domingo, 21 de dezembro de 2008

A impotência do poder

.

Sempre que penso nas alianças e disputas na política libanesas, me lembro do filme 'O Poderoso Chefão'. Inimigos se tornam aliados, antigos amigos passam a se matar e, após inúmeras baixas, todos se sentam à mesa para definir a nova divisão do poder. (CHACRA, Gustavo, Diário do Oriente Médio http://blog.estadao.com.br/blog/chacra)
Desde as famosas priscas eras o homem vem tentando tudo dominar.
Passam-se milênios, e nem a si próprio consegue. Já pensou se pudéssemos, pelo menos, definir o momento do sono? Por exemplo, deixá-lo apenas para janeiro, nas férias? Mês completo no embalo do Orfeu?.
Em que pese o louvável esforço medicinal, prolongar a vida ainda não dá; muito menos cristalizar o tempo. E que tal o alimento da energia solar? Dizem que uma australiana logra o feito.
Não são poucas as impossibilidades, em número infinitamente maior do que as possibilidades; mas o homem, pobre homem, teima em querer tudo dominar. Engana-se. Põe a vida fora.
Dizem que tudo começou com o Criador, que colocou a Terra sob os nossos pés. Mentira grossa, que enseja os maiores combates por ela.
Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava
sob os véus de mendaz sabedoria.

Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor,
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
CRÍTIAS, tio de PLATÃO, e líder dos Trinta Tiranos em Atenas, após
a guerra do Peloponeso; cit. POPPER, Karl M., 1998, Tomo I: 158
Mais remotamente, quando o homem ainda não era cingido pela perfídia da sombra na caverna, a força lhe proporcionava o deleite. Ao lhe contarem que era a imagem e semelhança de Deus, o claudicante cogitou que fosse alguma parte que não conhecia; então inventou a alma, porque sua face era muito feia! De todo modo, como estávamos no centro do Universo, e muitas coincidências apontavam à certeza, ele se deitou a surrar todo mundo para que aprendesse tal verdade:
Os mestres-escolas da França são especialistas em pancadaria.
Quando questionados a respeito, respondem que aquele povo,
tal como dizem dos frígios, só se corrige a 'pauladas'.

ROTERDÃ, Erasmo,
De pueris: 70
Durante milênios os ligados celestiais cometeram as maiores tolices, eivadas de crimes. Ao ser desmascarada a concepção geeocêntrica, entretanto, o povo unido pensou tomar as rédeas do próprio destino. E lá se foi o infeliz, de novo, a passar férias em campos talados de minas e canhões, em troca da família, de suas posses, e até da própria vida.
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor... Esse objetivo pressupõe controle, direto ou indireto, conforme as circunstâncias, dos recursos econômicos do país.
PIPES, R., 2001: 251
Com o advento do dinheiro, o poder da força migrou para quem detivesse o ouro. Pronto: o incauto se atirou frenético na indústria, não se importando a tudo poluir, desde que satisfeita a riqueza. Só produz fumaça, corrupção, lixo, e desgraça.
O homem não domina o próprio sono, mas se alça sobre tudo: animais, plantas, e até os semelhantes, estes os alvos principais, mais valiosos. Invocam todos os santos, e deuses, ideologias, e tudo mais. Vale o proselitismo: a união faz a força. Até pode fazer; contudo, jamais a razão, muito menos o conhecimento. Então invocam Deus, a entidade suprema: se Ele é por nós, quem será contra nós? Nós mesmos, iludidos nessa onipotência pretensamente transferível, que nos induz à escolha dos adversários, em vez de trilharmos o aperfeiçoamento pessoal!
Tudo justifica a canhestra atuação: ora é o ateu, outras tantas subversivo, capitalista, anarquista; eram negros, judeus, gays; no Brasil, primeiro foram os holandeses, paraguaios e ingleses, até farrapos, e os coitados de Canudos. Em seguida Getúlio deu o golpe por causa da grande ameaça dos 20 brancaleones do imprestável Prestes os quais andavam pelos matos se alimentando de capivaras. Era um terror só. Gegê defendeu a cidadela, depois se suicidou. Talvez porque sejamos descendentes portugueses, o ato covarde tomou rótulo de heroísmo! ."Neste país", contrário ao paraíso, o diabo virou anjo. Nos anos de chumbo, era chumbo grosso para ele. Agora, dinheiro grosso, por mensalão. Os diabos foram anistiados, e são assim aquinhoados.
Há quem o procure nas entranhas. Coube a Freud a primazia. Não precisava procurá-lo. Sua própria mente dividia a cama com ele.

Para Marx, o diabo era o patrão. Os russos acreditaram e elevaram Lenin e Stalin. Eles não eram patrões; apenas ladrões, assassinos de massa. Lenin logo foi fulminado, mas Stalin até que logrou manter o terrorismo sobre os miseráveis, a troco do elevado intento de morar no palácio. Deve ter se realizado.
Os EUA são pródigos em perseguir belzebús, nas vestes que vê. Na década de vinte corriam atrás dos alcoólatras. Os gangsters gostaram do grand prix; e dizimaram a população. Na de trinta, o país começou a enfrentar o ex-aliado, anjo revoltado. Na de quarenta, a Cortina de Ferro desceu sobre o palco. A platéia não pode mais enxergar. O maligno perdeu a graça, e encerrou o entedioso show.
Logo apareceram dois clones: um largou a bebida pela droga. O outro, pelo islamismo.
Os custos e o estrago para coibi-los sempre é maior que os causados pelos próprios. E malgrado os danos que produz, nada, absolutamente nada o destemido mosqueteiro consegue; ao contrário, sói sucumbir miseravelmente ante o alvo, que permanece ereto. Deixa de existir apenas quando quer. O homem não pode cadenciar ou apagar sua própria existência mas quer conduzir ou até eliminar as demais. Difícil.
"A mãe do fascismo está sempre grávida," e a esquerda corre solta com suas utopias.
* * *
Pois quanto maior o poder que julga concentrar e possuir sobre o que lhe excede, maior aberração comete. Exemplos? Esses mesmos: Mussolini, Hitler, Lenin, Stalin, e os clonezinhos, ainda em vigor, especialmente entre nosotros, macaquitos brasileños.
Eis a mais notável diferença entre as chamadas religiões orientais, e as ocidentais: enquanto aquelas buscam a integração com a natureza, em busca do equilíbrio e da harmonia, e enxergam-na associada a si próprio, a nossa supõe o Deus celeste, grande Arquiteto do Universo, e portanto, seu maior guardião:
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país. TOYNBEE, Arnold J., Estudos de História Contemporânea - A civilização posta a prova: 196.
Orientais usufruem da vida. Ocidentais querem o poder sobre as vidas. O resultado deste esteio todos conhecemos: desde a Grécia platônica o ocidente está mergulhado num caos bélico de dantescas proporções, com resultado não só nulo, como totalmente negativo.
Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
Em última análise, o essencial é a vida do indivíduo. É só isso que faz a história, só aí é que as grandes transformações acontecem, e todo o futuro, toda a história do mundo brotam fundamentalmente como uma gigantesca somatória dessas fontes escondidas nos indivíduos. Em nossas vidas mais privadas e subjetivas, somos não só testemunhas passivas de nossa era, e suas vítimas, mas também seus artífices. Nós fazemos nossa própria época. JUNG, C.G. The Meaning of Psychology for Modern Man: 149; cit. ZOHAR, D, & MARSHALL, O Ser Quântico: uma Visão Revolucionária da Natureza Humana e da Consciência Baseada na Nova Física: 244
Então, é isso:

A justificação da democracia, ou seja, a principal razão que nos permite defender a democracia como melhor forma de governo ou a menos ruim, está precisamente no pressuposto de que o indivíduo singular, o indivíduo como pessoa moral e racional, é o melhor juiz do seu próprio interesse. BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos: 424

O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’.
(CHARDIN, Teilhard, cit. FERGUNSON, M.: 48)
We can change. Have a nice weekend.

Nenhum comentário:

Postar um comentário