domingo, 18 de abril de 2010

Evolução por cooperação


Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, se perdem a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se – 'vida'.
NIETZSCHE, F., Assim falava Zaratustra
Acabamos por nos tornar um laboratório de ilusões falidas. Nossa maior virtude é a criatividade; no entanto, não temos feito muito mais do que viver doutrinas requentadas e guerras alheias,herdeiros de um Cristóvão Colombo desventurado, que nos encontrou casualmente quando estava à procura das Índias.
MARQUES, Gabriel Garcia, Ilusões para o Século 21
Distinguido com um convite que nunca mais se repetiu, coube-me escolher o tema aos formandos de Administração de Empresas e Economia de uma Universidade Federal.
-Alguém poderia me definir como se processa o fenômeno gravitacional? Por que não saímos pela tangente na rotação da Terra?
Não deu outra: generalizou-se o desconcerto. O que teria a ver Gravidade com Administração de Empresas? Para quê saber sexo de anjos? Trata-se de uma força de atração, e pronto.
Pensei em realçar os grande progressos produzidos quando duas ciências se aproximam, quando se toma consciência da semelhança de suas formas, tal qual preconizava POINCARÉ, malgrado a discrepância de suas matérias. Este método tão elementar deve ser acatado não só por duas, senão que por todas as ciências, mas quando afirmei que não é um concurso de forças que rege as gravidades da Terra, do Sol, ou de qualquer satélite ou corpo, mas uma adequação espacial ao viajante eventual, aí sim, os estudantes ficaram completamente estarrecidos. Uns se ofenderam, outros culparam o ensino. Um misto de frustração e decepção, até de insegurança tomou conta do salão. Claro, meu objetivo não era diminuí-los, tampouco me vangloriar, muito menos criticar sua professora, a qual me mirava estupefata. Não era para menos, sei bem compreender. Quando disso fui informado arrepiou-me a espinha.
Espaço e tempo tornam-se jogadores do cosmos em expansão. Eles ganham vida. A matéria aqui faz o espaço se curvar ali, o que leva a matéria aqui a se mover, o que leva lá o espaço a se deformar, e assim por diante. A relatividade geral dá uma coreografia para a ciranda cósmica do espaço, tempo, matéria e energia. BRIAN GREENE, cit. ISAACSON, W.: 235
A razão da ignorância
Os currículos educacionais são montados para capacitar pessoas a servirem aos montadores! Não por acaso, insígnes formuladores mantinham aposentos nos palácios. Os religiosos monopolizaram a informação por longo período, até hospedarem MAQUIAVEl. A Inglaterra acomodou uma plêide, iniciada com BACON & HOBBES, NEWTON, este guindado a presidente da Casa da Moeda, MILL, BENTHAM, até DARWIN, premiado com espetacular cruzeiro de lustro à bordo do Iate Real. E o quê dizer do britânico KEYNES, o ganhador-mór da Grande Depressão, adotado padrão nas faculdades que gentilmente me acolhiam? De outra parte, como situar a perseguição a EINSTEIN, ameaçado por gregos e troianos, isto é, por nazistas e soviéticos, sendo recebido com muita relutância pelos norteamericanos?
Em seguida, perguntei-lhes:
-O que faria DEUS se não houvesse o DIABO? O que aconteceria com os governos se a sociedade funcionasse de modo totalmente harmônico?

O interesse pelo confronto
A cosmologia evolutiva e a filosofia mecanicista se espalharam das ciências físicas para a história natural. Atualmente o pensamento evolucionista influencia a psicologia, a economia, as ciências sociais, entre outras áreas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Evolu%C3%A7%C3%A3o
A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo.
E a economia é certamente um sistema evolutivo.
VEIGA, Prof.
Econ. José Eli, Fac. Econ. & Admin. da USP. - Estadão, 8/2/ 2009
Para não prevalecer a máxima hobbesiana-darwineana, a guerra de todos contra todos, e minimizar a prevalência do projetado mais forte, a sociedade exige a atuação do monstro pretensamente defensor. Maior tolice é difícil. Ele próprio estimula a competição.
“A noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo”. (JOHNSON: 4)
A Teoria da Seleção Natural é a luva do LEVIATHAN, para usar o maior chavão. Um tapete, mesa de passar-roupa onde os acadêmicos são completamente enformados.
Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros, quase todos os preconceitos funestos que acabo de pintar deveram seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para governá-los mais absolutamente!
TOCQUEVILLE, A., 1997, cap. XII: 139
É a dialética, o confronto que justifica a sua presença.
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática.
É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino.
SAUTET, Marc, 2006: 15/86
O costume mantém a fatalidade no presente.
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado.
BOBBIO, N.
A Era dos Direitos: 72
Pela intervenção do Estado nenhuma nova semente frutifica.
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais, mas não quantificáveis, e tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível.
SIMPSON: 61
A sociedade vive para o Estado; o homem, para a máquina do Governo.
O Estado Poder inverte a ordem dos fatores. Para ele a força do Estado é que confere liberdade e prosperidade aos cidadãos. Seu princípio prioritário é a autoridade. Ávido de tudo reger, sequioso de tudo regular, o Estado Poder absorve e centraliza um número sempre crescente de atividades. Apoiando-se num aparelho tecno-burocrático, ele dirige, comanda, ordena. O Estado Poder mantém a nação sob tutela. Para fazer a felicidade dos cidadãos a despeito deles, senão contra .
SCHWARTZENBERG, 1978: 329
E como no final das contas não é senão uma máquina cuja existência e manutenção dependem da vitalidade circundante que a mantenha, o Estado, depois de sugar a medula da sociedade, torna-se esquálido, héctico, esquelético, morto com essa morte ferrugenta da máquina, muito mais cadavérica que a do organismo vivo. Este foi o signo lamentável da civilização antiga.
Houve quem retrucasse - a natureza não se apresenta tão docemente arranjada. É preciso ordená-la. De fato, nossa própria origem vem da mais violenta manifestação; porém, a mesma natureza se encarrega de amenizá-la. Se entregue a tarefa ao Estado, ele incrementa a burocracia, para subvencionar sua propria ambição - a militarização da sociedade. Eis o receio de RICARDO: ver o capital rendido à tributação. Como o Estado nada produz, os recursos são expropriados da produção, assim compromenetndo o crescimento em prol de ajudar os pobres, na benemerência proselitista. Ao refutar o auxílio aos mais sofridos RICARDO não visava o infortúnio da massa, mas a certeza de que o livre desenvolvimento sempre será de algum modo equalizado; porém, se estancado, as consequências serão primeiro sentidas naquelas periferias. Foi exatamente o que se sucedeu na U.R.S.S. e nos arremedos mais ou menos fiéis, incluindo os rivais nazifascistas Os trabalhadores não tiveram como entender, e, pior, viram o capital excedente ser investido nas novas máquinas, os novos concorrentes, e assim procederam a bizarra revolta intitulada de Luddismo. Eis como se configurou a notável oportunidade para que MARX viesse a propalar o deletério sofisma pelo qual se dobrou o ocidente. Após um século do delta de sangue, ainda nos resta o flagelo:
Os impostos no Brasil - com uma gigantesca carga tributária indireta, embutida nos preços de toda a cadeia produtiva, o que gera impostos em cascata - são ainda maiores que aqueles que Obama planeja implementar. O intervencionismo estatal no país é verdadeiramente horrendo. As tarifas de importação são abusivas.
As ideias são mais poderosas que exércitos. - www.mises.org.br, em 16/4/2010.
A urgência do Estado é seu aparato bélico, seu exército. O Estado é, antes de tudo, ele próprio o produtor de insegurança, para vender sua segurança. O motivo do protecionismo é a taxação que lhe convém. A legislação eleitoral é a mais eloquente manifestação de "reserva de mercado" à casta dominante. O estatismo é a forma superior que tomam a violência e a ação direta constituídas em normas. Um exemplo concreto deste mecanismo achamo-lo num dos fenômenos mais alarmantes destes últimos anos: o aumento vertiginoso em todos os países de contingente policial. Um curioso paradoxo viaja pelas ondas da informação: a imprensa livre, que tanto propugna pela democracia, e liberdade, e condena com veemência os regimes militares, é a primeira a exigir batalhões nas ruas à imposição da ordem. O crescimento social obrigou iniludivelmente a isso. Por muito habitual que nos seja, não deve perder seu terrível paradoxismo ante nosso espírito o fato de que a população de uma grande urbe atual, para caminhar pacificamente e atender a seus negócios, ainda necessita de uma polícia que regule a circulação. Mas é uma inocência das pessoas de "ordem" pensar que essas "forças de ordem pública", criadas para a ordem, vão contentar-se com impor sempre o que aquelas queiram. O inevitável é que acabam por definir e decidir elas a ordem que vão impor - e que será, naturalmente, a que lhe apraz, a mais rentável, a que lhe assegura a manutenção do elevado status.
Para Lukács, o liberalismo – que se inspirava na doutrina econômica clássica; que supunha suficiente a garantia de liberdade jurídico-formal para ação do homo economicus engendrar automaticamente um estado social e cultural de felicidade – foi desmoralizado, na prática, pela intervenção do Estado na vida econômica, pelo contrôle alfandegário, pelo protecionismo e sobretudo pelos monopólios.
KONDER, 1980: 80
Todos, disse TODOS os dantescos episódios, as monumentais carnificinas somente se precipitam graças à esta visão estereotipada da ciência, da filosofia, educação, cultura, da religião, e da política, o arquétipo de valores, enfim, que se abateu de modo indelével, por isso devastador, sobre o Ocidente. Essa "sociedade" chegou no ápice, ponto de seu merecido declínio. A locomotiva já desconfia do flagrante:
"Os EUA pretendem se comportar mais como China do que como EUA daqui em diante." (CANZIAN, F., O mundo pós crise. - Folha de São Paulo, 24/8/2009)
Conquanto a invenção platônica vem abaixo sob a égide papal, pesquisa encomendada pelo Serviço Mundial da BBC (19/4/2010) assinala que a imagem norteamericana já melhorou bastante. Os resultados não surpreendem.
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Redenção por cooperação
A visão da evolução como uma crônica competição sangrenta entre indivíduos e as espécies, um desvirtuamento popular da noção de Darwin da 'sobrevivência dos mais aptos', dissolve-se diante de uma nova visão de cooperação contínua, forte interação e dependência mútua entre as formas de vida. A vida não conquistou o globo pelo combate, mas por um entrelaçamento. As formas de vida multiplicaram-se e tornaram-se complexas cooptando outras, e não apenas matando-as.
SAGAN, D., cit. DAWKING, R.: 288
O progresso da civlização muito menos advém de ações predatórias, mas através do comércio, ou seja, por causa do interesse recíproco, pela cooperação, enfim.
O resfriamento do Cosmos ensejou a ordenação natural de todo o sistema, propiciando a forma de nosso planeta e mesmo da biosfera. Aliás a designação de cosmos, grega, para variar, significa espaço naturalmente ordenado. O princípio cabe perfeitamente à vida. Se nossa pré-história foi marcada por sangrentos confrontos, nem por isso necessitamos que a violência permaneça regendo nossas ações.
Acostumados com o sistema cartesiano, logicamente encadeado, ao soltar-lhes as amarras os estudantes se viram flutuando, à mercê dos tubarões. Mal sabiam que os predadores são fomentados justamente pelo salva-vidas.
Entre a teoria dos quanta, que sustenta o edifício científico da idade atômica e o pensamento dos economistas e filósofos, marxistas e tecnocratas, parece terem decorrido séculos. Já não falam a mesma língua. Já não têm nem uma idéia comum.
KRAEMER, Eric, La grand mutation; cit. GOYTISOLO, J.V.: 69
Aos formandos de Administração de Empresas sugeri o descarte do ideal competitivo. Pronto! Arregalaram-se todos os olhos. Mas aonde quer chegar o aventureiro? No futuro, respondi-lhes. E o futuro se expande a todas as direções. Se você escolher uma raia ocupada, por certo esquece da sua. Em outras palavras: está alienando sua existência, em prol de mera porfia. Se o pointer abandonar sua intuição em troca do rastreamento utilizado pelo cocker, ambos estarão condenados.
"Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (LÈVY, Pierre, cit. PELLANDA e PELLANDA: 118)
O prêmio Nobel ILYA PRIGOGINE (cit. ANES: 108) evidencia como se processa a evolução indiscriminada :
“O sistema deve ser aberto, isto é, sujeito a uma troca de matéria e energia com sua vizinhança, movimentando-se 'de modo dinâmico, não-linear'.”
Então disse-lhes que a livre iniciativa, o meio mais utilizado no mundo à produção, não mantém sua chama acesa na livre concorrência, mas na criatividade, na interatividade, na identificação das lacunas do mercado, e em plausíveis soluções, elementos que per se desdenham as disputas.
Cada qual tem seus próprios matizes, mas estão conectados por suas implicações gerais. O que se precisa é de uma economia nova, orgânica, com um toque leve, suficientemente sofisticado para permitir a interação - que, para os propósitos deste livro, chamo de 'O efeito borboleta'.
ORMEROD, P. 2000: 16
Em outras palavras: identificar as necessidades circunstanciais, para tentar preenchê-las, e não como trunfo ao domínio.
Não é a adaptação bem sucedida a um dado ambiente que constitui o mais notável formador da vida, mas a teia de processos ecológicos em um sistema ambiental que forma os padrões psicológicos e comportamentais, os quais podem apoiar-se na genética. A evolução acontece não como resposta às exigências da sobrevivência, mas como um jogo criativo e necessidade cooperativa de um universo todo ele evolutivo.
LEMKOW,
A. F.: 183
Desse modo delineamos um horizonte menos cruel, conquanto alvissareiro: "De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.” (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 96)

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