sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A descentralização das estações rodoviárias


A sociedade medieval era uma sociedade pluralista, posto ser constituída por uma pluralidade de agrupamentos sociais cada um dos quais dispondo de um ordenamento jurídico próprio: o direito aí se apresentava como um fenômeno social, produzido não pelo Estado, mas pela sociedade civil. BOBBIO, N., 1995: 27
A Revolução Industrial tudo mudou. A massificação foi um fenômeno não só aceitável, como louvado. Nas fileiras dos exércitos, e nas indústrias, o número de figurantes expressava a capacidade administrativa dos feitores, e a pujança do empreendimento.
Mercê do forte apelo gravitacional, as vilas se tornaram cidades, e estas em megalópolis, edificadas em arranha-céus.
No limiar do século passado o escocês PATRICK GEDDES formulou um estudo intitulado Bos-Wash. Referia-se à conturbação entre Boston e Washington. O vaticínio assinalava metrópoles viradas em necrópolis. Nem tanto, mas os grandes conglomerados padecem, notadamente no Brasil. .
Para ser bem sucedido em qualquer empreendimento, seja ele público ou privado, é preciso inovar. Mas, para inovar é  preciso descentralizar.
PETERS, Tom, The Circle of Innovation
.Aglomerações urbanas conservam alta densidade em seus centros. Não preciso enumerar o rol de contratempos inerentes. Curiosamente, todavia, não é o poder público que tenta minimizá-los. São comerciantes, industriais, prestadores de serviço que buscam alternativas descentralizadas para evoluir. Primeiro foram os shopping-centers, já com mais de meio-século; depois, se estabelecem grandes condomínios periféricos, até mesmo em dimensões quase citadinas. Proliferam-se lojas de bairros, jornais de bairros, secretarias de administração de bairros. A vida de bairro já não se considera marginalizada, fora dos acontecimentos. No entanto, alguns ícones permanecem pelo molde passado; e entre esses fulguram as estações rodoviárias.
Embora em algumas cidades haja concessões, os locais de embarque/desembarque são todos de iniciativa, e a maioria administrada sob a égide pública.
O que vemos? Logradouros sujos, depredados, mal-cuidados, antiquados. E a rigor, saturados. A população cresce vertiginosa, os meios de transporte lhe acompanham, mas os lugares são praticamente os mesmos. As estações requerem áreas sempre maiores, mercê da crescente concentração de gente e de veículos, nestes incluídos não só os coletivos, como os automóveis e táxis de sua órbita, e desse modo nosvos empreendimentos, ou mesmo ampliaçoes são paulatinamente dificultados.
As estações se constituem em pontos comerciais. A rigor, nada tem a ver com os poderes públicos. Há um alto faturamento não só dos transportadores, mas também de inúmeras lojas de conveniências, guichet de hotéis e agências de viagens, pequenos serviços, etc. Os mais modernos monumentos tem um padrão assemelhado a shoppings. São pontos de alta rentabilidade.
Assim como o poder público não intervém na construção de pontos comerciais, se antigamente havia, hoje não há mais razão para sua presença. Não há necessidade de desapropriações, tampouco de utilizar a arrecadação em proveito particular.
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade.
SMITH, A.
cit. DOWNS: 56
Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização.
WHETLAY, Kellner-Rogers,
Um caminho mais simples: 58
As novas estações poderiam ser implementadas pelos próprios transportadores, cada qual com seu terminal, onde bem lhes aprouver, consubstanciados pelo ingresso/participação de incontáveis lojas e serviços conveniados. Naturalmente não pode mais haver os costumeiros monopólios de linhas, aliás um disparate só consentido em função de investimentos em campanhas políticas feito pelos titulares. Em país de livre-iniciativa, qualquer reserva de mercado, nada mais do que um protecionismo mercantilista, obviamente traz prejuízo ao próprio povo.
O poder de descentralização deriva do fluxo de novas idéias,
imagens e energia para todas as partes do organismo.

FERGUNSON, M.:
210
Tal estratégia propicia a interação de muitos agentes atuando em paralelo. As ações de um agente em particular serão resultado de sua expectativa em relação ao que os outros agentes irão fazer, e conforme a identificação de demanda. Os agentes antecipam e co-criam o mundo à sua volta, sem requerer uma entidade global controladora das interações ou que tenha prévio conhecimento da estrutura global do sistema. O controle é feito pelo processo de cooperação e competição entre os agentes e medido pela presença da clientela. Como consequência desta interatividade, obtemos contínuas revisões de comportamentos, ações, e produtos, à medida que os agentes ganham experiência. O sistema está em constante adaptação. O elemento surpresa e a chance permitem que se apure muitas soluções e novas oportunidades. Por fim, ampliam-se as chances de novidades, com o ingresso de novos empreendimentos satélites, agregados, ou substanciais.
Os aeroportos também podem seguir o mesmo padrão. Pelo menos nos "campos de aviação" não há monopólios de linhas, embora oligopólios. Com o valor dispendido para a aquisição de um trio de Airbus por certo dá para a companhia aérea implantar uma pista de pouso às suas operações, com acessórios.


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