quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Engenharia de Papel

JOHN MAYNARD KEYNES (1883-1946), nasceu mesmo no ano de Mussolini, Getúlio Vargas, e da morte de Karl Marx.
O astro vinha da mais famosa Universidade mundo - a platônica “Cambridge-geradora-de-Newton”. O cartaz dava conta do calibre:  o Newton da Economia. (E. Gri, cit. De Masi, 2000: 143) No College, porém, Keynes  tinha fama de "hermafrodita mental" (3) Para Oskar Morgenstern (Strathern: 242), o predileto não passava de um “charlatão científico”.  Assim desdenhado, o engenheiro de papel  (2) resolveu abandonar o país. "Não me oferecem comida nem bebida – nem consolo intelectual nem espiritual... [o conservadorismo] não leva a lugar." (KEYNES, John Maynard, cit. SKIDELSKI: 60)
Tendo a Rússia já capitulado, o monstro vermelho "ameaçava"  seu ingresso pelo Alaska, O astuto calculista estimulou a depressão para  tornar imprescindível seu antídoto capitalista às reivindicações marxistas.
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno.Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela. Keynes, cit. Strathern: 224
O gay de Bloomsbury expressava uma premonição, ou teria ele contribuído diretamente para o desastre, a fim de saquear a carga? Peringer entende pela primeira:
Keynes teve, porém, a inteligência de, primeiramente, ter apresentado uma análise alternativa para explicar os fenômenos depressivos de sua época que pareciam encontrar suporte nas evidências dos fatos, provocado pela Grande Depressão, e, em segundo lugar, inserir o seu pensamento dentro de um arcabouço teórico bem fundamentado. Ademais, mesmo apresentando uma teoria muito bem estruturada para sua época, nunca colocou qualquer dúvida na validade da equação quantitativa da moeda, apresentando, apenas, novas funções a algumas de suas variáveis.
Especulamos pela segunda:"Keynes, longe de ser o salvador do capitalismo, almejava substituir a livre iniciativa por uma economia controlada pelo estado - sendo que o estado seria gerido por "especialistas" como ele." (LEWIS, Hunter, cit. )
Antes de Keynes os governos liberais temiam, com razão, perturbar os equilíbrios econômicos se manipulassem a moeda, o orçamento, o imposto, as taxas de juros. A partir de então, tendo justificativas para atuar nesta direção, a estatização se torna 'científica', 'intelectualmente respeitada'.  Sorman: 54/55
Os corretores haviam acumulado U$906 milhões em lucros, 'apesar da depressão' isto é, nos anos entre 1928 e 1933. Como o Times astutamente noticiou, o governo havia sido beneficiário de alguns desses lucros... Whitney havia se apropriado do dinheiro da Bolsa, quando era seu presidente, e dos clientes também, inclusive órfãos e viúvas.. A Comissão de Títulos e Câmbios instalada foi entregue a Joseph Kennedy, um doador da campanha de Roosevelt, e dessa forma obteve o posto.  PARKER, S., O crash de 1929: 382/5
"A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu." (Skidelski: 35) O causador como salvador
Havia muito mais em jogo, pois, além da bu(r)a ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. Gleiser, I.: 211
Os problemas da economia foram assim agravados; mas os dele, solucionados:
Keynes compreendeu desde cedo que a esperteza empregada com astúcia era o meio de vencer ao tratar com os adultos. A esperteza era a alternativa à submissão ou à rebeldia; pela esperteza podia-se manipular vantajosamente qualquer situação. Skidelski: 27)
Einstein (1981: 97) condenou explicitamente a engenharia keynesiana:
É necessário impedir as flutuações do valor do dinheiro e, para isto, substituir o padrão-ouro por uma equivalência com base em quantidades determinadas de mercadorias, calcadas sobre as necessidades vitais, como, se não me engano, Keynes já propôs há muito tempo. Pelo emprego deste sistema, poder-se-ia conceder uma certa taxa de inflação ao valor do dinheiro, contanto que se considere o Estado capaz de dar um emprego inteligente àquilo que, para ele, representa um verdadeiro presente. As fraquezas de seu projeto se manifestam, em meu entender, na falta de importância concedida aos motivos psicológicos. O capitalismo suscitou os progressos da produção, mas também os do conhecimento, e não por acaso. Sem dúvida sou pessimista demais a respeito das empresas do Estado ou comunidades semelhantes, mas de modo algum creio nelas.
Keynes (cit. Bodanis: 228), sem argumento, preferiu taxar o Grande Relativo de "garoto judeu malcriado, sujo de tinta”.
Essa perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico. (Hayek, 1986: 73)
Malthus, Bentham, Comte, Hegel, Darwin, Marx, e mesmo o próprio Keynes, não sonhavam com atratores nem com tratores, insumos, alimentação concentrada, inseminação artificial, produção de clones, bombas de nêutrons, ou qualquer energia 4, que dirá nuclear. Os profetas não possuíam bolas de cristal; mas como sempre, à tiracolo, sabiam exibir competente explicação teórico-científica, fantasia do vidente. Não faltou gente a seguir o canto-da-sereia, na verdade canto-de-cisne. Não foram poucos os que morreram (e ainda morrem!) afogados na tradicional reprêsa: "Conforme mostram seus primeiros escritos, Keynes acreditava no governo de uma classe guardiã platônica, contida, mas não dominada, pela democracia." (Skidelsky: 62) Não foram e ainda não são pouco os que adotam a artimanha: "Os economistas passaram quase todo o século XX encantados com a pseudopanacéia keynesiana e com a venenosa serpente marxista." (Iorio: 134) Passamos do cincoentenário enredados:
Desde a publicação, em 1936, da primeira edição da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de John Maynard Keynes, a quase totalidade dos economistas passou a acreditar nas chamadas políticas de ‘sintonia fina’, isto é, em uma pretensa capacidade dos governos de, mediante intervenções na ordem espontânea de mercado, evitar flutuações ‘indesejáveis’ no emprego dos fatores de produção e, assim, impedir as oscilações na produção. (Skidelski: 5)
A desordem monetária, produzida pelas intrépidas teses keynesianas, teve como conseqüências a inflação, a desorganização institucional, a diminuição real do lucro e, por conseguinte, o empobrecimento dos assalariados. O investimento social, concebido como uma partilha autoritária da riqueza no nível microeconômico ou como programa estatal financiado com emissões monetárias, só provoca a depressão social. Neste caso, a raposa no galinheiro não é o empresário, mas o Estado, que depena as galinhas sem misericórdia. Mendoza, Plinio Apuleyo, Montaner, Carlos Alberto, Llosa, Alvaro Vargas: 128
Nos anos 60 o keynesianismo foi universalizado, 'alcançou seu potencial', num sentido duplo: o uso da política fiscal para equilibrar as economias foi estendido à França, Itália, Alemanha e, em menor escala, ao Japão; e essa política tornou-se mais ativa e ambiciosa à medida que renascia o receio de recessão. De modo geral, enquanto o interesse dos primeiros keynesianos se concentrava em garantir o pleno uso dos recursos existentes, os keynesianos dos anos 1960 procuraram garantir o pleno uso dos recursos potenciais - i.e., o crescimento da capacidade produtiva da economia, com o objetivo de conter a inflação de custos e satisfazer as 'exigências' sociais, cada vez maiores, sentidas pela economia. O que David Marquand (1988) chamou de fase democrática social do keynesianismo, está associado a uma guinada política para a esquerda e o uso sério, pela primeira vez, da política fiscal, deslocando-se a ênfase na demanda do setor privado para o público. O orçamento tornou-se, simultaneamente, uma peça da administração da demanda, do crescimento e da previdência social. A partir dos anos 60 a participação dos gastos públicos no PIB começou a subir em toda a parte.
Rothbard (p. 42) se reporta:

Com a publicação da General Theory of Employment, Interest and Money, em 1936, a nova, incompleta e emaranhada justificativa e racionalização da inflação e dos déficits governamentais propostas por John Maynard Keynes assolou o mundo econômico como fogo na pradaria. Até Keynes, a ciência econômica constituíra um freio impopular ao fomento da inflação e ao déficit orçamentário, mas, agora, como Keynes e armados com seu jargão nebuloso, obscuro e quase matemático, os economistas podiam atirar-se a uma popular e lucrativa aliança com políticos e governos ansiosos por expandir influência e poder. A economia keynesiana foi esplêndidamente talhada para servir de armadura intelectual para o moderno Estado Provedor-Militarista (Welfare-Warfare State), para o intervencionismo e o estatismo em ampla e poderosa escala.
Apuramos o retrocesso:
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável.
(Skidelsky: 140)
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Notas
2 Papel-moeda.
3 Outorga de Leonard Woolf, colega de Bloomsbury (cit. De Masi, 2000: 143)
4. A preocupação com a palavra energia é surpreendentemente recente e só em meados do século XIX adquiriu o seu significado moderno. Não se tratava, até então, de não se reconhecer a existência de diversas forças naturais — a crepitação da electricidade estática, ou uma furiosa rajada de vento que enfuna uma vela. Supunham-se independentes umas das outras. Não existia uma noção de energia que englobasse a diversidade de acontecimentos.
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FONTES
DE MASI, Domenico, A emoção e a regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950; Domenico De Masi (organização); tradução Elia Ferreira Edel. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
SKIDELSKY, Robert, Keynes; tradução José Carlos Miranda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
STRATHERN, Paulo, Uma breve história da economia; tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

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