sábado, 3 de outubro de 2009

Uma vitória pírrica

Sim, nós perdemos.
Havana, 03 Out (Lusa) - O líder comunista cubano Fidel Castro considera que a atribuição dos Jogos Olímpicos de 2016 ao Brasil é 'a prova da influência crescente' dos países do terceiro-mundo.
Essa gente vê muitos mundos. Eu, apenas um:
o meu. Ele não é grande, nem pequeno; não é inferior, nem superior.
Não tem comparação. Complexados, todavia, sóem depender de medições, e para isso precisam de adversários, de concorrências.
Quanto mais elevada a estatura antagônica, maior se presume a felicidade decorrente da vitória.
Sempre me diziam em conversas: ‘Não vai dar para bater Chicago,
não vai dar para bater Tóquio’.
Disse que, se ele [Obama] não viesse,
eu iria ganhar.
Ele veio e, quis Deus, eu ganhei mesmo assim.
Foi o dia mais feliz de minha vida.

LULA, Estadão, e Folha, 3/10/2009
Se verdade, inclino-me conceder total razão ao nosso TriPulante:
“Se houvesse um Deus, ele (ou ela, aquilo, ou eles) deveria ser julgado por crimes contra a humanidade." ( RUSSELL, Sir BERTRAND: 21) Alinhar à direitaEm primeiro lugar, vamos combinar: o programa tem o signo de RIO-2016, não Brasil-2016, tampouco América do Sul=2016, muito menos Terceiro-Mundo-2016. Portanto, a presença federal é uma anomalia injustificável, tanto quanto suas ações em campanhas cívicas estrangeiras. Não é desculpável, sequer, pela presença dos outros intrusos chefes-de-estado. Todos escorregaram na maionese, inclusive seu pouca-prática OBAMA, ávido em ser estrela mundial.
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O evento é criado e administrado por entidades paraestatais, a rigor privadas, e presumidamente auto-sustentável, de maneira que implicar a Nação em prol dessas entidades, ou mesmo da cidade é alocação de recursos materiais e humanos desproposital, injusto para com os demais, e desestabilizador geral, ainda que respinguem incontáveis benefícios a todos os brasileiros. A produção agrícola ou de automóveis, TVs ou pastas-de-dente resultam em ainda maiores benefícios, e no entanto, nenhum governo participa; ao contrário, cobra. 
"O presidente Lula da Silva afirmou que a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos-2016 faz com que o Brasil encerre sua 'mania de ser pequeno'." (Folha, 3/10/2009)
O Brasil não tem mania, por que não é gente, mas país. Quem tem manias são pessoas, algumas pessoas, geralmente oriundas de frustrações que jamais serão preenchidas, porque pelas próprias agigantadas como molas propulsoras. Eis o meio e o fim da mania, digo da megalomania.
Estou certo que dentro de poucas décadas tudo isso vai mudar, seremos um país desenvolvido, a maior potência do Hemisfério Sul e a 5ª maior economia do planeta.www.reportercurioso.blogspot.com
"Hoje, o Brasil entra para o rol de países potências. Potência na riqueza do petróleo, nos esportes coletivos, na liderança mundial, na garra e vontade de um povo, no amadurecimento político em questões internacionais." (De um leitor de jornal)
O cenário calculado pelos empresários é de que o estado consiga, em 2015, receber o mesmo número de turistas que Nova York recebe anualmente: 40 milhões. Terra, 3/10/2009
Ou seja: nenhuma realidade. Essa conversa, além de fazer dormir, ainda vai levar o boi ao estado letárgico É um milhão de casas pra cá, bolsas-família prá lá, pacs, empacs, fim das favelas, pre-sal, submarinos atômicos, coisa de louco, tchê!
O petróleo é nosso. Então, para dar lucro, pagamos por ele o maior preço do mundo.
Estamos tão endinheirados que graciosamente oferecemos ajuda ao pobre FMI. O brasileiro, contudo, é obrigado a pagar os juros mais caros do mundo. E como somos evidentemente ricos, também suportamos a maior carga tributária do mundo! Dinheiro à revelia, saindo pelo ladrão. Literalmente.
No afã de agir, o Brasil tem colocado os pés pelas mãos. E quer porque quer assento no Conselho de Segurança da ONU, logo nesse! Qual é o pastel? Colecionamos criminalidade & corrupção em escala geométrica.
Crimes são cometidos às pencas, todos os dias, em grandes cidades como Nova York, Madri, Roma, Paris, Cidade do México. Mas em nenhuma delas, como no Rio, homens, mulheres e até pivetes assaltam à mão armada, atingem inocentes com balas perdidas, dispõem de metralhadoras e já usam até granadas. Só faltam bandidos com tanques. Raiando a guerra civil.
CATANHEDE, E., Folha de São Paulo, 3/10/2009
A ONU vai nos aconselhar cuidarmos de nossa própria segurança, em primeiro lugar, antes de nos arvorarmos em palpites sobre entraves internacionais.
FIDEL mostra coerência em reverenciar os jogos. Aqueles ilhéus esqueceram o lúdico Caribe, aliás foram impedidos de por ele navegar, para serem levados a crer que as vitórias, não deles, propriamente, mas de representantes, esportivas ou bélicas, é que lhes carreariam a felicidade.
As cartilhas usadas na alfabetização só falam da guerrilha em Sierra Maestra ou do assalto ao quartel de Moncada pelos guerrilheiros barbudos. Tudo o que se ensina nas escolas é o marxismo, o leninismo, essas coisas. Não se sabe o que acontece no resto do mundo. Pelo que vejo nas ruas, é difícil acreditar que os cubanos possam sobreviver tantos anos.
SHÁNCHEZ, Yoani, entrevista à revista Veja, 7/10/10
A ilhota sob a égide soviética peitou o colosso, amealhou inúmeras medalhas, e podiuns, e homenagens desportivas, muito mais do que o Brasil ou qualquer outro latinoamericano. Esparta se virou, de tanta inveja. Pequim todavia, já assistiu uma degringolada. O que vemos hoje no recanto usufruido pelafamilia Castro?
Os idosos estão em estado deplorável. Há cinquenta anos quase não se constroem casas, é normal que três gerações de cubanos dividam uma mesma residência. O país construiu hospitais e formou médicos de boa qualidade na época em que recebia petróleo e subsídios soviéticos. Cuba só é reverenciada por quem nunca morou aqui. Quando as pessoas descobrem como é receber em moeda sem valor, enfrentar as filas de racionamento ou depender do precário transporte público, começam a pensar de modo mais realista. A produção nacional é ínfima e obriga Cuba a importar 80% dos alimentos que consome.
(Idem)
O governo cubano começa a desmontar a imensa estrutura paternalista que garante tudo subsidiado para os trabalhadores do país há décadas. O motivo é simples: a economia não suporta mais. GUTERMAN, Marcos - Estadão, 26/9/2009

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O mais fácil, e ainda mais simpático é aplaudir o memorável feito goitacaz. Já tenho até observado que a voz discordante recebe a pecha de "espírito de porco", coisa de despeitado, ou de radical partidarismo. Como vivemos num mar-de-lama, nem seria tão inusitado este espírito. Não comungo disso. Igualmente sou desprovido de despeito, porquanto nada almejo, exceto balizar a pista para os que chegam com suas asas danificadas por tanta insanidade. Por último, não vejo a menor distinção na disputa partidária, cujos embates me remontam a telecatchs. Portanto, lavradas estas salvaguardas, sinto-me à vontade para examinar o assunto através de um laser cruel, embora reconheça, de antemão, de pouca utilidade, uma vez comprometido o destino de todos. Para meu alívio, a propósito, não estou só.
Quer dizer, então, que o governo de então vai pagar aos empreiteiros a fortuna colossal para a construção de obras da Olimpíada e o encargo de fiscalizar para que não haja corrupção pertence ao povo brasileiro? Isso soa como uma brincadeira. Ou como escárnio. SANTANA, P., Olimpíada da cegueira. - ZH, 6/10/2009
Não sou o 'estraga festas' inventando tragédias na alegria, mas transformar o dia a dia em festival de 'oba, oba' é gesto infantil, que despreza o futuro... Nenhuma olimpíada ou campeonato mundial de futebol redimirá nossas cidades, por mais obras públicas que se façam em função disso. TAVARES, F., ZH, 4/10/2009
A enquete de hoje do prestigiado Terra dá conta: mais de 40% se opõem à iniciativa.
Se para a Inglaterra já há prognóstico de fiasco, mercê não só de seu pífio trotoir por ocasião do encerramento dos jogos de Pequim, mas principalmente na comparação frente a espetacular pujança oferecida pela China, temo que essas nossas Olimpíadas sejam as últimas*. O que se propaga são somente abstrações, ficções, presunções. Maior alienação é impossível.
"Além de ganharmos o direito de sediar os Jogos Olímpicos, ganhamos também a oportunidade de dar uma virada na qualidade de vida dos cariocas, com obras sensacionais e melhorias em todos os sentidos."
Melhorias em todos sentidos, seguramente não. Podemos arriscar apenas tênues prognósticos. O provável é não preencher tamanha expectativa, e mais: assim como a luz atrai as mariposas, e as riquezas expostas atraem piratas e contrabandistas, tal aventura pode nos custar ainda bem mais caro do que o brutal esforço necessário para realizar essas tarefas.
Eu quero mais é que o Rio se exploda. Coitado dos cariocas que irão ver seu custo de vida aumentar 200%. Por quê os senhores acham que a população das demais cidades candidatas estavam tão "animadas" com a idéia de ter sediar uma olimpíada? O Lula tá feliz da vida, afinal o bolso dele vai ficar pequeno pra tanta grana fria que vai entrar. Já o meu.... e o seu?
(Comentário de leitor)
Não são poucos os que agora planejam mudança de cidade. Vejamos um depoimento de um norteamericano "perdedor". Ele reflete a impressão de muitos moradores da Cidade Maravilhosa, ainda mais considerando que não passam de tres as avenidas da orla: "Nós já temos bastante trânsito. Estou feliz que não conseguimos. Isso seria apenas muito mais que teríamos de pagar."
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Não há dúvidas sobre o glamour das Olimpíadas e da Copa do Mundo. Por certo estimularão o ingresso de polpudas verbas estrangeiras, mormente nos quinze dias de cada uma. Dir-se-á que os efeitos ultrapassarão as datas, no que concordo, mas esta contabilidade não só é impossível, como irrisória. Ou será que tirante a recente e inesquecivel Pequim, e talvez aquela moscovita, quem sabe a dos terroristas de Munique, alguém mais vê algum reflexo em outra cidade-sede? E o que dizer do México, brindado com duas escolhas recentes de copas-do-mundo, não era para já ser a quinta potência do globo?
"É uma decisão corajosa, pois os Jogos no Rio não serão fáceis. Os custos serão imensos. A infraestrutura está longe de ser adequada a um evento olímpico."(Neue Westfälische Zeitung, Bielefeld)  A tanto contamos com o Leviathan:
A política é a arte de unificar e organizar as ações humanas edirigi-las para um fim comum. Assim, o paralelo platônico entre a alma individual e a alma do Estado não é, de maneira alguma, uma mera figura de retórica ou simples analogia. É a expressão da tendência fundamental de Platão: a tendência para unificar o disperso, para trazer o caos de nossas mentes, dos nossos desejos e paixões, e da nossa vida política e social para um cosmos, para a ordem e harmonia... A teoria platônica do Estado legal tornou-se um patrimônio eterno da cultura humana. CASSIRER, E.: 102
Em vez de nos livrarmos do carma, mergulhamos no delírio.
'Com orçamento garantido pelo governo', o Rio não exige que o Comitê Olímpico Internacional seja forçado a 'financiar um eventual déficit de recursos com dinheiro de patrocínio e televisão, como fez para os Jogos de Vancouver e teria que fazer por Chicago'. Breakingviews.com,
Há quem insinue a reaplicação daquele infalível método, desta feita em caráter internacional:
O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, disse que o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 por 'razões políticas obscuras'.
Pois não é que o próprio presidente do mensalão de certo modo confessa?
Lula também elogiou toda a equipe que trabalhou na candidatura do Rio e destacou o papel da diplomacia brasileira na campanha olímpica que, segundo ele, 'é como ganhar voto na Câmara, no Senado, no sindicato'. BBC-Brasil, 4/10/2009
A questão do envolvimento nacional em único projeto, ainda mais improdutivo, não é só risco, mas certeza de equívoco. Se a maior parte do Rio aplaude o gigantesco projeto, sejam desportistas, engenheiros, operários, empreiteiras, imprensa, alguns patrocinadores/investidores, profissionais liberais, politicos, hotéis, meios de transporte, bancos, cambistas, agentes-de-viagens, estacionamentos, flanelinhas, postos, restaurantes e lojas, indústrias e serviços que abastecem tudo isso, até a bandidagem, e tietes e simpatizantes de toda espécie, é certo que os restantes sei-lá quantos estados e classes produtoras ficarão não só a ver navios, como serão expropriados de seus recursos para construir o sonho da pequena casta.
A realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro deverá aumentar o fluxo de turistas estrangeiros no Brasil em até 15% em relação a 2015. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Embratur, Jeanine Pires, afirmou que o Rio de Janeiro já é usado como 'âncora' para atrair visitantes.
Por qual razão nossos portos estão abandonados, nossas estradas estraçalhadas, as melhorias dos aeroportos barradas por fraudes em licitações, enquanto adquirimos caças, e submarinos? Queremos receber visitantes com flores, ou com chumbo grosso?
Âncora é para navio, embora se use a designação, de modo meio forçado, à grande loja de shopping. O sentido assegura algum resquício de faturamento às pequenas. Não é o caso. As demais prateleiras restarão às moscas:
"O investimento de R$ 8,9 bilhões destinados ao transporte público no Rio para os Jogos Olímpicos atendem apenas a algumas regiões da cidade; obras são principalmente na região da Barra da Tijuca."
Lembro da construção de Brasília. Custa-me saudades de JÂNIO QUADROS.

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Um dos grande apelos dá conta da enorme quantidade de trabalhadores que o programa irá demandar. Acredito. Segundo a cartilha keynesiana, se não houver emprego, que se mande pintar de branco a Floresta Negra! Vai ver, até a Pedra da Gávea será lapidada. Com certeza finalmente darão um jeito na poluição da RODRIGO DE FREITAS, mas a pergunta que se impõe é por que se necessita receber visitas para se limpar a casa.
Trata-se de uma educação que visa a domesticação, a criação
de pessoas medíocres e úteis aos ditames de seu tempo.

NEUKAMP, E. http://www.consciencia.org/nietzsche_educacaoneukamp.shtml
O comitè adverte pela imperiosidade da formação de atletas. Encontrará amplo apoio, começando pela mais efusiva residente, e colegas. E dê-lhe contos-de- fadas. Veremos uma enxurrada de apelos, histórias e estatísticas esportivas, resgates de ídolos, fabricação de novos, incentivos e exemplos alhures. Brasil olímpico! Eis quiçá o mais notável prejuízo social: a farta distribuição dos recursos amealhados da produção destinados a escolas atléticas, somados à maciça propaganda, atrairão o jovem ao estéril ideal da disputa por medalha, orquestra de Titanic.
O Brasil, em 2016, vai arremessar o peso, vai saltar no hipismo das varas, vai emaranhar-se no tatame do judô com seus adversários, vai esgrimir, vai flechar, vai saltar em distância, vai nadar, vai jogar futebol, basquete e vôlei, vai saltar com vara o Brasil, vai saltar em altura, vai dar um salto triplo no rumo do... abismo.  SANTANA, P., ZH, 3/10/2009
Dizem que é melhor retirá-lo das ruas, das drogas, e perfilá-lo no esporte. É uma falsa dicotomia, como sempre antecede aos dúbios interesses. A prévia construção dialética, a serviço da pastoral. Para mim, trata-se de trocar uma alienação por outra, apenas. Já não chega a enorme quantidade que quando crescer quer ser jogador de futebol, outro tanto piloto de Fórmula 1. Apurar-se-ão algumas dezenas de felizardos. Os milhões restantes verão seu tempo, sua vida, e toda parafernália, em vão. Mas até passar a efeméride, a pastoral residente terá forrado seus cofres, e o rei, aclamado desde agora por tão heróico feito, verá qualquer desmando ser apreciado como ínfimo, insignificante no confronto com o zelo e abnegação social sobejamente demonstrados. Isso, enfim, é o que interessa.
Sim, nós perdemos. A questão que o Brasil urge enfrentar não tem nada de esportiva, tampouco é tarefa a marketeiros. Nossas mazelas são intestinas, e referentes apenas a nós mesmos, brasileiros.

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Para não decepcionar os ingleses, e o mundo, podemos encerrar os festejos de Londres dando serviço ao Colosso dos Sete Mares de Iracema, o tal porta-aviões francês recebido de lambuja, por conta da entrega daquela Copa do Mundo de 1998. Está sempre inativo, o coitado. Basta atracá-lo no Tâmisa, ou adjacências, às evoluções das gloriosas Escolas de Samba. Para inglês ver.

Um comentário:

  1. César! O comentário que voçê posta sobre os jogos Olímpicos serem no rio são apocalípticos. Estou a ver voçê a escrever para um "Folha de S.Paulo" ou assim. Será que o problema do Brasil são os Índios, a miscigenação? O terceiro-mundo a celebrar a vitória da alienação? É isso não é? Me preocupa a violência. Especialmente a sul-americana. Tem muito índio aí. O Caetano Veloso também diz isso. É pá voçê está um jornalista engajé de pé cheio. Não é só Literatura! Desculpe Filosofia...

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