sábado, 31 de outubro de 2009

A eternidade da interatividade

Newton, perdoa-me; descobriste o único caminho que na tua época era possível para um homem com os mais elevados padrões de pensamento e criatividade. Os conceitos que criaste guiam ainda hoje o nosso pensamento em física. Sabemos, no entanto, que tem de ser substituído por outros, mais afastados da esfera da experiência imediata, se aspiramos a uma compreensão mais profunda das relações. ALBERT EINSTEIN
Não há norte na Física Quântica. A incerteza é nossa sina. Não podemos estabelecer o tempo, a posição, e a trajetória de um eletron. Ao focarmos o alvo, ele "acusa o golpe" e instantâneamente, muda sua órbita; e pior, sem deixar rastro, porque não percorre o espaço que intercala os circuitos. Ele simplesmente surge "do nada" para nova história.
Pois se possuímos tal capacidade, conseqüência lógica é cogitar que somos capazes de alterar não só nossas circunstâncias mais prementes, como até mesmo as mais remotas, e de qualquer espécie! . Esta "distribuição randômica de sentimentos"* inevitavelmente atinge conjecturas que ainda não se fazem presentes, isto é,
que não estão ao alcance de nossos olhos, apenas.
Pela não-ação, tudo pode ser feito.
LAO-TZÉ
A mente sur­ge a partir de um sistema neuronal, objeto das neurociências. Mente/cons­ciência estão ligadas, e dependem da matéria. Quanto mais neurônios e sinapses, mais complexa ela se torna. As polaridades cosmológicas são inclusivas, pois, complementares, jamais estanques, paradoxais, ou antagônicas, como presumiam os primatas espartanos.
Nossa penetração no mundo dos átomos, antes vedado aos olhos do homem, é de fato comparável às grandes viagens de descobrimento dos circunavegadores... Essa descoberta, com efeito, gerou uma novíssima base para que se compreenda a estabilidade intrínseca das estruturas atômicas, a qual, em última instância, condiciona as regularidades de todas experiências corriqueiras.
BOHR, N.,
Física atômica e conhecimento humano: 30
O rebanho, todavia, segue cabisbaixo, resignado rumo ao destino que supõe fatal.
Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em que Platão ocupava o centro do universo espiritual da Grécia e em que todos os olhares convergiam para a sua Academia, e ainda hoje se continua a definir o caráter da filosofia, seja ela qual for, pela sua relação com aquele filósofo.
JAEGER 2003: 581


O salto conceitual que o físico alemão Max Planck deu em 1900, engendrando a base da mecânica quântica, reformulou de tal maneira a visão do mundo que, ao menos um historiador da ciência, não teria razões para supor que seu impacto já tivesse sido todo absorvido.
CAPOZOLI, U.,
Presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC)
,
É verdade que desde 1915 a compreensão da relatividade geral foi vastamente aprimorada, nossa confiança na teoria cresceu e não foram encontradas limitações confirmadas sobre sua validade. Contudo, ninguém hoje afirmaria ter um domínio total do rico conteúdo da relatividade geral. O mesmo vale para as respostas a problemas filosóficos levantados pela teoria totalmente ao nosso alcance hoje. Segundo meus conhecimentos, os escritos filosóficos sobre esse assunto foram um tanto limitados, sem dúvida principalmente porque a matemática envolvida é bastante complicada.
PAIS, A.
Einstein viveu aqui : 150

Existem todo o tipo de pessoas, mas acho que seria razoável dizer que ninguém que se diga filósofo realmente entenda o que se quer dizer com a descrição da complementariedade. A relação entre os cientistas e os filósofos é bastante curiosa. A dificuldade é que é inútil que haja qualquer tipo de compreensão entre os cientistas e os filósofos diretamente.
BOHR, NIELS, cit.
PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui
DAVID BOHM (Totalidade e Ordem Implicada) oferece precioso amparo: a ordem natural comprovada explícita é prerrogativa restrita do EspaçoTempo que ocupamos, mas não significa que tudo se resuma a isso. Antecipa-lhe uma Ordem implícita de um universo não-manifestado, não-percebido, não-local. Aliás, para o notável cientista, o fundamento da ordem é esta, implícita. Ordens explícitas são apenas como ondulações passageiras na superfície da implícita, não diversas desta. Como uma onda do mar, por exemplo, que é composta pelo próprio mar, e não por alguma entidade alienígena. Não se trata, pois, de uma manifestação da "alma" do mar, senão que o próprio mar em movimento.
O tempo é uma região do espaço. A dimensão espaço-tempo é a quarta dimensão. Então, a glândula que te dá a noção de tempo está em contato com a quarta dimensão. Faz sentido perguntarmos: 'Será que a partir da quarta dimensão já existe vida espiritual?' Nós vivemos em três dimensões e nos relacionamos com a quarta, através do tempo. A pineal é a única estrutura do corpo que transpõe essa dimensão, que é capaz de captar informações que estão além dessa dimensão nossa. A pineal converte ondas eletromagnéticas em estímulos neuroquímicos. Quem provou isso foram os cientistas Vollrath e Semm, que têm artigos publicados na revista científica Nature, de 1988. A parapsicologia diz que estes campos eletromagnéticos podem afetar a mente humana. O Dr. Michael Persinger, da Laurentian University, no Canadá, fez experiências com um capacete que emite ondas eletromagnéticas nos lobos temporais. O espiritual age pelo campo eletromagnético.
Pineal - Corpo e Alma. - www.gruapgo.org/apometria
De posse desses revolucionários conceitos científicos podemos estender algumas velas, e assim zarparmos por esses mares "nunca dantes navegados", sem preocupação com exatidões. Que me perdõe o TriPulante lusitano: se viver não é preciso, navegar também não requer sê-lo - bastam aproximações.Nas interligações eletrônicas, isto é, pela interatividade dos eletrons, os batedores nucleares garantem o equilíbrio fundamental, à ecologia, à vida na Terra, e tudo mais.
A Teoria de Cordas** (ou supercordas) é uma teoria que se propõe a unificar a descricão das interacões fundamentais. Em particular, acredita-se que ela representa um caminho para a descrição quântica da interacão gravitacional, possibilitando uma conciliação entre a Mecânica Quântica e a Relatividade Geral. Na teoria de cordas as partículas elementares correspondem a diferentes formas de vibracão de cordas que se propagam no espaço. A interação entre partículas corresponde à interação entre cordas.
BRAGA, Nelson Ricardo de Freitas. -
http://omnis.if.ufrj.br/~braga/cordas
"A luz pode ser definida como uma transmissão de energia entre corpos materiais à distância." (BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento: 6)
“A física atômica fez a ciência afastar-se da tendência materialista que ela tivera durante o século XIX.” (HEISENBERG, W., cit. JAMMER, M., 154)
O próprio EINSTEIN (idem: 154) já afirmara:
“A massa de um corpo é a medida de seu conteúdo de energia.”
Dessarte, o mestre assim asseverou:
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo.
HOLTON: 127
Tudo flui por ondas, como todas as manifestações.
Sabemos que o universo manifestado, que parece ser formado por objetos sólidos, é na verdade composto por vibrações, com os diferentes objetos vibrando em frequências distinta.
CHOPRA, DEEPAK, A realização espontânea do desejo: 124
Na Dança do Universo, inspiração de MARCELO GLEISER, o que você sente, pensa, ou faz, reproduzirá o efeito, e influenciará, de alguma maneira, sua circunstância.
Uma onda periódica é uma perturbação periódica que se move através de um meio. O meio em si não vai a canto nenhum. Os átomos individuais e as moléculas oscilam em torno das suas posições de equilíbrio, mas a posição média delas não se alteram. À medida que elas interagem com os vizinhos, elas transferem parte da sua energia para elas. Por sua vez, os átomos vizinhos transferem energia aos próximos vizinhos, em sequência. Desta maneira, a energia é transportada através do meio, sem haver transporte de qualquer matéria.
C.A. Bertulani
Ninguém fica sentado numa Ola. O perfume viaja por ondas; a temperatura também. Qualquer som assim evolui. A gravidade realiza ondas de retração. O navegante produz ondas, e por elas podemos constatar sua passagem. Radares detectam ondas. A voz bate em algo para produzir o eco: eis a certeza de que há um corpo à frente.
O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável.
LASZLO: 205
Movimentos invisíveis aos olhos não precisam ser totalmente desprezados, ou não levados em conta, somente pelo prosaico motivo de não podermos enxergá-los. Há uma simbiose entre corpo/espaço, mente/matéria, em inequívoca interatividade.
Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da matéria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas interações.
TELLES JR. G., O Direito Quântico:
56
O jornal americano USAToday.com publicou um artigo com um novo brinquedo revolucionário que utiliza ondas cerebrais para movimentar objetos! O “The Force Trainer” vem com headset. Ele permite ao usuário usar suas ondas cerebrais para mover uma esfera, localizada dentro de um tubo transparente de 25 cm de altura. Equivale ao uso da Força por Jedis como Yoda e Luke Skywalker em Star Wars. Claro que é necessário um alto nível de concentração para conseguir mexer a bolinha com a "Força" da Mente e a base emite efeitos sonoros dos filmes de Star Wars para indicar a passagem de nível de Padawan para Jedi. O headset é baseado na tecnologia EEG mais comumente usada na medicina e o The Force Trainer deve custar por volta de US$100 no lançamento, ainda sem data confirmada. (www.blogdebrinquedo.com.br/2009/01/08/mova-objetos-com-a-mente)
NIETZSCHE, (O livro dos filósofos: 45) talvez não fosse tão louco como o apregoado:
Só conhecemos uma realidade - a dos pensamentos. Como?
Se isso fosse a essência das coisas?
Se a memória e a sensação fossem os materiais das coisas?
____________
* Emitindo pares de fótons - partículas de luz - ao longo de uma fibra óptica estendida entre as cidades suíças de Satingny e Jussy, cientistas do Grupo de Física Aplicada da Universidade de Genebra determinaram que um fóton, chegando a um extremo da linha, é capaz de reagir instantaneamente a uma manipulação realizada no parceiro que foi para o lado oposto, a 18 km de distância. Os pesquisadores calcularam que, se essa reação for resultado de uma comunicação entre as partículas, o sinal teria de viajar a, no mínimo, 10.000 vezes a velocidade da luz. “Trata-se de uma violação do espírito, se não da letra”, da Teoria da Relatividade de Einstein, que diz que nada pode viajar mais depressa que a luz, diz o físico Terence Rudolph, do Imperial College London, em comentário ao experimento suíço. Tanto a descrição da experiência quanto o comentário de Rudolph estão publicados na edição desta semana da revista Nature.
O efeito utilizado pela equipe suíça é conhecido pelos cientistas como “emaranhamento quântico”, e ocorre quando duas partículas são preparadas de tal forma que qualquer alteração numa delas afeta a outra instantaneamente, não importa a distância que as separa. A velocidade de 10.000 vezes a da luz, determinada pelos físicos de Genebra, é o limite mínimo para que o sinal seja “instantâneo”. “Sabemos que as partículas que representam os bits quânticos, ou q-bits, precisam adquirir, durante o processamento da informação, certo grau de emaranhamento para que a computação quântica seja mais eficiente que computação clássica”, explica o físico brasileiro Marcio Cornelio, atualmente na Unicamp. Cientistas acreditam que computadores quânticos serão capazes de realizar cálculos muito mais rapidamente que computadores normais, ou clássicos, além de resolver problemas que estão fora do alcance das máquinas atuais.
O emaranhamento não viola a “letra” da relatividade porque, por si só, o fenômeno não permite a transmissão de sinais de comunicação mais depressa que a luz - não seria possível, por exemplo, usar partículas emaranhadas para criar um telefone celular instantâneo. “O emaranhamento não pode ser usado para comunicar unidades de informação escolhidas por uma pessoa, exatamente porque os eventos correlacionados por ele são aleatórios, fora do controle humano. Se os eventos fossem determinísticos, seria possível usar o fenômeno para comunicação clássica mais rápida que a luz”, o que violaria a relatividade, diz Gisin. Mas se as partículas não trocam sinais entre si, como o emaranhamento quântico é possível? Como uma partícula “sabe” que sua parceira, a quilômetros de distância, foi manipulada?“ Eu diria que as partículas simplesmente estão correlacionadas”, diz Cornelio. “Como não é possível transmitir informação usando apenas partículas emaranhadas, não há necessidade de uma 'saber' o estado da outra e vice versa. Existe apenas uma correlação estranha, que não pode ser descrita pela física clássica”. Partículas 'conversam' a 10.000 vezes a velocidade da luz
___________

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A estória da morte

>

Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light
.
(A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas;  Deus disse 'Haja Newton' e tudo se iluminou.).
..

Religião significa religação. O óbvio pre-requisito exige o desligamento. Eis a função da maçã: por ingeri-la,
fomos expulsos, desligados do Paraíso.
Mister a presença dos band-aids.
,

Na falta da serpente, e de EVA,  o fruto caiu direto sobre a cabeça do Incomparável NEWTON.  Pelo impacto, pelo galo formado, o ex-reverendo calculou a "força" da gravidade.
* * *
No decorrer da História da Civilização, das ciências e crenças incutidas, são incontáveis os apelos à mais trivial artimanha. Tal arquitetura remonta há milênios, por suscetível de fácil assimilação. No caso em tela, a Expulsão do Paraíso constitui a premissa que justifica a tentativa de reatamento das relações. Não posso citar quem seja o autor da mirabolância de destacar o aprazível reduto, mas sei quem cingiu o próprio ser humano, dividindo-o em corpo e alma - aquele mundano, perecível; ela divina, imortal: "O erro, o Mal entra pelo corpo para transformar o divino Bem da alma," (PLATÃO. cit. KELSEN, 1998: 3) O gregório articulista bem poderia ter sido mais explícito apontando a maçã como intrusa. Segundo PLATÃO, e seu exército eclesiástico, os prazeres da carne levam ao inferno, mas a alma sempre pode salvar, desde que prevaleça sua divindade. O Juízo tem a finalidade de aferi-los, e a prerrogativa de determinar a continuidade ou não da vida, desta feita em caráter eterno, ou a eliminação definitiva pelas diabólicas labaredas.
No entender dos teólogos, seu Objeto tudo pode; exceto, naturalmente, ser injusto. Assim é que se adequaram os rebanhos, sem maiores questionamentos, ao gáudio dos pastores.
Ao longo dos milênios, o conhecimento, como a maçã, foi vedado aos simples mortais. Somente os sacerdotes, presumivelmente os mais isentos de mácula, poderiam reunir e oferecer ao gado o alimento mais apropriado.
O destino, contudo, reservava a surpresa. O mapa do tesouro, que tanto de modo exclusivo lhes servia, na queda de Constantinopla caiu sob domínio público. Logo alguém descobriu que não éramos o centro do Universo. A explicação por tamanho lapso exigiu nova metáfora: o Grande Arquiteto colocara o Sol, a luminária no centro, para iluminar nossos passos. Em que pese controvérsias, e muitas escaramuças, o band-aid novamente colou, e quase tudo ficou como dantes, no quartel de abrantes - desta feita ainda mais reforçado na emergência dos exércitos nacionais.
O onirismo platônico varou os Alpes através dos cabos estendidos pelo cônego COPÉRNICO (cit.CHÂTELET: 49): " E no meio repousa o Sol. Com efeito, quem poderia no templo esplêndido colocar essa luminária num melhor lugar do que aquele donde pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Em verdade, não foi impropriamente que alguns lhe chamaram a pupila do mundo, outros o Espírito, outros ainda o seu reitor."
DESCARTES aprimorou a cisão gregoriana destacando a mente do corpo.
Os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu.  BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 20
VOLTAIRE ( Cartas Filosóficas, «13.ª carta».) não se conteve: "Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós."
Um atento acadêmico da afamada Cambridge aprimorou a quilha de encalço a tal Espírito. "Apoiado no ombro dos gigantes" entre os quais o carrasco da natureza FRANCIS BACON, e o esquartejador DESCARTES, o “incomparável" NEWTON catapultou o cientificismo em voga. A mecânica prometia um poder de previsão vastíssimo, todas as informações possíveis sobre o passado e o futuro do Universo.
Os "novos cientistas" passaram a contar com duas opções à moradia - além dos palácios religiosos, os estatais. E assim por preservar fidelidade à ficção, o ex-reverendo logrou ascender à Casa da Moeda britânica.
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
O destino, contudo, reservou outra surpresa, desta feita em caráter ainda mais decisivo. Nem o Sol está no centro do Universo, até porque nem existe centro; e raios são impossíveis de traço. Lá se vai a babel:
Chegamos a uma situação que envolve uma imagem diferente da natureza e, portanto, também da ciência. Não acreditamos mais na imagem do mundo como uma imensa peça de relojoaria. Chegamos ao fim das certezas. Estava implícita na visão clássica da natureza a idéia de que, sob condições bem definidas, um sistema seguiria um curso único e de que uma pequena mudança nos parâmetros produziria igualmente uma pequena mudança nos resultados. Hoje sabemos que isso só é verdade no caso de situações simplificadas e idealizadas. MAYOR: 12
É uma questão que atualmente deve ser reconsiderada, tendo em vista que a fragmentação já se espalhou completamente, não apenas na sociedade, mas especialmente em cada indivído; e isso conduz a um tipo de confusão generalizada da mente, que por sua vez cria uma série infinita de problemas, interferindo com a nossa clareza de percepção de maneira tão grave a ponto de bloquear nossa capacidade de resolver a maioria deles. BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 17
O balanço apurado é de empresa à deriva: "Os acidentes, as doenças, assim como a infelicidade em que está mergulhada a maior parte da humanidade, tem como gênese o distanciamento da fonte de energia vital e cósmica." (GONZALEZ, MATHIAS, O caminho cósmico. - Rio de Janeiro: Pallas, 1993
Dessarte, novamente são os sacerdotes que andam buscando, desesperadamente, a própria salvação:
Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos. Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza. Sua arma maior é uma forma de racionalidade, a instrumentalanalítica, que compartimenta a realidade para melhor conhecê-la e assim mais facilmente submetê-la. O Zen não é uma religião. É uma sabedoria, uma maneira de se relacionar com todas as coisas de tal forma que se busca sempre a justa medida, a superação dos dualismos e a sintonia com o Todo. A primeira coisa que o zenbudismo faz, é destronar o ser humano de sua pretensa centralidade, especialmente do eu, cerne básico do individualismo ocidental. Ele nunca está separado da natureza, é parte do Todo.
BOFF, Frei Leonardo, Zen e a Crise da Cultura Ocidental
Don't worry. Be happy.
No espaço aparentemente vazio há um nexo, uma vida eterna, que une tudo quanto existe no Universo - tanto animado quanto inanimado - uma onda de vida que flui através de tudo o que existe. Paramahansa Yogananda, Onde Existe Luz.
O que governa essa dinâmica, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada.(A impossibilidade da sincronicidade pelo relógio) Tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve à síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão marxista rechaçada também pela genética de Monod. São milhões de sóis e galáxias, estrelas, planetas e cometas, buracos-negros, quasares e muito mais, em "convívio" harmônico por campos repletos, onde se relacionam por informações, nunca por força, tal cogitado desde Esparta. E o ainda mais surpreendente - o sistema se amplia para todos os pontos, como se enche um balão de gás, sem rupturas, a partir de mísero núcleo atômico.
A teoria quântica dos campos considera tanto a matéria (hadrons e leptons) quanto os condutores de força (bosons mensageiros) como excitações de um campo fundamental de energia mínima não-nula (vácuo).
O Prof. GOFFREDO TELLES JUNIOR (O Direito Quântico: 54) deixou explícito:
Sendo geradora de energia, a partícula cria, em torno de si, um campo em que essa energia se manifesta. Aliás, todos os corpos geram campos de energia. A Terra, por exemplo, tem seu campo de energia magnética, que claramente se manifesta no comportamento da agulha da bússula. Os campos não devem ser consideradas como espaços vazios. Os campos são objetos físicos, pois é por meio deles que as partículas agem umas sobre as outras. É por meio deles, que os corpos, enorme multidão de partículas, se influenciam reciprocamente. Embora físicos, os campos não são objetos mecânicos. Um campo é imperceptível pelos sentidos. É imponderável. Não pode ser utilizado como sistema de referência. Mas é observável nos seus efeitos. É identificável nas perturbações que causa no comportamento das partículas ou dos corpos nele situados. Não somos capazes de ver a força de gravidade, mas a observamos na queda da maçã.
Os campos são estradas de várias mãos. Nada impede, e até é inexorável, que nossa energia, estimulada por nossos pensamentos e desejos, peregrine livre em busca do nosso objetivo, ou até seja alcançado por ele. Neste último caso, o assistente cara-pálida designa como sorte. Não se trata disso, de nova polaridade sorte/azar:
"O núcleo do novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga - a idéia de que consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe." (GOSWAMI, Amit )
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (LASZLO: 198)
PRIGOGINE (cit. PESSIS-PASTERNAK: 39) arrola:
A pesquisa atual se volta para a incorporação de elementos aleatórios em um número cada vez maior. Isso é verdade tanto para a cosmologia de Hawking quanto para o estudo dos insetos sociais que são tão qualificados como Pierre Paul Grassé ou Rèmy Chauvin insistem sobre o papel do aleatório no comportamento social.
Tudo se relaciona. Tudo está ligado a tudo o mais, não só na imaginação, como na realidade efetiva. A morte é impossível, e isso demonstraremos ainda mais claramente amanhã, para encerrar esta microtrilogia. Por enquanto, convoco saudar a impropriedade dos Finados. O contínuo EspaçoTempo - a Eternidade - assegura a presença de todos. Cabe-nos, apenas, não preferir desligamentos. PLATÃO que não me fuja.

A impossibilidade da morte


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Finados e não-finados II

O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados. O Dia de Todos os Mortos celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração. Mons. ARNALDO BELTRAMI, www.arquidiocese-sp.org.br
O Dia dos Fiéis Defuntos, Dia dos Mortos ou Dia de Finados é celebrado pela Igreja Católica no dia 2 de Novembro, logo a seguir do dia de Todos-os-Santos. A Bíblia diz que a salvação de uma pessoa depende única e exclusivamente da sua na graça salvadora que há em Cristo Jesus e que esta fé seja declarada durante sua vida na terra (Hebreus 7.24-27; Atos 4.12; 1 JoãoLucas 16.10-31). Os Protestantes observam o dia de Finados para lembrar das coisas boas que os antepassados deixaram, como o legado de um caráter idôneo, por exemplo. Mas entendem que as pessoas precisam ser cuidadas enquanto estão vivas. Após a morte, nada mais resta senão o juízo. - a pessoa passa diretamente pelo juízo (Hebreus 9.27) e que vivos e mortos não podem comunicar-se de maneira alguma (1.7-10) (Wikipédia).
Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. COVENEY, A Flecha do Tempo: 22
Esta tradição se põe como religião por  oferecer religação. A tamanho afazer, o pre-requisito é o desligamento. Eis a razão da expulsão do Paraíso.
O homem bom também quer ser verdadeiro e crê na verdade de todas as coisas. Não só da sociedade, mas também do mundo... De fato, por que razão o mundo deveria enganá-lo? NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 55
Na morte, pois, além das lembranças nada mais parece viável. Não há possibilidade e para alguns sequer necessidade da religação com o Céu, muito menos com a Terra, nem requisitando os advogados especializados, os profissionais da espécie. Eles próprios não acreditam, e assim pregam que devamos ter atenção aos vivos, antes do tenebroso advento do Juízo Final.

Reverenciar os vivos é sábio, prudente, mas a justificativa dos mencionados hebreus é pueril, e a conclusão, apenas ideológica. Arrisco: não se trata de falta de fé, ou de crença, mas de conhecimento.
A Igreja é pródiga em alegorias, e coincidências. A realidade, por difícil compreensão, nem vem ao caso. Parábolas e figurativos são mais palatáveis, mormente se impressos em fundos contrastantes. Uma forte impressão valia mais que a razão.
Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós. VOLTAIRE, «13.ª carta», Cartas Filosóficas.
"O erro, o Mal entra pelo corpo para transformar o divino Bem da alma," e isso já bem ensinara PLATÃO. (cit. KELSEN, 1998: 3). Pura tolice; porém, de gravíssimas consequências espirituais, científicas, ecológicas, políticas, sociais, e econômicas. A separação primordial levou todo o Ocidente a supor que nada mundano fosse divino. DEUS estava no céu, um lugar inatingível, distante, e até de cor diferente; portanto, um mundo completamente à parte.
Os acidentes, as doenças, assim como a infelicidade em que está mergulhada a maior parte da humanidade, tem como gênese o distanciamento da fonte de energia vital e cósmica. GONZALEZ, Mathias, O caminho cósmico. - Rio de Janeiro: Pallas, 1993.
A natureza foi colocada na escravidão total. Mais do que ela, ao "reconhecer" a natural maldade do ator principal, ela ensejou vários religadores, impostores que se precipitaram inicialmente pelas ciências politicas, na qual despontaram as "engenharias sociais" de MAQUIAVEL, THOMAS HOBBES, ROUSSEAU, HEGEL e MARX, e quase em conjunto, as estipulações de DESCARTES, NEWTON, LAPLACE, DARWIN, FREUD e KEYNES.
Os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu.BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 20
O deleite da maçã motivou a expulsão. Pobre venenosa, acusada de aliciamento. Pois se ninguém colhesse, na maturidade o próprio fruto se precipitaria na cabeça de Adão.* * *
"A luz pode ser definida como uma transmissão de energia entre corpos materiais à distância." (BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento: 6)
Partículas viajam pelo campo. A energia percorre o EspaçoTempo. Os mortos em algum momento viveram, e nesta condição projetaram suas luzes. Embora não se vislumbre, eles e elas convivem conosco. Ainda que estejamos "desligados", nada se tem cessado. A interatividade decorre natural e até necessáriamente.
"Se uma onda pode agir como uma partícula, uma partícula também não deveria agir como uma onda?" (DE BROGLIE, L., cit. ISAACSON, W.: 338)
Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da matéria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas interações.*
TELLES JR. G., O Direito Quântico:
56
O átomo capta e emite energia; recebe, e transfere informações. Por isso, é a liga fundamental.
De acordo com a Relatividade, nada pode se deslocar mais rápido do que a luz, mas as partículas subatômicas parecem se comunicar instantaneamente. Não sabemos porque o eletron, diante da presença do simples olhar, muda a trajetória. Os fenômenos ignoram as nossas lineares demarcações entre passado/presente. Além disso, eles podem estar em dois ou mais mais lugares ao mesmo tempo. O mesmo "objeto"pode aparentar ser uma partícula localizada em um lugar determinado, ou uma onda espalhada pelo EspaçoTempo.
Meu cético copiloto quis acabar com a celeuma. EINSTEIN requisitou os talentos de PODOLSKI e ROSEN para realizar uma experiência que falsearia o absurdo eletrônico. O Paradoxo de EPR criou duas partículas, disparando-as para destinos opostos. Apurou o bizarro: o que se fazia numa, alterava a outra. EINSTEIN acabou rendido.
O átomo não tem olhos, nem ouvidos, nem faro, nem dor, a rigor não tem vida, mas é "sensível".

A ação de um átomo sobre o outro pressupõe também a sensação.
Algo de estranho em si não pode agir sobre o outro.
NIETZSCHE, F. ,
O livro do filósofo: 45
"Sabemos que o universo manifestado, que parece ser formado por objetos sólidos, é na verdade composto por vibrações, com os diferentes objetos vibrando em frequências distintas." (CHOPRA, DEEPAK, A realização espontânea do desejo: 124)

Na rotina diária, nem sempre percebemos que tudo que existe é de certa maneira controlado por forças e interações invisíveis aos olhos [...] Elas controlam as menores partículas subatômicas e as grandes galáxias a bilhões de anos-luz de distância.
OLIVEIRA, A.,
Depto Física, Univ.Fed. de S. Carlos - http://cienciahoje.uol.com.br/133058
BACHELARD chegou à beira de tentar psicanalisar o objeto. O que dizer se for a consciência?
Toda a fala, toda a ação, todo o comportamento são flutuações da consciência. Toda a vida emerge e é mantida na consciência. O universo inteiro é expressão da consciência. A realidade do universo é um oceano ilimitado de consciência em movimento.
MAHARISHI MAHESH YOGI

.
O aspecto decisivo da teoria quântica é que o observador não é necessário apenas para observar as propriedades de um fenômeno atômico, mas é necessário até para causar essas propriedades.
CAPRA, Fritoj, cit. ARNTZ, William: 66
O pedaço de matéria nada mais é senão uma série de eventos que obedece a certas leis. A concepção de matéria surgiu em uma época em que os filósofos não tinham dúvidas sobre a validade da concepção 'substância'. A matéria era a substância no espaço e no tempo; a mente, a substância que estava só no tempo. A noção de substância tornou-se mais vaga na metafísica no decorrer dos anos, porém sobreviveu na física porque era inóqua - até a relatividade ser inventada. Um pedaço de matéria, que tomávamos como uma entidade persistente única, é na verdade uma cadeia de entidades, como os objetos aparentemente contínuos em um filme. E não há razão pela qual não possamos dizer o mesmo quanto à mente: o ego persistente parece tão fictício quanto o átomo permanente. Ambos são apenas uma cadeia de eventos que têm certas relações interessantes uns com os outros. A física moderna nos permite dar corpo à sugestão de Mach e de James de que a 'essência' do mundo mental e do mundo físico é a mesma.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 74
Evidentemente nada preenche a lacuna do ente querido. Envelhecermos juntos, mutuamente nos acompanhar, tudo isso fica comprometido, implacavelmente frustrado. A guarda da dúvida torna mais dantesco qualquer episódio. E como não mais vemos quem nos é mais caro, o mais vivo coração sofre de tudo que é jeito, e não poucos se tornam até emperdenidos. Uma melhor compreensão do inevitável por certo não atrapalha, e tende a aplacar qualquer dor.
Enganados ou desenganados, saudemos a impropriedade dos Finados. Morrer é impossível: o Campo, o contínuo EspaçoTempo - a Eternidade - assegura a presença de todos. Cabe-nos, apenas, não preferir desligamentos.
Viva o Dia de Todos, santos e pecadores, cientistas e vigaristas, filósofos e impostores, ovelhas e pastores, porque nada dessas arbitrárias classificações importa, ninguém pode ser finado - apenas o sofrimento, por ser condensado nuclear, é que pode findar.
Ainda resta algum ceticismo?
Espera um pouco. Vou buscar mais alimento.
__________
* O “princípio da complementariedade” vem explicado no original por NIELS BOHR em Atomic Physics and Human Knowledge; Nova York, 1963. DAVID BOHM o interpreta em Wholeness and Implicate Order, London, 1980. A primeira apresentação pública da teoria foi em Como, IT., 1927. GERALD HOLTON tem publicado um texto na revista Humanidades, nº 9 (1984), pp. 49-71, da Universidade de Brasília, intitulado As Raízes da Complementaridade. Outros excelentes approuches sobre a quântica e a complementariedade você pode encontrar em
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_yin_yang.htm

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Finados e não-finados I

.
À Preciosa Princesa Fernanda &
fiéis escudeiros, Eduardo e Ricardo.
.
.O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. É o Dia do Amor, porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca. Desde o século 1º, os cristãos rezam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava. Desde o século XIII, esse dia anual por todos os mortos é comemorado no dia 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de 'Todos os Santos'.
O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em
estado de graça e não foram canonizados.
O Dia de Todos os Mortos
celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração.

Mons. ARNALDO BELTRAMI, vigário episcopal de comunicação http://www.arquidiocese-sp.org.br
,
Aproxima-se mais um feriadão. O algareio toma conta das crianças, floristas e dos dedicados aos serviços de turismo. Adolescentes programam suas fugas, trabalhadores se espreguiçam, anciãos peregrinam convictos que a data já lhes pertence. Se finados, o que mais se pode fazer por aqueles entes? E se santos, por que devemos nos preocupar?
Alguns choram por lembranças, outros por pena, e não raros lamentam a solidão que restou. Neste caso o dia é fardo. A lacuna causada pela ausência do ente querido pode nos causar até o desatino de querermos partir imediatamente ao mesmo reduto. A mais triste experiência veio comprovar a assertiva:
"Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ!!! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe." (LOPES, Leila, atriz, carta publicada em 8/12/2009, O Globo)
* * *
Talvez não precisemos assim, percorrer o burro liame bipolar, onde numa ponta corre o êxtase, e na outra a mais profunda tristeza, onde os santos reconhecidos pela Igreja são imortais, enquanto os nossos perecem.
Colho o ensejo para um day'scape siderall, uns tres dias terráqueos.
Ao longo dessas ensolaradas vésperas, irei tecendo e com isso demonstrando os fios que nos ligam a todas energias, em especial a dos entes queridos, essas existências independentes de qualquer vontade localizada, ou condição estipulada.
Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light
.
(A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas;
Deus disse 'Haja Newton' e tudo se iluminou.)
.
A Igreja é pródiga em alegorias, e coincidências. A realidade, por difícil compreensão, nem vem ao caso. Parábolas e figurativos são mais palatáveis, mormente se impressos em fundos contrastantes. Uma forte impressão vale mais do que a razão. O deleite da maçã motivou a expulsão. Pobre venenosa, acusada de aliciamento. Pois se ninguém colhesse, na maturidade o próprio fruto se precipitaria na cabeça de Adão. Foi este o fenômeno que incitou o reverendo NEWTON aos cálculos. Cogitar da existência do que não se vê, ou não se sente? Isso pertence a Deus. Portanto, já está assimilado; e por NEWTON bem justificado. A carga genética, todavia, era comprometedora.
“Não tenho dificuldades para admitir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter platônico da ciência galileana”. (GEYMONET, L. : 42)
ALEXANDRE KOYRÉ (cit. idem, ibidem) confirma:
“A grande idéia de Koyré, justamente, é que Galileu encarnava a herança do platonismo. Em outras palavras: Galileu acreditava que, graças à matemática, os físicos conseguiriam apreender a estrutura íntima da realidade”.
O Maior dos Relojoeiros montara tudo em sete dias; depois, a humanidade se foi de roldão.
"A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais." (BACON, F.: 67 )
A tarefa dos astrônomos a partir de então foi construir um modelo matemático que explicasse os dados observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam dotados de movimentos circulares uniformes.
BEN-DOV: 19
Como nada disso correspondia a realidade, mister alguns pequenos arranjos:
"Newton vai mudando os dados, em suas várias edições sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação no limite da desonestidade." (LENTIN, J.P., Penso, logo me engano : grandes gênios, pequenas trapaças; Veja: 20/3/1996)
SHAFTESBURY, mentor de JOHN LOCKE, (carta a THOMAS POOLE. - Cit. BRETT, R. L.: 109) discordava frontalmente do incomparável NEWTON, algo que nem o famoso afilhado ousou. Sua intuição, porém, era forte:
Newton é um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.
O sistema newtoniano, todavia, encaixava de acordo com sua base.
Os físicos construíram modelos, isto é, representações esquemáticas do mecanismo dos fenômenos. O físico isola as variáveis (diria princípios) que considera essenciais, e a evolução do sistema previsível pelo cálculo tem de produzir, com uma aproximação razoável, os efeitos que se manifestam na observação do mundo real.
GRANGER, G.-G.: 90
Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. Preparou a mente humana para a idéia de progresso, para o conceito de tempo profundo, para a surpreendente descoberta dos geólogos de que a evolução humana é apenas um episódio recente e curto na história da Terra. Preparou o caminho para a evolução de Darwin, que fala de nossa união com criaturas mais primitivas através dos tempos. Em resumo, o advento da idéia de tempo linear e da evolução intelectual desencadeada por essa idéia corroborou a ciência moderna e a promessa de melhoria da vida na Terra.
COVENEY, A Flecha do Tempo: 22
O homem ocidental civilizado vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas- de-uva. E pelo simples fato de que, se não hovesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria contnuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina.
WOODCOCK, A ditadura do relógio, In A rejeição da política, 1972

É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade.
MORIN, Edgar 2000:32

Não existe a passagem do Tempo. Nós é que passamos por ele, tanto quanto a luz que cruza a atmosfera. E não há nenhuma força gravitacional que atraia os corpos à Terra. E o espaço é curvo. O que? O espaço é curvo nas vizinhanças da matéria. Quanto maior a massa, maior é a curvatura. É esta distorção, criada em volta da matéria, que forma o contínuo espaço-tempo; e por sua retração, indica à matéria para onde ela deve se deslocar. JOHN WHEELER (cit. ROHMANN, Chris: 345) bem sintetizou:
“A massa informa ao espaço como se curvar; o espaço informa à massa como se movimentar.”
Desde o advento da relatividade geral ficou claro, porém, que, por sua ação gravitacional, a matéria realmente determina 'em qual forma o espaço está', como o homem que pula na cama elástica. Longe da matéria o espaço continua plano e euclidiano, mas onde a matéria está presente o espaço obedece a uma geometria mais geral (riemanniana). A gravitação também não obedece mais às leis estabelecidas por Newton.
WILL, CLIFFORD, Einstein Tinha razão? Testando a teoria da relatividade geral : 18.
O que se vê, todavia, nem requer contornos, tampouco explicações matemáticas. A doença é assustadora, a velhice impressionante, e o cadáver, horripilante. Admiti-lo, e ainda venerá-lo, só mesmo com o amor mais perfeito, despreendido, incondicional. Ou então, talvez por esse elevado grau de conhecimento, competência para suplantar o materialismo primata, a falta de fé da própria Igreja na fatalidade irrestrita da Vida Eterna. Resta-nos a tênue esperança do medonho Juízo Final, o qual depende das provas arroladas à reabilitação. O douto foi claro:
Uma concepção particularmente típica do pensamento platônico é a sua doutrina da transmigração das almas. Depois de ter a alma saído das mãos do Demiurgo. é ela entregue ao 'instrumento do tempo'; vive a sua primeira encarnação sobre a nossa, terra. Este primeiro nascimento é igual para todos, para nenhuma alma ficar prejudicada. Ao cabo desta primeira vida, apresenta-se a alma, junto com o corpo, ao tribunal dos mortos, para dar contas da vida nesta terra Conforme o juízo, entrará ela no campo dos bem-aventurados ou será transladada para lugares de castigo no mundo subterrâneo. Mil anos durará esta sua peregrinação, seguindo-se-lhe então o seu segundo nascimento.
Haja técnica.
* * *
De antemão consagro meu pensamento aos invocados, na certeza de suas vigências; portanto, capazes de influência, e de capacidade mutativa, diante da incidência interativa.
"Se uma onda pode agir como uma partícula, uma partícula também não deveria agir como uma onda?" (DE BROGLIE, L., cit. ISAACSON, W.: 338)
Todos sabem que a física newtoniana foi destronada no século XX pela mecânica quântica e pela relatividade. Mas os traços fundamentais da lei de Newton sobrevivem, seu determinismo e sua simetria temporal sobreviveram. A natureza não tem um nível simples. Quanto mais tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que nos defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas leis de estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira natureza da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade, uma forma que envolve leis e jogos, tempo e eternidade. Em lugar da clássica descrição do mundo como um autômato, retornamos ao antigo paradigma grego do mundo como uma obra de arte.
PRIGOGINE, I.,: 19
Viva o Dia de Todos, santos e pecadores, cientistas e vigaristas, filósofos e impostores, ovelhas e pastores, porque nada dessas arbitrárias classificações importa, ninguém pode ser finado - apenas o sofrimento, por ser condensado nuclear, é que pode findar.

Finados e não-finados II

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Esparta & Berlim


A filosofia do direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Berlim,’ diz Karl Rosenkranz. CÍCERO, A.:134
A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora no Estado, torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio. POPPER, K. 1998, T. I: 269
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato. TOYNBEE, Arnold J.: 196.
Esparta (Σπάρτη) se notabilizou como sociedade de guerreiros. Platão descrevia, em A República, a sociedade humana se aperfeiçoando por processos seletivos (sem falar que em Esparta já se praticava a eugenia frente aos recém-nascidos A exuberância de Atenas atraia a ambição da cidadela. Os toscos arrumaram um confronto direto. Tebas, aliada de Esparta, atacou Platéia, antiga aliada de Atenas. Indelével até porque repetido,o feito serviu de molde, justificativa, prova de que a força da ambição deve ser contida por uma maior:
A tendência geral de todos os homens é um  perpétuo e irriquieto desejo de poder e mais poder que cessa apenas com a morte... Numa situação de conflito as pessoas sábias e sutis estão em desvantagem em relação aos que usam a força, já que estes agem e atacam imediatamente, sem perder tempo com planos. HOBBES, T., The Leviathan, ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, Um irriquieto desejo de poder em todos os homens
Após quase tres décadas de sangrentas batalhas, a Guerra do Peloponeso (V a.C.), deu-lhe o "direito" de desgovernar toda a Grécia.  "A evolução do sistema, entretanto, revela uma rápida redução numérica da coletividade espartíata que se transforma em simples oligarquia: estima-se que no século III não haviam mais do que por volta de 900 cidadãos espartanos." Esparta acabou entregando o paradisíaco reduto ao desfrute de ALEXANDRE MAGNO.
Na escassez dos equipamentos bélicos, o treinamento físico se constituia na principal atribuição do Estado.  Valorizava-se o salto, a corrida, a natação, e lançamentos de discos e dardos. "É essa configuração de coletivismo extremado que, desde o século V, é vista na Grécia como um modelo perfeito de Estado, com a coletividade assim rigidamente aparelhada e destinada à defesa do Estado." (CASTRO, P.P. //www.fflch.usp.br/dh/heros/pcastro/grecia/1975/04.htm)
Casualmente, PLATÂO nascera a tempo para testemunhar a vitória de seu modelo predileto, e desse modo referendou o acerto da ignorância.
Por sua doutrina da similaridade entre Esparta e o estado perfeito, tornou-se Platão um dos propagandistas de maior sucesso do que eu gostaria de chamar ‘o Grande Mito de Esparta’, o perene e influente mito da supremacia da constituição e do modo de vida espartanos.POPPER, KARL, 1998, T. I: 54
Esparta, pobre em cultura e produção, avessa ao comércio, nem era para ser assim tão apreciada.  A destreza  visava mais o ataque, o domínio de tanto quanto pudesse sua força alcançar. Tal ímpeto se estendeu à ponta da bota. Depois de gozar as delícias da Acrópole o próprio ARISTOCLES, logo alcunhado PLATÃO, para lá se bandeou, sentando praça na corte de DIONISO, Tirano de Siracusa, onde ganhou pouso nos camarins do filho DION.
Siracusa era, efetivamente, uma colônia dos coríntios. Era o segundo estabelecimento dos gregos na Sicília, depois da fundação de Naxe pelos calcidianos. O núcleo foi estabelecido por Arquias, coríntio, da família dos Heráclides, no terceiro ano da quinta Olimpíada, 757 A. C. e 21.« do arcontado perpétuo de Ésquilo em Atenas, segundo os mármores de Oxford. Dodwell, na sua cronologia de Tucídides, transporta este acontecimento para o 4.» ano da 11.’ Olimpíada. Eis assim os habitantes de Siracusa defrontando uma situação ainda pior que a anterior, obrigados a servir ao tirano, que além de possuir uma natureza desumana, mais cruel se mostrava agora, devido aos males e desgraças que havia suportado.TIMOLEÃO – Plutarco – Vidas Paralelas
Em Esparta quarenta e três templos dedicados a divindades, vinte e dois templos de heróis, uma quinzena de estátuas de deuses e quatro altares asseveravam a importância sacerdotal. Os reis lhes dedicavam estatutos. Deviam pronunciar os mais sábios conselhos. Os recém-nascidos espartanos eram examinados pelos anciãos, aos quais cabia decidir pela eliminação dos portadores de deficiência física, mental, e até mesmo de hígidos, porém esquálidos. O resultado de tão sapiente cultura logo se viu.
O paraíso das ilhas gregas virava cenário ao casamento de cobra com jacaré: 
Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós.  VOLTAIRE, Cartas Filosóficas. «13.ª carta
Nada de novo no front ocidental
O gênio irriquieto e ambicioso dos europeus... impaciente para empregar os novos instrumentos do seu poderio. FOURIER, JEAN-BABTISTE-JOSEPH, Descritiption de l'Égypte, prefácio.  
O tema de guerra inspirou a Hegel algumas de suas páginas mais famosas: desde as primeiras obras tinha proclamado que a guerra é necessáriae mantém a saúde dos povos: como o vento sobre o pântano,a guerra é o momento de igualdade absoluta. BOBBIO, N., 1997: 24

Esparta - o exemplar Estado dos minguados novecentos - viu-se reeditada  em Roma, em Bizâncio, em Paris, com CARLOS MAGNO. Revigorou-se em FLORENÇA, atravessou os Alpes para acometer os LUÍSES, cruzou o da Mancha ao gáudio de CROMWELL, voltou ao coração europeu com NAPOLEÃO, daí a BISMARCK, desceu novamente à bota para colher CAVOUR e MUSSOLINI, subiu à RÚSSIA onde embarcaram os desatinados soviéticos, e, por fim a glória suprema travestida com a suástica. SABINE (p. 650) comenta: “Na Itália o hegelianismo atuou no fascismo principalmente nas primeiras fases. O hegelianismo fascista foi reconhecidamente quase uma racionalização ad hoc.”
É a eclosão da personalização do poder. Foi assim que surgiu a tirania nas cidades helênicas dos séculos VII e VI. Foi assim que se desenvolveu a ditadura na República Romana do século I A.C. Como fiel da balança das classes novas e tradicionais. MUSSOLINI, Benito, cit. Nações do Mundo: 55
A  Prússia vivia em configuração semelhante à Grécia, com aglomerações esparsas e pacíficas. Tal qual Atenas, a região produzia enorme gama de conhecimento e arte, especialmente desde a ascenção de Frederico II. Concentrando fachos do Iluminismo O Grande abastecia uma usina de produção científica e intelectual, filosófica e artística. A nação se notabilizava por  intensa dedicação à   música clássica, pintura, jardinagem; e dentre as cátedras, História,  Filosofia, Direito, e Economia.
No tempo de Frederico Guilherme I, filho de Frederico I da Prússia, a população de Berlim alcançava os 90 000 habitantes. O rei seguinte, Frederico II, a transformou numa cidade cultural. Quando da sua morte, nos finais do século XVIII, a população de Berlim atingia os 150 000 habitantes.No início do século seguinte, Napoleão Bonaparte vence os prussianos, ocupa Berlim e leva para Paris a Quadriga que encima a Porta de Brandemburgo, orgulho da cidade
Frederico preferia viver no magestoso palácio Sanssouci, (Sem preocupação)  Brandemburgo.. Nos jardins mandou erguer um Templo à Amizade, celebrando a Grécia Clássica,  Descentralizado, e sem atuar diretamente nas relações produtivas, o Estado Mínimo se fortalecia ao máximo. A aprimorada cultura se refletiu naturalmente no excepcional desenvolvimento  da agriculturacomércio e manufaturas, A distribuição de alimentos era incrementada  pela construção de canais e e o comércio por tratados internacionais. Numerosos palácios ao longo do Reno atestavam a pujança do rincão.  Eis o imenso brilho que atrairia a sempre rica, porém super-religiosa e previamente  espartana França.
As cidades da Alemanha são absolutamente livres: cercadas por pequenas campanhas, elas obedecem ao Imperador quando bom lhes parece, não o temem, como não temem nenhum de seus poderosos vizinhos. MACHIAVELLI, Nicoló, O Príncipe, Quomodo omniun principatuum vires perpendi debeant, De que modo devemos medir as forças de todos os principados: 61 
Quem ler a admirável obra de Tácito sobre os costumes dos Germanos verá que é deles que os ingleses extraíram a idéia do governo político. Este belo sistema foi encontrado na floresta. MONTESQUIEU, Esprit des Lois, Livro XI, cap. 5.
Os religiosos lograram o que os imperadores foram incapazes. A Guerra dos Trinta Anos, (1618-1648) devastou o território germânico e reduziu a população em cerca de 30%. No raiar do XIX  coube a NAPOLEÃO espoliar e trucidar os descendentes. HEGEL, então, propugnou pela concentração de forças. Tal esforço demandou duas gerações, mas os alemães lograram contentá-lo, ao infortúnio da Europa, especialmente, mas de resto de incontáveis vítimas pelo globo afora. "Nenhum outro sistema filosófico exerceu tão forte e duradoura influência na vida política como a metafísica de Hegel." (CASSIRER, Ernst, O mito do Estado: 289) “A filosofia do direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Berlim,’ diz Karl Rosenkranz.” (CICERO,  A.:134) “A gangrena - dizia aquele filósofo amargamente [naqueles tempos realmente havia muita gangrena] - não é curada com água de lavanda. É na guerra e não na paz que o Estado mostrava seu ânimo e ascendia às alturas de sua potencialidades.(HEGEL F.W., cit. SABINE, G.: 620)
Hegel influiu nos negócios na Alemanha ao fim das guerras Napoleônicas, diante a profunda humilhação nacional perante a França e as aspirações de unificação política e criação de um estado nacional que correspondesse a unidade e grandeza da cultura germânica.
BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel : direito, sociedade civil e Estado: 119
A derrota frente a Napoleão e a resoluta defesa por parte dos intelectuais da supremacia da cultura germânica converteu-se em ideologia popular: surgiu o sentimento de que a verdadeira força de uma nação residia no âmbito do espírito e da cultura. Segundo Soppè, entre 1850-80 dominava na ciência alemã um materialismo mecanicista, segundo o qual a realidade obedeceria a leis inerentes às próprias coisas, matéria e força seriam constituintes últimos do real. PEREIRA, J. Cesar R: 38 
A construção do Estado da Prússia envolveu a absorção da nobreza feudal pela burocracia central e o exército, ao contrário da Grã-Bretanha. Além disso, a penetração da autoridade central foi conduzida sob os auspícios militares, numa época em que a Prússia engajava-se ativa e freqüentemente em guerras. Os agentes da centralização foram os oficiais militares, que deram ao autoritarismo prussiano uma qualidade militar. O padrão de autoridade e subordinação no processo de construção do Estado na Prússia, conseqüentemente, parece ter sido mais completo, mais destrutivo da liberdade individual e da independência, tanto das elites quanto das massas, do que em outros países europeus. ALMOND, G., & POWELL Jr, G.: 97
Em 1861, Otto von Bismarck, ao ser nomeado chanceler, enceta, a partir de 1864, uma política visando a posicionar a Prússia à cabeça de todos os estados de língua alemã em detrimento da Áustria. Para o efeito, a Prússia declarou, sucessivamente, guerra à Dinamarca, à Áustria e à França, assumindo o controle de Schleswig-Holstein, da Confederação da Alemanha do Norte (associação que englobava 22 estados e cidades livres) e das províncias da Alsácia e da Lorena. Em 18 de Janeiro de 1871, Bismark proclama o Império Alemão, tendo por capital Berlim, e Guilherme da Prússia como imperador (Kaiser). 
O jovem EINSTEIN (cit. THOMAS, H. e THOMAS, D. L., Einsten, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista: Einstein por Ele Mesmo: 53) chegou a conhecer o BisMarx: "Mas quando o assunto das palestras se desviava para a política, e as pessoas começavam a falar em Bismarck e na ascensão do Império Alemão, Albert se assustava e saía da sala.”  Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais /Albert Einstein: 9) narra sua predição:  “De tudo isso, não restará nada além de uma poucas páginas deploráveis nos livros de história, que retratarão suscintamente para a juventude de gerações futuras os desatinos de seus ancestrais.”
HEGEL (Fenomenologia dello Spirito, v. II, p. 15; cit. BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel, Direito, Sociedade ivil e Estado: 48) bem havia deixado o programa governamental a ser implementado aos  infelizes compatriotas:  .
Para não deixá-los lançar raízes e enrijecerem-se em tal isolamento, para não deixar desagregar o todo e envaidecer o espírito, devem sacudi-los de quando em quando, em seu íntimo, com as guerras; devem fazê-los sentir, com aquele trabalho imposto, o seu senhor: a morte.
BISMARCK era consciente de sua maldade, e tentou o suicídio. Suas ações tiveram as mais graves conseqüências, assim apanhadas por EINSTEIN (New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 276):“Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”  De fato :“Hitler afirma ter lido durante o tempo que passou em Viena, principalmente história. Suas idéias foram influenciadas em especial por um livro acerca da Guerra Franco-Prussiana”. (DOWNS, R.B.: 140)
Antes da centralização, a Alemanha espraiava-se por 18 estados. Embora as emergentes estrelas políticas propugnassem pela imediata reunião estratégica, no primeiro quarto do XVII o leitmotiv liberal ainda pautava o Parlamento de Frankfurt. No fatídico 1848, todavia, alguns parlamentares tomavam a seu cargo a articulação dos interesses das classes trabalhadoras.ALMOND & POWELL (p. 60), da Universidade Stanford, comentam o pitoresco: “Eles não estavam respondendo a pressões e demandas encaminhadas de baixo, e sim agindo como guardiões independentes e voluntários desses interesses.” O proselitismo serviria para aliciar muita carne à bucha de canhão:
A guerra é uma necessidade biológica de suma importância, o elemento regulador da vida da humanidade, a qual não a pode dispensar. Não é, contudo, apenas uma obrigação moral; e é, como tal, um fator indispensável da civilização. .Gen. VON BERNHARDI, cit. CHALLITA, Mansour, Os Mais Belos Pensamentos de Todos os Tempos, 3. Vol.: 94)
O ano de 1931, centenário da morte de Hegel e véspera do descalabro mundial, um grupo internacional se congregou aos seus estudos, em Haia. Publicaram-se vários ensaios, todos sem originalidade, exceto a exaltação ao fascismo e, certamente, ao nazismo também. A Rivista di Filosofia foi dedicada a Hegel; Antônio Barfi clamou por um Renascimento Hegeliano, destacando que Hegel não perecera; mister o retorno do sistema orgânico com leis de continuidade e desenvolvimento. E Appunti di filosofia del diritto (ad uso degli studenti), Turim, Giappichelli, 1932, definiu-se como filosofia jurídica neo-hegeliana. (Barfi, Antônio, cit. Bobbio, N., 1991:182.) Solari (idem, ibidem) aproveitou o embalo: "É preciso retomar o fio interrompido da tradição hegeliana, para desenvolvê-lo e dele extrair elementos para uma reconstrução idealista do direito e do Estado em seu sentido social."
A eugenia nazista fomentou a "política social"  racial da Alemanha Nazista Tal qual os venerados precursores, os germânicos tratavam de aprimorar a raça ariana. "A idéia de superioridade racial estava, na verdade, atrelada à superioridade militar, científica e econômica de povos mais favorecidos, como os egípcios, romanos e gregos, que se consideravam superiores aos demais, principalmente em relação aos conquistados." (Wikipédia)
Thomas Mann logo logo saudou a poderosa reunião..  Seguiram-lhe Heidegger e ,Ludwig Woltmann (cit. JOHNSON, P.::98).:“A raça alemã foi selecionada para dominar a Terra”. A disponibilidade de Heidegger para colaborar com o regime nazista valeu-lhe a designação de reitor da Universidade de Freiburg, .
A imagem dos esportistas alemães da década de 30 serviu para promover o mito da superioridade racial e do valor físico dos "arianos". Nas esculturas e em outras formas de arte, os artistas passaram a  idealizar  figuras atléticas, com acentuada  tonalidade muscular, enfatizando o valor de uma força sobre-humana em conjunto com as características faciais  arianas.  HITLER buscou estabelecer um elo entre a Alemanha nazista e a Grécia antiga justamente por este  mito racial.
A Alemanha foi a grande campeã da 11ª Olimpíada. Seus atletas ganharam o maior número de medalhas. A hospitalidade e a organização alemãs receberam elogios dos visitantes. Raros repórteres, como WILLIAM SHIRER, compreenderam que o brilho de Berlim era meramente uma fachada para esconder o mais opressivo, bélico, racista e violento regime já concebido no globo.
O retransmissor de PLATÃO não pode testemunhar o trágico desdobramento de sua sapiência, nem na amada Alemanha, tampouco na U.R.S.S. e alhures. As tragédias passaram, mas a "cultura" espartana parece ter ficado impregnada:
Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos. Todo o jogo reside na capacidade de expor seus argumentos de maneira clara e convincente. Ter essa capacidade, para um discurso improvisado ou preparado, é uma vantagem com muito valor na política.GALSTON, William, analista da Brookings Institution e ex-assessor da Casa Branca..
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino.
SAUTET, Marc, 2006: 15/86
Depois de constatar que os berlinenses não são, em média, muito inteligentes, o ex-secretário da fazenda de Berlim, Thilo Sarrazin, apelou para a "importação" de "cérebros" para a capital alemã (Politico exige importação de gênios para Berlim)
Gênios são capazes de enriquecê-los, mas dificilmente contarão seus segredos.  São mágicos. Portanto,  se a sofrida porém competente nação quiser aperfeiçoar ainda mais sua privilegiada inteligência tem que importar quem  lhe faça relembrar suas genuínas características, turvadas por Napoleão. As comunidades germânicas eram dóceis, pacatas, descentralizadas, produziam notáveis pensadores, grandes artistas, compositores, e incontáveis cientistas. Sequer necessitavam de governo nacional para manterem a paz, a harmonia, e o desenvolvimento social daí decorrente. Como Atenas, não como Esparta.
__________
*
PLATÃO via o espírito humano como peregrino neste mundo, e prisioneiro na caverna do corpo. Deveria, pois, exceder às parcas condições para lograr o amor-perfeito, per se impossível, mas exigência do eros platônico.