quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Sampa


DOS MAIORES ACONTECIMENTOS era rumar a São Paulo. Os ônibus eram finíssimos, espaçosos, confortáveis. Não eram do tipo que costumava circular por poeirentas estradas, chacoalhando como bateria de escola-de-samba, janelas imóveis por enferrujadas. O Minuano tinha até banheiro! Travesseiros tão alvos quanto a lua que iluminava a longa estrada. Era esticar as pernas e dormir. Ao amanhecer, outro clima nos recebia.
A madame embarcava em flamante quadrimotor. Neste caso, de nada adiantava o parfum. O cheiro do querosene impregnava todo o aeroporto. Ninguém se importava com blow-ups. E não lembro mesmo de nenhum. Era só perfume.
* * *
De Congonhas à Angélica aqueles velhos, lerdos táxis demoravam 15 min. Uma eternidade. Da rodoviária não lembro. Mas cogitar em mais do que uma hora para chegar em outro ponto da cidade parecia-me coisa de maluco.
Os morros que guarnecem o Pacaembú o envolvem com as felizes vozes de Sion e Mackenzie. Por volta da São João, um estrondo bem cantado, nos versos de Caetano. A Nove de Julho é artéria . Um túnel prenuncia novidades.
O Lobo morava no Canindé. Fitti, em Interlagos; a Record, na Consolação. A JovemPan, em todos os jardins. O Ibirapuera podia ver Eder e Maria Ester. Numa segunda, de repente até o Pelé.
Tudo era bonito, em Sampa. Até o Morumbi, gigantesco bairro em obra, dava gosto de se ver. A Santo Amaro fervilhava ao cair da noite. Antes, a Augusta, uma festa. Ao encontrar a Paulista, iniciava seu show. Uma passarela de moda. As garotas mais chics do Brasil poderiam ser vistas ao vivo, em seus desfiles vespertinos, pelas pequeninas alamedas repletas de boutiques européias construídas nos interregnos da inolvidável descida.
Inéditos carrões perfilavam-se garbosos. O baile era de cobras. E das grandes.
Bem abaixo, perto do jardins, havia uma solitária experiência, já de êxito: um elegante shopping.
Tudo facilitava. Lá dentro não chovia, tampouco fazia calor. Havia feérica luz, estrelas gostam de luzes. Mariposas também, mas o Palácio per se sinalizava-lhes o caminho de retorno.
Músicas da mais alta qualidade permeavam sonhos e realizações.
Prestadores de serviço eram diplomatas. Le chauffeur aguardava a madame. Ela vinha com as mãos na cabeça: o vento lhe açoitava o impecável chapéu.

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