sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um energúmeno?*

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Mas em nossa época, a tirania das vastas organizações-máquina, governadas desde cima por homens que nada sabem e a quem nada importa se as vidas daqueles que controlam estão matando a individualidade e a liberdade de pensamento e forçando os homens, cada vez mais, a se amoldarem a um padrão uniforme.
RUSSEL, Bertrand, 2001:20
Onde está Wally? virou best-seller no tempo de Collor. FHC impressiona. Jamais supus que a inteligência pudesse ser alocada assim, de modo tão vil e sorrateiro, no intuito de estrangular o parque produtivo, e com ele todas as famílias, por década. O de hoje tenho um misto de pena, mas nem tanto assim. Misericórdia com falso malandro? Que lástima pode ocorrer com inequívoca cara de borracho?
Como pilotos cujos instrumentos de
navegação às vezes falham, os líderes
fazem vôos cegos com alarmante freqüência.
CLEMENS, JOHN K.: 106
Quem não ouve bobagens, mormente em entrevistas esportivas? Um agradeceu o pessoal da Skol ter mandado as Brahma. Outro removeu os azulejos da casa, pois defendia o Internacional. Mas nada, absolutamente nenhum se compara ao energúmeno que temos que suportar, em prol de um hipócrita estado de direito, no qual se a vítima sacar o revólver contra o assaltante imediatamente é preso, porque o porte-de-arma é contra lei. Delegados estão no xilindró, promotores remanejados, de putados repartem muambas, e as milícias descem o cacête no povo.
Stanislaw Ponte Preta torna-se cada vez mais glorificado. Se vivo, Sérgio Porto obteria uma afluência de Guiness ao FEBEAPÁ - Festival de Besteira que Assola o País:

"Imagine se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente. O que você falaria para ele? Olha companheiro, você tem um problema, mas a medicina já avançou demais, a ciência já avançou demais, nós vamos dar tal remédio, você vai se recuperar? Ou você diria: Sifu? Vocês diriam isso para um paciente de vocês? Vocês não falariam."

O que faz é lembrar a orquestra do Titanic. O cara está muito além do jardim:

"Me sinto um Dom Quixote... O problema é que o mundo tem um PIB de US$ 65 trilhões, enquanto o PIB do mercado (financeiro) tinha US$ 650 trilhões. Essa diferença desapareceu. Será que este dinheiro todo que desapareceu está nas Ilhas Cayman? Se fosse, a ilha já teria afundado. Meus neurônios não conseguem entender".
Folha de São Paulo, 4/12/2009

Por certo a excelência palestrante, sofista profissional, enrolador-mor, não conhece o romance da Triste Figura; mas Cayman, parece que sim. E de pibs, o que interessa é quanto rende:
A carga tributária brasileira bateu novo recorde histórico em 2007 e chegou a 35,31% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo números divulgados hoje pela Receita Federal.
Estadão, 14/12/2008
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Quanto às leis físicas que emite em tom de blague, não se trata de peso ou leveza, mas de leviandade, pouco caso com a gravidade. Poderia ao menos supor que cédulas não afundam, porque produto de madeira, de modo que podem ser empilhadas em torres de papel, e de fato assim "enobrecem" aquele reduto mantido para o torpe fim, que ele demonstra tão bem conhecer. Todavia, se numa manifestação de falsa modéstia confessa possuir fracos neurônios, coisa impossível, porque não são elementos mecânicos, e sim eletrônicos, talvez extintos, então, se algum dia presente, a ciência logo poderá confortá-lo:
Células-tronco gerando neurônios seria tudo o que se deseja para substituir células em degeneração no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer, acidentes vasculares cerebrais, traumatismos e outras doenças.
(Coluna Cem Bilhões de Neurônios, publicada na última sexta-feira pelo
Neurocientista Roberto Lent, professor da UFRJ. arquivo)

Enquanto isso, que tal perguntar a algum secretário ainda hígido, em vez de andar por aí distribuindo atestados de idiota:

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado'
Folha de São Paulo
, 23/11/2008

Pois onde mais podem estar os tesouros, esses artigos prediletos dos piratas do Caribe? Boa parte do nosso sumiu na noite de 15 de novembro de 1995, pelo portão de Congonhas. No baú, ou melhor, no container aéreo viajaram exatos 30 bilhões de reais, 80% de todas as notas de cem, subtraídas dos correntistas dos bancos Nacional, Econômico, Bamerindus, Banespa, Banco do Brasil, Banrisul, Banerj, Noroeste, e Banestado. Até então fora o maior golpe do mundo. A atual crise americana é xerox ampliado. A Exa. bem conhece nossa chaga, mas não age, não repatria a enormidade mercê de acordo suprapartidário, liame costurado pelo coringa Valério. Por isso Dantas e tantos se põem imunes e mudos, uns condenados "para inglês ver", muitos arquivados no armário dos esqueletos, e não menos absolvidos por conselhos de comparsas.

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse nesta quinta-feira que a falta de crédito no mercado impede o governo de exigir das empresas a manutenção dos empregos.
Jornal do Comércio, RS, 5/12/2008

Ninguém de seu governo tem poder de gerenciar sequer a moeda, muito menos diminuir a taxa de juros, recolocá-la em padrão civilizado? Vero. O Banco Central, agente comercial está entregue à outra grei**, como entregue está o ministério de segurança, que se sobrepõe ao da justiça. O Supremo Tribunal Federal foi graciosamente capturado, e com ele todo o sistema judiciário da Nação. Como nunca vi nenhum filme no qual bandidos tenham final feliz, dou milho aos pombos.

O homem só muito lentamente descobre como o mundo é infinitamente complicado. Primeiramente ele o imagina totalmente simples, tão superficial quanto ele próprio.
NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 41

A julgar pelos discursos, temos que contratar urgentemente profissionais da saúde:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta segunda-feira que o Brasil não deve usar os 'mesmos remédios' dos demais países contra a crise financeira internacional. 'A crise atinge os países de maneira diferente; devemos ter o cuidado de não prescrevermos os mesmos remédios', disse ele, durante seminário sobre os impactos da crise no risco-Brasil, na capital paulista. 'Devemos lembrar que remédios têm efeito colaterais. E que devemos tomar o remédio mais preciso possível para o nosso problema'.
SP, 15/12/2008

Pois ainda tem outro fundamento, até mais decisivo, que o recruta guindado à capitão, ou melhor, a paramédico, já demonstrou sobejamente ignorar, até porque gerenciamento monetário não é de fato afeto ao chão-de-fábrica, embora estejam ao alcance de colaboracionistas internacionais: Não cabe ao Estado a gestão do desenvolvimento da Nação. Ele existe apenas no fito de permiti-lo. Quando o Estado se põe de loco motiva, tal qual tanto anseia o proselitismo, ele poderá escolher entre a inflação, e a estagflação, para posterior invasão. Não creio que se chegue ao ponto de invadir os vizinhos vigaristas, ainda que mereçam, na faina de sanar as insanidades monetaristas e os atos desvirtuados do banco que era para ser nacional, mas virou internacional do desenvolvimento econômico. Ainda assim, depois de recriar o New Deal, ou o Estado Novo teríamos que enfrentar e ganhar alguma guerra, para com os despojos lacrar os furos. Em que pese a sagacidade do gaudério da defesa, convenhamos, tal risco é por demais elevado. Mas pode ser iminente:

Afinal, o que não aprende o homem, quando o elefante,
submetido a treinamento, vira acrobata, o urso fica saltador
e o asno dá-se em espetáculo?
ERASMO DE ROTERDÃ, De Pueris: 53
Ah, Itamar, você que pariu Matheus, porque não o embala?

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*Origem grega, de ergon. Significa trabalho, tarefa, mas é usado à pessoa que busca executar muitas variedades de trabalhos ou serviços, e por esse motivo acaba não se aprofundando em nenhum deles... No gosto popular simboliza uma pessoa atrapalhada, desastrada, do tipo que não consegue fazer nada direito. (Wikipédia)

** Na mosca:

"O presidente nunca questionou a autonomia da instituição. Engoliu decisões das quais discordava." Folha de São Paulo, 7/12/2008

"Na última quarta-feira (3), Lula se reuniu com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e fez pressão por uma queda da Selic." Idem, 9/12/2008.

Em seguida, os bancos foram autorizados a majorarem o "produto":

"Os juros médios cobrados no cheque especial subiram para 9,33% ao mês (a.m.) em dezembro, a maior taxa desde junho de 2003 (9,43%). Esse foi o segundo mês consecutivo que a taxa ficou acima dos 9% --em novembro foi 9,24% a.m.--, segundo pesquisa da Fundação Procon-SP divulgada nesta quarta-feira. Ao ano, a taxa média do cheque especial ficou em 191,75%. (Folha de São Paulo, 10/12/2008)

"Logo logo, quando eu deixar a presidência, quero voltar a freqüentar os estádios para ver o Corinthians da arquibancada." (Luís Inácio da Silva, Folha de São Paulo, 24/12/2008)

Não é, de fato, surrealista?

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