segunda-feira, 1 de março de 2010

O medo como desvirtuante social



O mêdo constitui a base do
dogma religioso, bem como
de muitas outras coisas
na vida humana

RUSSELL, B., Porque não sou cristão: 57

Não há nenhuma ilusão maior do que o medo, nenhum erro maior do que armar-se.
Nenhum infortúnio maior do que ter inimigo.
Quem conseguir entender qualquer tipo de medo, estará sempre em segurança.
TAO TE KING: 46

O propalado fogo eterno é cláusula pétrea para tocar o gado. Todavia, além de erro estratégico brutal, que pode se transformar em estouro da própria boiada, e o fim do boiadeiro. Ademais, fogo eterno é impossível, exceto se a eternidade excluir o todo o passado, e o presente!
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Padecemos, todavia, pelo medo. E por isso, todos apelam também pelo medo.
Para alguém ser eleito, o melhor é mostrar a abjeta figura adversária.
Imagine esses neoliberais... o que não seriam capazes de fazer?
O medo atingiria o povo e a liderança seria entregue àqueles
que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço.
A época estava madura para a solução fascista.
POLANYI: 275
Os americanos receavam que a Revolução Soviética avançasse pelo Alaska, e assim ROOSEVELT pode lascar seu próprio povo. DE MASI (p. 279) explica:
Quanto mais as pessoas são ricas, mais são cínicas e amedrontadas. Têm medo de perder os privilégios que, justamente, não merecem. Foi este o medo que serviu de base ao fascismo. Quem tem medo deseja um pai disposto a assumir a responsabilidade de todas as suas questões mais complicadas. Depois, acaba aceitando até palmadas do papai.
Os italianos glorificaram MUSSOLINI; e os alemães, o falso debilóide:
"O New Deal de Hitler era muito mais coerente do que o de Roosevelt e muito mais bem-sucedido quanto a acabar com o desemprego." (SKIDELSKI, R.: 118)
Todos tomaram para si estados admiravelmente construídos - não por eles, claro, mas precisamente pelas forças e idéias que eles combatiam: a ineficácia, a palidez da democracia liberal para enfrentar o fantasma vermelho. Em vez do tradicional "Estado sou eu", o lema passou a ser o Estado é meu.
Os espanhóis se arrasaram mutuamente, à chegada do papai FRANCO. A Argentina ficou de joelhos com PERÓN, e nosotros, macaquitos brasileños, aceitamos e até preferimos a corrupção em larga escala, em nome de uma pretensa paz e justiça social:
“Burgueses burros, não entenderam que eu estou querendo salvar a vida deles.”
(VARGAS, Getúlio, cit. CAMPOS, Humberto, Crítica; Jorge, F: 296)
O Presidente se transformava em ditador e falaria à nação justificando seu ato como desejo de livrar o país da desagregação e do domínio comunista. Nesta mesma ocasião, imitando o primeiro Imperador do Brasil, ele outorgava ao País a nova Constituição, elaborada pelo jurista Francisco Campos, que era nomeado seu Ministro da Justiça.
Wikipédia
No raiar do XIX a nova indústria criara a matéria-prima aos artistas, este novo tipo de homem - o obreiro industrial - mais criminoso que o tradicional. A França se apressou em desenvolver uma numerosa Polícia. Em 1810 surge na Inglaterra, pelas mesmas causas, um aumento da criminalidade, e então os ingleses percebem que não têm Polícia. Governam os conservadores. Que farão? Criarão uma Polícia? Nada disso. Preferem agüentar, até onde se possa, o crime. Conformam-se em se adaptar à desordem, considerando-a como resgate, um preço cobrado pela liberdade. "Em Paris - reportava-se e opinava JOHN WILLIAM WARD, - há uma Polícia admirável, mas pagam caro suas vantagens. Prefiro ver que cada três ou quatro anos se degola meia dúzia de homens em Ratclife Road, a estar submetido a visitas domiciliárias, à espionagem e a todas as maquinações de FOUCHÈ. São duas idéias diferentes do Estado. Desde 1689 o inglês prefere o Estado limitado, ainda que por isso não obtivesse a mesma sensação de segurança. A equação é elementar: quanto maior o Estado, menor o cidadão; e o inverso, corresponde - quanto menor o Estado, maior espaço ao indivíduo resplandecer:
Shaftesbury se deu conta que as doutrinas de Hobbes solapavam toda a interpretação espiritual do universo e convertiam a moral em simples conveniência. Deu-se conta, também, que estas doutrinas e outras parecidas destruíam os estímulos da arte e as grandes obras artísticas da humanidade. A filosofia de Shaftesbury foi planejada para combater a interpretação mecanicista da realidade, mas sobrepujou a filosofia daqueles em seus esforços para salvar as artes dos efeitos das idéias mecanicistas: aspirou fundar bases não só para a verdade e a bondade, como também para a beleza.
Por certo estava mais certo. Sem milícia, não necessitado sustentar enormes contingentes improdutivos, a Inglaterra superava a Europa inteira, colocando-se como locomotiva do desenvolvimento.
Na era dos direitos passou-se da prioridade dos deveres dos súditos à prioridade dos direitos do cidadão, emergindo um modo diferente de encarar a relação política, não mais predominantemente do ângulo do soberano, e sim daquele do cidadão, em correspondência com a afirmação da teoria individualista da sociedade em contraposição à concepção orgânica tradicional.-
BOBBIO, N.,
1992: 3
Com século de antecedência, eles vaticinaram as conseqüências da mêdo disseminado especialmente no seio latino:
Locke e Shaftesbury consideravam o despotismo como um mal francês e, quando escreveu o documento, em 1679, Locke acabava de voltar da França, após estudar o mal francês enquanto sistema político. .
BRETT: 109-
A invasão napoleônica legou o mêdo aos germânicos, e entre os próprios francos.
Ambos passaram mais de século se dizimando, uns com mêdo dos outros.
A conseqüência apurada pelo mêdo se caracteriza justamente em extrapolar o perigo que ele quer evitar, ou do qual se quer proteger.
Neste momento a nação está com medo louco dos socialistas e deseja ardentemente voltar a encontrar o bem-estar. É necessário que a nação, que nos últimos 34 anos tem esquecido o que é o despotismo burocrático e militar o prove de novo e, desta vez, sem o ornato da grandeza e da glória.
TOCQUEVILLE cit. RODRÍGUEZ, R. VÉLEZ : 119.
O que hoje assistimos?
A maior regulação dos mercados financeiros é apenas o começo. Os gastos governamentais em todo o mundo estão explodindo. O protecionismo já se avizinha. O estado policial já está atacando os indivíduos e as comunidades que ousam manter sua segurança e privacidade. Pense bem nessa histeria que estamos vendo, a quem estão direcionando a culpa e a quem estão pedindo soluções, e você terá a perfeita definição de um mundo às avessas.
Lew Rockwell, Capitalismo - a grande invenção da humanidade 1/3/2010

O único meio possível para praticar este planejamento central é através de um governo autoritário. A vontade arbitrária dos governantes não irá respeitar as diferentes preferências individuais. As minorias dissidentes serão forçadas a seguir o ideal coletivista. Acaba-se sob uma tirania da “maioria” que, na prática, representa a ditadura dos governantes que falam em nome do povo, mas agem para seus próprios benefícios. Um “socialismo democrático” não passa de uma ilusão. A Venezuela é mais um triste exemplo disto.

CONSTANTINO, Rodrigo, O caminho da servidão, 3/3/2010
Talvez uma das principais tarefas das gentes que se ocupam com este fenômeno, cuja natureza abrange não só o intelecto, a psiquè, deveria ser combater o mêdo em todas suas instâncias. Eliminar hipóteses fantasiosas, "compreendidas" quase sempre de modo capcioso, porque interessante ao dono do bastão. Refiro-me ao mêdo como paixão, irracional, não como fruto de prudência, de uma consideração racional de possível infortúnio. A diferença entre ambos pode ser a seguinte, dentro de um quadro comum: num momento desastroso, enquanto o medo conjuga o pânico; a prudência adota medidas para minimizar o dano.
Evidentemente não se tribute ao mêdo o obstáculo maior para a despersonalização do ser humano. Há outras mazelas, talvez se quiséssemos radicalizar poderíamos até taxá-los descendentes, mas que merecem abordagens especiais. Refiro-me à inveja, e as naturais decepções, aqueles sonhos frustrados, ou cindidos. Neste campo a vida sexual assume o maior relevo; e o ciúme, não deixa de ser um subproduto do próprio mêdo.
Por ora, para uma segunda-feira posterior a um fim-de-semana repleto de tragédias, a rigor todas confirmando o que vem sendo prenunciado ao longo dessas postagens, entendo merecer alguns instantes de silêncio, até mesmo em homenagem à memória dos bravos chilenos, atingidos pela trágica excessão geológica, o falecimento do exemplar ser humano JOSÉ MINDLIN, mas também de tantas vítimas de bárbaros crimes que de maneira avassaladora tornam nosso meio a cada instante mais precário, como a implorar pela atuação autoritária, heróica e imbatível, do justiceiro Leviathan.

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