terça-feira, 19 de junho de 2012

A revanche liberal

Você tem paciência para esperar,
Até que a lama se assente e a água fique límpida?
Você consegue ficar imóvel,
Até que a ação certa ocorra espontaneamente?
TAO TE KING.
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável. SKIDELSKI,: 140
O caminho das pedras
Quando findou o primeiro grande conflito mundial o Eua se deparou com novo adversário. A terrível Revolução Bolchevique ameaçava se alastrar. O Alaska estava em apenas um passo. A Itália apresentara uma solução inovadora, ao gosto popular. E a Alemanha, em convulsão, viria cair na quimera, estradulando-a. Como se manteria inerte a nação da liberdade, mas antes de antes de tudo, do capitalismo? De que modo conciliar o desenvolvimento, que requeria objetividade, plano de ação, com a espontaneidade dissipativa do live-comércio, da livre-iniciativa?
The bright boys, where are they now?
Fernando, handsome wop who led us.

We´re salesman clerks abd civil engineers
We hang certificates over kitchen sinks
Our toilet wall arestuck with our degrees
 (Os brilhantes rapazes, onde estão agora?
Fernando, que comandava todos nós?
Somos balconistas e engenheiros civis.
Penduramos diplomas sobre pias de cozinha.
As paredes de nosso banheiro estão forradas de certificados.)
Dos males, o menor: "O Führer era idolatrado não somente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes. (BRIAN, Denis, Einstein, a ciência da vida.: 329)  "O medo atingira o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a da economia a serviço de um novo sonho americano...a solução fascista." (POLANYI: 275).
Dependente de um sistema constitucional bastante rígido, de que modo mantê-lo incólume, ainda mais diante das crescentes reivindicações da imensidão composta pelos filhos da Revolução Industrial, e que bravamente sustentaram o pavilhão estrelado no distante campo talado de minas e canhões? Havia muito mais em jogo, contudo, além dos burlescos ideológicos,  Em vez da convulsão política preparada por fascistas e nazistas, o Eua aplicou um golpe econômico. Antes de inflacionar o mercado para depois intervir, Tio Sam resolveu deprimi-lo ao máximo, para então, por estrondosas votações, impor as mesmas soluções econômicas e sociais aplicadas pelos farsantes europeus. "Então, o New Deal não foi uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial." (ROTHBARD:41) "A grande retração de 1929-33 levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930. (FRIEDMAN,: 242) "A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão." (PIPES, 2001: 183). Em seguida, as portas de Wall Street foram cerradas. Dentro se dividiram os despojos:  "Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934." (GLEISER, I.: 211)  A tunga cresceu por todos tentáculos. "O imposto sobre rendimentos regular, direto e progressivo é um subproduto do welfare state: ele passou a existir ao mesmo tempo em okque este foi justificado como necessário para financiar os grandes gastos que os serviços sociais demandavam.(GALBRAITH, J. 1968: 245).
A triplicação de impostos feita por FDR, sua regulamentação dos negócios, e sua implacável propaganda anti-iniciativa privada também contribuíram para piorar a Grande Depressão, mas nada supera suas políticas trabalhistas, que provavelmente foram as mais danosas para as perspectivas de emprego dos trabalhadores americanos. Sob esse aspecto, a parte mais desapontadora do artigo de Cole e Ohanian é que eles sequer citam o trabalho pioneiro de Richard Vedder e Lowell Gallaway, Out of Work: Unemployment and Government in Twentieth Century America, publicado em 1993. Entre 1936 e 1937, as atividades grevistas dobraram. Em 1936 ocorreram greves equivalentes a uma perda de 14 milhões de dias de trabalho, valor esse que apenas um ano depois dobrou para 28 milhões. E somente em 1937 os salários subiram quase 15 por cento. A diferença salarial entre trabalhadores sindicalizados e não-sindicalizados, que era de 5 por cento em 1933, foi para 23 por cento em 1940. A recém-criada Previdência Social, bem como outros impostos sobre a folha de pagamento criados para bancar o seguro-desemprego, encareceram ainda mais o custo de se empregar alguém. O que tudo isso mostra é que durante um período de fraca e declinante demanda por trabalho, as políticas do governo empurraram significativamente para o alto os custos da mão-de-obra, fazendo com que os empregadores a demandassem cada vez menos. DI LORENZO, Thomas, Loyola College, Maryland, autor de The Real Lincoln (Three Rivers Press/Random House, 2003. Seu último livro é How Capitalism Saved America: The Untold History of Our Country, From the Pilgrims to the Present (Crown Forum/Random House, 2004).
Malgrado inédito sofrimento imposto à nação inteira por 10 anos, acrescidos da terrível prorrogação de mais cinco sangrentos, o retumbante êxito na II Grande Guerra confirmava a correção  do chefe-de-estado:
O grande acontecimento dessa crise do liberalismo econômico foi a eleição, em 1932, nos Estados Unidos, de Franklin Delano Roosevelt. Roosevelt, com seu New Deal, propôs uma verdadeira revolução: simplesmente a morte do Estado Liberal. Propunha um Estado inferente, gastador, que investe mais em obras públicas e assistência social do que dispõe em caixa e deixa para cobrir o déficit depois, com o dinheiro a mais que arrecadar numa economia aquecida pelos próprios gastos estatais. MASCARENHAS,44
O Eua e a Europa, sutilmente, agravavaram  centralização.
[A] recuperação ocorrida nos quatro anos após a posse de Franklin Roosevelt em 1933 foi incrivelmente rápida.  O PIB real teve uma média de crescimento anual superior a 9%.  O desemprego caiu de 25% para 14%.  Excetuando-se a Segunda Guerra Mundial, os EUA jamais vivenciaram um crescimento tão rápido e sustentável. Entretanto, aquele crescimento foi interrompido por uma segunda e severa retração econômica em 1937-38, quando o desemprego disparou novamente para 19%... A causa fundamental dessa segunda recessão foi uma infeliz, e amplamente negligente, mudança nas políticas monetária e fiscal, que passaram a ser contracionistas.  [Cortes nos gastos e aumento dos impostos] reduziram o déficit para aproximadamente 2,5% do PIB, exercendo uma significativa pressão contracionista. Christina Romer, Economista da Universidade de Berkeley, especialista na Grande Depressão, e atualmente chefe da Junta de Conselheiros Econômicos do presidente Obama
Muitas das reformas da década de 1930 permanecem entranhadas nas políticas atuais: distribuição arbitrária de terras, subvenção de preços e controles de mercado para a agricultura, ampla regulação de títulos privados, intromissão federal sobre as relações entre sindicatos e empregadores, governo fazendo empréstimos e atividades seguradoras, o salário mínimo, seguro-desemprego nacional, Previdência Social e pagamentos assistencialistas, produção e venda de energia elétrica pelo governo federal, papel-moeda de curso forçado - a lista é infindável. A indústria foi praticamente nacionalizada pelo decreto National Industrial Recovery Act, assinado por Roosevelt em 1933. Como a maioria das legislações do New Deal, esse decreto foi o resultado de um acordo conciliatório entre vários grupos de interesses: empresários querendo preços mais altos e mais barreiras à concorrência, sindicalistas buscando proteção e patrocínio governamental, assistentes sociais querendo controlar as condições de trabalho e proibir o trabalho infantil, e os habituais proponentes de gastos maciços em obras públicas. A teoria da economia mista, na qual o estado controla a economia de mercado, ainda é a ideologia dominante que sustenta todas as políticas governamentais. Em lugar da velha crença na liberdade, temos hoje uma tolerância maior com - e até mesmo uma demanda por - esquemas coletivistas que prometem seguridade social, proteção contra os rigores da concorrência de mercado e alguma coisa em troca de nada. Robert Higgs
O mundo embarcou direto na fortíssima publidade. "Por isso a importância de jornais como o New York Times, que serve ao establishment americano, assim como o Pravda servia ao governo da União Soviética. Ele oferece aquilo em que os donos do país, e das grandes corporações, desejam que acreditemos."(ROSSETI, Econ. José Paschoal: 69)
Hoje, o subdesenvolvimento pede o superpoder. Como se os Estados do Terceiro Mundo muitas vezes dilacerados por divisões étnicas ou tribais, prejudicadas pelo atraso econômico, tentassem compensar esses obstáculos através de um acréscimo de autoridade política. Como se um poder unificado e concentrado fosse melhor capacitado para impor a unidade nacional e a modernização econômica. Como se o déficit econômico pudesse ser contrabalançado por um excedente político SCHARTZENBERG, Roger-Gérard, O Estado Espetáculo: 83.
Não apenas pela mortandade, o resultado econômico das imposições nazistas, comunistas, fascistas, sociais-democratas, ou democracia de trabalhador podemos hoje aquilatar: todas as nações que adotaram tão virtuosa receita hoje estão em convulsão econômica, e um desespero como melhor horizonte. "Nem o socialismo nem o Estado do bem-estar social apontam para uma estrada que possa ser percorrida para se construir um futuro coletivo melhor, que incluirá os excluídos." (THUROW: 327) No entanto, há quem se apresente ao refrão:: "A crise econômica internacional desmistificou a suposta supremacia do mercado e dos modelos importados. Ao mesmo tempo, abriu espaço para que países emergentes, como os nossos, impulsionem as necessárias reformas nas estruturas da governança global. (Luís Inácio da Silva, na ocasião Presidente do Brasil. Fonte da citações: www.invertia.com - 17/9/2009)
Culpa & castigo constituem a mórbida metafísica do carrasco.  A prova de sua "força" é que lhe realiza. Qual melhor sensação do que apontar o pecado, para submeter o pecador? Ao decairem atlântidas, periclitarem florenças e wall streets ele aponta as razões: a cupidez, a inveja, o vício, a luxúria, a ganância. Mas êle é o promotor, a causa de toda degenerência. O verdugo culpa a doença; porém ela vem instilada pelo próprio a priori, no  fito de prostrar quem o astuto tenciona dominar. Liga o ar-condicionado ao máximo para vender o cobertor. Torna a vida na Terra insuportável, para oferecer as cativas do Céu a preço promocional, mísero dízimo. Haja sordidez. 
Deus já deve ter colocado as barbas-de-molho. Conquistada a governança global, o que restará ao intrépido mosqueteiro senão que a Universal? Na dúvida, não seria mais adequado, e menos dispendioso, os papagaios se adequarem à inexorável realidade?
Se pudéssemos retirar a cobertura turva da antiguidade e rastrear o princípio de suas origens, não encontramos nada melhor que o principal rufião de alguma quadrilha turbulenta cujos modos selvagens ou a astúcia superior lhe valeram o título de chefe entre os saqueadores e que, ao aumentar seu poder e estender o campo de suas depredações, intimidou as pessoas pacíficas e indefesas a comprar sua salvação em troca de tributos freqüentes. A pele não mudou nem com o tempo.  PAINE, T.,  Common Sense,. - The Complete Writings of Thomas Paine, P. Foner, ed. New York: Citadel Press, 1945, vol. 1: 13
De volta à freeway
É na inteligência, cada vez mais disseminada, que devemos buscar a solução das doenças de que nosso mundo sofre. RUSSELL, B., Ensaios céticos: 53.
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade. SMITH, Adam, cit. DOWNS: 56
A recuperação e o desenvolvimento social só é possível mediante iniciativa individual. "Onde existe crescimento econômico, estão também emergindo mais formas de governo de livre mercado - uma aceitação do fato de que as pessoas, e não a determinação política, criam a oportunidade econômica." (NAISBITT, J., Paradoxo global: 265) ."Os interesses dos indivíduos se compensam entre si e o produto final coincide com o interesse da comunidade. Em outras palavras, a consciência do indivíduo é árbitro e condutor tanto do interesse público quanto do privado que não é obra do acaso." (TOCQUEVILLE, 1997: 18) "Uma economia só pode crescer de maneira global se as empresas individuais que a formam crescerem. Portanto, qualquer teoria do crescimento deveria estar embasada na atividade e no comportamento das empresas individuais." (ORMEROD, P., 2000: 216)  John Holland (cit. GLEISER, I.: 202/3) revela o modus operandi da New Age:
Descentralização - O que acontece na economia é resultado da interação de muitos agentes atuando em paralelo. As ações de um agente em particular serão resultado de sua expectativa em relação ao que os outros agentes irão fazer. Os agentes antecipam e co-criam o mundo à sua volta.
Ausência de um controlador central - Não há uma entidade global que controla as interações ou que tenha conhecimento da estrutura global do sistema. O controle é feito pelo processo de cooperação e competição entre os agentes e medido pela presença de instituições e regras.
Organização hierárquica flexível - A economia tem vários níveis de organização e interação. Unidades em um certo nível - comportamentos, ações, estratégias, produtos - servem de base para a construção de unidades em níveis superiores. A organização global é mais do que hierárquica, com interações entre os diversos níveis se misturando e criando uma complexa rede de relacionamentos e canais de comunicação.
Adaptação contínua - Comportamentos, ações, estratégias e produtos são revisados continuamente à medida que os agentes ganham experiência - o sistema está em constante adaptação. O elemento surpresa e a chance permitem que o sistema tenha muitas soluções e aproveite novas oportunidades. Eventualmente, uma destas soluções será a escolhida, mas não necessariamente será a melhor.
Novidade perpétua - Nichos são continuamente criados por novos mercados, novas tecnologias, novos comportamentos e novas instituições. O próprio ato de se preencher um nicho já cria novos nichos. O resultado é um sistema onde sempre aparecem novidades. Inovações são desenvolvidas, levando a produtos mais avançados que, por sua vez, demandam mais inovações.
Dinâmica fora do equilíbrio - Como novos nichos e novas possibilidades estão sempre sendo criados, a economia opera fora de uma situação de equilíbrio global, ou seja, sempre há espaço para melhora. Apesar de estar fora do equilíbrio, o sistema possui regras que limitam seu comportamento, evitando que este se torne caótico durante o processo de adaptação e evolução. Como administrar tudo isso, ainda mais sob chicote?
O Indivíduo Soberano, de Wiliam Rees-Moog e James Dale Davidson pleiteia o colapso do Estado nacional, substituído por “associações de mercadores e indivíduos plenos de faculdades semi-soberanas”, praticamente o mesmo diagnóstico de Naisbitt: "Quanto mais as economias mundiais se integram, menos importantes são as economias dos países e mais importantes são as contribuições econômicas dos indivíduos e das empresas particulares." (NAISBITT: 264).
Receita da Nova Era, impressionante eco do século XVIII.

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