quinta-feira, 23 de julho de 2009

A imaginação na produção do conhecimento

A vantagem competitiva de uma sociedade não virá da eficiência com que a escola ensina a multiplicação e tabela periódica, mas do modo como estimula a imaginação e a criatividade. EINSTEIN, A., cit. ISAACSON, W.: 26 
A imaginação é o aspecto criativo da mente; por isso o Mahayana declara que a ilusão da separatividade é uma criação da mente que não tem existência separada. WATTS, A: 26
A imaginação é um oceano impregnado de correntes. Se tomarmos uma delas, corremos o risco de rumarmos à-tôa por longo tempo, ainda mais com destino utópico. Mira-se à frente, uma metafísica qualquer, daí partimos ao concreto, em compasso firme, retillíneo, mas o que sói acontecer é o inverso: como a Terra é redonda, após circundá-la, damo-nos conta que não saímos do lugar! Mas sem imaginação não há por onde mais navegar.
É surpreendente que as pessoas suponham que não há imaginação em ciência. É um tipo de imaginação muito interessante, diferente da do artista. A grande dificuldade reside em tentar imaginar algo que nunca se viu, que seja consistente em todos os pormenores com o que já se observou e ao mesmo tempo seja diferente do que até aí se pensava; mais, terá de ser uma afirmação bem definida, e não apenas uma proposição vaga. É, na verdade, difícil.  FEYMAN, Richard, O significado de tudo. Gradiva, Lisboa, 2001: 23
O método de produção científica pela acumulação do capital cognitivo, conhecido emprismo continha dupla valia: o homem trabalhava com questões já testadas e aprovadas. e paulatinamente enriquecia seu cofre, a ponto de supor retomar o Paraíso, desta feita em igualdade de condições. Pouco a pouco os tolos dispuseram os andaimes conforme o patamar deixado pelos mais antigos obreiros. Aos valorosos intérpretes cabia arrolar coincidências. A pedra mais condizente desenvolvia o interminável dominó. Diante da altura estratosférica dos viadutos, quem dispusesse de algum farol para iluminá-los naturalmente fazia jus à pole-position.
Conseqüentemente, a permanente necessidade da ideologia persuasiva sempre levou o Estado a utilizar os intelectuais formadores da opinião nacional. Em épocas remotas, os intelectuais eram invariavelmente os sacerdotes, e, por conseguinte, conforme indicamos, tínhamos a antiga aliança entre a Igreja e o Estado, o Trono e o Altar. Hoje em dia, economistas 'científicos' e 'livres de juízo de valor' e conselheiros da 'segurança nacional', entre outros, desempenham uma função ideológica similar em prol do poder do Estado. Vimos claramente porque o Estado necessita de intelectuais; mas porque os intelectuais necessitam do Estado? Colocando de maneira simples, porque os intelectuais, cujos serviços não são muito freqüentemente desejados pela massa de consumidores, podem encontrar um "mercado" mais seguro para seus talentos nas costas do Estado. O Estado pode proporcionar a eles poder, status e riquezas que eles geralmente não poderiam obter em trocas voluntárias. ROTHBARD, Murray, A Ética da Liberdade
Em breve, certamente, daremos o último passo, e a autoridade da ciência se imporá de modo completo no domínio dos conhecimentos sociais. Então, chegaremos a fazer uma política racional, como já fazemos máquinas elétricas racionais, porque construídas unicamente sobre dados positivos, e não sobre tendências subjetivas. A autoridade sem apelo da ciência já não é mais contestada pelo grande público em tudo o que diz respeito aos fatos físicos e biológicos. NOVICOW, J. 1910, cit. JAPIASSÚ, H., A revolução científica moderna: 178.
A colossal Babel haveria de ruir, e com ela ainda vão desavisados, na crença da tradição.
Um novo conceito apareceu na física, a mais importante invenção desde a época de Newton: o campo. Foi necessária muita imaginação científica para perceber o que é que é essencial para a descrição dos fenêmenos físicos não são as cargas nem as partículas, mas o campo situado entre as cargas e as partículas. O conceito de campo mostrou-se bem-sucedido quando levou a formulação das equações de Maxwell para descrever a estrutura dos campos magnéticos. EINSTEIN &INFELD: 244
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Embora negasse, PLATÃO primou por elevar a imaginação à potência máxima., transformando a realidade em utopia, a episteme em metafísica, e a tecnè  como veículo. Exceto ARISTÓTELES, desmoralizado no raiar do Renascimento, e SPINOZA, banido pela ousadia, ninguém mais se preocupou em refutar o pioneiro; apenas aproveitaram a corrente.. Por causa deste conforto, a humanidade navega more bipolar: ao rumo do leste, ela chega ao oeste, à mais completa frustração.
A imaginação é amiga da especulação; portanto, além de não ser exata, ainda pode ser fantasiosa, mistificada, dúbia, e quase sempre as confirmações demandam enorme EspaçoTempo. Para muitos, coisa de criança. Os perdigueiros desdenham a Filosofia, em prol dos andaimes prefabricados, devidamente testados, matematicamente confirmados. Hipóteses non fingo, também bradou o esteriotipado platônico NEWTON.  De fato, sua imensa construção se deve à parca imaginação. O ex-reverendo também apregoava: nossa imagem e semelhança era o maior dos matemáticos. O futuro presidente da Casa da Moeda da Inglaterra  teve que manipular algumas equações. Elas apresentariam a conta, ainda que decorridos séculos, é verdade.
A falta de imaginação 
Leibniz dizia que o menino que visse mais figuras, mesmo que fossem de coisas imaginárias e falsas, acabaria por se tornar o mais inteligente.
Embora a Filosofia seja a reflexão crítica sobre o conhecimento e a cosmovisão, entre a mater e a Física parece haver uma pequena confusão de tipificação. Ainda que a composição grega também fosse embalada pela mais absoluta ficção, PLATÃO  jamais se perfilou como filósofo, e sim como prático, técnico, matemático. Protofísico, ainda que calcado em flagrante metafísica.  Atesta minha petulância a clareza com que o fundador da Academia vedou a entrada de poetas, artistas e retóricos:
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platão diálogos
Que não adentre quem não queira se manifestar pela linguagem matemática.
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A faculdade de conhecer o verdadeiro se resumia ao que os braços ou olhos podiam confirmar, mas pelo semiprimata o acesso ao ideal estava plenado: "A matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina, tornou-se aquele discurso vivo que Platão considerou a única forma de conhecimento."
Tal afirmativa, além de totalmente preconceituosa, sectarista, constituia um paradoxo, atestado do dúbio caráter: "Assim trava conhecimento com o Pitagorismo, que veio a exercer uma duradoura influência sobre todo o seu pensamento e a sua atividade: na sua doutrina da pré-existência das almas." (Apresentação da biografia e livros de Platão – História da Filosofia Antiga – Hirschberger)
Mas onde PLATÂO poderia catar algum número para calcular a existência da alma? Pelo sumiço do corpo, apenas? De certo modo é verdade que o conhecimento parte da crença, e também contém abstrações, e elementos intangíveis, mas o ateniense logrou mutilá-la no velcro, ao propor esta fundamental cisão para mutilar a desenvoltura asiática, de Confúcio a Lao-Tzè. Nada, absolutamente nada na má temática de Platão & Pitágoras pode ser considerada de caráter epistemológico, senão que ideológico, de função pragmática, tecnológica, estratégica.
Eis como a episteme se tornou imprestável, subvertida, submersa por longo período:
Sobre isto, Newton foi bastante claro: tudo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese; e as hipóteses, sejam as metafísicas ou físicas, digam respeito às qualidades ocultas ou às mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental. THUILLIER,P.:69
Hipóteses fingo

1.     A imaginação é o poder mental de apresentar energicamente uma cena ou uma situação e sua aura emocional, com um forte impacto de realidade;
2.     A imaginação, devido ao seu poder de mudar/recombinar as impressões armazenadas pela experiência, é a fonte da invenção e da originalidade;
3.     A imaginação é a fonte de visões mais profundas do que a compreensão lógica, e não totalmente compreensíveis para a razão humana;
4.     A imaginação é a base da compreensão afim, por meio da qual podemos penetrar os sentimentos dos outros homens e comunicar-lhes os nossos. A imaginação Material Segundo Gaston Bachelard
Ainda que as teorias de campo utilizem quantidades, vetores e tensores, no fito de descrever regularidades e anomalias materiais, e EINSTEIN as reverenciasse como "maior contribuição ao espírito científico", o gênio só chegou à Relatividade pela produção filosófica, porém fruto de sua imaginação, não um daqueles palimpsestos gregos que passavam de mãos em mãos já há 2.400 anos. EINSTEIN não precisou se valer da matemática para concebê-la, muito menosqualquer empirismo, até porque  assentado em mísero escritório de registro de patentes.
“Não descobri a Teoria da Relatividade apenas com o pensamento racional”.
As pessoas não levam a sério tais declarações; mas Einstein falou sério. Ele sabia que a criatividade era importante. Agora, quase cem anos de pesquisas sobre criatividade estão mostrando que os cientistas também dependem da intuição. Eles também dependem de visões criativas para desenvolver sua ciência. Nem tudo é racional, matemático; nem tudo é pensamento racional. Não há motivo para a Física ser matemática. O Universo desconhece números. Por isso, e não poucas vezes, o revolucionário cientista frisou ser a imaginação mais importante que o conhecimento. Neste caso, refutava o endeusado MACH, e a flamante escola positivista, que de fato ruiu espetacularmente, malgrado ainda durar uma geração para seus principais ocupantes evacuarem, e cuja extensão ainda requer algum lapso para que, de tantos aposentos, tantos hóspedes possam se evadir sem maiores ferimentos. Entre esses afluentes, sobressaem-se os abrigados sob a pecha das humanas, mais construtores de autômatos do que de gente.
Nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, por em dúvida verdades adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois o pesquisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe fecham, de antemão, o caminho da compreensão objetiva.
DEWEY, (p.205) compôs a prece, ainda no primeiro quarto do XX:
Quando a filosofia vier a cooperar com o curso dos acontecimentos e tornar claro e coerente o significado dos pormenores diários, a ciência e a emoção hão de interpenetrar-se, a prática e a imaginação hão de abraçar-se.
Ela atravessou algumas gerações, e nada. Os estudantes de 1968 reiteraram, em plena Sorbonne: "É preciso que a imaginação chegue ao poder!" O ocidente, contudo, permanece na sala-de-espera: "Estão faltando imaginação e criatividade aos diplomatas para destravar as conversas*." (Luiz Olavo Baptista, Pres. do Tribunal de Apelações da Organização Mundial do Comércio*)
A Filosofia em geral, especificamente a Epistemologia, a Teoria do Conhecimento e a Filosofia da Ciência têm lançado férteis reflexões sobre a natureza, os limites e possibilidades do conhecimento científico, a enorme quantidade de correntes à ilusão, mas por não produzir elementos palpáveis, e com carreira profissional bastante restrita, ela ainda permanece relegada como estéril, subestimada. O preço recai em todas as produções. A Economia padece como nunca, e não encontra solução nas mais modernas máquinas financeiras, nem em bibliotecas, tampouco nos museus.
As atitudes tomadas pós-crise pelo país-modelo EUA já confirmam que manterão a política monetária semelhante à anterior, mas usando uma dose muito maior, ou melhor, uma overdose monetária. A dupla Bernanke/Obama fará inveja a dupla que os antecederam, aliás, já estão fazendo, e os números de emissão e déficit público são imagináveis. ALMEIDA, Econ. Luís Carlos Barnabé, www.cofecon.org.br
O Direito, pobre Cícero, encontra-se de tal modo desacreditado que nem mais sofista ou estóico é capaz de recuperá-lo**.
“O organicismo ético e idealista cultivou-o a escola histórica, sobretudo a concepção de Savigny acerca do espírito popular - o Volksgeist - tomado como fonte histórica, costumeira, tradicional, geradora de regras e valores sociais e jurídicos” (BONAVIDES, P. 57)
A Psicologia, esta que se arvorou em destrinchar os bilhões de pontos eletrônicos que mantemos no cérebro como se fossem localizados em departamentos estanques, perfeitamente identificáveis, por meio de algumas coincidências e outras tantas saliências porta alguma serventia, em virtude de seus arautos já cruzarem por mares nunca dantes navegados. Sua atuação, contudo, faz-se perigosa, porque estratégica, ainda que não menos do que suas primas citadas:“A ciência política opera com material humano e os fundamentos do poder e da obediência são de natureza psicológica.” (HERAS, Jorge Xifra, Introdución à la Política, Curso de Derecho Constitucional, 2. ed., Barcelona; cit. BONAVIDES, Paulo, Ciência Política:51)
A História costuma ser composta a partir do presente, porque o passado já foi trilhado e esmiuçado, de modo que presumem seus investigadores que nada de novo pode haver no front.
Do modo que, a quem examinar com cuidado os acontecimentos do passado, será fácil prever em cada Estado o que o futuro reserva e aplicar os remédios usados pelos antigos, ou se eles não usaram, arranjar novos fundados na semelhança dos acontecimentos. COMTE, A., cit. OLIVA Alberto, Entre o Dogmatismo Arrogante e o Desespero Cético: 83.
Ledo engano, o mais crasso dos equívocos. A ciência histórica não se faz adjacente a datas estanques, senão que de enredos, de conseqûências, e não apenas de causas, e por isso, o carma cruza as eras incólume, sem que niguém estabeleça seus mais completos liames.
O problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros. FOUCAULT, M. , Microfísica do Poder: 5
Mercê dos imensos gaps ensejados pelas meras contabilidades cronológicas, a História se produz fracionada, por isso mutilada, e, portanto, quase imprestável, exceto por óbvios registros. Com a continuidade dos mesmo hábitos, porque não identificados, como auferir resultado diverso do costumeiro impasse?
Quatro séculos depois de Descartes, enorme contingente médico ainda mantém o método dominante e centrado numa abordagem hospitalocêntrica, curativista e verticalizada. A Medicina tem logrado formidáveis saltos, mas em suas hostes há essas disparidades. De um lado, há uma enorme resistência contra aqueles que adquirem conhecimentos fora dos quadros-negros, entre os quais o chinês, provado eficaz em incontáveis casos, mas, rechaçados em prol de uma reserva de mercado:
No contexto atual, o pensamento dos profissionais de saúde está voltado para considerar conhecimento como aquilo cientificamente comprovado, aquilo que a literatura afirma como verdade, muitas vezes se opondo ou desprezando o senso comum, passando a negar ou tratar como erro o modo como as pessoas comuns, do saber popular, entendem e explicam o mundo, a criar abismos epistemológicos questionáveis. Muito antes de a farmacologia moderna desvendar cientificamente a ação da cafeína sobre o sistema nervoso central (SNC), especialmente seu efeito estimulante, as comunidades indígenas da Amazônia se beneficiavam das propriedades desta substância no alívio da fadiga, através do emprego do guaraná, sem necessariamente compreender sua composição química ou outras possibilidades terapêuticas.

Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde - http://br.monografias.com/trabalhos903/ciencia-filosofia-saude/ciencia-filosofia-saude.shtml
Por outro, com o advento das sensacionais descobertas de DNAs, biologia molecular, nanotecnologia, ressonâncias, etc,  a medicina é a primeira obrigada a deixar ao largo a enorme corrente, ir além das meras e costumeiras exumações de cadáveres. O filósofo brasileiro Alfredo Pereira (Unesp-Botucatu), por exemplo, como vários pesquisadores, propõe estudar o comportamento dos neurônios (as células em nosso cérebro) a partir da física quântica.
Em qualquer caso, exceto talvez na Física, justamente naquela que se presumia a mais exata, o que anda faltando em todas as ciências, especialmente nas humanas, e em caráter urgente nas políticas, é este algo que adquirimos até mesmo antes de nascer; portanto, não requer sequer escola: a imaginação!
*"Para ter relevância na economia global, o Brasil precisa superar o arcaísmo nas suas leis..." ( Veja, 19/12/ 2008: 11)
**A sofística, ocorreu nos últimos cinquenta anos do século V,. Trata-se de modo educacional. "Os sofistas são professores que vão de cidade em cidade procurando audiência e que, por um preço conveniente, ensina-a a se destacar, através de lições de ostentação e de vários cursos e métodos cujo objetivo é tornar vencedora uma tese que eles querem que seja aceita. A pesquisa e promulgação da verdade é substituída pela busca do sucesso, baseando-se na arte de convencer, de persuadir e de seduzir. É a época onde a vida intelectual – cujo centro está na Grécia continental, toma a forma de competição e de jogo – uma forma polêmica, muito familiar à vida grega." (www.consciencia.org/sofistasbrehier.shtml)

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