sexta-feira, 10 de julho de 2009

Carma Ocidental- 55. A adesão dos EUA

A nova América não será capitalista no velho sentido, e tampouco será socialista. Se a tendência atual é para o fascismo, será um fascismo americano, que incorporara a experiência, as traições e as aspirações de uma grande nação de classe média. Quando o New Deal é despido de sua camuflagem progressista, social reformista, o que fica é a realidade do novo modelo fascista de sistema de capitalismo de Estado concentrado e servidão industrial, envolvendo um implícito ‘avanço rumo à guerra’.
Current History Magazine, cit. ROTHBARD: 41

Malgrado os pioneiros se desvencilharem das tradições, mercê dos primários ensinamentos da matriz, mas também porque ingressavam em novo mundo, rico, abundante, por tudo promissor, ainda assim seus descendentes foram alcançados pela ventania greco-romana.
Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de
filosofias e de uma
psicologia que pertencem ao século XIX.
Somos os nossos próprios bisavós.

BERGIER, Jacques e PAWELS, Louis,
O despertar dos mágicos: 31
O ímpeto platônico tomou corpo justamente neste fatídico XIX. No fim os americanos capitularam. Façamos uma escala no EspaçoTempo que lhe corresponde.
* * *
Napoleão dizimara as até então pacíficas e espraiadas cidadelas alemãs. Eis o rastilho que detonou todas as controvérsias, guerras e adversidades do mundo ocidental, e oriental, até os dias de hoje!
“A independência do setor privado no Ocidente foi gananciosamente engolida pelo Estado. O espírito corporativista, sempre presente na França, assumiu a indústria e houve um ressurgimento da intolerância patriótica de espírito jacobino”. (JOHNSON, Paul: 305)
A Napoleão (não à Revolução Francesa que procura fraternidade entre os povos e as universais efusões coloridas) é que nós devemos o poder pressentir agora uma seqüência de séculos guerreiros inigualável na história, em suma, de termos entrado na idade clássica da guerra, da guerra científica e ao mesmo tempo popular.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, A Gaia da Ciência: 194
Até então, a vida transcorria na diversidade:
A sociedade medieval era uma sociedade pluralista, posto ser constituída por uma pluralidade de agrupamentos sociais cada um dos quais dispondo de um ordenamento jurídico próprio: o direito aí se apresentava como um fenômeno social, produzido não pelo Estado, mas pela sociedade civil.
BOBBIO, N., 1995: 27
Mesmo MAQUIAVEL (O Príncipe, Quomodo omniun principatuum vires perpendi debeant, De que modo devemos medir as forças de todos os principados: 61) se obrigara a reconhecer:
"As cidades da Alemanha são absolutamente livres: cercadas por pequenas campanhas, elas obedecem ao Imperador quando bom lhes parece, não o temem, como não temem nenhum de seus poderosos vizinhos.”
DAVID HUME (cit. LUCKÁCS, JOHN, O Fim do Século 20: 104) expressou um hino, um incentivo, até previsão de unidade para a supremacia do povo alemão, algo que custaria muito caro a seus próprios descendentes, alvejados pelas V-1 e V-2:
“A Alemanha é um País excelente, sem dúvida, cheia de gente honesta e trabalhadora; se unida, seria a maior potência já vista no mundo”.
Foi. Mas, antes, os alemães davam lições de paz, civilidade, cidadania, de liberdade:
“Quem ler a admirável obra de Tácito sobre os costumes dos Germanos verá que é deles que os ingleses extraíram a idéia do governo político. Este belo sistema foi encontrado na floresta”. (MONTESQUIEU, Esprit des Lois, Livro XI, cap. 5)
Os insanos atos napoleônicos é que ensejaram o reaparecimento dos presumidos heróis nacionais, começando pelas próprias vítimas.
* * *
A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora
no Estado
,
torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio.

POPPER, K.,
1998, T. I: 269
.
Como todo herói requer estratégia, e os alemães até então nada disso precisavam, nem heróis, tampouco intelectuais que os iluminassem, por meio século o mundo só tratou de curar a impressionante devastação causada pelo debilóide francês. Neste interim se apresentou o excepcional oportunista germânico, Coruja que não se limitou em corujar, maior responsável pelo recrudescimento das desavenças ocidentais, posto o melhor intérprete de nosso carma:
“A gangrena - dizia aquele filósofo amargamente [naqueles tempos realmente havia muita gangrena] - não é curada com água de lavanda. É na guerra e não na paz que o Estado mostrava seu ânimo e ascendia às alturas de sua potencialidades.”(HEGEL F.W., cit. SABINE, G.: 620)
“Hegel, como Heráclito, acredita ser a guerra o pai e a mãe de todas as coisas.”(POPPER, K.: 44)
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (Sttutgarg, 1770 - Berlim 1831) influenciou todas as ciências e por conseguinte as nações, justamente por cozinhar a filosofia e a física platônica no correspondente tempêro metafísico. Infelizmente.
Eis o rol de seus mais proeminentes filhotes intelectuais: DARWIN, MARX, COMTE, SOREL.
Antes da centralização, a Alemanha espraiava-se por 18 estados. Embora as emergentes estrelas políticas propugnassem pela imediata reunião estratégica, em 1820 o liberalismo e a descentralização ainda se mantinham no Parlamento de Frankfurt. No fatídico 1848, todavia, alguns parlamentares tomavam para si as reivindicações proletárias, assim atendendo o pleito do patrono:
"Sie konnen sich nicht vertreten, sie müssen vertreten werden."
"Não podem representar a si mesmos; devem ser representados."
(MARX, K. O dezoito Brumário)
.
Bismarx
A lista dos heróis nacionais é imensa. O primogênito, quiçá o mais influente, por isso exitoso, foi BISMARCK. Seu desempenho obteve as mais graves conseqüências, assim apanhadas por EINSTEIN (New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui: 276):
“Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”
No final do século XIX, a principal influência sobre a teoria acadêmica social e econômica era das universidades. A idealização bismarckiana do Estado, com suas funções previdenciárias centralizadas foi devidamente reestudada pelos milhares de ocupantes de postos-chave do meio acadêmico que estudaram em universidades alemãs nas décadas de 1880 e 90.
SCHESINGER, Arthur M., The Crisis of the Old Order 1919-1933: 20; cit. em JOHNSON, Paul: 13
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões.
SCHWARTZ, J., O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130

O Estado alemão era, evidentemente, uma burocracia. E, embora outros Estados também o fossem, a burocracia alemã entrou para a história como um exemplo, enquanto mecanismo de controle e regulação da sociedade. O povo alemão lhe dispensava um respeito e uma obediência sem paralelo no resto da Europa. Comparando-se com outros impérios, somente na Rússia se incluia uma gama tão vasta de profissões e vocações nas categorias de serviço público como a que se registrava na Alemanha da época.
AMORIM: 4

Dos norteamericanos, destacaram-se os ROOSEVELT - TED, "o cowboy de punhos cerrados" (DIGGINS, J.P.:110), e o descendente FRANKLIN.
Roosevelt, influenciado por Felix Frankfurter, pela Sociedade Socialista Intercongregada e por outros, fabianos e comunistas, maquinou uma revolução que colocou o país na senda que leva ao socialismo e, numa perspectiva mais distante, ao comunismo. Foi, contudo, a emenda do imposto de renda, levado em 1909, no Congresso americano, o início do socialismo. Então, o New Deal não foi uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial
ROTHBARD: 41
"O Führer era idolatrado não somente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes." (BRIAN: 329)
POULANTZAS (O Estado, o Poder, o Socialismo: 236) comenta o “estrago”:
Da escola de Frankfurt aos radicais americanos manifestava-se a terrificante imagem de um Estado-Moloch totalitário e todo-poderoso, fundado num capitalismo de manipulação, que teria conseguido 'integrar' as massas populares e culminaria inelutavelmente na devoração de pessoas.
O economista chapa-branca J.K. GALBRAITH (1989: 197) também apontou:
"O poder nos EUA foi mais concentrado do que se costuma imaginar. Quem controlava o Pentágono, a Cia, o Departamento de Estado, o Tesouro e o homem que coordena estes órgãos na Casa Branca, controlava tudo, e tudo isso o sistema controlava."
De fato, a partir do momento que somos os rebentos de gerações anteriores, somos também os resultados dos erros dessas gerações, de suas paixões, de seus desvios e mesmo de seus desvios.
NIETZSCHE, F., Da utilidade e do inconveniente da história para a vida: 46.
Dessarte os yankees se precipitaram na quimera, e até hoje padecem.
"O presidente dos EUA, Barack Obama, admitiu nesta sexta-feira que uma "recuperação total" da economia mundial ainda 'está longe' e que não devem ser abandonadas as medidas de estímulo ao crescimento. " (Folha de São Paulo, 10/7/2009)
Os band-aids se mostram ineficazes, e o que é pior: a doença da loco motiva continua levando de roldão a global composição. Vai à Marte, por não amar-te, numa geopolítica lograda pela velha prática mercantilista/intervencionista, ora dourada com pincel proselitista.
A intervenção sem precedentes do Federal Reserve pode ser justificável ou não em termos estreitos, mas revela, mais uma vez, o caráter profundamente antidemocrático das instituições capitalistas, feitas em grande medida para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros, sem uma voz pública.
CHOMSKI, Noah,
do Massachusetts Institute of Technology, à BBC
Segundo pesquisa Washington Post-ABC, o número de norte-americanos que acreditam que o pacote irá restaurar a economia caiu para 52 por cento no fim de junho, ante 59 por cento dois meses antes. E tem mais:
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"Democratas do Senado e da Câmara parecem em rota de colisão pelo plano de aumentar o imposto de renda dos mais ricos e financiar a previdência social." 10/7/2009

Já Mr. Obama reconhece que existem interesses escusos, mas acredita que uma dotação previdenciária será aprovada pelo Congresso ainda este ano:
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Trismarx?
Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida.
EINSTEIN, A., cit.
TRATTNER, Einstein por ele mesmo - A vida do grande cientista: 43
Em que pese as costumeira voltas do mundo não serem sentidas, exceto a repetitiva passagem do Astro-Rei, e assim induzir à estatização, no sentido de a priori supormos tudo estático, convém lembrar: os reis divinos estão no céu; Bismarck tentou o suicídio; o fascismo foi dilacerado; o marxismo jaz embaixo do muro; e os terroristas habitam na memória. Falta acabar com suas estórias.
"A manutenção da organização na natureza não é - e não pode ser - realizada por uma gestão centralizada. A ordem só pode ser mantida por uma auto-organização." (BIEBRACHER, C. K. e NICOLIS, G. Schuster, cits. PRIGOGINE: 75)
Veremos de que modo o estupendo vetor econômico, todavia, continua tornando o mundo imerso no pavor. Enquanto isso, aprecie a excelente entrevista concedida pelo Economista Professor Milton Fridman, legendada:


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