segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ciência Moderna & Ciências Políticas

Assim como Newton formulou as leis fundamentais da realidade física, os filósofos e sociólogos, viajando na sua esteira, esperavam descobrir os axiomas e princípios básicos da vida social. Seu universal maquinismo de relógio converteu-se em modelo a partir do qual comparava-se o Estado com um mecanismo preciso, sujeito a leis, e retratavam-se os seres humanos qual máquinas viventes.
ZOHAR, D., 2000: 23  
Como pilotos cujos instrumentos de navegação às vezes falham, os líderes fazem vôos cegos com alarmante freqüência. CLEMENS, J. K.: 106
O legislador parece o homem que traça sua rota no meio dos mares. Ele também pode dirigir o barco que o transporta, mas não poderia mudar sua estrutura, criar os ventos, nem impedir que o Oceano se erguesse a seus pés. TOCQUEVILLE, A, A Democracia na América: 185

O curso natural das coisas não pode ser inteiramente dominado pelos esforços impotentes do homem, pois a corrente é demasiada rápida e forte para que a interrompa; e posto as regras que a orientam aparentem ter sido estabelecidas para os melhores e mais sábios propósitos, às vezes produzem efeitos que escandalizam todos os nossos sentimentos naturais. SMITH, Adam, 1999: 204
Se a "filosofia" de COPÉRNICO, VESÁLIO, BACON, DESCARTES, KEPLER, TICHO BRAHE, GALILEU, NEWTON, LAPLACE & MACH tornou a ciência cega de suas possibilidades, a "ciência" encordoada de MAQUIAVEL, HOBBES, ROUSSEAU, MIRABEAU, SAINT-SIMON, LAMARCK, LINEU, QUÈTELET, MALTHUS, DARWIN, HAECKEL, BENTHAM, MILL, COMTE, MERCIER DE LA RIVIERE, HEGEL, FICHTE, HERDER, SCHELLING. IHERING, SAVIGNY, THIBAULT, ENGELS, MARX, AUSTIN, os dois SOREL, GRAMSCI, WEBER, DURKHEIM, SPENCER, PLEKHANOV, RADEK, JULIO VERNE, MAURRAS, TARDE, DILTHEY, WUNDT, VEBLEN, FOULLIÈE, LAPOUGE, PIERRE DRIEU, JULIEN GRENFEL, FREUD, GOBINEAU, WISER, OPPENHEIMER, FRANK, NEURATH, HAHN, SCHILICK, CARNAP, SCHLICK, KARL SCHIMITT & KEYNES (ufa!) consagrou o carma que humanidade até hoje suporta - uma ciência que anatomiza e derrete as entidades humanas como matéria inerte.
Mas os governos, e aqueles que os assessoram nestas questões, sofrem da ilusão de controle. Não é possível, no estado corrente do conhecimento científico, fazer previsões econômicas de curto prazo com razoável grau de precisão. ORMEROD, P. 2000: 124
A má tese, ou a má temática, a "quantofrenia", conforme Sorokin, ou a "aritmomania", como diz Georgescu-Roegens, coroou o homo faber tal homo mathematicus. O universo-máquina, que ainda tinha alma, passou a ser ‘um vasto sistema matemático de matéria em movimento’, um ‘universo material (onde) tudo funciona mecanicamente, segundo as leis matemáticas.’
Dessa matematização do saber científico, na qual não se pode deixar de ver uma plena adesão ao clima cultural do século de Descartes, deve participar – segundo Hobbes – também a ciência política, ou, como ele a chama, pela falta de distinção entre a ciência e a filosofia, a filosofia civil. BOBBIO, N., Thomas Hobbes: 76
 O essencial para Hobbes não era a desmistificacão do poder, mas antes a representação da ordem política como um gigantesco autômata, que autorizaria a intervenção de técnicos qualificados. Governantes sensatos, inspirados pela razão científica, poderiam modificar o curso da vida social num sentido favorável a maioria dos interessados. BASTOS, Wilson de Lima: 173.
Tradicionalmente invocadas pelo egoísmo megalomaníaco, as Ciências Políticas ainda são vítimas da obsoleta faina cientifica
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais mas não quantificáveis, tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível. SIMPSON, David, O Fim da Macroeconomia?,: 6
Na verdade, quase todas as pessoas, não importando seus credos políticos, vêem o futuro como uma simples linha, reta, um prolongamento do presente. Acho que a eles está reservada uma grande surpresa. Chegamos ao fim de uma era - e nesse ponto todas as apostas são suspensas. TOFFLER, A., Previsões e Premissa: 96
"A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio."(FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39).
Em nosso século, o estudo da constituição atômica da matéria revelou que a abrangência das idéias da física clássica apresentava uma limitação insuspeitada e lançou nova luz sobre as demandas de explicação científica incorporadas na filosofia tradicional. Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física. BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução.
"O planejamento em escala abrangente é impossibilidade epistêmica”.( GRAY, J., cit. GIDDENS, A.: 80
BERTRAND RUSSELL (Ideais Políticos: 24)  antecipou a forma pela qual os prejuízos ocasionados pela centralização do poder são minimizados, ao gáudio de todos
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir-se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania. A autonomia, para distritos e organizações, daria menos ocasiões para que os governos fossem chamados a tomar decisões nos assuntos alheios.
Agora é 'web power' em vez de 'flower power'
“Justiça ‘social’ ou ‘distributiva’ é… um conceito sem sentido dentro de uma ordem espontânea. Faz sentido apenas dentro de uma organização, isto é, por sistema por demais limitado. 
As corporações centralizadas e autoritárias têm fracassado pela mesma razão que levou ao fracasso os estados centralizados e autoritários: elas não conseguem lidar com os requisitos informacionais do mundo cada vez mais complexo que habitam. FUKUYAMA, F., 2002: 205
O mundo em que vivemos é dinâmico, está aberto, em transformação constante. Esta abertura é justamente onde podemos encontrar possibilidade, projeto, construção... Assim, as saídas não estão dadas, não estão definidas de antemão. É preciso inventá-las, é necessário criá-las. GALLO, Silvio, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Turbulências em países europeus alertam para nova crise econômica no continente É óbvio: “Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade." (TOFFLER, Alvin e TOFFLER, Heidi: 20) “O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.” (TOFFLER, A.: 199)
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER  & STACEY, : 95.
Se não temos poder, sequer, para regular o próprio sono, como querer impor alguma ordem, mesmo moral, que não seja absurda?  Por outro lado, desprovida de ordem ou moralidade, deixada a comunidade ao relento natural, não seria ela um prato predileto a qualquer predador, ou vítima de alguma peste, tal qual incidentes na Média?
Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima'. Entropia - a flecha do tempo
Pois não é bem assim. Entropia: do grego, significa evolução. Energia + tropos = transformação, ou capacidade de modificação. Arthur Eddington comparou a entropia com “a beleza e com a melodia porque estas três coisas englobam ordenação e organização.” (Eddington, Arthur Stanley, (1882-1944) cit. Coveney, Peter e Highfield, Roger: 133) "Ora, nossas observações do mundo exterior, que nos conduzem à física, nos revelam um universo constituído de uma multiplicidade de sistemas ‘abertos’, todos em incessante interação com seu ambiente.” (Ben-Dov: 149)
Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
O fato do ordenamento natural não admitir entabulamento matemático não significa que não haja ordem natural.
O estudo de como surge a ordem, não em conseqüência de um decreto de cima para baixo da autoridade hierárquica, seja política ou religiosa, mas como resultado de auto-organização por parte de indivíduos descentralizados é um dos acontecimentos mais interessantes e importantes de nossa época. KELSEN, H., A democracia: 140.
O ser humano, porém, cisma na trilha partida da longínqua caverna, tão anti-natural quanto fantástica, porque baseada justamente no sobrenatural!  "Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós." (VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, «13.ª carta»,.) Muitas coincidências asseguravam as certezas, assim conduzindo o comboio humano ao maior engano da História da Civilização.
Hoje em dia todos nós estamos profundamente cônscios de que o entusiasmo que nossos precursores tinham em relação aos feitos maravilhosos da mecânica newtoniana levou-os a fazer generalizações nesta área de previsibilidade, na qual de modo geral talvez tenhamos tendido a acreditar, antes de 1960, mas que hoje reconhecemos que era falsa. Queremos nos desculpar coletivamente por haver confundido o público instruído em geral, fazendo-os acreditar em idéias sobre o determinismo de sistemas que satisfazem as leis de movimento de Newton, as quais, a partir de 1960, foi provado serem incorretas. COVENEY, P. & HIGHFIELD, R., A flecha do Tempo: 242 
Poderíamos ou deveríamos continuar seguindo os fenomenais exemplos que podemos observar, ainda mais se iminente uma anarquia? Pois esta anarquia quer dizer, novamente e apenas, que o ser humano desprovido da matemática parece incapaz de perceber a mais natural hierarquia, que é a presença do corpo fazendo o retrair o espaço, com isso propiciando o inevitável e necessário efeito gravitacional. Não há nenhum Maestro, ou forças reguladoras das órbitas planetárias, mas tampouco há desordem, ou anarquia em nenhuma relação cosmológica. Ipso facto levaria ao colapso, algo impensável justamente porque antinatural. 
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo. HOLTON, G.: 127
Diante do interminável Niagara de informações, só mesmo por algum interesse escuso, ou pela mais completa ausência vocacional é que  as Ciências Políticas permanecerão  pautadas por descrições ou interpretações fantasiadas de acordo com o gosto do passista,  estatísticas e tentativas de descobrimentos de mapas ao tesouro, caminhos ao pasto-verde, tudo centrado pelo que os olhos de seus porta-estandartes alcançam mirar.  Agora não mais. I hope.
O problema essencial é que os nossos modelos tanto os de risco quanto os econométricos, por mais complexos que se tenham tornado, ainda assim são simples demais para capturar a ampla gama de variáveis que definem a realidade econômica mundial. (Alain Greenspan)
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas. GOYTISOLO, J. V.,  Interações
Isso é incalculável, e por isso inalcançável a qualquer terráqueo ou E.T.  Por paradoxo, todavia e felizmente, o fenômeno se faz muito mais simples do que as mirabolâncias que elevaram a trágica babel. Para usufruí-lo  não se requer prática nem habilidade -  basta copiar o método, a pueril lição. Durante o mais amplo recreio, em vez de perscrutrar vozes populi ou dei, poderemos surfar na crista da magestosa terceira onda, ou dançar ao som da fabulosa sinfônica:
Tal qual o arco faz vibrar as cordas do violino produzindo sons típicos, as excitações térmicas promovem transições eletrônicas e assim os átomos emitem espectros específicos de radiação (não sonoras mas) de ondas eletromagnéticas, em uma grande gama de freqüências tais como rádio, microondas, infravermelho, luz visível, raios X, etc. COHEN, Aba, Listening to the atoms

4 comentários:

  1. Cesar Augusto:

    Felicitaciones por tu blog. Esta muy bueno.

    Por cierto, como haces para poner ese ticker con los resultados de los juegos en el fondo?
    De donde sacas el codigo?

    Saludos

    Elvis

    Dolar Paralelo Dolar Permuta Lechuga Verde<

    Dolar Paralelo Dolar Permuta Lechuga Verde

    Mensajes Movilnet Mensajes

    ResponderExcluir
  2. Impressionante a qualidade dos textos do seu blog, Sr Cesar.

    Sou apenas um estudante de economia de 18 anos, tenho muito a aprender ainda. Mas estou pautando meus estudos em críticas como essa.

    É maravilhosa a ideia de integrar a ciência social à teoria da relatividade. Tudo está errado nas ciências sociais. O positivismo reina na economia, minha opinião de observador diário do método de estudo econômico.

    Ainda não sei como isso seria possível, preciso estudar mais. Mas, pretendo ser um dos entusiasta das novas ciências sociais.

    Vejo o quanto aprendo mais na internet do que na universidade e às vezes nem vejo sentido em estar em uma. A ignorância dos acadêmicos em relação às críticas impede um ensino livre e realmente científico.

    Provavelmente farei alguma especialização em epistemologia. É um tema fascinante.

    Como jovem estudante, preciso de orientação. Mas orientação das pessoas certas. Estou aberto a conselhos, na verdade ficaria muito grato em receber um do senhor.

    Nessa ciência tão anti-científica, eu, aprendiz, fico sem rumo.

    Parabéns pelo blog, tenha um bom dia

    ResponderExcluir
  3. Honrado, e grato. Fico feliz em proporcionar minhas balizas. Repare, Evandro, na série analítica da Escola Austríaca de Economia que iniciei em julho. Ontem foi o último raid. Terás ali uma boa noção dos desvios e do atraso da economia. Mais do que a Relatividade, que é apenas um marco, existe a Teoria Atômica para compor e espalhar a riqueza alhures. Meu conselho: finja que presta atenção nas aulas, porque ainda se exige formaturas, faça lá as provas de acordo com o molde, e gaste suas economias com as obras dos TriPulantes da Nav's ALL. Quanto à especialização em epistemologia, asseguro-lhe ser impossível: a ciência não é especialista. Ipso fato, deixaria de ser ciência, para ser mera técnica. Faça o curso, e depois parta a um mestrado. Aí sim, já terás o espaço inteiro para navegar para onde aprouver. Enquanto isso, vá navegando com a gente, e se quiser, deixe seu contato. Sucesso e felicidades.

    ResponderExcluir
  4. Agradeço muito a resposta!

    Creio que, em comparação a muitos outros estudantes, estou em grande vantagem, por conhecer os erros das ciências sociais e o pensamento complexo tão cedo.

    Já li as postagens sobre a escola austríaca. São muito oportunas para mim, que tenho um enorme interesse na escola, sobretudo em textos e livros de Hayek. Pelo que vi, falta a escola ir um pouco além do seu método.

    Talvez (por que não?) seja eu um dos responsáveis pela revitalização da escola na discussão econômica, aplicando novos conceitos sobre estudo da complexidade, num futuro que certamente virá.

    Leio os textos marxistas da faculdade (com dor nesse coração que bate pela ciência) para passar de semestre, e quem sabe encontrar algo diferente pela caminhada da graduação. Mas tratei de encomendar alguns livros com as elucidações de Popper e Hayek, pra compensar o tempo desperdiçado. São autores cuja a análise da obra valem mais do que anos de faculdade feitos por muita gente.

    Obrigado mais uma vez, e deixo meu contato: evandroluisalves13@gmail.com . Qualquer material, conselho ou crítica vinda do senhor será muito bem vinda. Aliás, será um imenso favor. O que preciso é justamente estar orientado por pessoas que respiram ciência.

    ResponderExcluir