quinta-feira, 30 de abril de 2009

O carma ocidental - 17. Hegel e a subversão da Filosofia

Hegel vê em Platão uma dialética positivo-especulativa, uma dialética tal que não conhece contradições objetivas somente por abolir sua pressuposição, mas que compreende ademais a contradição antitética do ser e do não-ser, da diferença e da indiferença. Para esta interpretação da dialética platônica Hegel se inspira, sobretudo, no Parmênides de Platão. GADAMER, HANS GEORGE, in LUFT, E.:68.

Aqui não entra quem não souber geometria

PLATÃO, ao inaugurar a Academia
A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora no Estado, torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio. POPPER, K., 1998, T. I: 269.
De PARMÊNIDES (540-450 a.C.) PLATÃO contrabandeara as alegorias dialéticas; e de PITÁGORAS, (VI a.C.), filho da Pitonisa (vê se pode), a geometria e a matemática.
A idéia é originalmente devida a Platão, que, sem dúvida influenciado pelas concepções pitagóricas, foi o primeiro a afirmar que o círculo, cujas partes são todas iguais entre si, é por essa razão a mais perfeita figura geométrica, e, portanto, como os corpos celestes são eles mesmos perfeitos, o único movimento que lhes é possível é o movimento circular uniforme. A tarefa dos astrônomos a partir de então foi construir um modelo matemático que explicasse os dados observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam dotados de movimentos circulares uniformes. BEN-DOV: 19
Assim crescia a chicana dialética: o fato, a suposição e a resposta, conflito estimulado por distinções polares, paradoxais metafisicas enfraquecidas mutuamente, mas desse modo receptivas à introdução da vontade do amo.
No modelo proposto por Descartes e seguido por Hobbes, a geometria era a única ciência que Deus houve por bem até hoje conceder à humanidade. Retomava-se Galileu, para que a língua da natureza era a matemática. O pensamento moderno é assim marcado por este ritual do pensamento a que logo se opôs Pascal com o chamado esprit de finesse. A matematização do universo desenvolve-se com Newton e atinge as suas culminâncias em Comte. Nos Estatutos pombalinos da Universidade, determinou-se expressamente que os professores usassem do e.g. para poder discorrer com ordem, precisão, certeza.
Respublica, JAM


Os escritos de Hegel estão entre as obras mais difíceis de toda a literatura filosófica, devido não só a natureza dos tópicos discutidos, mas também ao estilo canhestro do autor. Bertrand Russel: 354
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (Sttutgarg, 1770 - Berlim 1831) influenciou todas as ciências do XIX, justamente por cozinhar a filosofia e a física platônica, no tempêro metafísico. Infelizmente:
Se alguma vez quiseres embotar o engenho de um jovem e incapacitar-lhe o cérebro para qualquer espécie de pensamento, o melhor que podes fazer e dar-lhe a ler Hegel. Pois estas monstruosas acumulações de palavras, que se amontoam e se contradizem mutuamente, impelem o espírito a atormentar-se com vãs tentativas para pensar qualquer coisa em relação a elas, até cair em colapso de plena exaustão. Assim, qualquer capacidade de pensar fica tão inteiramente destruída que o jovem acabara por confundir a verbosidade vazia e ôca com o pensamento real. SCHOPENHAUER A., cit. POPPER, K., 1998: 85..
HEGEL retorceu os ensinamentos de KANT, seu vizinho, e por isso, rival. O filósofo de Königsberg demonstrara que a metafísica se diluia nas antinomias da razão pura. HEGEL colheu este resultado para demonstrar que é por meio da contradição que a razão pode se desenvolver.
NIETZSCHE (Crepúsculo do Ídolos, ou como filosofa a marteladas) não se agradava de KANT; muito menos de HEGEL: "O dialético degrada a inteligência de seu antagonista." “Só se escolhe a dialética quando não se tem mais nenhuma saída” (Idem, 2000:20)
De que maneira tal estratégia, tão servil à grei eclesiática, e elevada à décima potência, pode ser acolhida, ainda mais como manifestação científica, embora repleta de carências e absurdos?
Como a dialética recebe tão cobiçado galardão? De que modo uma simples lei positiva, adjacente de contraste metafísico, essa expressão de vontade unilateral e comumente paranóica, brilha tal qual pura expressão da ciência, e até da democracia
?
"O que ocorreu foi que as premissas tecnocráticas quanto à natureza do homem, da sociedade e da natureza, deformaram-lhe a experiência na fonte, tornando-se assim os pressupostos esquecidos de que se originam o intelecto e o julgamento ético.” (LEONI, B.: 66)
De que modo a própria experiência, ainda de uma magnitude social, pode ser assim adulterada?
Com a palavra o abalizado GAETANO MOSCA: "Uma ilusão geral constitui uma força social, que serve potentemente para cimentar a unidade e a organização política de um povo, como de uma inteira civilização." (Scritti politici (Teorica dei governi-elementi di scienza política) vol.II, 633; cit. RÊGO, W.D.L.: 88)
E como se impregnam as ilusões? Que fale o ilusionista-mór: “A cisão é a fonte da exigência da filosofia.” (HEGEL, Differenzschrift; cit. CÍCERO, A: 73)

A dialética de Hegel, assevero, foi concebida em ampla medida com o fito de perverter a idéias de 1789. Hegel estava perfeitamente consciente do fato de que o método dialético pode ser utilizado para retorcer uma idéia em seu oposto.
POPPER, K.: 48
Tartufo não traz nada de novo. Desde os primórdios da civilização vinga o prático e animalesco princípio de dividir para conquistar, dominador (não denominador) generalizado (não o comum), caminho mais curto ao usufruto do poder e da riqueza.
O maior divisor recém havia estado na Europa. "Hegel tem Descartes na conta de um herói.
" ALQUIÉ, F. A fonte francesa também era totalmente bitolada, por interesse da matriz, digo igreja matriz.
Quando Hegel estudava o destino do sujeito racional sobre a linha do saber, ele não dispunha mais do que de um racionalismo linear, de um racionalismo que se temporalizava sobre a linha histórica de sua cultura, realizando movimentos sucessivos de diversas dialéticas e sínteses.BACHELARD, G.: 57
HEGEL (Conferências e escritos filosóficos de Martin Heidegger; Hegel e os gregos: 20) não titubeou homenagear o ídolo:
Com Descartes cruzamos propriamente o umbral de nossa filosofia independente. Aqui, podemos dizer, estamos em casa e podemos, como o navegante após longo périplo por mar proceloso, exclamar ‘terra’!
Sinceramente, era preferido ter ficado no mar:
Surge um grave perigo quando esse hábito de manipulação com base em leis matemáticas é estendido ao nosso trato com seres humanos, uma vez que estes, diferentemente do cabo telefônico, são suscetíveis de felicidade e infortúnio, de desejo e aversão. Seria, portanto, lamentável que se permitisse que hábitos mentais apropriados e corretos para o trato com mecanismos materiais dominassem os esforços do administrador no plano da construção social.
Matemático RUSSELL, BERTRAND,
cit. FADIMAN, C.,: 266
Quem desejasse constar na geopolítica mundial deveria afirmar sua individualidade ou alma, penetrando una e forte no palco da História na qualidade de combatente.
A filosofia política moderna acha sua primeira forma sistemática em Hobbes; mas seu germe vital está em Maquiavel, de quem Hegel foi - não preciso lembrar - um grande admirador. E uma história que tem no Príncipe sua revelação, no Leviathan seu símbolo e - podemos também acrescentar, na vontade geral de Rousseau sua solução ideal, não podia deixar de ter como conclusão o deus-terreno de Hegel.
BOBBIO, N., 1991: 42

A isso se dava o nome de “progresso”:  "Hegel, como Heráclito, acredita ser a guerra o pai e a mãe de todas as coisas" ( POPPER, K.: 44)
MAX SCHELER (idem: 78) aprimorou a definição de HEGEL, não a de HERÁCLITO: "A guerra significa o Estado no seu mais efetivo crescimento e elevação; significa política". "O ser que já iniciou a apropriação da natureza por meio do trabalho de suas mãos, do intelecto e da fantasia, jamais deixará de fazê-lo e, após cada conquista, vislumbra já seu próximo passo." (MARX, KARL, posfácio à 2. ed. alemã do 1. vol. de O Capital. - cit. KONDER, L.:10)
Perversão: eis o caráter pertinente.  BOBBIO (1997: 24) retrata a morbidez:
O tema de guerra inspirou a Hegel algumas de suas páginas mais famosas: desde as primeiras obras tinha proclamado que a guerra é necessária e mantém a saúde dos povos: como o vento sobre o pântano, a guerra é o momento de igualdade absoluta.
“A gangrena - dizia aquele filósofo amargamente [naqueles tempos realmente havia muita gangrena] - não é curada com água de lavanda. É na guerra e não na paz que o Estado mostrava seu ânimo e ascendia às alturas de sua potencialidades.”(HEGEL F.W., cit. SABINE, G.: 620)
De fato, os estados costumaram ascender ao máximo, para de lá estatelarem suas respectivas nações.
Nas guerras e revoluções fulgura a bandeira de HEGEL. Se pegarmos a Bolchevique e suas afilhadas, até asiáticas, nem precisa falar. O fascismo e o nazismo ascenderam pela mesma escada, assim como até a cambaleante democracia levado à cabo pelos partidos alcunhados sociais. A filosofia influencia os povos, não há dúvidas. HEGEL foi muito capaz. A tonta Alemanha, a hibernada Rússia, a folclórica Itália, a eternamente dialética França, los valientes espanholes, e TODOS os povos latinos foram aquinhoados com inúmeras perturbações, corrupção desenfreada, guerras civis e internacionais, ditaduras e constituições de toda índole.
PLATÃO e seu "mais servil lacaio", na perfeita designação de POPPER, subverterem a ciência, a filosofia, a política, e com isso ainda logram poluir o mundo inteiro.
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Fontes da Nav 's ALL






quarta-feira, 29 de abril de 2009

O carma ocidental - 16. A subversão da democracia

Legislo tendo em vista o que é melhor para todo o Estado; coloco justamente os interesses do indivíduo num nível inferior de valor.
PLATÃO, A República; cit. POPPER, K.: 123.
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Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em que Platão ocupava o centro do universo espiritual da Grécia e em que todos os olhares convergiam para a sua Academia, e ainda hoje se continua a definir o caráter da filosofia, seja ela qual for, pela sua relação com aquele filósofo.
JAEGER, Werner. Paidéia. A formação do homem grego
: 581

A INGLATERRA gerou ao mundo a luz de LOCKE:
O escrito de Descartes se difundiu amplamente no continente, em particular na França e nos Países Baixos, mas não teve o mesmo sucesso na Inglaterra. A filosofia experimental tal como ali se desenvolveu impedia uma aceitação fácil de qualquer sistema dedutivo, e o sistema de Descartes foi considerado tão gerador de dissensões, quanto o sistema extremamente materialista de Thomas Hobbes.
HENRY: 71
.Foi igualmente pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação e da análise contra o espírito sistemático, que Locke se impôs como 'mestre da sabedoria' aos filósofos franceses do século XVIII.
CHÂTELET: 228
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A FRANÇA preferiu cortá-la, com ROUSSEAU:
"Portanto, ninguém deve se tranquilizar pensando que os bárbaros ainda estão longe de nós, porque, se há povos que deixam arrancarem-lhes das mãos a luz, outros há que a apagam, eles próprios, sob seus pés." (TOCQUEVILLE, 2000: 54)
MIGUEL REALE (1998: 161) vê no genebrino “o Descartes da política.”
ROUSSEAU era mesmo coerente com o pensamento do pretensioso patrício:
"Este pensador peculiar - embora freqüentemente considerado irracionalista ou romântico - também se apoiou no pensamento cartesiano e dele dependeu fundamentalmente." (HAYEK, 1995: 74)
SARTRE (1978: 114) também identificou o liame:
É assim que o cartesianismo, no século, XVIII, aparece sob dois aspectos indissolúveis e complementares: de um lado, como Idéia da Razão, como método analítico, inspira Holbach, Helvetius, Diderot, o próprio Rousseau; é ele que encontramos na fonte dos panfletos anti-religiosos assim como na origem do materialismo mecanicista.
RUSSELL (2001: 283) compreendeu:
"Afinal, o rígido determinismo da explicação cartesiana do mundo material, tanto físico como biológico, contribuiu muito para promover o materialismo dos séculos XVIII e XIX, em especial quando associado à física de Newton."
Esta teoria imagina uma espécie de espectador imparcial que, por dispor de todas as informações, seria capaz de determinar, por um balanço de perdas e ganhos, qual a regra de maior utilidade - total ou média - para o maior número. É claro que o utilitarismo pode servir para justificar - em nome da justiça e por uma espécie de ardil do 'bem-estar geral' - qualquer sistema de opressão geral.
RAWLS, JOHN, cit. LACOSTE, JEAN, A filosofia no século XX:139.
Para o sabujo ENGELS (p. 19), “o materialismo transferiu-se da Inglaterra para a França onde se encontrou com uma segunda escola materialista de filósofos, que havia surgido do cartesianismo e com a qual se refundiu.”
Com o sarcasmo que lhe é peculiar, NIETZSCHE (Além do Bem e do Mal: 45) alertou:
Os niveladores... rapazes bonzinhos e desajeitados... mas que são cativos e ridiculamente superficiais, sobretudo em sua tendência básica de ver, nas formas da velha sociedade até agora existente, a causa de toda a miséria e falência humana... O que eles gostariam de perseguir com todas as suas foras é a universal felicidade do rebanho em pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas doutrinas e cantigas mais lembradas são 'igualdade de direitos' e 'compaixão pelos que sofrem' - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve abolir.
ROUSSEAU
oferece à mostra o tamanho da mordida que sofreu da mosca da ciência exata, da física, do número, quando dispõe sobre a fôrça necessária para mover as coisas e quando reduz a diversidade, homogeneidade e universalidade de cada ente, de cada pessoa, a simples objeto manipulável. Para HAYEK (1995: 74) “a substituição por Rousseau, Hegel e seus seguidores da palavra 'opinião' pelo termo 'vontade' foi provavelmente a inovação terminológica mais fatídica na história do pensamento político.
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor.
PIPES, R.:251
MACKSOUD (p. 39) analisa o truque:
"Esta substituição teve fundamento no cartesianismo de Rousseau e foi o produto de um racionalismo construtivista que imaginava que todas as leis foram inventadas como expressões de vontade para um dado fim."
De fato assim são:
O que o Estado tira dos ricos, guarda para si e o que tira dos pobres, também. Seus beneficiários são poucos; uma oligarquia de empresários superprotegidos de qualquer concorrência, que deve sua fortuna a mercados cativos, a barreiras alfandegárias, a licenças outorgadas pelo burocrata a leis que o favorecem; uma oligarquia de políticos clientelistas para quem o Estado cumpre o mesmo papel que a teta da vaca para o bezerro; uma oligarquia sindical ligada a empresas estatais, geralmente monopolizadoras, que lhes concedem ruinosos e leoninos acordos coletivos; e, obviamente, burocratas parasitas crescidos à sombra desse corrupto Estado benfeitor.
MENDOZA, Plinio Apuleyo, MONTANER, Carlos Alberto, LLOSA, Alvaro Vargas: 120
Enfeitando o manto filosófico roussoniano fulgura o bordado da funesta república platônica de HOBBES. Se ROUSSEAU não a tingisse com as cores da soberania popular, poder-se-ia chamá-lo “plagiador”, até por repetir a cátedra de colocar o ser humano como carente de norma de ação mais elevada além de impulsos, apetites e más inclinações. Pobre semelhante.
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país.
TOYNBEE: 196
Desde o início assemelhado a MAQUIAVEL, e especialmente a THOMAS HOBBES, o franco-suíço veio com sua vida pautada pelo desastre. As patologias lhe foram equivalentes:
“Rousseau alude expressamente ao medo da morte que, como em Hobbes, domina o homem. À natureza, diz, compele o homem usar todos os meios à disposição para escapar da morte.” 1
Tal qual o pai do Leviathan, já no nascimento J.-J. convivera com a morte – também sua mãe era sacrificada. Adulto, o órfão só fracassou. Ao pregar sublimes reformas educacionais, abandonava os filhos num asilo de enjeitados.
Quando James Boswell visitou Rousseau que mais do que qualquer outro francês do seu tempo influenciou a opinião pública contra a propriedade, seu anfitrião lhe disse: ‘Senhor, eu não tenho a menor simpatia pelo mundo. Vivo aqui num mundo de fantasia, e não posso tolerar o mundo como ele é. A humanidade me repugna'.
Boswell on the Grand Tour: Germany and Switzerland, 1764, cit. PIPES, R.: 62
Ainda assim, o viandante se punha a querer tudo ordenar; e o que foi pior, muito pior, convecendo:
"Para Rousseau, como para outros edificadores da Cidade Ideal do Racionalismo desarvorado, o legislador é responsável por tudo. É um deus ex-machina. Algo que será como Napoleão, que pretendeu representar o novo César e o novo Augusto do cesarismo imperial francês." (PENNA, 1997: 366)
Obtivemos o produto correspondente:
O racionalismo priva de energia tudo aquilo que os homens mais amam: o sonho, a fantasia, o vago, a fé, a afirmação gratuita. Acrescentemos que isso é essencialmente inumano: o racionalista persegue seu raciocínio, não se importando em saber se ofende os interesses da família, da amizade, do amor, do Estado, da sociedade, da humanidade. Na realidade, o racionalista é um monstro. A humanidade se afirma nas suas religiões mais vitais atirando-lhes na cara o seu ódio.
BENDA, JULIEN, cit. BOBBIO, NORBERTO, Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea: 56.
Muitos espreitaram a chance do colossal mal-entendido:
A Constituição Francesa de 1791 proclamou uma série de direitos, ao passo ‘que nunca houve um período registrado nos anais da humanidade em que cada um desses direitos tivesse sido tão pouco assegurado - pode-se quase dizer completamente inexistente - como no ápice da Revolução Francesa.’
LEONI: 85
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Contemporaneamente o mito vai se identificando com a ideologia política: é que o processo mitológico sempre coloca suas crenças a serviço de uma ideologia. Barthes, coincidindo com este entendimento, afirma que através do mito consegue-se transformar a história em ideologia.
WARAT, Luiz Alberto, Mitos e Teorias na Interpretação da Lei: 128
“O homem no estado natural de Rousseau se tornou, no século XIX, o ‘povo’ de Mazzini e o ‘proletariado’ de Marx. “ (ROSSELI: 118)
A ética dominante na História da Humanidade foi uma variante da doutrina altruísta-coletivista, que subordinava o indivíduo a alguma autoridade superior, mística ou social. Conseqüentemente, a maioria dos sistemas políticos era uma variante da mesma tirania estatista, diferindo apenas em grau, não em princípio básico, limitada apenas pelos acidentes da tradição, do caos, da disputa sangrenta e colapso periódico.
RAND, A.: 118.
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado.
BOBBIO, NORBERTO, A Era dos Direitos:
72

O Estado comprovou ser um gastador insaciável, um desperdiçador incomparável. Na verdade, no século XX, ele revelou-se o mais assassino de todos os tempos. O político fanático oferecia o New Deal, grandes sociedades, e estados de bem-estar social; os fanáticos atravessaram décadas e décadas e hemisférios; charlatães, carismáticos, exaltados, assassinos de massas, unidos pela crença de que a política era a cura dos males.
JOHNSON, P.: 616.

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As principais características do indivíduo no grupo são, portanto, o desaparecimento da personalidade consciente, o domínio da personalidade inconsciente, a orientação de pensamentos e sentimentos em uma só direção mediante a sugestão e contágio, a tendência à realização imediata de idéias sugeridas. O indivíduo não é mais ele mesmo, é um autômato destituído de vontade. Ademais, pela mera participação num grupo, o homem desce vários degraus na escada da civilização.
LE BON
cit. KELSEN, HANS, A Democracia: 315
A justificação da democracia, ou seja, a principal razão que nos permite defender a democracia como melhor forma de governo ou a menos ruim, está precisamente no pressuposto de que o indivíduo singular, o indivíduo como pessoa moral e racional, é o melhor juiz do seu próprio interesse.
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos: 424
É o que ensina a mais moderna ciência:
Esta organização não pode ser abandonada à iniciativa dos governos: será alcançada quando os povos tiverem uma vontade firme e ativa, porque é renovação radical de todas as antiquadas tradições politicas. A compreensão e a vontade de resolver o problema estão-se generalizando. Acredito na influência de um individuo sobre outro e acredito no processo de seqüência e encadeamento entre os homens.
EINSTEIN, Albert, Fala Einstein sobra o futuro da humanidade, Folha da Manhã, 4/3/1949.
Sem dúvida, o universo inteiro podia ser pensado como se desdobrando ou se expressando em ocorrências individuais. E dentro dessa visão global que se torna possível acomodar as sincronicidades como eventos significativos que emergem do coração da natureza.
GLEICK, JAMES, Chaos, cit. LEMKOW, ANNA,: 216
A época moderna pode ser considerada como fim da história, se tomarmos ‘fim’ no sentido de ‘telos’ coletivo da humanidade. Cumprindo esse ‘telos’, não haveria outros fins universais e sim individuais ou particulares. Isso representaria a possibilidade da multiplicação indefinível dos fins.
FUKUYAMA, F.,
O fim da história e o último homem
Resta avisar o pessoal.
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Nota
1. Euvres Complète, II, 346, diz:
“... uma vez que, de todas as aversões que a natureza nos dá, a mais forte é a de morrer, decorre daí que tudo é permitido por ela a qualquer um que não tenha outro meio possível de vida”
(KOSELLECK: 146)

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Sobre a Bibliografia da Nav 's ALL




terça-feira, 28 de abril de 2009

O carma ocidental - 15. A subversão das ciências


O dualismo cartesiano, ao criar a bifurcação mente-matéria, observador-observado, sujeiro-objeto, moldou o pensamento ocidental, poucos filósofos discordando dele, cujos mais notórios foram Spinoza e Schopenhauer. GOTTSCHALL: 189
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral. GLEISER, M.: 164.
O universo é um movimento da matéria regido por leis, e nosso conhecimento, não sendo senão um produto superior ao da natureza, só pode refletir essas leis. LENIN, Materialisme et empiriocriticisme; cit. CHRÈTIEN: 131
TAL QUAL RELIGIÃO, as leis de NEWTON não refletem ciência, mas forjadas coincidências. Não fotografam a realidade, mas projetam a crença no céu, para proventos na Terra. A metafísica, o determinismo conduz à egoísta "teologia", não à Filosofia, que lhes é muito mais ampla, por não exclusivista; e deste modo, superior. "A matemática é um artifício intelectual que permite aos homens explorar possibilidades de manipulação dos objetos. Não é interessante que até mesmo a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão, as coisas mais simples da aritmética, sejam chamadas de operações?" (ALVES: 60) Por isso SHAFTESBURY (carta a THOMAS POOLE, cit. BRETT: 109) contestava frontalmente quem sequer LOCKE ousou:"Newton é mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo . Há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema." ISAAC, todavia, contava com a remota e fundamental adesão: "A matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina, tornou-se aquele discurso vivo que Platão considerou a única forma de conhecimento."(FEYERABEND, P., 1991: 13) A moda relançada exigiu “newtons” em todas as áreas:
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena.
BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
A passagem do reino da opinião (doxa) ao domínio do conhecimento científico (episteme) exigia a adoção de uma inteligibilidade racional. E a formulalização matemática estabelecia o limite desta ambição. As ciências humanas nascentes passaram a adotar uma exigência de rigor e de precisão, de busca das estruturas e das normas. Para tanto, adotaram em suas investigações os métodos quantitativos e a linguagem cifrada. A análise estatística passa a ser um dos meios fundamentais de ação dos cientistas humanos. As ciência se converte em uma língua bem feita. Por isso, submete todo o seu domínio à ordem matemática, a língua mais bem feita existente. A perfeição do saber parece ser atingida desde que se reduza os fenômenos a um esquema tipo algébrico. Pouco a pouco, a ordem dos comportamentos e das idéias humanas fica submetida à inteligência matemática. JAPIASSÚ, H., 1978: 97


Assim como Newton formulou as leis fundamentais da realidade física, os filósofos e sociólogos, viajando na sua esteira, esperavam descobrir os axiomas e princípios básicos da vida social. Seu universal maquinismo de relógio converteu-se em modelo a partir do qual comparava-se o Estado com um mecanismo preciso, sujeito a leis, e retratavam-se os seres humanos qual máquinas viventes.
ZOHAR, D., 2000: 23.
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Até mesmo o "ateu" LÊNIN (Materialisme et empiriocriticisme; cit. CHRÈTIEN: 131) se arvorou no cientismo mecanicista: “O universo é um movimento da matéria regido por leis, e nosso conhecimento, não sendo senão um produto superior ao da natureza, só pode refletir essas leis.”
Na União Soviética, do tempo de Lenine, se fez grande silêncio sobre a teoria de Einstein, porque os pontífices do Governo haviam declarado que o átomo não podia ser dividido, por ser a base da matéria, e sem matéria não haveria materialismo, um dos pilares do comunismo. ROHDEN, H., Einstein, O Enigma do Universo: 56
As leis observadas sofriam arranjos: "Newton vai mudando os dados, em suas várias edições sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação no limite da desonestidade." (LENTIN, J.P., Penso, logo me engano : grandes gênios, pequenas trapaças; Veja: 20/3/1996)
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Fez escola:
Quando a seleção natural não funcionava, era só referir-se à ação direta das condições; quando esta não dava conta, ele podia ainda evocar o uso e o não-uso das partes; e assim por diante... Em outras palavras, a teoria darwiniana era irrefutável (ou quase irrefutável).
Os físicos construíram modelos, isto é, representações esquemáticas do mecanismo dos fenômenos. O físico isola as variáveis (diria princípios) que considera essenciais, e a evolução do sistema previsível pelo cálculo tem de produzir, com uma aproximação razoável, os efeitos que se manifestam na observação do mundo real. Também o economista enumera os determinantes na descrição do movimento dos preços. Analisa, pelo cálculo e pelo raciocínio qualitativo, a evolução e o funcionamento do seu modelo, a partir do qual determina a ordem de grandeza das variações previstas, que irá confrontar com as grandezas observadas.GRANGER, G.-G.: 90
Os “cientistas das almas” não ficaram atrás:
Grande parte da moderna sociologia, da pedagogia e toda a psicologia da pessoa derivam desta linha de pensamento, assim como nossa violência característica do século XX, uma reação natural diante de tamanha impotência. Foi igualmente afetada nossa atitude em relação à natureza e ao mundo material. Se nossa mente, nosso consciente é totalmente diferente de nosso ser material, como argumentou Descartes, e se a consciência não tem nenhum papel a desempenhar no Universo, como sugere a física de Newton, que relacionamento podemos ter com a natureza ou com a matéria? Somos alienígenas num mundo alienígena, situados à parte dele e em oposição a ele, nosso ambiente material.
ZOHAR, DANAH: 191
Esse foi campo da manipulação (ou de “concentração”, pelo que tem de sujo e cruel) do tcheco que passa por austríaco, de origem judaica, o renomado SIGMUND FREUD (1856-1939), ao arrepio de DAVID BOHM :
"É urgente que compreendamos o perigo de continuar com o processo de fragmentação do pensamento. Seria como procurar sempre o caminho mais difícil e doloroso para se chegar ao mesmo destino."
BARBARA ANN BRENNAM, Master em Física Atmosférica pela Wisconsin University, compreende:
A mecânica newtoniana descreveu com êxito os movimentos dos planetas, das máquinas mecânicas e dos fluidos em movimento contínuo. O enorme sucesso do modelo mecanicista levou os físicos do século XIX a acreditarem que o universo, com efeito, era um imenso sistema mecânico que funcionava de acordo com as leis básicas da natureza. Considerava-se a mecânica newtoniana a teoria definitiva dos fenômenos naturais. Tudo podia ser descrito objetivamente. Todas as reações físicas tinham uma causa física, como bolas que se chocam numa mesa de bilhar.
"A natureza toda se transformou em um palco de impulsos e atrações, de dentes e alavancas, de movimentos de partes ou de elementos aos quais eram diretamente aplicadas às fórmulas de movimentos produzidos por bem conhecidas máquinas." (DEWEY: 87)
Dois séculos depois, ainda viria LA PLACE (ROHMANN C.: 107):
“Uma inteligência suficiente suficiente, conhecendo as leis da física e a velocidade e a posição de cada partícula do universo, conseguiria prever seu futuro completo.”
Para o sabujo ENGELS (p. 19), “o materialismo transferiu-se da Inglaterra para a França onde se encontrou com uma segunda escola materialista de filósofos, que havia surgido do cartesianismo e com a qual se refundiu.”
BERTRAND RUSSELL (2001: 283) compreendeu:
"Afinal, o rígido determinismo da explicação cartesiana do mundo material, tanto físico como biológico, contribuiu muito para promover o materialismo dos séculos XVIII e XIX, em especial quando associado à física de Newton."
E do XX, também, por consequência.
Nosso habitat não se apresenta desse modo tão rudimentar:
Chegamos a uma situação que envolve uma imagem diferente da natureza e, portanto, também da ciência. Não acreditamos mais na imagem do mundo como uma imensa peça de relojoaria. Chegamos ao fim das certezas. Estava implícita na visão clássica da natureza a idéia de que, sob condições bem definidas, um sistema seguiria um curso único e de que uma pequena mudança nos parâmetros produziria igualmente uma pequena mudança nos resultados. Hoje sabemos que isso só é verdade no caso de situações simplificadas e idealizadas.
MAYOR: 12
PRIGOGINE concorda:
A natureza não tem um nível simples. Quanto mais tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que nos defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas leis de estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira natureza da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade, uma forma que envolve leis e jogos, tempo e eternidade. Em lugar da clássica descrição do mundo como um autômato, retornamos ao antigo paradigma grego do mundo como uma obra de arte.
O fino humor de BACHELARD relaciona:
Se desejássemos retraçar a história do Determinismo, seria preciso retomar toda a história da Astronomia. É na imensidão dos Céus que se delineia o Objetivo puro que corresponde a um Visual puro. É pelo movimento regular dos astros que se regula o Destino. Se alguma coisa é fatal em nossa vida, é porque uma estrela nos domina e nos arrasta. Há, portanto, uma filosofia do Céu estrelado. Ela ensina ao homem a lei física em seus caracteres de objetividade e de determinismos absolutos. Sem esta grande lição de matemática astronômica, a geometria e o número não estariam provavelmente tão estreitamente associados ao pensamento experimental; o fenômeno terrestre tem uma diversidade e uma mobilidade imediatas demasiado manifestas para que se possa neles encontrar, sem preparo psicológico, uma doutrina do Objetivo e do Determinismo. O Determinismo desceu do Céu à Terra.
Por coincidência ou na ilusão, a subversão ganhou pernas muito compridas:
Durante longo tempo o ideal do conhecimento científico foi aquele que Laplace havia formulado com sua idéia de universo totalmente determinista e mecanicista. Segundo ele, uma inteligência excepcional dotada de uma capacidade sensorial, intelectual e computacional suficiente poderia determinar qualquer momento do passado e qualquer momento do futuro. É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade.
MORIN, Edgar 2000:
: 32
Apenas recentemente é que alguém do eixo, JAMES LIGHTILL, presidente da Union Internationale de Mécanique Pure et Apliquée, teve a coragem de vir expressar::
Devo agora deter-me e falar em nome da grande fraternidade que une os especialistas em mecânica. Hoje estamos plenamente conscientes de como o entusiasmo que os nossos predecessores nutriam pelo maravilhoso êxito da mecânica newtoniana os levou a fazer generalizações no campo da preditibilidade que hoje sabemos serem falsas. Todos nós desejamos, por isso, apresentar as nossas desculpas por haver induzido em erro o nosso público culto, difundindo, a respeito do determinismo dos sistemas que aderem às leis newtonianas do movimento, idéias que após 1960 se revelaram inexatas.
A razão é pueril:
Para dizer a verdade, quando o número de fatores em jogo num complexo fenomenológico é demasiado grande, o método científico falha na maioria dos casos. Basta pensar no tempo atmosférico, em que a previsão até mesmo para uns poucos dias antecipados é impossível... As ocorrências nesse domínio estão fora do alcance da previsão exata devido a variedade de fatores em operação, e não devido a alguma falta de ordem na natureza.
EINSTEIN, ALBERT, Einstein Por Ele Mesmo: 94
Então, livrai-nos do mal, amém:
Nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, por em dúvida verdades adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois o pesquisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe fecham, de antemão, o caminho da compreensão objetiva.GOLDMAN, L.:33.É uma questão que atualmente deve ser reconsiderada, tendo em vista que a fragmentação já se espalhou completamente, não apenas na sociedade, mas especialmente em cada indivído; e isso conduz a um tipo de confusão generalizada da mente, que por sua vez cria uma série infinita de problemas, interferindo com a nossa clareza de percepção de maneira tão grave a ponto de bloquear nossa capacidade de resolver a maioria deles.
BOHM, D., Totalidade e ordem implicada: 17

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O carma ocidental - 14. O véu de Newton

c.

Em um dos manuscritos, datado do começo do século XVIII, Newton, por meio dos textos bíblicos do Livro de Daniel, chega à conclusão de que o mundo deve acabar por volta do ano de 2060. 'Ele pode acabar além desta data, mas não há razão para acabar antes'

ete.A tão bela quanto platônica Cambridge University - UK


Mas eu não deixarei de tocar, em minha física, em várias questões metafísicas e particularmente nesta: que as verdades matemáticas, as quais chamais de eternas, foram estabelecidas por Deus e dele dependem inteiramente, assim como todo o resto das criaturas. Não receai, peço-vos, garantir e publicar em toda a parte que Deus é quem estabelece estas leis na natureza, assim como um rei estabelece leis em seu reino. DESCARTES, RENE, Carta à Mersennas.
O ONIRISMO PLATÔNICO já havia varado o canal surfando pelo axioma do religioso COPÉRNICO (cit. CHATÊLET: 49):
E no meio repousa o Sol. Com efeito, quem poderia no templo esplêndido colocar essa luminária num melhor lugar do que aquele donde pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Em verdade, não foi impropriamente que alguns lhe chamaram a pupila do mundo, outros o Espírito, outros ainda o seu reitor.
O Verbo se mostrava pelo número (sinônimo de harmonia). Equações entre pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) expressariam as relações de todas as coisas. A faculdade de conhecer o verdadeiro se resumia ao que os braços ou olhos podiam confirmar, mas o acesso ao ideal estava plenado:
A filosofia está escrita neste grande livro que permanece sempre aberto diante de nossos olhos; mas não podemos entendê-la se não aprendermos primeiro a linguagem e os caracteres em que ela foi escrita. Esta linguagem é a matemática e os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas. GALILEI, GALILEU, cit. CAPRA, F. 1991: 50.

O prestígio das matemáticas vem-lhes do facto de a afirmação excluir nelas a própria possibilidade de controvérsias: a partir de agora, serão as matemáticas que irão fornecer a unidade na medida de todas as ciências. MORIN, EDGAR, 2000: 128.
A influência do neoplatonismo, doutrina filosófica criada por Plotino (205/270) no século III, não se restringiu ao cristianismo (Santo Agostinho, John Scotus Erigena). Na Idade Média influenciou ainda a filosofia judaica, a filosofia dos árabes e, mais recententemente, o filósofo alemão G.W.F. Hegel (1770/1831) e os platonistas de Cambridge (séc. XVII).
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O primeiro chôro de ISAAC ocorreu em Woolsthorpe, 25 de dezembro de 1642, ano da morte de GALILEU. O campo e a régia mordomia lhe renderam longa jornada. Seu último suspiro foi em 1727. O epitáfio foi escrito pelo poeta ALEXANDER POPE:.
Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light
.
(A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas;
Deus disse "Haja Newton" e tudo se iluminou.)
.
O bebê engatinhou sob os cuidados dos avós, em Woolsthorpe. Sua mãe casara novamente, desta feita com um "pastor", de nome BARNABAS SMITH. No ambiente rural-puritano do Condado de Lincoln, o juvenil NEWTON soube das dramáticas lutas, desmandos e crueldades do Leviathan de CROMWELL.
Newton possuía uma extensa biblioteca de teologia e filosofia a seu dispor, incluíam desde estudos de línguas até todos os tipos de literatura clássica e bíblica, isto deve ter vitalizado seu espírito para inspiradoras abstrações. Comportou-se como um bom cristão anglicano e atendeu serviços na capela do Trinity Colege e, mais tarde, em Londres. Algumas das coisas que ele acreditava, era o tempo, sempre igual para todos os instantes e os seis mil anos de existência que a Bíblia dá à Terra. E considerava que a Mecânica celeste era governada pela gravitação universal e, principalmente, por Deus que, segundo uma frase do próprio cientista em questão: 'A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sendo a minha última e mais elevada descoberta.' Em um manuscrito que ele escreveu em 1704 no qual ele descreve sua tentativa de extrair informações científicas a partir da Bíblia, ele estima que o mundo não iria terminar antes de 2060. Em 2007, a Biblioteca Nacional de Israel divulgou os manuscritos atribuídos a Isaac Newton nos quais ele calcula a data aproximada do apocalipse.
Wikipédia.
Em outro documento, o cientista interpreta as profecias bíblicas que contam sobre o retorno dos judeus à Terra Prometida antes do final do mundo. Segundo ele, se verá 'a ruína das nações más, o fim do choro e de todos os problemas, e o retorno dos judeus ao seu próspero reino.
E dê-lhe milongas:
"A mecânica de Newton promete um poder de previsão vastíssimo que faz com que um instante forneça todas as informações possíveis sobre o passado e o futuro do Universo." (COVENEY & HIGHFIELD: 24)
(Já no raiar do XX, frente a Quântica e a Relatividade, o mundo de NEWTON se acabou. Felizmente.)
WILLIAM PALEY, em 1802, jurava que o Arquiteto, por perfeição e lógica, era o mais preciso relojoeiro. Dada a corda para mover o grande projeto, contudo, não teria mais porque o Relojoeiro atuar. Era a chance que Ele dava ao homem sob dois ângulos, pelo menos: descobrir, com o suor de seu rosto, no trabalho, no estudo, pela matemática, o que Ele queria. Cumprir. Em troca, a natureza trabalharia para seu deleite e dominação.
Pensava-se recuperar o sentido das enigmáticas revelações ofertadas aos babilônicos, o “criptograma composto pelo Todo-Poderoso.” Os acontecimentos na face da Terra seriam conseqüências da perfeita Engenharia Divina, inexorável lei extensiva a tudo que existisse. Cada parte de matéria no universo atrairia outra com uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas, e diretamente proporcional ao produto das respectivas massas. Ao pressupor e até provar que seria possível, tomando posse das velocidades das partículas do Universo em determinado instante prever todos os detalhes do futuro, NEWTON atirou milhões à nova Babel, a Rebabel:
"Toda a dificuldade da filosofia - a filosofia natural, isto é, a ciência física - parece constituir em estudar as forças da natureza a partir dos fenômenos em movimento, depois, a partir destas forças em demonstrar os restantes fenômenos."
NEWTON estudou latim, grego e a Bíblia, para aplicar, na neoplatônica Cambridge, (ANES:54) uma sintética, coerente, convincente e brilhante lógica, apta para lhe carrear fama e consequente status, além de fortificar a ciência em voga. Graduou-se em 1665. Em 1672 atingiu a Royal Society. Com os feitos logrou ascender ao Parlamento Britânico, em representação da Universidade de Cambridge, e assim guindado a presidente da Royal Society em 1703. Culminou em gerir até mesmo a Casa da Moeda inglesa. Daí se depreende: as Leis de Newton serviram, em primeiro lugar, a NEWTON.
"Newton vai mudando os dados, em suas várias edições sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação no limite da desonestidade." (LENTIN, J.P., Penso, logo me engano : grandes gênios, pequenas trapaças; Veja: 20/3/1996)
Muitos historiadores dão conta de uma personalidade voltada à alquimia, mas esta tradição, absolutamente, não pode ser impingida ao notável pragmático. Aliás, houve quem lhe outorgasse o título de “soprador”, ou um “queimador de carvão”, (idem: 56) como lhe depreciavam os próprios alquimistas, uma vez que a exclusiva preocupação de ISAAC voltava-se a resultados materiais, especialmente a propalada busca pelo ouro. Por isso SHAFTESBURY (carta a THOMAS POOLE, cit. BRETT: 109) lhe contestava frontalmente, algo que nem LOCKE ousou:
"Newton era um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema."
O fato de NEWTON atingir a Casa da Moeda não deixa de ser eloquente.
* * *
Hypoteses non fingo (1) retumbou solene, contaminando todas gerações:
"Tudo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese; e as hipóteses, sejam as metafísicas ou físicas, digam respeito às qualidades ocultas ou às mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental.”
KOYRÉ detona:
"Mas a suposição da existência nos corpos de uma certa força que lhes permita atuar sobre outros corpos e atraí-los não é uma hipótese. Não é sequer uma hipótese que faça uso de qualidades ocultas. É um absurdo puro e simples."
Embora negasse, NEWTON chegou estribado na mesma filosofia metafísica, à pressuposição exclusivista:
Para construir esse sistema com todos seus movimentos, foi necessário uma Causa que compreendeu e comparou as quantidades de matéria dos vários corpos diferentes; essa causa não pode ser uma simples conseqüência cega do acaso, mas sim uma especialista em mecânica e geometria.
Essa ‘prisca sapientia’ – uma revelação primordial e secreta – era um tema que bem servia aos "pastores científicos". DEUS teria, no começo da história, comunicado a alguns privilegiados os segredos da filosofia natural e da religião, conhecimento que teria se perdido e que importaria reencontrar. O Grande Arquiteto montara tudo na semana, para entregar a grande obra ao inquilino ADÃO. Cumprida tarefa, foi descansar.
NEWTON, como os gigantes, pressupôs que todo o sistema seria originário do impulso inicial deste Alguém que, tendo elaborado ponto a ponto o colossal relógio, apenas necessitasse lhe dar corda. Agora Ele assistia o caminhar da espécie criada à Sua imagem e semelhança. Ninguém se perguntou qual motivo do Rei Celestial necessitar de pernas, mas isso não vinha ao caso.
O mundo funcionaria de modo automático. O pensamento exato levaria à Lei perfeita, a verdade buscada por todos. Este é o exemplo mais clássico, evoluído desde o também cambridgeano BACON - a previsão do tempo discorrendo num eterno linear, em tique-taque. Para montar tamanho relógio, atividade delicada e trabalhosa, a engenharia divina montara tudo à semelhança. A roda do cronômetro, suas coroas e pinhões parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais. Para Agostinho da Silva, ele "lançou pelo menos uma hipótese e de todo o tamanho: a da existência de um Deus que teria montado a mecânica e que, de vez em quando, no sarcasmo de Leibniz, ainda viria acertar o seu relógio".
(http://farolpolitico.blogspot.com/2007/11/newton-isaac-1642-1727-autor-de.html)
.
Cambridge organizara um debate sobre essa "filosofia experimental" naturalmente sob a égide de NEWTON, em campanha à presidência da Royal Society. HENRY STUBBE disparou contra esse pragmatismo baconiano, o maior associado de HOBBES & NEWTON, apontando seu “desrespeito às antigas jurisdições eclesiásticas e civis, ao antigo governo, bem como aos governadores do reino.” (1671; cit. SCHWARTZ: 44)
Pouco adiantou. NEWTON foi coroado, e depois deputado. Daí à caixa-forte bastou atravessar a rua.

A idéia coisificada, a “coisificação” entusiasmou teólogos, filósofos, pseudocientistas e aspirantes governamentais ao cúmulo do arranjo. E lá se foi o trem do ocidente, carregando o carma platônico para todos rincões:
No decorrer do século XIX, a orientação mecanicista tomou raízes mais profundas - na física, química, biologia, psicologia e nas ciências sociais.
LEMKOW, ANNA:
86
É o que veremos.
________
Nota
1. Famosa oração de NEWTON: "Não invento hipóteses." Por paradoxo, sua justificativa gravitacional foi calcada exclusivamente na hipótese matemática, na suposta ação da força à distância.

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domingo, 26 de abril de 2009

O carma ocidental - 13. A gravidade de Newton


A idéia é originalmente devida a Platão, que, sem dúvida influenciado pelas concepções pitagóricas, foi o primeiro a afirmar que o círculo, cujas partes são todas iguais entre si, é por essa razão a mais perfeita figura geométrica, e, portanto, como os corpos celestes são eles mesmos perfeitos, o único movimento que lhes é possível é o movimento circular uniforme.. A tarefa dos astrônomos a partir de então foi construir um modelo matemático que explicasse os dados observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam dotados de movimentos circulares uniformes.
BEN-DOV: 19

No modelo proposto por Descartes e seguido pelo criador do Estado Leviathan , a geometria era a única ciência que Deus houve por bem até hoje conceder à humanidade. Retomava-se Galileu, para que a língua da natureza era a matemática. O pensamento moderno é assim marcado por este ritual do pensamento a que logo se opôs Pascal com o chamado esprit de finesse. A matematização do universo desenvolve-se com Newton e atinge as suas culminâncias em Comte. Nos Estatutos pombalinos da Universidade, determinou-se expressamente que os professores usassem do e.g. para poder discorrer com ordem, precisão, certeza. Respublica, JAM


Evidentemente, nós percebemos com facilidade, até mesmo pelo vocabulário, que a noção de espaço absoluto, implicando a de inércia absoluta, embaraça de modo particular a Newton. Porque percebe que nenhuma experiência poderá corresponder a esta última noção. Da mesma forma o raciocínio sobre ações à distância o intriga. Mas a prática e o enorme sucesso da teoria o impedem, a ele e aos físicos dos séculos XVIII e XIX de entender que o fundamento de seu sistema repousa em base absolutamente fictícia. O caráter fictício dos princípios torna-se evidente pela simples razão de que se podem estabelecer dois princípios radicalmente diferentes, que no entanto concordam em grande parte com a experiência. De qualquer modo, toda a tentativa de deduzir logicamente a partir de experiências elementares os conceitos e as leis fundamentais da mecânica está votada ao malogro.
EINSTEIN, 1981: 149
Pois foi "NO OMBRO DE GIGANTES" (1) que “incomparável NEWTON(2) catapultou o cientificismo em voga.

A influência do neoplatonismo, doutrina filosófica criada por Plotino (205/270) no século III, não se restringiu ao cristianismo (Santo Agostinho, John Scotus Erigena). Na Idade Média influenciou ainda a filosofia judaica, a filosofia dos árabes e, mais recententemente, o filósofo alemão G.W.F. Hegel (1770/1831) e os platonistas de Cambridge (séc. XVII).
www.greciantiga.org
A mecânica prometia um poder de previsão vastíssimo, todas as informações possíveis sobre o passado e o futuro do Universo.
.


,A matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina, tornou-se aquele discurso vivo que Platão considerou a única forma de conhecimento.
FEYERABEND, P., 1991: 13
SHAFTESBURY, mentor de JOHN LOCKE, (carta a THOMAS POOLE. - Cit. BRETT, R. L.: 109) discordava frontalmente do incomparável NEWTON, algo que nem o famoso afilhado ousou. Sua intuição, porém, era forte:

.
Newton é um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.

VOLTAIRE (Vida e Obra: 25) em reportagem na Inglaterra, bem soube aquilatar, e reverenciar:
"Talvez nunca tenha havido espírito mais sensato, mais metódico, um lógico mais exato que o senhor Locke; não era, contudo, um grande matemático."
Graças a essa intervenção, a Inglaterra se livrou para sempre do determinismo político, mas a acepção ficou restrita a este domínio. De resto, todos escorregamos pela vereda, inclusive a própria Grâ-Bretanha:

A tradição filosófica do Ocidente, em todo caso desde o século XVII, foi profundamente influenciada pelo desenvolvimento da física matemática e das ciências naturais fundamentadas na experiência, na medição, na pesagem e no cálculo. Tudo quanto não era redutível a grandezas quantificáveis foi, por isso mesmo, considerado vago e confuso, alheio ao conhecimento claro e distinto.
PERELMAN, CHAÏM, Ética e Direito: 672
A má tese, ou a má temática, a "quantofrenia", conforme Sorokin, ou a "aritmomania", como diz GEORGESCU-ROEGENS, coroou o homo faber tal homo mathematicus.

A matemática é um artifício intelectual que permite aos homens explorar possibilidades de manipulação dos objetos. Não é interessante que até mesmo a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão, as coisas mais simples da aritmética, sejam chamadas de operações?
ALVES: 60
O mundo, todavia, que já se encantara com os artifícios platônicos, ora tinha ainda mais pesados e provados motivos ao júbilo:

O triunfo da mecânica newtoniana nos séculos XVIII e XIX estabeleceu a física como protótipo de uma ciência ‘pesada’, pela qual todas as outras ciências eram medidas. Quanto mais perto os cientistas estiveram de emular os métodos da física e quanto mais capazes eles forem de usar os conceitos dessa ciência, mais elevado será o prestígio das disciplinas a que se dedicam, junto da comunidade científica. No nosso século, essa tendência para adotar a física newtoniana como modelo para teorias e conceitos científicos tornou-se uma séria desvantagem em muitas áreas, mas, mais do que em qualquer outra, na das ciências sociais.
CAPRA, F., 1991: 180
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena.
BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
"De resto, a mecanização do Estado é apenas um aspecto daquela concepção mecanicista do mundo que dominou por dois séculos a física e, portanto, a filosofia e as ciências morais." (BOBBIO, 2001: 8)
A filha platônica também dependia de artimanhas:
"Newton vai mudando os dados, em suas várias edições sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação no limite da desonestidade." (LENTIN, J.P., Penso, logo me engano : grandes gênios, pequenas trapaças; Veja: 20/3/1996)As metonímias arrastaram todas as ciências:
Os físicos construíram modelos, isto é, representações esquemáticas do mecanismo dos fenômenos. O físico isola as variáveis (diria princípios) que considera essenciais, e a evolução do sistema previsível pelo cálculo tem de produzir, com uma aproximação razoável, os efeitos que se manifestam na observação do mundo real. Também o economista enumera os determinantes na descrição do movimento dos preços. Analisa, pelo cálculo e pelo raciocínio qualitativo, a evolução e o funcionamento do seu modelo, a partir do qual determina a ordem de grandeza das variações previstas, que irá confrontar com as grandezas observadas.
GRANGER, G.-G.: 90
O custo do carma de fato nos é alto demais:

O que estou tentando mostrar é que a ciência, por causa do seu método e de seus conceitos, projetou um universo no qual o domínio da natureza ficou ligado ao domínio do homem e que ela favoreceu esse universo – e esse traço de união tende a tornar-se fatal para esse universo e seu conjunto.
MARCUSE, H., Uma ciência sem domínio?; Points Seuil, 1970; cit. CHRÉTIEN
: 212
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais, mas não quantificáveis, e tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível.
SIMPSON: 61
O racionalismo priva de energia tudo aquilo que os homens mais amam: o sonho, a fantasia, o vago, a fé, a afirmação gratuita. Acrescentemos que isso é essencialmente inumano: o racionalista persegue seu raciocínio, não se importando em saber se ofende os interesses da família, da amizade, do amor, do Estado, da sociedade, da humanidade. Na realidade, o racionalista é um monstro. A humanidade se afirma nas suas religiões mais vitais atirando-lhes na cara o seu ódio.
BENDA, JULIEN, cit. BOBBIO, NORBERTO, Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea: 56
Desde o advento da relatividade geral ficou claro, porém, que, por sua ação gravitacional, a matéria realmente determina 'em qual forma o espaço está', como o homem que pula na cama elástica. Longe da matéria o espaço continua plano e euclidiano, mas onde a matéria está presente o espaço obedece a uma geometria mais geral (riemanniana). A gravitação também não obedece mais às leis estabelecidas por Newton.
WILL, CLIFFORD, Einstein Tinha razão? Testando a teoria da relatividade geral : 18.
Resta avisar o pessoal.
_________
Notas

1-Célebre oração de NEWTON: "Se fui tão longe foi porque estava apoiado no ombro de gigantes." Arthur Koestler analisa os “gigantes”: primeiro, Johannes Kepler: "uma mente para a qual toda a realidade última, a essência da religião, da verdade e da beleza estava contida na linguagem dos números."
Depois, GALILEU e DESCARTES: "prometeu reconstruir o universo inteiro a partir apenas de matéria e extensão e que inventou a mais bela ferramenta de raciocínio matemático, a geometria analítica". (The Sleepwalkers)
2- Como JOHN LOCKE o chamava.