sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Em Nome do Pai

VIA-DE-REGRA TODO PAI é figura peculiar, exemplar, admirável, ainda mais aos olhos do filho. O Pai de ALL teve a proeza de arrancar esses e vários outros adjetivos do povo da cidade, do estado, e de vários sítios da Federação.
Aquele amigo incondicional gostava dos escritores humanistas, especialmente Ortega Y Gasset, a quem citava freqüentemente, ainda que não tivesse lido nenhuma obra do mais notável filósofo espanhol. Valia-se do luminar para o alerta: nossa existência se deve também aos demais. A oração de Ortega diz:

Somos nós e nossas circunstâncias. Se não as salvamos, não nos salvamos.

A segunda parte é omitida por todos, e meu pai não era exceção. De qualquer modo, observava; por instinto, na prática, pelo indescritível prazer de admirar um sorriso agradecido.
O indelével companheiro teve uma vida pautada em servir quem lhe rodeava. Todos tiveram proveitos, proventos e provimentos. Vizinhos pouco se valeram de seus préstimos, mas os que tomaram iniciativa jamais foram frustrados. A cidade o convocou. O Estado lhe requisitou. Acabou servindo ao País. O dinâmico homem tornou-se público, mas sulcou sua marca sem com ela se preocupar.

Assistindo famílias prosperarem, aumentarem seus patrimônios, com isto proporcionando maior segurança e um futuro definido aos herdeiros, certa feita ALLmirante o intimou. Eis o pequeno diálogo:
- Pai, você que é um homem inteligente, carismático, culto, capacitado, e conhecedor das coisas valiosas da vida, vai deixar ao povo inúmeras obras e realizações. A cidade, o estado, até o país enriquecerão, visível e sensivelmente, seja de modo concreto, com suas construções, ou mesmo intangível, com suas relações e conhecimentos transmitidos. O povo agradece. Mas o patrimônio privado, contudo, diminui. (Naquela época não se achava bois-de-ouro.) Isso não lhe preocupa? O que deixarás exclusivamente aos herdeiros?
Ele poderia ter dito que deixara o mesmo, mas não. Disse claramente:
- Deixarei meu nome.
- Muito bem, mas como torná-lo rentável, útil e oportuno, como todo legado?
Ele se esquivou, por hábil. Educação, caráter e conhecimento já proporcionara às pencas. Poderia dizer que tinha cumprido a missão. Ora era a gente saber escolher. Todavia, ele ainda preferiu acrescentar.
Tinha um farol muito potente. Atravessava anos e oceanos de obscuridades. Pois o cometa deixou, de fato, um rastro capaz de suportar o ALL, seus irmãos e muitos, muitos outros por toda a vida. E para quem dos herdeiros achar insuficiente, trago o depoimento de D. João de Orleans e Bragança, Príncipe e Fotógrafo, tataraneto de D. Pedro II:
"As pessoas acham que a família real é rica.Minha grande honra é não ter nada. A história da família é meu patrimônio." (Revista Trip)
Ao visitar magestoso parque, orgulho e alegria da cidade, ALL viu no pórtico o nome familiar. O venerável logradouro agora tem personalidade.
Seguido ALL ouve elogios. Outras tantas, muitas lembranças. Esta noite não foi diferente. O grande pai permanece carreando simpatias pra gente.
Honra, como diz o Príncipe, não tem preço. Não se compra, tampouco se vende em nenhum balcão. Felizmente a vida é muito maior, mais importante e infinitamente mais gratificante do que o vil metal.
Depois de enxugar as lágrimas, e percorrer as alamedas, ALL foi visitá-lo em sua derradeira morada. Um filho mora na capital, e rouba-lhe em Finados. Há tempo ele não olhava para o chão do visionário avô de Ricardo. Desta feita foi uma visita especial. De penitência e reconhecimento. De agradecimento sempre. E de uma insubstituível sensação de orgulho, saudade e resignação.

3 comentários:

  1. All, meu querido.....
    Belíssimo relato!
    Quando as bases são solidas não há vendaval que destrua o que há acima delas!!!!!

    Vc é assim, né, meu amigo????
    Forte!
    Fertilizado em solo rico e resistente!

    Te admiro muito.
    Saudades.

    Beijucas

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  2. Van, doce ternura num mar de amargura,
    Ligação total, daquela que dura,
    Van poeta, artista, sensível como uma flor,
    uma leoa na floresta dos malvados,
    Aqui vai o meu amor
    por quem me tem tanto salvado.
    Volte aqui, sua chata!

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  3. Eis-me!
    Só saí pra me procurar!
    Andei perdida.
    Mas me encontrei novamente.

    Beijuca, meu querido!

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