De fato, a vida, a busca pela verdade, e uma técnica a melhor estada podem ser apreciadas por obtusos viéses, mais salientes em flagrantes sociológicos, coletivos, mas para olhar pelo Hubble basta apenas um par de olhos. Quero dizer que a civilização prefere se valer de quem porte qualquer telescópio, em vez dela própria mirar. Acredita que o portador seja capaz de decifrar a metafísica, e bem traduzi-la.
A ciência é um fenómeno social e, como tal, é delimitada pelos benefícios e malefícios que possa causar.Aquilo que se chama crise da ciência não é mais do que esses senhores estarem a começar a ver por si mesmos o caminho errado a que foram conduzidos pela sua objectividade e pela sua autonomia. HITLER, Adolf, cit. HOLTON, Gerald, A cultura científica e seus inimigos. Lisboa: Gradiva, 1998: 46
Atraída pelos contos ao engano, aos equívocos de avaliação, ela se prostra, torna-se descrente, inconfessadamente cética, e não poucas vezes até hipócrita.
Assim pode-se cogitar prudente não dar mais bola a ninguém, e tratar de usufruir a vida como se puder - afinal a controvérsia é tamanha que uma anula a outra, de maneira que 0 x 0 com assistência ou estádio vazio dá no mesmo. No fim das contas, a ciência não cabe a cientistas? Quem produz mateus, que os embale. Ao povo recai produzir comida, que é escassa. Ciência já se tem demasiada, tanta que a maior parte dela se recicla, e o restante é jogado fora. Se satisfeito o numerário, sair para uma praia, um parque, de preferência bem acompanhado, a qualquer som agradável, não tem erro.
Let it be. Concordo. Muitas vezes assim agi, e a rigor não me arrependo. O vinho gabaritado, traçar planos de viagens, um
cinemascope (quack), uma festa, a sensação do voo em asa-delta são infinitamente mais prazerosos do que a teimosa persistência num rastro visto monocromático, ate obssessivo, geralmente nebuloso e igualmente infinito.
DESCARTES inverteu o circuito. Tomou
curto-circuito. Na juventude, ensimesmado questionava. Ao nascer o ciso, o jovem
Cartesius partiu à
Meditação Primeira, uma meditação deveras primária, a qual não evoluiu sequer um palmo à frente de seu avantajado nariz. Quiçá por isso até hoje cogitar suporte conotação de engano: - Ah, pensei que era assim.
Antes de integrar a soldadesca de Nassau, o ex-filósofo
atravessou o Rubicão. Visava deixar suas dúvidas no colo dos insensatos.
Discurso sobre o método, justificava o desatino: a decepção com a Filosofia, cujos ingredientes considerava confusos, obscuros e nada práticos. Por irônico paradoxo, ao remeter seu decantado cogito ao
quinto-dos-infernos, sob as bênção de
DEUS, o franco deixou também de ser
. A avalanche de metonímias contrapostas estressara o francês. Sem mais titubear, o loquaz peregrino procedeu a
autoexumação para introduzir em sua mente, e em tudo o mais, milhares de estacas numeradas como prerequisitos à certeza. Obstinado pela própria existência, o destemido do Loir retirava dos seus neurônios a frequência. A morte cerebral se fez consequência. A dúvida merecia o pior destino - era coisa daquele gênio mau, enganador, o famigerado
SATANÁS - e o incauto não supôs que desse modo lhe seria acompanhante, e mais: graças à badalação dos seus sinos, ainda induziria todo o mundo às quinquilharias.
A má tese, ou a má temática, a "quantofrenia", conforme SOROKIN, ou a "aritmomania", como diz GEORGESCU-ROEGENS, condicionou o homo faber a cumprir o padrão de homo mathematicus.
Tornados nessas Regras para Direção do Espírito*, lá se vem trem da perfídia sideral, apinhado de quatrocentões. "As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável."
SKIDELSKY: 140. Destarte, e mercê da sucessão de coincidências,
DESCARTES ainda logra a mais completa rima, atirando a humanidade na insanidade.