domingo, 8 de fevereiro de 2009

A queda da Babel


As instituições mecanicistas baseadas nas estruturas de comando e controle da era industrial dominaram durante quatro séculos o funcionamento das sociedades, determinando a vida econômica, social, cultural, política e demais áreas do conhecimento. Neste início de terceiro milênio, observamos um movimento crescente da diversidade e complexidade das sociedades em todo o mundo e parece estar brotando um consenso de que a atual estrutura hierarquizada de poder das organizações está bem próxima de atingir seu nível de saturação. RIOS, Antônio Salles, http://eracaordica.blogspot.com
A TEORIA DA RELATIVIDADE e a mecânica quântica evidenciaram que as ciências haviam erigido uma Babel. Convocadas àquela inglória empreitada, as "humanas" haviam tornado o ser objeto de programação. No estupendo lapso o poder foi exercido ao gosto dos velhacos e tiranos:
"O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções." (Comuna de Paris, 1871).)
Maquiavel, Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Hobbes, Rousseau, Bentham, Mill, Hegel, Malthus, Darwin, Freud, Comte, Sorel, Keynes e Marx foram as estrelas mais brilhantes da via láctea platônica. A montagem milenar, força concentrada de tamanhas brilhaturas, varou os tempos precipitando os povos à insanidade, desde as peripécias do Tirano de Siracusa* ao obscuro César Bórgia; do galante Cromwell, à sangrenta Revolução travestida democrática, daí ao Corso e às guerras civis e mundiais que se sucederam. Malgrado o linchamento de Mussolini, a bomba atômica, muitos suicídios e o colapso soviético, suas perfídias não se extinguiram; e até hoje impregnam quase a totalidade das constituições, sempre conservadas e até aprimoradas pelo poderoso de plantão.
O que estou tentando mostrar é que a ciência, por causa do seu método e de seus conceitos, projetou um universo no qual o domínio da natureza ficou ligado ao domínio do homem e que ela favoreceu esse universo – e esse traço de união tende a tornar-se fatal para esse universo e seu conjunto.
MARCUSE, Herbert, Uma ciência sem domínio?; Points Seuil, 1970; cit. CHRÉTIEN: 212
Por isso não é de estranhar que muitos universitários ainda imaginem Einstein como uma espécie surrealista de matemático, e não como descobridor de certas leis cósmicas de imensa importância na silenciosa luta do homem pela compreensão da realidade física. Eles ignoram que a Relatividade, acima de sua importância científica, representa um sistema filosófico fundamental, que aumenta e ilumina as reflexões dos grandes epistemologistas - Locke, Berkeley e Hume. Em conseqüência, bem pouca idéia têm do vasto universo, tão misteriosamente ordenado, em que vivem.
BARNETT,
Lincoln: 12.
Isso já perfaz século, todavia. Aqueles falsos brilhantes paulatinamente vão perdendo o brilho emprestado pela própria ciência que outrora lhes oferecia guarida:
A civilização emergente estabelece um novo código de comportamento para nós e nos transporta para além da padronização, da sincronização e da centralização, para além da concentração de energia, dinheiro e poder. Essa nova civilização tem sua própria e distinta concepção de mundo, maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica, e a relação de causa e efeito.
ORMEROD, P: 194
“De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.” (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 96)
Albert Einstein (cit. BRIAN: 253) apreciaria viver nesse espaço:
“A liberdade é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento dos verdadeiros valores.”
A expansão é simplificadora:
“O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.” (TOFFLER, A.: 199)
A velocidade das comunicações, e, por conseqüência, das alterações, as quais já não conhecem tempo, nem barreira, sequer distância, indica que o político tem que ser sua imediata expressão, sob pena de um fim profundamente lamentável, soterrado nos escombros de sua própria morada. Resta-lhe despir-se dos adereços e abandonar o palco ilusionista no qual florescem as ervas daninhas e o podre odor suavizado nas gotas dos falsos ideais.
____________
Nota
* Dionísio (405-367), "aluno" de Platão, "taxava tão pesadamente os cidadãos que, segundo Aristóteles, chegava a confiscar toda a propriedade deles." (PIPES: 281)

Fontes
BARNETT, Lincoln, O universo e o Dr. Einstein. São Paulo: Melhoramentos, s/d.
BRIAN, Denis, Einstein, a ciência da vida. Tradução de Vera Caputo.- São Paulo : Editora Ática, 1998.
NAISBITT, John, Paradoxo global. Tradução de Ivo Korytowski. - Rio de Janeiro : Ed. Campus, 1994.
ORMEROD, Paul, A morte da economia. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. - São Paulo : Companhia das Letras, 1996.
PIPES, Richard, Propriedade e liberdade. Tradução de Luiz Guilherme B. Chaves e Carlos Humberto Pimentel Fuarte da Fonseca.- Rio de Janeiro : Record, 2001.
TOFFLER, Alvin, Powershift: as mudanças do poder: um perfil da sociedade do século XXI pela análise das transformações na natureza do poder. Tradução de Luiz Carlos do Nascimento e Silva.- São Paulo : Ed. Record, 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário