sábado, 20 de novembro de 2010

Dia de consciência branca

A conquista da terra, que quer dizer sobretudo tomá-la daqueles que têm compleição diferente ou narizes ligeiramente mais achatados que os nossos, não é uma coisa bonita, quando se olha demais para ela. O que redime é apenas uma idéia. Uma idéia por trás dela; não um pretexto sentimental, mas uma idéia; e uma abnegada fé na idéia - uma coisa que podemos instalar, diante da qual podemos curvar-nos e para a qual podemos oferecer sacrifícios. CONRAD, JOSEPH, Heart of darkness.
Hoje consagramos o dia à "Consciência Negra". Vá lá; mas os negros tem bem consciente o modo como ainda são tratados fora da África, de onde foram sequestrados. Se for para discriminar matizes epidérmicos, cabem aos brancos adquirirem urgentemente a consciência, ainda que sem examinar culpa, muito menos se estipular penas ou compensações. Não podemos retornar às bestialidades, para corrigi-las. Tampouco há alguma forma no mundo para reestabelecer tanta injustiça. Inverter as posições,  o que seria o justo, por algum século, pelo menos, evidentemente está fora de cogitação, até porque seria dobrar a estupidez.  Mister, apenas, a ciência para elidir a inconsciência. Somente por ela lograremos uma reversão da selvageria.
Viemos todos conduzidos à tosa por uma leva imensa de astutos brancos, pastores unidos - uns embaixadores da Divindade Celestial,  esta invenção satânica em princípio denominada DEMIÚRGO, ora conhecido pela alcunha de DEUS; e outros, delegados do terreno LEVIATHAN.
Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem nenhuma crença. E, portanto, se os degradados que aqui hão de ficar aprenderem bem sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa fé. Carta de PERO VAZ DE CAMINHA; cit. FARACO & MORA, Para gostar de escrever. - São Paulo: Ática, 2002.
O conceito espiritual do reino de Deus degenerou numa instituição eclesiástica, jurídica, política, militar, financeira que, substituindo a força do espírito pelo espírito da força, fez da Civitas Dei uma Civitas Terrena, com o agravante que esta cidade terrena é acintosamente proclamada como sendo a cidade de Deus.  ROHDEN, H.: 28.
"Em virtude dessa estreita associação entre o poder do Estado e a autoridade religiosa, o catolicismo, em toda a parte em que predominava, opunha-se a liberdade de consciência e as liberdades democráticas, com o apoio do braço secular do poder civil." (GUSDORF: 80)
Os africanos nunca cultivaram essas maluquices. Não lhes preocupava o poder sobre a natureza, sobre os animais, estrangeiros; e muito menos sobre seus semelhantes. Jamais se ativeram em poderes sobrenaturais para enfrentar inimigos, porquanto não cultivavam animosidades. Observando a natureza prescindiam de mandamentos. Embora alguns autores citem conflitos tribais, na verdade esses combates se acentuavam em seus limites, diante das invasões árabes e muçulmanas, em primeiro lugar, e posteriormente o massacre europeu. Semelhantes aos amarelos, animavam-se em usufruir a vida, em vez de querer dominá-la.
Foi o tempo em que os povos da África viviam em perfeita harmonia entre si mesmos, com a natureza e as suas divindades.Ainda apegados e obedientes à tradição dos antepassados, tudo ao seu redor transmitia paz e tranqüilidade. E, assim através do sistema de transmissão oral da tradição dos antepassados, as gerações foram se sucedendo e perpetuando estas heranças do passado. Haja visto que, para o africano, o que deu certo no passado, vale também para o presente e com certeza norteará igualmente o futuro. Entretanto os tempos mudaram e com a influência dos povos brancos colonizadores, a África foi perdendo a sua coloração cultural original. E, hoje o continente africano está sofrendo as conseqüências deste "período negro" da sua história. E o povo, traz cravados no seu coração os estigmas da divisão, do ódio e da exclusão. www.pime.org.br/mundoemissao/atualidadesafricamal
"Obama terá direito de usar a frase "So help me God" ("com a ajuda de Deus"). A liberação foi dada por uma corte distrital de Washington D.C."
Maior bobagem não há!
Dedico o Dia da Consciência Negra para trazer, mais uma vez, pela orelha,  os elementos que tornaram os brancos  totalmente alienados, arrastando, por cooptação, outras tonalidades epídérmicas. Tarefa fácil, porquanto autores e estribilho temos de cor e salteado. São sempre os mesmos.  Vou pegar o diário de bordo da Nav's ALL. A planilha oferece uma infinidade de provas e conexões. 
Durante os primeiros quatro séculos - do século 15 a metade do 19 - de contato dos navegantes europeus com o Continente Negro, a África foi vista apenas como uma grande reserva de mão-de-obra escrava, a 'madeira de ébano' a ser extraída e exportada pelos comerciantes. Traficantes de quase todas as nacionalidades montaram feitorias nas costas da África. As simples incursões piratas que visavam inicialmente atacar de surpresa do litoral e apresar o maior número possível de gente, foi dando lugar a um processo mais elaborado. www.pime.org.br/mundoemissao/atualidadesafricamal.htm
Então tudo começou apenas no XV? Mas por qual razão demoraram tanto?
A ordem e a beleza que vemos no Cosmo resulta de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão, um 'demiurgo' (gr. δημιουργός), que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável PLATÃO, Timeu: 26a
"O Demiurgo de Platão, o grande arquiteto cósmico, transformou-se no Deus cristão de Copérnico." (GLEISER, M., Criação Imperfeita: 54)
“Não tenho dificuldades para admitir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter platônico da ciência galileana.” (GEYMONET : 42)
Até o Renascimento, o Ocidente praticamente desconhecia Platão. Mas alguns manuscritos gregos, comprados em Constantinopla, mudaram esse cenário. Entre eles, levados a Florença em meados de 1430, estava nada mais nada menos do que a obra completa de Platão. ABRÃO, B.:136 
O mundo barroco pode ser descrito também como um grande teatro, onde cada homem deve ocupar o seu lugar. O mais belo dos teatros é o centro do mundo católico romano: a praça de São Pedro em Roma. A literatura, as artes, a filosofia giram em torno de Deus, de suas exigências e da salvação. JAPIASSÚ, H., 1997: 81
A interpretação religiosa assenta nessa mesma ambiguidade: una est religio in rituum varietate, proclama Ficino, que, na Teologia Platônica – título revelador – desenvolve o acordo entre o platonismo e o cristianismo. ‘Eis a razão porque, quem quer que leia seriamente as obras de Platão, nelas encontrará, evidentemente, tudo, mas em particular essas duas verdades eternas: o culto reconhecido de um deus conhecido e a divindade das almas, onde reside toda a compreensão das coisas, toda a regra de vida e toda a felicidade. E tanto o mais que, sobre estes problemas, a maneira de pensar de Platão é tal que, de entre outros filósofos, foi a ele que Agostinho escolheu para modelo, como sendo o mais próximo da verdade cristã, afirmando que, com pequenas alterações, os platônicos seriam cristãos.’
Maquiavel considerava a religião e sobretudo o temor a Deus, eram essenciais ‘para comandar os exércitos, para estimular a plebe a manter os homens bons, para fazer os reis se envergonharem.’ Escrevia ele também que o culto divino e o temor a Deus são necessários sobretudo nas repúblicas: ‘e como a observância do culto divino é origem da grandeza das repúblicas, também o desprezo daquele é origem da ruína destas. Porque onde falta o temor a Deus, convém ou que aquele reino desabe, ou que seja sustentado pelo temor a um príncipe que supra os defeitos da religião.’.
 Africano não dava bola para DEUS, até porque nunca lhe tinham dito o que era isso. Então só podia ser coisa do demônio.
“Na concepção cristã, o trabalho representava o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.” (ROHMANN, C: 122)
O "trabalho" é esta designação latina, proveniente do castigo imposto pela degustação da maçã. Deriva de tripálio, ou seja, um "chicote tri-legal", diria o gaúcho, de tripla ponta, para ferir de uma só vez as pernas, o corpo e a cabeça de algum recalcitrante! Assim é que o trabalho vem sendo ao longo dos tempos legado aos escravos e classes mais ignorantes. Vai ver é por isso que nenhum político trabalha, mas fatura cada vez mais. Trabalho é para os que gostam de apanhar com tripalium.  O confronto entre capital e trabalho é da  mesma técnica órfica que dispõe a adversidade da divina alma frente ao mundano corpo. “Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirma a Rerum Novarum, em 1891.” ( DE MASI, D.: 47)
A ESCRAVIDÃO
Tobias Barreto
Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!…

Quem corrigiu o "erro de Deus"? Como se reverteu a escravatura? Em que ponto, por qual motivo a civilização adquiriu este resquício de consciência? 
Ambas correntes foram quebradas de uma vez só, por esclarecida e destemida NaçãoAmanhã apresento as surpreendentes credenciais.
_________


Nenhum comentário:

Postar um comentário