domingo, 28 de março de 2010

Gravidade sem força

O dialético degrada a inteligência de seu antagonista. Só se escolhe a dialética quando não se tem mais nenhuma saída.
NIETZSCHE, 2000:20
Propugna-se pelo "direito" à educação. Alfabetização é prioritária; a leitura, todavia, não. De gravidez todos entendem; da gravidade, ninguém.
Experimente perguntar para o dr. ao quê ele atribui permanecer preso à Terra enquanto ela se desloca em impressionante velocidade ao redor do Sol. Ele poderá replicar que isso foge de sua área profissional, ou então, o mais comum, o lugar-comum ensinado:
O que é gravidade ? Por que você cai depois de dar um pulo? Por que os rios correm da parte mais alta para a mais baixa? É porque existe uma força invisível chamada gravidade. Ela faz com que objetos sejam atraídos uns pelos outros, dependendo da massa (quantidade de matéria) que os constitui. Quanto maior a massa, maior a atração. A Terra é tão grade que sua poderosa gravidade é capaz de atrair todas as coisas, mantendo-as sobre sua superfície. www.escolas.trendnet.com.br/liceu_camp/Estudo_Interavo/gravidade/2.htm-
E por assim tão óbvio, passamos pela vida ignorando o princípio mais elementar.
Já li muitas bobagens. Pela enormidade, vigência, e em especial pelas consequências, esta é imbatível. Como educar (dotar de informações) um ser humano com uma orientação inversa à realidade que lhe cerca, responsável por sua própria existência? Equivale equipá-lo com rodas à uma viagem transatlàntica! Ou pior, ainda, mas também comparável - indicar o caminho do cemitério para comemorar Ano Novo.
Dir-se-á que não interessa ao ferreiro saber por qual razão o movimento do martelo é menos cansativo em direção da Terra. O fato é que é, e isso lhe ensina a experiência. Por qual razão devemos ser melhor informados, se com essas rudimentares noções já podemos cumprir a jornada, conseguir alimento, tratar do teto, da roupa, e diversões? E assim, náo muito diferente dos quadrúpedes, somos inclinados a nos satisfazer com esses elevados objetivos, os quais podem variar, reconheço, em qualidade, intensidade e quantidade. Um doutor encontrará rápido acesso a um prato sofisticado, a variadas modalidades de diversão, e poderá adquirir até mesmo dois tetos, em vez de apenas um. Mas será que possuir duas escovas-de-dente, duas camas e duas casas lhe garante o dobro da felicidade?
Compus esta moldura radical porque o quadro é surreal! O preconceito de um Universo regido por forças levou o ser humano a se armar até os dentes, para vencer na vida! A compreensão de nossa origem e evolução foi totalmente deturpada, as relações sociais descambaram para confrontos sociais, toda natureza se deteriorou, e o resultado dessa verdadeira insanidade não preciso também apontar.
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
Há século a ciência vem desse modo advertindo. O que lhe faltou foi ser assimilada, para se tornar consciência. E nem digo melhor assimilada, porquanto sequer um pingo, o pingo inicial, foi absorvido. Ainda se pensa que a força-maior sobrepuja a menor. A corrida é apenas para tornar a sua cada vez maior, e diminuir as adversárias, nos campos que se puder alcançar.
Nenhuma experiência nefasta precisa ser realizada para se conferir seu fracasso, alguma vantagem dentro das desvantagens, o tamanho dos ganhos e dos danos, o balanço entre custo e o benefício, se possuímos, de antemão, a certeza de seu absurdo.
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O esplendor da gravidade
Não existe nenhuma força gravitacional; por isso ela não é visível, nem detectada. NEWTON soube bem calcular a coincidência, como se calculava o tempo da "passagem" do Sol, mas jamais pode estipular de onde vinha tal capacidade, muito menos como a suposta força era capaz de agir a grande distâncias. Não existe a hipótese de atração/repulsão, esta dialética empilhada desde os tempos de PLATÃO.
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo.
HOLTON, G.: 127
Tentarei traduzir a formosa noção com alguns comezinhos exemplos.
Largue uma rolha grande numa banheira, e outra menor. Verá que, vagarosamente, a menor se juntará a maior por uma única razão: a maior causa uma depressão na água, de modo que a menor escorrega em sua direção.
Suponha um navio em movimento. O que acontece com a água? Ela se abre, na medida que passa o transatlântico, corpo insignificante perto da magnitude e do peso oceânico. Mas qualquer partícula que circundar a passagem, fatalmente tenderá a ir para baixo do casco, muitos colando nele. Haja trabalho de limpeza nas embarcações. Nenhuma tem força magnética, ou atrativa qualquer.
Pense numa rede de um trapezista. Ele deita no meio. Largue uma bola na ponta. Ela correrá, imediatamente, ao corpo do circense. É o caminho mais natural, mais fácil para ela percorrer.
Agora lembre como a Terra percorre o espaço: além do circuito solar, ela gira sobre si mesmo, estabelecendo uma espécie de sutil redemoinho, desse modo formando a ao seu redor a clássica figura de um redemoinho d'água. Por isso a gravidade assola todo o espaço que circunda a Terra, e não apenas nas laterais, como acontecem com navios, por exemplo.
Para finalizar, forçando um pouco, mas uma idéia que pode explicar o desenho em espiral apresentado pelas galáxias e até por ciclones: quando a água escorre pelo ralo, não é o ralo que lhe atrai, mas as circunstâncias curvadas que lhe dão vazão. Porvavelmente este é o mesmo critério que provoca a sucumbência dos corpos nos buracos-negros, transportando-os à outras dimensões para nós por ora impenetráveis, ou outros universos como invoca GREENE. O movimento cria um vácuo que parece puxar todos elementos da vizinhança. O fenômeno é velho conhecido dos pilotos de Fórmula 1: à ultrapassagem o bólidos quase cola no concorrente, e assim incrementa sua velocidade até uns 10% acima do máximo que sozinho pode atingir.
Nada depende de força, mas da presença e do deslocamento da massa.
Tanto no campo espacial, como na vida cotidiana, é até uma questão filosófica, de caráter ético: o espaço respeita a presença do corpo, e por isso se retrai. Eis porque se diz que a presença do corpo "deforma" sua circunstância.
Espaço e tempo tornam-se jogadores do cosmos em expansão. Eles ganham vida. A matéria aqui faz o espaço se curvar ali, o que leva a matéria aqui a se mover, o que leva lá o espaço a se deformar, e assim por diante. A relatividade geral dá uma coreografia para a ciranda cósmica do espaço, tempo, matéria e energia. BRIAN GREENE, cit. ISAACSON, W.: 235
Não há confronto de forças, mas cooperação. O que se via dialético, é simplesmente ético.
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