sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

In Desert



Por poucos dias, abandono o painel.
Pra não deixar você na escuta,
pendurado no pincel,
sem cachorro no mato,
conto recente luta,
do soldado do papel,
em dois pequenos relatos.


CERTA FEITA ALLmirante pregou um susto, sem querer. Enquanto espavoridos controladores o procuravam no espaço, ele embicava rumo ao deserto.
ALL bem que avisara a torre: ia cambiar o destino. Vira uma pista natural, sulcada pelo vento. Precisava reparos, os quais só ele poderia fazê-los. Estava cansado das tapeadas revisões. Não podia trabalhar por tanto tempo fora da Terra, mas estava farto das regulagens de papagaios. Ora tencionava escapulir daqueles mecânicos de charrete.
O comando ficou em polvorosa. Não dera ouvidos à intenção do piloto. Qual loquaz se aventuraria num lugar tão inóspido, isolado?
A base recebera a notícia de que Einstein pedira carona, e sentara na poltrona reservada ao copiloto, mas para ela isto nada significava. Jamais tinham ouvido falar no gajo. Por demais amedrontados pelo tamanho defeito exposto, os terráqueos autocognominados crentes em Deus, em nada acreditavam. Pior, havia entre eles quem se interessasse em sabotar a nave, fazê-la parar, para nela subir e pilhar.
Enquanto desesperadamente ofereciam os préstimos de seus ferreiros, ALL dizia que tinha condições de promover a restauração. Afinal, tudo era possível com as preciosas contribuições da fantástica Tri Pulação angariada no percurso. Paulatinamente, físicos e gente de ciências humanas de primeira grandeza viram a oportunidade de retornar à civilização. Não titubearam. Tais cérebros, trazidos do longínquo EspaçoTempo, ainda que impedidos de falar, eram mais fortes do que os atabalhoados contemporâneos em terra. Garantiam a audácia.
ALL necessitava de alguns dias para montar o puzzle. Refutara a escala na Estação Espacial. A última vez que lá fizera um pitsop, saíra derramando combustível, isto sim colocava sua vida em risco. Não lhe deram ouvidos. Não podiam crer os controladores que tamanha nave, tão carregada, pudesse descer num solo tão cruel, ainda mais de modo solitária, para permanecer por duas semanas, e sem nenhum controle!
Com tamanha assessoria, ALL dispensou os precários conselhos da base. À bordo, Einstein identificou pequeno oásis. Ali pousou a Nav's ALL. O comandante agradeceu a pseudo-preocupação da torre, e desembarcou à solidão. Os incrédulos não supunham que ele seria capaz de, sem conversar com ninguém, apenas se valendo dos organogramas científicos, sair muito melhor do que descera. Pousar até era fácil, em vista da precária reforma,
e da decolagem. Então, o primeiro problema enfrentado passou para outra freqüência: convencer a torre da urgência, da imperiosidade da medida, e das chances de êxito.
A primeira onda é rasa, a última, radical. ALL precisava tomar um longo tempo só para si, e assumiu o controle total. Arriscou, num risco calculado que não incluia intempéries. Fosse o que se abatesse, nada significava perante a gloriosa meta. ALLmirante é expert em planos e realizações, em cálculos e consecuções, para não falar de quem levava a bordo. A plataforma, contudo, surda e alienada, teimava em rastreá-lo pelo espaço sideral.
ALL pousou com perfeição, apesar da gritaria ouvida. Planck desligou os contatos do rádio. Era muita baderna por alteração cuja responsabilidade recairia, justa e tão somente, em quem estava no manche. Por causa do tumulto, e da turbulência gerada, a nave aterrizou, ou melhor, desertou com alguma dificuldade, mas com tudo intacto. E no deserto planejou
ficar, por treze dias e treze noites, até ficar tinindo. Não ficaria só nisso.
ALL jamais esquecerá desse período de expiação, de forja da integridade, e de formulação de sonhos.

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