum momento mais exitoso, ou fulgurante, para reaplicá-lo perante nossas pífias aflições?
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
Seldon: 60
Ao cabo o inescrupuloso gurú dos anos trinta, e dos trinta ditadores, ainda bem proclamou:
"E acrescentava modestamente que, aos cinqüenta e cinco anos, estava velho demais para mudar e continuaria um imoral." (KEYNES, J.M. , cit. HAYEK, F. 1995: 84)
* * *
Pelas bandas marciais e na academia não há criatividade. Todos se obrigam na
cadência previamente ensaiada. Vivemos em tempos e objetivos distintos, mas as novas estações continuam ministrando antigas matérias, supostamente rescaldos dos descalabros. Nenhuma especialidade vai além das parcas fronteiras que lhes delimitam. Pois aqueles restos de incêndio que ora cogitam resgatar compuseram o estopim:
Desde que a guerra contra a pobreza começou em 1965, os governos federal, estaduais e locais gastaram mais de 5,4 trilhões lutando contra a pobreza neste país. Quanto dinheiro vem a ser US$5,4 trilhões? São 70 por cento a mais que o valor do custo da II Guerra Mundial. Com US$5,4 trilhões você pode comprar todas as 500 empresas mais bem-sucedidas, e todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos. Já a taxa de pobreza está realmente mais alta hoje [1996] do que em 1965.
PIPES, 2001: 328

.
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável.
SKIDELSKI: 140
O sistema da Economia é de fato por demais restrito. Nesse sol soem circular apenas quatro planetas, um de cada século, e os arautos presumem conhecer suas verdades. As lentes dos hubbles se concentram nesse passado longínquo, focalizam os artífices, quando muito de modo precário identificam a incidência da alguns satélites, mas não contemplam a periferia, circunstâncias geradoras, tampouco as consequências da adoção ou supressão dos apanágios. Os diagnósticos são desprovidos de sentido, e tardam as soluções, quando não as impedem:
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo.
MORIN. Edgard, Compreender não é preciso; cit. MARTINS E SILVA: 30
O mergulho
Os economistas passaram quase todo o século XX
encantados com a pseudopanacéia keynesiana e
com a venenosa serpente marxista.
IORIO, U. : 134
Os americanos saíram vitoriosos da I Guerra, mas o horror perpetrado pelos bolcheviques suplantava qualquer comemoração. O receio da moda cruzar o Alaska fazia tremer até esquimó. A alcatéia e o esperto Keynes (cit. Strathern: 224) vislumbraram a freeway:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela.
Com o susto e a desgraça geral, Keynes soube aumentar seu patrimônio pessoal: de 16.315 libras, chegou a 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu. Estamos explicados?
Naquela década fatídica os Sobrinhos do Capitão sucumbiam por duas ondas entrecruzadas, mas ambas oriundas do transatlântico governamental: a primeira, de origem legislativa, positivista, coibia uma série de atividades comerciais e industriais, em nome de uma falsa moralidade. A Lei Sêca consagrou a prepotência oficial, para proveitos pessoais:
A capital do país, Washington, tinha trezentos bares licenciados antes da Lei Seca: agora havia setecentos bares clandestinos, supridos por quatro mil fornecedores. Tudo isso era possível em função da corrupção total em todos os níveis. Assim, em Detroit, havia vinte mil bares clandestinos.
Johnson,: 174
A escalada criminal dava razão a Marx, que recém vaticinara o fim da civilização capitalista. O profeta dos proletários se valera do velho Hobbes - "o homem se fazia lobo do homem"; mister refreá-lo. Eis o leitmotiv para o Estado estender seus tentáculos a todos os lares. Tudo, menos o comunismo:
"O voto a favor de Hitler é apenas um sintoma, não necessariamente do ódio pelos judeus, mas de um ressentimento momentâneo provocado pela miséria econômica e o desemprego entre a juventude alemã mal conduzida." (Cit. Brian: 222)
“O Führer era idolatrado não somente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes.” (Idem, Einstein, a ciência da vida: 329)
Havia, contudo, algo aquém da bu(r)la ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
Gleiser, I.: 211
Enquanto o povo se distraia com a violência protagonizada pelos D. Corleones, AL Capones, e pelas espetaculares ações policialescas, o Banco Central americano encetara um enxugamento monetário gradual, constante e irrestrito. Aos poucos, cada vez menos cédulas estavam em circulação. Para completar, tratou-se de "exportar" os "capitais excedentes", e logo para quem:
"Entre 1924 e 1929, portanto em apenas cinco anos, os Estados Unidos havia destinado, nada menos do que 30 bilhões de dólares a Berlim." (Levenson: 351)
Era o que buscava a politicalha da ocasião: uma forte recessão para justificar o golpe fascista, que tanto veneravam, e que seria perpetrado por Roosevelt, a suprimir até o padrão-ouro, em nome de um novo sonho, na verdade um pesadelo, ardil do New Deal, só aliviado com a chegada dos despojos alemães e japoneses :
"Em 1929, as despesas federais para todos os bens e serviços montavam a 3,5 milhões de dólares; em 1939, eram de 12,5 bilhões." (Galbraith, 1968: 251)
Ao Current History Magazine (cit. Rothbart: 41) a manobra era flagrante, e culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado, frente ao cidadão.
Conquanto não fosse economista, muito menos psicólogo ou vidente, Einstein (1981: 97) não aprovava a teoria keynesiana. Por óbvia extensão, condenava a interveniência do Estado na produção pelo represamento/vazão do meio de pagamento:
É necessário impedir as flutuações do valor do dinheiro e, para isto, substituir o padrão-ouro por uma equivalência com base em quantidades determinadas de mercadorias, calcadas sobre as necessidades vitais, como, se não me engano, Keynes já propôs há muito tempo. Pelo emprego deste sistema, poder-se-ia conceder uma certa taxa de inflação ao valor do dinheiro, contanto que se considere o Estado capaz de dar um emprego inteligente àquilo que, para ele, representa um verdadeiro presente. As fraquezas de seu projeto se manifestam, em meu entender, na falta de importância concedida aos motivos psicológicos. O capitalismo suscitou os progressos da produção, mas também os do conhecimento, e não por acaso. Sem dúvida sou pessimista demais a respeito das empresas do Estado ou comunidades semelhantes, mas de modo algum creio nelas.
Mr. Keynes (cit. Bodanis: 228), sem argumento, preferiu taxar o Grande Relativo de "garoto judeu malcriado, sujo de tinta”.
REAGAN ensaiaou implodir o “fascismo americano”, a começar pela restrição à legislação trabalhista (Niskanen, W., Regulation; The Cato Rewiew of Business and Government, cit. IL Notícias, R. Janeiro, n. 43), considerada totalmente arcaica, obstaculizante, mas os americanos ainda suplicam pela velocidade nas transformações.
"Como já chamamos a atenção, o welfare state moderno na verdade coage de várias formas” (Pipes, 2001: 341)
Malgrado crescentes protestos, os governos vem caindo na mesma armadilha, e ainda presumem encontrar na ficção keynesiana a melhor ciência econômica já produzida, preferindo ignorar o gênio de todas as ciências!
O Governo é grande demais e ele tributa e gasta demais. De todas as crises que afetam os EUA nos anos 90, esta é a principal. Em grande medida, os outros grandes problemas da agenda nacional simplesmente derivam dele, sendo diretamente causados ou agravados pelo nosso governo glutão. Salários estagnados, o sufocado crescimento dos empregos, a violência e a pobreza nas cidades, os altíssimos custos de saúde e educação superior, todos esses problemas estão relacionados ao nosso sempre crescente setor público. Mas em nível mais profundo, o crescimento do governo é o nosso problema mais grave, porque ele agride no coração aquilo que significa ser um norte-americano. À medida que o governo cresceu nas décadas recentes, ele assumiu responsabilidades que antes pertenciam a famílias e comunidades, tornando mais fracas aquelas instituições e tornando-se ele próprio mais forte. Surgiu uma nova classe governante, com gosto pelo poder e apetite por mais poder ainda. Usando uma variedade de meios enganosos, ampliou o alcance do governo para muito além do que seria tolerado pelas gerações anteriores de americanos. Hoje os americanos se encontram tontos diante do imenso ônus governamental que está a serviço de uma elite entrincheirada, elite esta que de vários modos tem a pretensão de ser mais sábia e nobre que os próprios cidadãos americanos. Se ser um norte-americano significa estar livre das exigências injustas de governantes distantes; se significa usar os próprios esforços pessoais para construir um melhor futuro para os filhos, então algo está errado por aqui. A expansão do Governo está ameaçando o Sonho Americano.
Dep. Fed. Dick Armey, ao propor projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos, cit. idem, ibidem.
O Estado provedor-fascista-beliscista teve, no paternalismo carismático de Lindon Johnson, o fio condutor dos norte-americanos às armadilhas vietnamitas, após a inexplicada morte de Kennedy. (1) Robert S. MacNamara (cit. Gabor: 173), o Garoto Prodígio daquele staff, (2) ao cabo do descalabro reconheceu - fora apenas moleque:
Fracassamos no tratamento de questões fundamentais, nossa incapacidade de identificá-las não foi reconhecida; e discordâncias enraizadas entre os assessores presidenciais quanto ao caminho a tomar não foram questionadas nem resolvidas.
Ora os EUA retornam à partida:
Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. 'O mundo hoje se parece mais com o do século 19 do que com o do final do século 20. Não há dúvida de que o presidente Bush criou alguns de seus próprios problemas.'
REYNOLDS, Paul, BBC News; Folha de São Paulo, 1/10/2008

Segundo analistas citados pela BBC... as medidas de 'corte keynesiano' para dinamizar a economia, obrigará o Governo a elevar o endividamento público a níveis recorde de 100 bilhões de libras, carga adicional para futuras gerações.
UOL, 24/11/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário