domingo, 29 de julho de 2012

Crescimento econômico através de entropia - I

Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
A prolongada crise econômica que assola o mundo ocidental encontra precedente na época dos gangsters,  ditadores, e intervenções estatais em larga escala. Poderíamos identificar entre ambas algum denominador comum?  Com certeza. Naquele tempo estipulavam-se metas econômicas coadunadas com a mater, em movimento por mimese. A inclinação dos anos 30  mantinha o viés renascentista, em sentido imititativo não so das ciências, como até mesmo da arte, com Leonardo: "A pintura que tiver mais semelhança com a coisa reproduzida é a mais louvável, e digo isso para os pintores que querem mehorar as coisas da natureza."
Parece-me que essa incapacidade dos economistas em sugerir políticas mais bem sucedidas está intimamente ligada à propensão a imitar, o mais rigorosamente possível, os procedimentos das mais brilhantemente exitosas ciências físicas — tentativa essa que, em nosso campo profissional, pode levar a erros crassos. Esta é uma abordagem que passou a ser descrita como sendo uma atitude 'cientificista'. Friedrich A. Hayek - A pretensão do conhecimento, ao  receber o Nobel de Economia, 1974  
A II Grande Guerra e a reconstrução européia catalizaram todas as atenções, de modo que as maquiavélicas estratégias governamentais escaparam ilesas. O  fascismo, a social-democracia, o estado de bem-estar continuaram efetivas, lucrativas eleitoreiras.  "Vivemos no tempo da democracia social, e nele a tentativa reacionária de voltar ao século 19 --o tempo do Estado liberal-- não faz sentido. (BRESSER-PEREiRA, L.C. 30/7/2012, Olimpíada da democracia social) Como vemos, sequer a queda do muro elidiram as pretensões do estado como alavanca do desenvolvimento - ao contrário: com Marx enterrado embaixo daquelas pedras, o grande vencedor foi o preterido Hegel, e sua Totalidade Orgânica de caráter nacional. Longe do rótulo, a democracia apregoada como social é totalitarista par excellence. e por isso, pela falsidade ideológica,  já durou até demais. O Euro se fez a última tentativa de escapulir da dialética pela qual o Estado se impõe como a grande e única panacéia, mas, embora moeda única, os estados conservaram suas independências políticas, e assim mantiveram o povo cativo em suas metafísicas altruístas. Como nao há possibilidade de se enfrentar as forças da natureza, sutis, porém tão intransponíveis quanto uma maré adversa, os remadores acabam cansando, sucumbindo diante da fatalidade já por demais anunciada.
Como aproveitar as forças naturais em proveito do desenvolvimento geral? Em primeiro lugar, com a humildade dos governantes. Não há política capaz de propiciar a riqueza a ninguém. Precisamente é sua ausência, a não interferência, o famigerado laissez-faire, laissez-passer que propicia o desenvolvimento espraiado, por isto socialmente mais justo. Maior exemplo vem da evolução do próprio universo.
Aplicar leis da Física na análise de problemas sócio-econômicos é uma tentação freqüente que se justifica pela sensação de segurança que elas nos inspiram. A aplicação extensiva das leis e dos métodos da Física requer certos cuidados pois o comportamento humano é regido por critérios mais restritivos, de caráter ético, social e religioso. A atividade econômica não racionalizada provoca desequilíbrios cujos resultados negativos já se fazem sentir no desemprego e no agravamento das desigualdades sociais com a redução forçada do consumo do trabalhador pelo próprio desemprego ou pela terceirização. Do mesmo modo, a globalização traz uma desnacionalização da economia que pode acarretar menor uso das potencialidades locais. Em lugar de confiar que um liberalismo econômico - que, contraditoriamente, pratica brutais intervenções no taxa de juros e de câmbio - possa resolver os nítidos sinais de desequilíbrio a que nos referimos, mais valeria ter um pouco de juízo e prestar atenção aos mecanismos de controle da Natureza que forçosamente vão coincidir, no longo prazo, com as verdadeiras forças de mercado. Entropia, economia e desenvolvimento social. - O.C.F., prof. de Ciências e Técnicas Nucleares- UFMG - Concentração em Planejamento Energético 
Pois foi justamente com base na Física edificada a partir de Copérnico e Galileu, e não na Filosofia,  que todas as disciplinas, da Engenharia ao Direito, da Medicina à Sociologia e à Economia, e por fim,  até mesmo o modo pelo qual em que  todos de governo de quase todas as nações evoluíram: "As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena." (BERMAN, M., cit. GOSWAMI: 31) "No decorrer do século XIX, a orientação mecanicista tomou raízes mais profundas - na física, química, biologia, psicologia e nas ciências sociais." (LEMKOW, ANNA: 86) "Durante a segunda metade do século XIX, a economia sofreu uma influência muito grande do avanço das ciências exatas. Invejosos de seu sucesso e prestígio e cônscios do poder das matemáticas e de sua importância para seu próprio progresso, os economistas voltaram sua análise parara essa direção." (ORMEROD, P.: 50) "Há muito estou convencido da importância de aprofundar a teoria das forças sociais que podemos comparar, em larga medida, às forças da dinâmica que agem sobre a matéria." (SOREL, G., Greve Geral Política: 195)
Assim como Newton formulou as leis fundamentais da realidade física, os filósofos e sociólogos, viajando na sua esteira, esperavam descobrir os axiomas e princípios básicos da vida social. Seu universal maquinismo de relógio converteu-se em modelo a partir do qual comparava-se o Estado com um mecanismo preciso, sujeito a leis, e retratavam-se os seres humanos qual máquinas viventes. ZOHAR, D., 2000: 23.
 O capitalismo de livre empresa, um mercado onde perdurassem a competição e a livre iniciativa, passou a ser considerado como instrumento de exploração do povo, enquanto uma economia planejada era vista como alavanca que colocaria os países no caminho do desenvolvimento. Caberia ao Estado, portanto, o controle da economia doméstica, das importações e a alocação dos investimentos de maneira a assegurar que as prioridades sociais se sobrepusessem à demanda egoísta dos indivíduos. FRIEDMAN, M.,  Capitalism and Freedom; cit. PERINGER, : 126
Devem permanecer as ciências em geral, especialmente as humanas, e as políticas governamentais daí geradas, com a pauta circunscrita aos conceitos daquele longínquo século da descoberta do Novo Mundo? Infelizmente é o que predomina. Eis a única responsável pelas duas maiores crises econômicas ocidentais
O capitalismo de hoje não é um capitalismo liberal; o que realmente existe é um capitalismo burocrático que está sob forte controle e regulamentação dos governos dos estados nacionais.  A característica fundamental deste sistema é um intervencionismo caótico e desordenado — com uma legitimidade precária baseada no sistema redistributivo do estado de bem-estar social e da democracia das massas.  O que existe é um sistema altamente precário, um sistema que está sempre em perigo de colapso. Cada crise provoca mais intervenções, produz mais burocracia e mais regulação, mais gastos do setor público e uma carga tributária cada vez maior. Além da boa governança por , 8/8/2011
Mas e diante da nova Física, e logo pela Entropia, como seria isto possível, uma vez que "todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima'.Entropia - a flecha do tempo?
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas. GOYTISOLLO, J. Vallet de
A evolução contém uma ordem intrínseca invisível, mas com resultados perfeitamente aquilatáveis
Assim, descobriu-se recentemente que na natureza tudo está subordinado a uma ordem, até mesmo os fenômenos confusos, sem nexo, totalmente imprevisíveis. Esta ordem ‘superior’ é capaz de explicar eventos aparentemente randômicos - não importa se se trata de bolsa de valores, da mudança na temperatura de nosso planeta, ou da maneira que nós formulamos nossos pensamentos – e que podem ser expressos tanto em fórmulas matemáticas e físicas, quanto em belas imagens (os chamados fractals) disformes, mas com uma atraente irregularidade. Todos esses eventos têm algo em comum: o fato de serem atraídos a certos estados da natureza, o que lhes dá unidade, se bem que disfarçada. A nova regularidade dos fenômenos deu origem a uma nova ciência, que tem o ‘caos’ como tema central e na qual, um dia, deve se enquadrar a teoria das ondas. WITKOWSKI, Bergè: 275.
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY, : 95.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O super-homem de Nietzsche

Moro em minha própria casa.
Nada imitei de ninguém.
E ainda ri de todo mestre,
Quem não riu de si também.
Friedrich Nietzsche*
Volta-e-meia o pai de Zaratustra é intimado ao banco dos reús. A acusação versa sobre o "assassinato" de Deus. Ao contrário da praxe judicial, entretanto, imputam-lhe a culpa até que se prove o contrário. Os próprios matadores de Jesus, o pessoal do Calvário, os darwinistas e os materialistas dialéticos não são tão apedrejados. Será porque se trata do único verdadeiramente coberto de razão?
Quando se coloca o centro da gravidade da vida não na vida, mas no além - no nada -, então se priva a vida de qualquer centro de gravidade NIETZSCHE, F., O anticristo: maldição contra o cristianismo:78
A convocação visava retirar o ser humano da submissão deísta, celestial, predileção de Sócrates, Platão e da companheirada do Banquete. "Percorreste o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje é ainda mais macaco do que todos os macacos." (NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra, 1961: 7) Não se trata, pois, da figura do super-homem norteamericano, o super-herói consagrado nas revistas de quadrinhas - um homem voador, supersônico, praticamente indestrutível. O Übermensch, descrito no Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra) há de superar a si mesmo - a mediocridade de sua educação e cultura, a tradição que lhe foi introjetada, a estagnação, resignado à aproximação da invencível morte. "Será maior aquele que puder ser o mais solitário, o mais oculto, o mais divergente, o homem além do bem e do mal, o senhor de suas virtudes, o transbordante de vontade; precisamente a isto se chamará grandeza: pode ser tanto múltiplo como inteiro, tanto vasto como pleno." (NIETZSCHE, 1992: 120)
"Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo." (Idem, Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas: 54). Para consolação à  impotência introjetada apresenta-se o outro mundo,  onde o doente obterá o resgate a frustração, o que abdicou de conhecer. 
Platão, impossibilitado de compreender a realidade das contingências do mundo sensível, optou por construir um mundo perfeito a partir de suas próprias idéias, denominou-o, Hiperurâneo, mundo das formas perfeitas, eterno, habitat das almas que ele criara ao dividir o homem em corpo mortal e alma imortal.
Eis o pensamento que seduziu o Ocidente, e daí à metade do Oriente, carma da civilização; "A partir de Platão, a proclamada supremacia do Estado foi encontrada em suas visões nas quais 'moralidade não era separada da religião e nem a política da moral; e em religião, moralidade e política havia apenas um só legislador e uma única autoridade'."  (DALBERG-ACTON, John Edward Emerich, Essays on Freedom and Power (Glencoe, Ill.: Free Press, 1948)
A maiêutica  levou o parceiro pederasta aos braços de HADES.  "Aos segundos diz imaginar que a morte deva ser um grande bem, seja ela um sono tranquilo ou o convívio no Hades com os grandes homens que lá habitam." (PLATÃO, Apologia de Sócrates. LPM, 2009: 16) Em seu esteio se precipitam infindáveis gerações:
'A ignorância acabou levando os portugueses ao outro lado do mundo', resume Cliff, descrevendo os horrores pelos quais passaram os homens de Vasco da Gama. O comandante não foi capaz de deixar a Índia quando decidiu partir. Seus homens morriam como gado, com pernas e coxas gangrenadas e gengivas infectadas. 'Eles tiveram mortes terríveis, mas acreditavam, como o comandante do navio, que eram cruzados de Cristo'. Esse sacrifício os livraria da mancha do pecado', lembra o autor, relatando o cotidiano nessas naus dos insensatos, em que fungos tóxicos contaminavam o pão, provocando vômitos e diarreia, e vermes corroíam os traseiros dos navegantes, que inutilmente tentavam se livrar dos bichos lavando o ânus com limão.
Óbvio;  'O cristianismo rompeu a união entre o homem e a natureza, entre o espírito e o mundo carnal, potencialmente distorcendo o relacionamento entre os dois em direções opostas e atormentadas.' (ANDERSON, Perry. Passagem da Antiguidade ao Feudalismo, Brasiliense: 128)
Vivemos sobre a face da Terra. O sentido se limita à sua esfera e trajetória, embarcados que estamos - animalesca sim, instintiva, mas principalmente usufruível. Dessarte o poder, isto é, o conhecimento, o motivo de sua expulsão do Paraíso, volta a pertencer ao vivente, e não à ficção demiúrga, transmitida, comodamente, de geração em geração. Dessarte Nietzsche intima o macaco a raciocinar. A única possibilidade de sair da milenar decadência é o homem superar,  com grande força, a metafísica que lhe é profunda e confortável. Apenas, transformando sua mente através da transmutação dos valores impregnados no DNA, especialmente o pretenso imaginário celestial, tão denunciado por Nietzsche, aquele perfeito diapasão cujo tom somente é alcançado com a perda do corpo. 
É aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, identificaremos causas da inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos (...) o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. BACHELARD, G., 1996: 170
Diferentemente de Sócrates, que tomou fama mundial de sábio ao praticar  suicídio, e de Getúlio Vargas, tirano corrupto que depois do tiro no próprio peito virou herói nacional, Nietzsche morreu como louco, e assim tem sido tratado. O recalcitrante não se coadunava com a lenda de Orfeu, protótipo que levou a construção da figura de Cristo. Com o enterro do "destemperado" os sensatos estenderam a sapiência.
Jim Jones, pastor evangélico e fundador da igreja Templo do Povo, em Jonestown, acreditava estar liderando aquele séquito de fanáticos hipnotizados ao paraíso quando convenceu todos – e forçou até crianças – a beber veneno. Trata-se do maior suicídio coletivo que se tem registro, ultrapassando 900 mortos. Eis o que acontece quando um bando de doidos resolve acreditar num 'profeta' que vai lhes guiar ao paraíso. CONSTANTINO, Rodrigo, O paraíso petralha,
Polícia apreende 20 menores ligados a seita no Piauí Líder afirma acreditar que o fim do mundo ocorrerá nesta sexta-feira.  Seita de 'profeta' que previa fim do mundo daria bebida com sangue envenenado a seguidores,
Assistimos, pois, uma civilização inteira completamente esquizofrênica, dividida entre corpo e alma, esquerda e direita, ciÇencia e filosofia, números e letras, ricos e pobres, vivos e mortos, sul e norte, árabes e judeus, em conflito permanente, e pior, perfeitamente tudo coberto pela minerva  socrático-platõnica:
Podemos julgar uma filosofia por seus frutos. A visão reducionista-mecanicista-materialista cultivou inúmeras dicotomias, cismas, fragmentações, alienações: alienação de si (o vácuo espiritual) e, por conseqüência, dos outros; alienação da natureza (autômatos não podem sentir muito por outros autômatos - se somos apenas máquinas, podemos muito bem nos apoderar do máximo possível, conquistar e explorar a natureza por completo); a dicotomia entre conhecimento e valores, meios e fins, mente e matéria, universo de matéria e universo de vida, entre ciências e humanidades, entre ricos e pobres, industrializados e de Terceiro Mundo, entre gerações presentes e gerações futuras. LEMKOW, A.: 15 
"Pois, também as guerras, as revoltas e batalhas são conseqüências do corpo e das suas concupiscências. Porque todas as guerras nascem do desejo de adquirir haveres e bens. E haveres e bens somos forçados a adquirir por causa do corpo, cujas exigências devem ser satisfeitas. (PLATÃO, Fédon-, 66.) "Como sinal da sua estratégia de consolidação do poder fascista o duce ordena, em 1923, que o ensino religioso seja implantado nas escolas públicas de toda a Itália, bem como se agravaram as sanções judiciárias para quem ofender a religião e os padres." (www. educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2006/03/10/002.htm)
Candidatos ligados a igrejas evangélicas usam estrutura dos templos nas campanhas Políticos fazem de templos extensão dos comitês, onde propaganda e assistencialismo ganham ares de ação social
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Epígrafe de A Gaia Ciência.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Independência dos estados - II

É do vazio da política que a verdadeira política necessita. Nesses momentos é que podem emergir as ações inesperadas, que possibilitam uma tomada de palavra, um exercício de poder, uma reação que signifique uma reorganização da ordem social. , Se pensamos o mundo como multiplicidade, o vazio não é um problema, ele é mais um constitutivo dessa multiplicidade. O vazio passa então a ser tomado de modo positivo, como possibilidade de traçar linhas de fuga, de inventar, de construir o futuro. O mundo fragmentado, vazio de crenças e de política, é o que permite a ação. O homem está livre para ocupar espaços e com isso (re)criar crenças e a própria política. Prof. GALLO, Silvio Gallo, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Ao estabelecer os cânones da democracia, Montesquieu advertiu que ela era aplicável somente em países de pequena dimensão territorial. Por aqui ninguém  leva em conta o detalhe, mas o Libertador sentiu seus efeitos: Tudo foi devidamente prenunciado pelo próprio“Não podemos governar a América. Este país cairá infalivelmente nas mãos da multidão desenfreada, para passar em seguida às mãos de pequenos tiranos, quase imperceptíveis, de todas as cores e de todas as raças.” (SIMON BOLIVAR (cit. MINGUET, Charles, Myrthes fondateurs chez Bolivar, 'Simon Bolivar', Cahiers de l'Herne, 1986: 117; cit. GUSDORF, G: 259)
A Grã-Bretanha não é de toda unificada; e os ingleses que partiram ao Novo Mundo contornaram a advertência estabelecendo vários pequenos estados, sendo que a União ficou de tal monta desconsiderada que sequer nome tomou. Dessarte ergueram-se os estados americanos, unidos pelo ideal democrático. O Brasil. todavia, gigante pela tradição imperial, conservou seus sucessivos nomes sobre todo o imenso território, de maneira que peremptoriamente a vontade do soberano sobrepuja quaisquer vocações, tradições, hábitos, interesses regionais. O que sempre esteve em jogo foi a possibilidade de taxação sobre a produção, e isto ninguém que logrou o máximo poder quis ou quererá dimunuí-la. A exceção, curiosamente, foi Dom Pedro II que, voltando das lições aprendidas no colosso do norte, tentava implantar um regime federativo~. Foi surpreendido com o golpe militar, traição de sua caserna. Conserva-se a designação federativa ao Brasil apenas para inglês ler. 
Muitos brasileiros, entre os quais me incluo, desejam um Brasil federativo. Somos, teoricamente, 'República Federativa do Brasil', mas não passa de mito. A centralização de poderes e atribuições cresce nas mãos da União, em detrimento da autonomia dos Estados - por conseguinte, dos cidadãos que a compõe". José Celso de Macedo Soares Federalismo: ações práticas 
Passadas apenas duas gerações do prumeiro grande golpe, veio o segundo, ainda mais drástico: o Estado Novo mandou simplesmente queimar as bandeiras estaduais, porque o "Brasil tinha que ser uno".
Com o declínio dos limites à ação do Estado, cujos fundamentos éticos haviam sido encontrados pela tradição jusnaturalista na prioridade axiológica do indivíduo com respeito ao grupo, e na consequente afirmação dos direitos naturais do indivíduo, o Estado foi pouco a pouco se reapropriando do espaço conquistado pela sociedade civil burguesa até absorvê-lo completamente na experiência extrema do Estado total (total exatamente porque não deixa espaço algum fora de si.). BOBBIO, N., Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da política: 25
O Estado Nacional se agigantou perante as unidades federadas, as cidades,  campos, e pessoas. Enorme contingente vem grudado no Leviathan. Conforme relatório encomendado pela Tax Justice Network, dos Estados Unidos, 520 bilhões de dólares foram enviados do Brasil para diversos paraísos fiscais. Não há indicação da origem desses fabulosos recursos, presumindo-se que a maioria se refira a dinheiro ilegal, fruto da sonegação de impostos, de operações criminosas, recebimento de propinas, superfaturamento, desvio de recursos de obras públicas e sucedâneos.
Quando por aqui se fala em federação, ou confederação, vem a mente aquelas do futebol. E mesmo assim, em regime ditatorial, quase como exercício de reinado.
O Brasil tem o modelo federativo mais centralizador do mundo e a centralização impôs a existência de um sistema controlado com argúcia e rigor pelas oligarquias regionais. Mais de 70% de tudo o que os brasileiros pagam de taxas e impostos vão parar nos cofres da União. Para não morrerem à míngua, os municípios elegem deputados e senadores e os mandam à Brasília para trazer de volta o dinheiro que serve para a construção da ponte e da escola. De emenda em emenda orçamentária, parte considerável desse dinheiro é desviada por corruptos e corruptores. Mídia nunca desce às causas da corrupção 29/9¹2011
Viramos súditos, obedientes, subservientes a um comando central cada vez mais distante, até para não ser alcançável.
Para Michaël Zöller, sociólogo alemão da universidade de Bayreuth, o que se chama de Estado é certamente um sistema de interesses pessoais organizados, uma Nova Classe. Como todos nós, sua ambição é aumentar a remuneração e a autoridade. Como classe, ocupam-se, pois, a desenvolver seus poderes, suas intervenções e sua parte no mercado, isto é, a apropriação pelo setor público dos recursos nacionais, operada através do imposto sobre a sociedade civil. SORMAN, G. :74.
Diante da disparidade de forças,  experimentada pelos destemidos paulistas de 1932, é muito fácil aos comandos centrais paulatinamente aumentarem impostos e determinarem leis de exclusivo interesse de sua casta, de maneira que hoje temos um sistema tributário multiplicadamente mais pesado do que dos tempos em que todos éramos simplesmente colonos.
Se alguns homens são outorgados por direito aos produtos do trabalho de outros, isso significa que esses outros estão privados de direitos e condenados ao trabalho escravo. Qualquer direito alegado de um homem, que necessita da violação dos direitos de outro, não é nem pode ser um direito. Nenhum homem pode ter o direito de impor uma obrigação não escolhida. RAND, Ayn, cit. PIPES, R.: 338  
Eis a razão fundamental do inegável e grandioso atraso da América do Sul, em todos os sentidos.
Propalava-se que o salário mínimo, por exemplo, não poderia ser igual no Acre e na avenida Paulista; Evidente. Então, o governo central, não as entidades locais, estipulou salários regionais, deste modo mais uma vez impondo sua vontade, e por isso, sempre arbitrária. Várias leis são compatíveis com alguns habitantes deste imenso território, enquanto a outros parece bizarro, estranho. Mas não é este o detalhe mais desrespeitoso. O problema essencial reside no sistema tributário e financeiro, que obriga a todos marcharem dentro dos containers do imenso trem da alegria composto pelos maquinistas de nossa insana viagem. "As corporações centralizadas e autoritárias têm fracassado pela mesma razão que levou ao fracasso os estados centralizados e autoritários: elas não conseguem lidar com os requisitos informacionais do mundo cada vez mais complexo que habitam." (FUKUYAMA, F., 2002: 205)
Fala-se em novo pacto federativo. Ora, este pacto é o que cria o Estado; portanto, não pode ser produto dele. Não há pacto viável quando o Estado já exerce o domínio sobre tudo e sobre todos. "O fato de, no Brasil, o Estado ter se organizado antes da sociedade, impondo-se sobre esta, teria sufocado processos autônomos de organização cujo resultado se via na debilidade da sociedade civil." (COSTA, V.: 33 ) O que poderia haver seria uma concessão, por parte do governo central, aos pleitos regionais. Apenas isso.  Não há como negociar nennhum pacto com povo rendido. Que pacto poderia nascer entre alemães e norteamericanos e russos, senão que a divisão da Alemanha entre os dois vencedores?
O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’. CHARDIN, Teilhard, cit. FERGUNSON: 48
A solução federativa tão ansiada, cada vez mais aclamada por intelectuais, economistas, juristas, jornalistas capitães de indústria, ruralistas, cidadãos em geral conserva o melhor aspecto da utopia. Somente, talvez, se houvesse uma rebelião generalizada dos governadores, todos com seus estados comprometidos com gigantescas dívidas junto à União, apenas por aí seria apurada uma reforma do sistema político-administrativo nacional. Esbarramos, todavia, numa obviedade: os governadores, por militantes de partidos nacionais, não estão à serviço de seus coestaduanos, mas de quem hierarquicamente se coloca com superior - o poder nacional. Dessarte os governadores dão de ombros a seus prefeitos, jogando a culpa no governo federal,fazendo com que Brasília se torne a meca das romarias citadinas:  Marcha dos Prefeitos  Os próprios governadores insistem em renegociarem as dívidas (todos os estados devem à União) como seo dinheiro da União não fosse dos estados. Parece-me completamente ilógica, de uma carência de consciência inimaginável, a posição impotente, para mim alienada mesmo, dos governadores. A hipertrofia do poder artificial, tornado real pelo consentimento, vê-se flagrante até mesmo na interferência ou a tentativa de interferência nos diretórios municipais às escolhas dos candidatos e alianças à próxima legislatura. Isto nada tem a ver com democracia, mas com oligarquia, um neofascismo. "A centralização favorece uma minoria, empobrecendo a massa." (H.C. Carey, cit. Hugon, P., História das Idéias Econômicas: 420) Em nome de que um morador de Brasília deve impor os candidatos ao restante do país?
Numa de suas visitas à neta, a bondosa governanta do país anunciou a "doação" de R$1 milhão para que Porto Alegre estenda um metrô do centro para um bairro. Da benevolência várias perguntas se impõem: :que diferença faz ao país, ao Estado, ou à Nação a capital do Rio Grande do Sul ter ou não ter um metrô? E como a União nada produz, de onde ela tirou tamanha verba? Por acaso despiu o Piauí paa vesti a gauchada? Ou a cifra oferecida é fruto do suor dos próprios gaúchos, que se viram extoquidos pelos impostos federais, e assim recebem um troquinho cala-boca? Isso era apropriado aos primórdios do XIX; passados dois séculos de letargia, nada disso se coaduna com o ritmo de nossa era.  "A época moderna pode ser considerada como fim da história, se tomarmos ‘fim’ no sentido de ‘telos’ coletivo da humanidade. Cumprindo esse ‘telos’, não haveria outros fins universais e sim individuais ou particulares. Isso representaria a possibilidade da multiplicação indefinível dos fins.". (FUKUYAMA, F., O fim da história e o último homem) "Essa nova civilização tem sua própria e distinta concepção de mundo, maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica e a relação de causa e efeito." ( ORMEROD, P., 1996: 194)
Estacionado o velho trem, retirada a carga, podemos optar por pequenos, ágeis e versáteis supercondutores de não-matéria, individuais ou não, mas em consonância com a complexidade, leveza e imensidão do Universo .O novo código excede a padronização, a sincronização, a centralização. Suplanta a concentração da energia, do dinheiro, do poder.
Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização. WHETLAY, Kellner-Rogers, Um caminho mais simples: 58
"Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (LÈVY, PIERRE, cit. PELLANDA e PELLANDA: 118) BRUNO LATOUR (Das Sociedades Animais às Sociedades Humanas; cit. WITKOWSKI: 207) apresenta sua contribuição:
Depois do livro do americano Edward O. Wilson, Sociobiology e dos ensaios do inglês Richard Dawkins, os geneticistas das populações, assim como os especialistas em insetos sociais, procuraram compreender a organização social a partir dos interesses individuais. Não existe o formigueiro; só existem as formigas. Não existe a espécie; só existe o indivíduo. Falar de um sacrifício pelo grupo é, portanto, uma impossibilidade - pelo menos se estudarmos a evolução darwiniana dos caracteres sociais. Era preciso repensar a sociedade animal como a resultante do cálculo dos indivíduos e não mais como um vasto sistema dentro do qual os animais nascem e morrem. Esta revolução entre os animais assemelha-se às revoluções que as ciências políticas conheceram duzentos anos antes.
Recentemente estive no Uruguai durante alguns meses. O vizinho encanta pela civilidade e cordialidade do povo, pela inexistência de crimes, por suntuosas construções, excelente infraestrutura de transportes, saúde, qualidade de vida e  razoável educação pública. Tem muita tradição. Quando Einstein desceu em Montevidéo, ficou espantado com os cachorros: eles latiam sentados. Os orientales dependem das economias argentina e brasileira, desde o forte turismo, passando pelos insumos e maquinários agricolas, e de resto o abastecimento em geral. Contudo, curiosamente, não apresentam sobressaltos econômicos, tampouco desequilíbrios comerciais. A ,moeda corrente é o peso, que por verdadeira expressão, pode tolerar contratos, depósitos e transações estipuladas em dólar. .  O país tem uma dimensão e até mesmo uma configuração muito assemelhada com o Rio Grande do Sul.  O clima é semelhante, mas a topografia riograndense, por mais diversificada, com serras, lagoas e rios navegáveis, é muito mais favorável ao crescimento econômico e social. A população do estado brasileiro sobrepuja em quase dobro o comparativo. No entanto, arrisco ser radical, para melhor ser entendido: não há praticamente nenhum setor de desenvolvimento que os gaúchos, em maior número, logrem bater os gauchos.  Advertiram-me que não posso comparar um país com um estado. Por que não? Seria talvez porque um país tem maior autonomia, e por isso se desenvolve melhor? Então, por qual minerva devemos continuar num sistema que nos impede de estendermos nossas asas? Vejamos, então, pelo prisma requerido. A área e a população que corresponde ao Brasil se equivale à América Espanhola. Esta foi dividida em vários países, enquanto o Brasil conservou a unidade. Verifiquemos os PIBs de ambas áreas. Evidentemente obteremos melhor resultado com a soma de Argentina, Venezuela, Perú, Colômbia, Chile, Uruguai, mesmo Bolívia, Equador e Paraguai. Exceto dois, os demais evoluem em condições muito mais adversas, porquanto dotados com desertos e ainda tendo os Andes como obstáculo, a estupenda cordilheira de impossível proveito. Em 2011, o Brasil cresceu 2,7% e em 2012 não deverá atingir 2%. Argentina, Chile, Peru, Colômbia, México, crescerão entre 4% e 5%. O Brasil disputa a rabeira com Paraguai e Bolivia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Independência dos estados - I

Em outros tempos, se dissessem a um homem que, ao recusar-se a reconhecer a autoridade do Estado ele ficaria à mercê dos ataques de homens perversos - inimigos internos e externos - e que teria que lutar sozinho sujeitando-se a ser morto em combate, sendo portanto vantajoso suportar algumas dificuldades em troca de proteção, ele poderia acreditar, já que os sacrifícios que viesse a fazer pelo Estado seriam apenas pessoais e lhe garantiriam pelo menos a esperança de uma vida tranquila numa Nação estável. Mas no momento em que não apenas os sacrifícios parecem ter se tornado mil vezes mais penosos, mas os benefícios parecem ter desaparecido, é natural que os homens tenham chegado à conclusão de que a submissão à autoridade é algo totalmente inútil.  LEON TOLSTOI
Una de las raíces más profundas de nuestras tiranías modernas en Sud-América es la noción greco-romana del patriotismo y de la Patria, que debemos a la educación medio clásica que nuestras universidades han copiado a la Francia. La Patria, tal como la entendían los griegos y los romanos, era esencial y radicalmente opuesta a lo que por tal entendemos en nuestros tiempos y sociedades modernas. Era una institución de origen y carácter religioso y santo, equivalente a lo que es hoy la Iglesia, por no decir más santo que ella, pues era la asociación de las almas, de las personas y de los intereses de sus miembros. Su poder era omnipotente y sin límites respecto de los individuos de que se componía. La Patria, así entendida, era y tenía que ser la negación de la libertad individual, en la que cifran la libertad todas las sociedades modernas que son realmente libres. El hombre individual se debía todo entero a la Patria; le debía su alma, su persona, su voluntad, su fortuna, su vida, su familia, su honor. La omnipotencia del estado es la negación de la libertad individual Juan Bautista Alberdi
Quando houve as independências dos países americanos raros conheciam a democracia. Não foi por querer implantá-la que as nações declararam suas desconformidades com os poderes de Espanha e Portugal. As revoltas não eram ideológicas, e sim contra a evasão de divisas. Uma parcela inaceitável na ocasião, pífia se comparada aos momentos em que vivemos, foram fortes para emular uma onda de independências, sobrando apenas as guianas na tradição. Não tinha sentido o produtor ser obrigado a recolher parte do fruto de seu trabalho a um rei distante, em troca de quase nada. Não havia sistema educacional, nem de saúde, eletrificação, saneamento, transportes nem falar. E o aparato policial era de responsabilidade das localidades, óbvio, até porque chegar um socorro a qualquer localidade poderia levar meses de viagem.  Se os problemas administrativos eram todos resolvidos nas próprias colônias, que razão assistia àqueler reinados cobrarem  dízimos?
Naturalmente que pelo fato do exercício imperial, ditatorial do poder soberano, as independências foram marcadas como atos de rebeldia contra os poderes constituídos, insurgências que levaram a algumas sangrentas batalhas. O Brasil foi exceção, mercê de ser concessão de pai para filho, herança antecipada, de modo que aquela estória de Independência ou Morte serve apenas para dourar um ato de pretenso heroísmo, um ato que, se confrontado,  ao pé da letra se configuraria em fraticídio.
O grande ideal dos pensadores dos séculos XVIII e XIX, ao defenderem uma reforma política que aboliria a monarquia e a autocracia, era libertar o indivíduo da tirania de um homem só ou da tirania de alguns poucos sobre todo o resto. Mas eles também alertaram para um outro perigo igual ou até mesmo maior: a tirania da maioria sobre a minoria, mesmo que a minoria fosse composta de apenas um indivíduo. , A liberdade é mais importante que a democracia.
Tínhamos territórios, que por falta de povoamento não lograram status de estado. Com o correr da evolução, os territórios foram aquinhoados com governadores, e eleições diretas. No mesmo sentido, aos estados mais evoluídos o natural seria se tornarem totalmente independentes, ou seja, novos países. Que mal há neste desdobramento? Hoje vemos várias independências amenas, consentidas, como são os casos de cidadelas. Tendo atingido uma maioridade, por assim dizer, através de simples plebiscitos as comunidades escolhem se preferem a emancipação de suas origens, tornando-se elas próprias municípios, e depois, geradoras de outras cidadelas. O mesmo acontece com os estados, comumente divididos em dois. Parece ser uma evolução natural.  A prerrogativa. entretanto, não pode sequer ser  ventilada se algum estado tencionar escapulir do subjugo republicano. Qualquer movimento ou idéia leva a pecha de "separatista", como se fosse "crime lesa-pátria". Por buscar o lastro nacionalista que impulsionou o fascismo e o nazismo, um "inovador" pampeano foi impiedosamente atacado  Em nossa plena democracia vingou maior truculêcia.
A República do Pampa, República dos Pampas ou, como é mais conhecido, Movimento pela Independência do Pampa é um movimento separatista, não organizado e pacífico[carece de fontes], com o objetivo de autodeterminação do Rio Grande do Sul. Foi iniciado pelo gaúcho Irton Marx, no começo da década de 1990. Na época, a Polícia Federal brasileira apreendeu todo o material publicitário relacionado ao movimento República do Pampa – Wikipédia
Então somos vítimas de crimes de lesa-estado, de lesa-cidadão:
No Brasil, o dinheiro é desperdiçado em obras malplanejadas, mal-executadas, feitas e refeitas sem qualquer controle efetivo. Gasta-se com aviões com maior autonomia de voo enquanto o rei da Suécia aqui chegou na Rio+20 num avião de pequeno porte, nada condizente com sua condição de integrante de uma vetusta realeza. Aliás, tenho observado também que somos uma República muito diferente: presidentes e governadores moram e trabalham em palácios. Estranho, não? E tome dinheiro para o que não tem importância. A aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei de Acesso à Informação Sandra Starling
Brasil é o 4º país com mais dinheiro em paraísos fiscais, diz organização Para se ter idéia do descalabro que os brasileiros estão obrigados a supotar basta a constatação: composto por 84 senadores, o senado possui um quadro funcional de 10.000 "servidores" regiamente pagos. 
O país atravessa uma de suas fases mais desmoralizantes, em que os três Poderes se mostram verdadeiramente apodrecidos. É um escândalo atrás do outro. Não há dia em que a gente  abra os jornais sem deparar com uma denúncia grave sobre corrupção e outros tipos de irregularidades da administração pública, em seus diferentes níveis. A oposição parlamentar é omissa e inexpressiva, porque a classe política também está apodrecida, não há lideranças de respeito, o panorama visto da Praça dos Três Poderes é realmente desalentador. 23 de julho de 2012 O que mais espanta no Brasil de hoje é a omissão da sociedade civil (e militar, também) Carlos Newton
Seja na Catalunha, em Quebec, nas províncias argentinas de Missiones e Corrientes, ou no leste boliviano, muitos lucram com a dominação centralizada. A Catalunha tem 7,5 milhões de habitantes, representa 16% da população espanhola, 18,7% do PIB, mas é a região mais rica. A renda per capita é 17% superior à do conjunto da Espanha. Se desprovido do esforço catalão, de que modo o reino espanhol poderia sobreviver? Coisa mais antiga é difícil encontrar. "A indivisibilidade do poder soberano é uma das idéias fixas de Hobbes; e, de resto, era esse um dos fundamentos da doutrina política do primeiro e mais célebre teórico do absolutismo, bastante conhecido de Hobbes, ou seja, Jean Bodin. ( BRETT, R. L.: 29)  “A última conseqüência lógica da filosofia de Hobbes é o absolutismo estatal, a ditadura entronizada como lei suprema.” (ROHDEN, H.: 54) O resultado da sapiência é evidente por natureza:
Nada mais me surpreende neste grande bordel que um dia foi a promissora República Federativa do Brasil. O mais lamentável é que não consigo vislumbrar no horizonte político o raiar de algum indício de melhora; ao contrário. É desalentador ver uma nação, vocacionada para conduzir, ser conduzida por porteiros de casas de tolerância de quinta categoria. O gigante continua deitado, só que não mais em berço tão esplêndido. Apequena-se com disseminação da desfaçatez e sente diminuir seu fulgor ante a sanha destruidora dos que teimam em reduzí-lo a mais uma mera republiqueta terceiromundista. ‘Distanciados da razão, Lula debocha dos brasileiros enquanto o PT devasta o país’, 
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino. SAUTET, Marc, 2006: 15/86
Nõ merecemos tão formidável anacronismo. 
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar. MIRANDA, Pontes de, cit. MOREIRA: 103
"O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’." (CHARDIN, Teilhard, cit. FERGUNSON, N.: 48)

domingo, 22 de julho de 2012

Recado (urgente) de Deus

Não fique aí rezando e batendo o peito! O que Eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Não vá para esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pare de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pare de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pare de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pare de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.
Baruch Spinoza, Século XV, em mensagem provavelmente colocada em alguma garrafa que ainda não aportou em Salvador, ou foi por lá enterrada.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Reduções de impostos ignoram príncípio "de iguais perante a lei"


 
Todo o sistema de política que se esforce, seja por extraordinários incentivos, para destinar a uma espécie particular de indústria uma parte do capital da sociedade maior do que naturalmente atrairia, seja por extraordinárias restrições, para afastar de uma espécie particular de indústria parte do capital que do contrário nela se teria empregado, na realidade subverte o grande propósito que deveria promover. O Sr. Smith investigou, com grande engenhosidade, que circunstâncias, na Europa moderna, contribuíram para perturbar essa ordem da natureza e, sobretudo para encorajar a atividade nas cidades, à custa daquela do campo. STEWART, Dugald, in SMITH, A.,Teoria dos Sentimentos Morais, LXIV
Brasil e Argentina vem adotando integralmente a receita daqueles anos '30. Primeiro promoveram uma absurda recessão, disfarçada por intensa publicidade contrária. Quando agora ela bate firme na porta, valem-se de intervencionismos, controles financeiros, subsídios, descontos de impostos setoriais, incentivos segmentados, privilegiando empresas e pessoas a seu belprazer.  Retroagimos "cinco anos em um"
A Câmara aprovou várias medidas encaminhadas pelo governo "para tentar garantir o crescimento da economia". Uma delas reduz o custo da contribuição patronal para a Previdência, diminuindo o custo sobre a folha salarial. Eis a anomalia consentida em função do número de empregos.
Os ricos ficaram ricos porque eles têm direitos, enquanto os pobres não têm. Por 'direitos' deve entender 'direitos humanos', não 'privilégios'. É possível que todos os cidadãos têm acesso ao privilégio, o privilégio é apenas uma pequena minoria. Se resolver a questão dos ricos e pobres, é preciso primeiro estabelecer direitos iguais para todos   Ensayo de Mao Yushi: La paradoja de la moralidad
O governo resolveu contemplar apenas 15 setores. Ele entende que isto é praticar "política".
É tão provável o intervencionismo ter sucesso como é o de a água correr rio acima. O crescimento económico ou a falta dele, o sucesso ou o fracasso pelo qual é medido, é o resultado. A questão é então a de saber se é possível ter crescimento económico sem intervencionismo. A resposta lógica é não. Uma economia de mercado livre na ausência de factores externos não cresce: ela progride, o que é uma coisa muito diferente. Ela descarta as coisas que o consumidor não deseja e produz coisas que estes provavelmente desejam. Ela ajusta os preços dos produtos a um nível que satisfaz o consumidor e que é ao mesmo tempo lucrativo. A sobreprodução é punida e a subprodução convida à competição. Ninguém sabe o que os consumidores irão querer amanhã e quanto eles estarão dispostos a pagar por isso, mas os empreendedores são geralmente bastante bons a adivinhar, uma vez que põem o seu próprio tempo e dinheiro em risco. Eles têm que antecipar os níveis de procura e também os preços para os seus produtos uma vez que decorre sempre um período de tempo para planear, produzir e comercializar um produto. Isto é progresso, não crescimento. O progresso consiste em ter melhores produtos e serviços no futuro, em relação ao presente, usando os recursos disponíveis hoje. O progresso representa mais valor pelo dinheiro no futuro, o que significa que os preços tendem a cair. E à medida que estes decrescem, mais coisas podem ser adquiridas com o mesmo dinheiro. No entanto, que os governos fazem, é destruir este processo de progressão numa tentativa de o reproduzir com crescimento estatístico. A Ilusão do Crescimento Económico
O Governo Federal vem adotando a inovação tributária desde as reduções de IPI "à linha branca" e "automóveis". No dia do anúncio do último pacote, o índice de ações da Bovespa caiu mais de 1%, mas as ações da Marcopolo subiram mais de 6%. O governo divulgou uma grande compra de caminhões para “estimular” o crescimento econômico. Alguém pagou por isso. Esta ideologia centralizadora está fadada ao fracasso. Ela produz ineficiência e lobby por privilégios, mas não consegue aumentar a produtividade da economia. Infelizmente, a presidente acredita neste modelo, e vai insistir nele até quebrar a (nossa) cara. Além de proporcionar a corrupção pelas grandes empresas agraciadas, desequilibrar o mercado, incitando a precipitação dos recursos às empresas criteriosamente selecionadas, o Governo ratifica sua maneira canhestra de agir, arrepiando preceitos fundamentais da Ética, do Direito, da Justiça e da própria Economia.
A implicação geral da teoria do equilíbrio competitivo é que o papel do governo deve ser o menor possível e um setor público pequeno implica que os custos de manutenção serão pequenos, assim como os impostos necessários para financiá-los. Na medida do possível, segundo esse modelo, as funções do Estado devem desaparecer. Para melhor servir aos interesses do povo, não deveria existir Estado. Essa é, evidentemente, uma conclusão muito semelhante aquela a que Karl Marx chegou em seus escritos políticos: sob a ótica do socialismo, o Estado desapareceria. Pode parecer irônico que o modelo econômico do livre-mercado afirme que, sob o capitalismo de livre-mercado esse fenômeno também deve acontecer; mas existem mais semelhanças do que se poderia imaginar entre a teoria econômica de uma sociedade socialista e a teoria econômica de uma sociedade baseada exclusivamente na livre iniciativa. ORMEROD, P; 1996: 86 
Aliás, a própria diferenciação original entre vários produtos constitui castigo imerecido para inpumeros produtores, comeriantes e trabalhadores, porém passado à lo largo por conta da letargia dos setores preteridos. 
Nada mais me surpreende neste grande bordel que um dia foi a promissora República Federativa do Brasil. O mais lamentável é que não consigo vislumbrar no horizonte político o raiar de algum indício de melhora; ao contrário. É desalentador ver uma nação, vocacionada para conduzir, ser conduzida por porteiros de casas de tolerância de quinta categoria. O gigante continua deitado, só que não mais em berço tão esplêndido. Apequena-se com disseminação da desfaçatez e sente diminuir seu fulgor ante a sanha destruidora dos que teimam em reduzí-lo a mais uma mera republiqueta terceiromundista. ‘Distanciados da razão, Lula debocha dos brasileiros enquanto o PT devasta o país’,
Se a diminuição dos impostos enseja maior desenvolvimento econômico e social, isso significa que, mercê da escala, o governo continuará arrecadando a mesma coisa, o que seria umamedida muito mais inteligente para todos,inclusive ao próprio manipulador.
Para tomar o dinheiro do trabalhador, o Estado precisou construir e contratar entidades financeiras para cobrar e gerir; políticos e casas governamentais para definir normas; escolas, professores, médicos e hospitais para gastar, fiscais para tomar conta do processo; e mais uma série de profissionais intermediários que nunca teriam existido caso o dinheiro fosse gasto diretamente pelo indivíduo. Uma hora de desenvolvimento econômico sob a ótica liberal
Muito apreciaria um pleito judicial  à equiparação tributária por parte da infinidade de empresas excluídas, sob a égide de que todos somos iguais perante a lei; e ela dever única a todo mundo. Contrariu sensu não é lei, mas impostura.
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terça-feira, 17 de julho de 2012

A inversão do Capitalismo - Trabalhadores capitalistas

A expectativa em relação ao Brasil é outra, totalmente diferente do que era há seis meses. Há, hoje, uma avaliação mais negativa sobre a capacidade do país de responder à crise. O ambiente econômico piorou e a visão geral é de que vai piorar mais. A fama de boa gerente da Dilma era mito’
O Brasil e a Argentina vem adotando integralmente a receita daqueles anos '30. Primeiro promoveram uma absurda recessão, disfarçada por intensa publicidade contrária. Quando agora ela bate firme na porta, valem-se de intervencionismos, controles financeiros, subsídios, descontos de impostos setoriais, incentivos segmentados, privilegiando empresas e pessoas a seu belprazer. Não adianta. Como dizia JK, "Cinco anos [de retrocesso] em um":
Nada mais me surpreende neste grande bordel que um dia foi a promissora República Federativa do Brasil. O mais lamentável é que não consigo vislumbrar no horizonte político o raiar de algum indício de melhora; ao contrário. É desalentador ver uma nação, vocacionada para conduzir, ser conduzida por porteiros de casas de tolerância de quinta categoria. O gigante continua deitado, só que não mais em berço tão esplêndido. Apequena-se com disseminação da desfaçatez e sente diminuir seu fulgor ante a sanha destruidora dos que teimam em reduzí-lo a mais uma mera republiqueta terceiromundista. ‘Distanciados da razão, Lula debocha dos brasileiros enquanto o PT devasta o país’,
Tal qual os espertalhões da época dos gangsters, ainda supõem os falsos malandros condutores do Brazilianic que a máquina acionada a todo vapor, o dinheiro em profusão será capaz de desviar do formidável iceberg, e destarte saírem ilesos da triste chanchada. Ledo engano, o mais clássico dos erros. "As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável."(SKIDELSKI: 140)
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A cultura medieval superior floresceu porque o povo seguia a visão da cidade de Deus. A sociedade moderna floresceu porque o povo foi vitalizado pela visão do crescimento da Cidade Terrena do Progresso. Em nosso século, porém, esta visão deteriorou-se no que foi a Torre de Babel, que está agora começando a ruir e em última análise sepultará a todos em suas ruína. Se a Cidade de Deus e a Cidade Terrena foram tese e antítese, a única alternativa para o caos é uma nova síntese. FROMM, E., 195 
"Mirem-se no exemplo" não das alienadas "mulheres de Atenas", e sim daquelas de Berlim, conduzidas pela Dama de Aço Ela sofreu na carne ainda mais do que os soviéticas as consequências das insanidades sociais. Merkel mantém o Euro com uma firmeza capaz de garantir a harmonia social, sem prejuízo de ninguém. Não por acaso, o desempenho germânico ora é o carro-chefe da reversão.. Toda a geração passada almejava fugir daquela Oriental. Hoje há verdadeira romaria a seu destino Alemanha vira destino dos desempregados da Europa. A receita obedece uma simplicidade acaciana:
A implicação geral da teoria do equilíbrio competitivo é que o papel do governo deve ser o menor possível e um setor público pequeno implica que os custos de manutenção serão pequenos, assim como os impostos necessários para financiá-los. Na medida do possível, segundo esse modelo, as funções do Estado devem desaparecer. Para melhor servir aos interesses do povo, não deveria existir Estado. Essa é, evidentemente, uma conclusão muito semelhante aquela a que Karl Marx chegou em seus escritos políticos: sob a ótica do socialismo, o Estado desapareceria. Pode parecer irônico que o modelo econômico do livre-mercado afirme que, sob o capitalismo de livre-mercado esse fenômeno também deve acontecer; mas existem mais semelhanças do que se poderia imaginar entre a teoria econômica de uma sociedade socialista e a teoria econômica de uma sociedade baseada exclusivamente na livre iniciativa. ORMEROD, P; 1996: 86
O senso comum percebe que a matéria é uma coisa, e a energia, ou espírito, ou o intangível outra. Do mesmo modo a convenção estipula que o capital é um, e o trabalho outro. Quem ousaria dissuadir tamanha obviedade?
Por isso não é de estranhar que muitos universitários ainda imaginem Einstein como uma espécie surrealista de matemático, e não como descobridor de certas leis cósmicas de imensa importância na silenciosa luta do homem pela compreensão da realidade física. Eles ignoram que a Relatividade, acima de sua importância científica, representa um sistema filosófico fundamental, que aumenta e ilumina as reflexões dos grandes epistemologistas - Locke, Berkeley e Hume. Em conseqüência, bem pouca idéia têm do vasto universo, tão misteriosamente ordenado, em que vivem. BARNETT, LINCOLN, O Universo e o Dr. Einstein: 12
LOCKE, SMITH, e ABRAHAM LINCOLN (cit. CHALLITA, Mansour: 157) antecipadamente observaram o que MARX e seus descendentes ignoraram: "O trabalho é anterior ao capital e independente dele. O capital nada mais é do que fruto do trabalho. Não existiria se o trabalho não tivesse existido primeiro. O trabalho é superior ao capital e merece uma consideração mais elevada. Todavia, o capital tem direitos dignos de serem protegidos, como qualquer outro direito."
Houve uma ruptura mundial com a tradição do ‘fordismo’, na qual a produção em massa reinava suprema e os trabalhadores individuais eram um fator de custo a minimizar. A nova abordagem da manufatura valoriza o indivíduo e as equipes de trabalhadores qualificados, constantemente treinados, capazes de assumir responsabilidades, de usar redes e de se organizarem em regime de autogestão os empregados terão, graças ao aumento de seus conhecimentos, uma fatia maior dos meios de produção. DERTOUZOS: 270
Classe média quer empreender Antigamente o capital se resumia no valor da terra - quase impossível de outra forma.  Hoje ele se forma através de enorme gama, em conjugação, ou não: pela criatividade, inovação, educação, conhecimento, vocação, vontade, trabalho, dedicação, cooperação, disciplina, preparo, capacitação, imaginação, informação, intercâmbio, interatividade, música, técnica, idéia, sonho, conhecimento, arte, cultura, humanismo, compaixão, solidariedade, gratidão; fé e amor. Romântico? Utópico? Como vimos. nem tanto.
Uma coisa é certa, a hora uniforme do relógio não é mais pertinente para a medida do trabalho. Essa inadequação há muito era flagrante para a atividade dos artistas e dos intelectuais, mas hoje se estende progressivamente ao conjunto das atividades. Compreende-se porque a redução do tempo de trabalho não pode ser uma solução a longo prazo para o problema do desemprego: ela pereniza, com um sistema de medida, uma concepção de trabalho e uma organização da produção condenadas pela evolução da economia e da sociedade. Só se pode medir – e portanto remunerar – legitimamente um trabalho por hora quando se trata de uma força de trabalho-potencial (já determinado, pura execução) que se realiza. Um saber alimentado, uma competência virtual que se atualiza, é uma resolução inventiva de um problema numa situação nova. Como avaliar a reserva de inteligência? Certamente não pelo diploma. Como medir a qualidade em contexto? Não será usando um relógio. No domínio do trabalho, como alhures, a virtualização nos faz viver a passagem de uma economia das substâncias a uma economia dos acontecimentos. Quando irão as instituições e as mentalidades acolher conceitos adequados? Como aplicar os sistemas de medida que acompanham esta mutação? LÉVY, P.: 61
No futuro haverá uma possibilida­de de metamorfose sociológico-cultural que responderá à realidade da interde­pendência planetária atual. Tudo deve ser reformado, a Justiça, a economia, a burocracia, o consumo, o modo de vida, o amor. MORIN, E. Pela rebelião sustentável
Do lado da sociologia, sabe-se que mesmo um autor como Luhmann acabou por se ver compelido a introduzir uma mudança radical no paradigma das relações entre a pessoa e o sistema social. Deixando de ser categorizada como mero ambiente do sistema social, a pessoa passa a valer, também ela própria, como sistema. A pessoa vê-se, assim, chamada - e legitimada - a desafiar permanentemente o sistema social, como fonte de 'contingência', 'irritação', mesmo desordem. De acordo com o 'novo paradigma luhmanniano', na construção de sistemas sociais, a complexidade opaca dos sistemas pessoais aparece como indeterminabilidade e contingência. Não sobrando para o sistema social outra alternativa que não seja 'interiorizar a complexidade' irredutível, emergente da pessoa. O que bem justificara a pretensão de apresentar a nova teoria de Soziale Systeme (1984) como uma Zwang zur Autonomie. ANDRADE, M.: 26.
BRUNO LATOUR (Das Sociedades Animais às Sociedades Humanas; cit. WITKOWSKI: 207) apresenta sua contribuição:
Depois do livro do americano Edward O. Wilson, Sociobiology e dos ensaios do inglês Richard Dawkins, os geneticistas das populações, assim como os especialistas em insetos sociais, procuraram compreender a organização social a partir dos interesses individuais. Não existe o formigueiro; só existem as formigas. Não existe a espécie; só existe o indivíduo. Falar de um sacrifício pelo grupo é, portanto, uma impossibilidade - pelo menos se estudarmos a evolução darwiniana dos caracteres sociais. Era preciso repensar a sociedade animal como a resultante do cálculo dos indivíduos e não mais como um vasto sistema dentro do qual os animais nascem e morrem. Esta revolução entre os animais assemelha-se às revoluções que as ciências políticas conheceram duzentos anos antes.
“Ninguém duvida de que os indivíduos formam a sociedade ou de que toda sociedade é uma sociedade de indivíduos.” (ELIAS, A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994: 16)
Existe uma acentuada complementariedade entre a condição de agente individual e as disposições sociais: é importante o reconhecimento simultâneo da centralidade da liberdade individual e da força das influências sociais sobre o grau e o alcance da liberdade individual. Para combater os problemas que enfrentamos, temos que considerar a liberdade individual um compromisso social. Essa é a abordagem básica que este livro procura explorar e examinar. A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente. SEN, A. 2000:10
"Todas as formas de cooperação social legítima são portanto obra de indivíduos que nela consentem voluntariamente; não há poderes nem direitos exercidos legalmente por associações, inclusive pelo Estado, que não sejam direitos já possuídos por cada indivíduo que age sozinho no justo estado de natureza inicial." (RAWLS, J.: 11) Por isso o físico nuclear Richard Feynman (O significado de tudo: reflexões de um cidadão cientista, p. 14) assim abria suas palestras: “Não há praticamente nada do que vou dizer esta noite que não pudesse já ter sido dito pelos filósofos do século XVII”. Para encerrá-las o pesquisador de Los Alamos trocava o “vou dizer” por “eu disse“; e praticamente repetia as concepções de Locke e Smith:
Nenhum governo tem o direito de decidir sobre a verdade dos princípios científicos nem de prescrever de algum modo o caráter das questões a investigar. Também nenhum governo pode determinar o valor estético da criação artística nem limitar as formas de expressão artística ou literária. Nem deve pronunciar-se sobre a validade de doutrinas econômicas, históricas, religiosas ou filosóficas. Em vez disso, tem para com os cidadãos o dever de manter a liberdade, de deixar os cidadãos contribuírem para a continuação da aventura e do desenvolvimento da raça humana. Obrigado.
O Físico Amit Goswami há muito já sabe: "O núcleo do novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga - a idéia de que consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe." Acompanha-lhe Ben-Dov (p.149): "Ora, nossas observações do mundo exterior, que nos conduzem à física, nos revelam um universo constituído de uma multiplicidade de sistemas ‘abertos’, todos em incessante interação com seu ambiente." 
O Iluminismo é uma paisagem distante das belas praias de Pindorama, onde se banham os filhos de Macunaíma – “um herói sem nenhum caráter, o herói da nossa gente”, segundo os epítetos de Mario de Andrade – com sua frivolidade de Maria Antonieta, hedonismo de carpe diem horaciano e ignorância de Crassus, a assim chamada ignorância crassa. Mario Guerreiro
A velocidade das comunicações, e, por conseqüência, das alterações, as quais já não conhecem tempo, nem barreira, sequer distância, indica que o político tem que ser sua imediata expressão, sob pena de um fim profundamente lamentável, soterrado nos escombros de sua própria morada. Resta-lhe se despirem dos adereços e abandonarem o palco ilusionista no qual florescem as ervas daninhas e o podre odor suavizado nas gotas dos seus falsos ideais. A mudança para um humanismo congraçado com a natureza, por isto mais sensível, solidário e complementar, mostra-se tarefa inadiável, envolvente, prazeirosa e natural, bem ao gosto da Teia da Vida, de CAPRA. O imperativo da melhor convivência do habitante com o meio ambiente, contudo, não pode olvidar, por óbvio pre-requisito ou extensão, o semelhante. Isto condiciona, pois, o aprimoramento das relações pessoais; por conseguinte, sociais. Em outras palavras: pelo respeito e consideração ao indivíduo (só por ele), chegamos ao resultado social: "A época moderna pode ser considerada como fim da história, se tomarmos ‘fim’ no sentido de ‘telos’ coletivo da humanidade. Cumprindo esse ‘telos’, não haveria outros fins universais e sim individuais ou particulares. Isso representaria a possibilidade da multiplicação indefinível dos fins." (FUKUYAMA, F., O fim da história e o último homem)
O novo Individualismo – a serviço do qual, quer queira, quer não, está o socialismo – será a harmonia perfeita. Será o que o Grego buscou, mas não pôde alcançar completamente, a não ser no plano das Idéias, porque tinham escravos, e os alimentava; será o que a Renascença buscou, mas não pôde alcançar completamente, a não ser no plano da Arte, porque tinham escravos e os entregavam à fome. Será completo e, por meio dele, cada homem atingirá a perfeição. O novo Individualismo é o novo Helenismo. WILDE, O.: 86
Escritório sem chefe: utopia ou caos?
O escritório sem chefe: nova onda do futuro ou uma ideia que será sempre um sonho utópico, dada a indefectível capacidade de intromissão da natureza humana? Artigos recentes na imprensa corporativa exaltam os benefícios dos locais de trabalho sem chefes e gente sem títulos de cargos, onde os empregados decidem em que projetos trabalhar, a quem contratar e demitir. Os professores da Wharton e especialistas de outras instituições analisam a viabilidade da ideia e em que circunstâncias ela poderia funcionar.
http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=2249&language=portuguese
"Os interesses dos indivíduos se compensam entre si e o produto final coincide com o interesse da comunidade. Em outras palavras, a consciência do indivíduo é árbitro e condutor, tanto do interesse público quanto do privado, que não é obra do acaso." (TOCQUEVILLE, A.,1997:18) “De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.” (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 96)
Thurow se utiliza desta imagem potente para invocar cinco forças econômicas que moldam o nosso mundo material, seja ele econômico, seja político: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação. RAIMAR, R., in THUROW, L., O Futuro do Capitalismo: 7
Naturalmente nada disso tem a ver com socialismos de maior ou menor amplitude, muito menos comunismos. Mas a sociedade capitalista montada exclusivamente na vela-mestra está fadada ao encalhe. O dinheiro é letárgico, amorfo, sem criatividade, gordo, ruim das cadeiras, impotente. 
Tanto quanto a religião e as “leis” de movimento descritas pelos telescópios de Galileu e Kepler avalizadas por Newton, as contemplações sociais são provenientes de jogo de espelhos a refletirem coincidências pelas quais operam os encantadores mágicos sociais; não fotografam a realidade, mas a projeção da crença no céu, para proventos na Terra. O materialismo clássico, qualquer determinismo enfim, conduz justamente a uma "teologia", não à Ciência, tampouco a Filosofia, que lhes são muito mais amplas; e por conseguinte, superiores.
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