segunda-feira, 18 de junho de 2012

A passagem do regime liberal ao coletivista

 Porque posso matar sorrindo,
E gritar contente aquilo que aflige meu coração,
E umedecer minha face com lágrimas artificiais,
E afeiçoar meu rosto a todas as circunstâncias,
Afogarei mais marinheiros do que a sereia;
Matarei mais basbaques do que o basilisco;
Falarei tão bem quanto o Nestor,
Enganarei mais astutamente do que Ulisses,
E como Sínon, tomarei outra Tróia.
Posso acrescentar cores ao camaleão,
Mudar de formas como Proteu quando me convier,
E dar lições ao mortífero Maquiavel.
SHAKESPEARE (Henrique VIV; parte III, ato III, cena 2)
Quando a vela era rainha da noite supunha-se que a união fazia a força. A Revolução Industrial requeria a máxima força, jamais atingida. Em foles o aspirador trouxe enorme contingente. Como não associar o povo inteiro em qualquer  projeto? E o indivíduo? Mero dependente de emprego. Portanto, que se adequasse.
Na era das chaminés, nenhum empregado isolado tinha um poder significativo em qualquer disputa com a firma. Só uma coletividade de trabalhadores, unidos e ameaçando parar o uso de seus músculos, podia obrigar uma administração recalcitrante a melhorar o salário ou as condições do empregado. Só a ação em grupo podia reduzir ou parar a produção, porque qualquer indivíduo era facilmente intercambiável e, por isso, substituível. Foi esta a base para a formação dos sindicatos de trabalhadores.  TOFFLER, Alvin, Powershift: As Mudanças do Poder, Um perfil da sociedade do século XXI pela análise das transformações na natureza do poder: 238.
Os "direitos sociais" sacrificavam os "direitos humanos", e com toda justiça. Os altos fins justificavam a supressão da liberdade, da vida, em troca da sobrevivência. 
Examinando com acuidade o significado dessa crise na passagem da democracia liberal para a democracia social, Gustavo Radbruch excelentemente escrevia, ao abrir-se a década de 1930, que em semelhante estado de coisas não se trata de convencer o competidor, mas de coagi-lo ou esmagá-lo, pois a luta pelo poder substitui em definitivo a luta pela verdade. (Bonavides: 280)
"Os fascistas, nazistas e militaristas de todos os tipos, simplesmente adotaram o keynesianismo sem discussão." (MONTECLARO, A impotência dos partidos políticos. - www.midiaindependente.org/pt)
O capitalismo de livre empresa, um mercado onde perdurassem a competição e a livre iniciativa, passou a ser considerado como instrumento de exploração do povo, enquanto uma economia planejada era vista como alavanca que colocaria os países no caminho do desenvolvimento. Caberia ao Estado, portanto, o controle da economia doméstica, das importações e a alocação dos investimentos de maneira a assegurar que as prioridades sociais se sobrepusessem à demanda egoísta dos indivíduos.
(Milton Friedman, Capitalism and Freedom; cit. Peringer: 126)
O grande acontecimento dessa crise do liberalismo econômico foi a eleição, em 1932, nos Estados Unidos, de Franklin Delano Roosevelt. Roosevelt, com seu New Deal, propôs uma verdadeira revolução: simplesmente a morte do Estado Liberal. Propunha um Estado inferente, gastador, que investe mais em obras públicas e assistência social do que dispõe em caixa e deixa para cobrir o déficit depois, com o dinheiro a mais que arrecadar numa economia aquecida pelos próprios gastos estatais. (Mascarenhas: 44)
O Estado nada produz. O dinheiro gasto vem de duas formidáveis fontes: a) impostos extraídos da população, portanto do parque produtivo; b) empréstimos de tudo que é natureza, depósitos compulsórios e adiantamentos de imposto de renda, e até mesmo lançar mão de imprimir dinheiro, jogando a confirmação do lastro requerido ao futuro mais breve possível. Para concretizar seu new deal usou tudo, e muito mais. Era vôo de galinha. "Com um imposto, o governo toma a propriedade no sentido mais restrito do termo, acabando com a propriedade e a posse daquilo que esteve uma vez em mãos dos particulares. A taxação é antes de mais nada uma apropriação indébita da propriedade privada." (EPSTEIN, Ricard, cit. PIPES, R.: 283) "A perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos bprincipais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico" (HAYEK, F., 1986: 73)
Criadores de modelos macroeconômicos finalmente descobriram aquilo que Henry Hazlitt e John T. Flynn (entre outros) já sabiam desde os anos 1930: o New Deal de Franklin Delano Roosevelt (FDR) alongou e aprofundou a Grande Depressão. Não passa de mito a tese de que FDR 'nos tirou da Depressão' e 'salvou o capitalismo de si próprio', como tem sido ensinado a gerações de americanos (e, conseqüentemente, ao resto do mundo) em todas as instituições educacionais estatais. Thomas J. DiLorenz 
Il corporativismo supera il socialismo e supera il liberalismo: crea una nueva sintesi.
BENITO MUSSOLINI.
Se alguns homens são outorgados por direito aos produtos do trabalho de outros, isso significa que esses outros estão privados de direitos e condenados ao trabalho escravo. Qualquer direito alegado de um homem, que necessita da violação dos direitos de outro, não é nem pode ser um direito. Nenhum homem pode ter o direito de impor uma obrigação não escolhida. RAND, Ayn, cit. PIPES, R.: 338
Em ´37 FDR finalmente conseguiu mobilizar o pais: guerra à vista! As construções civis, indústrias, trabalhadores, e  famílias aprovavam a correção das idéias econômicas do diretor John Keynes, (para quem a longo prazo todos estariam mortos), à magistral  interpretação do romântico casal Franklin Delano Roosevelt e Eleanor Roosevelt Papai já tinha cópia do exitoso plano econômico nazifascista. Bastava americanizá-lo, dourá-lo ao sabor da grande águia. Em '41 pintou exuberante; em '45 liquidou com todas as guerras; em ' 50 financiou a reconstrução da preservada Europa Ocidental; em '90, da devastada Oriental, em conjugação com a Alemanhã, esta  que ficou sob sua guarda por vários anos. Eis a glória do Estado Capitalista: todos, com força máxima, devem contribuir para a salvação de todos. Nada mais social.
Nos anos sessenta a nova geração viu os fundilhos de Tio Sam. Com flores lhe pediram silêncio. Infelizmente o eco retumbante das sucessivas vitórias já havia ensurdecido a traumatizada crosta terrestre. Arrebatara a Europa inteira, a América do Sul, nem quero falar da África, coitada, invadida por um bando de loucos em tiroteio.  "O período em que o welfare state se fortaleceu, de meados da década de 1970 até o presente, também foi aquele durante o qual os níveis de pobreza (relativa) aumentaram na maioria das sociedades industrializadas." (GIDDENS, 1996: 164)
O que agora excita... é o efeito, considerado desastroso, das políticas keynesianas adotadas pelos Estados econômica e politicamente mais avançados, especialmente sob o impulso dos partidos social-democráticos ou trabalhistas. Nestes últimos anos lemos não sei quantas páginas sempre mais polêmicas e sempre mais documentadas sobre a crise deste Estado capitalista mascarado que é o Estado do bem-estar, sobre a hipócrita integração que levou o movimento operário à grande máquina do Estado das multinacionais. Agora estamos tendo outras tantas páginas não menos doutas e documentadas sobre a crise deste Estado socialista igualmente mascarado que, com o pretexto de realizar a justiça social (que Hayek declarou não saber exatamente o que seja), está destruindo a liberdade individual e reduzindo o indivíduo a um infante guiado do berço à tumba pela mão de um tutor tão solícito quanto sufocante BOBBIO, Norberto, O Futuro da Democracia: 132
Onde vinga essa idéia de jerico,  alí mora a crise econômica.
Nunca o brasileiro deveu tanto. Entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social. Estadão, 15/2/2010
Felizmente permanece a luz no fim-de-túnel.  Amanhã lhe apreciaremos.
Entre os países que mantiveram mais ou menos intacto o regime liberal, não conheço algum que passe mal.
A valentia dos indígenas, em pleno Rio de Janeiro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário