sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Arcos dos tempos


O ano de 1905 assistiu dois estupendos e paradoxais eventos. Na Rússia houve a primeira pavorosa orquestração da massa, movida na faina materialista. Na vizinhança, um indivíduo demonstrava que a matéria era apenas um subproduto da energia; portanto, aquela empresa era sem fundamento, e pior, todo o conhecimento empilhado até então teria que ser completamente reformulado.
Desnecessário aquilatar de que modo ambas manfestações balançaram, de modo indelével, a civilização.

O pontal da bestialidade foi arrombado na
revolta do Encouraçado Potemkim. Para completar o desastre, o Czar promoveu o Domingo Sangrento, dia do massacre dos marinheiros comunistas, mas também da inocente, queixosa e sofrida população daquele pós/guerra com Japão. O governante acelerara o rastro de pólvora contra si mesmo. Logo se formou o criminoso comboio, e nem sequer aquela nova e ainda mais dantesca guerra internacional elidiu sua trajetória; pelo contrário, aproveitando-se da confusão reinante e da exaustão do conflito, em 1917 Lênin perfez o golpe.
Mas 1905 também via desmoronar a "ciência" (mal) calculada. .Em 1919 confirmaram-se os prenúncios. O mero eclipse do sertão nordestino eclipsou tudo o que se conhecia até então, quase de sopino.
O tempo não é único, porque depende do espaço. E o espaço não é estanque, porque depende da matéria nele inserido. Portanto, nada é igual, muito menos absoluto, em nenhum lugar. Não existe a passagem do Tempo. Ele é fixo, tanto quanto o espaço. Nos é que passamos por ele, tanto quanto a luz que cruza a atmosfera.
Naquele lustro do XX, dois petardos fizeram ruir a torre do blá, blá blá.
O primeiro approach já mudava radicalmente todos os conceitos da ciência. Através do discreto título Sobre a Eletrodinâmica dos Corpos em Movimento Albert Einstein elencava as anomalias aferidas nas medições da forma e velocidade de deslocamento da luz , além de especulações sobre as influências e potencialidades energéticas, de certo modo já assinaladas pela Teoria Quântica, de Max Planck (1828-1947).
O segundo tiro levou o nome de Teoria Especial da Relatividade, justamente cognominada Especial porque Einstein pensava não poder aplicá-la, num primeiro instante, ao geral, no completo, em tudo, pelo insólito motivo: a luz insistia, independentemente de qualquer movimento da fonte emissora, conservar exatamente a mesma velocidade de partida e de deslocamento. Em outras palavras, a velocidade da luz não é relativa ao corpo donde ela se despreende e isso a incompatibilizava com a hegemonia proposta. Intrigava-se o iluminado cientista. Que vetor, per se, transformar-se-ia em “estado da matéria” (1) e não matéria em si mesmo?
Lei do Movimento Browniano (a dança das partículas de pólen em suspensão na água, fato capaz de balançar os céticos do atomismo), Teoria Quântica dos Raios e a Identidade da Massa e da Energia foram trabalhadas na seqüência, sendo que a última saía à cata de algo que fosse responsável por aquele incrível deslocamento da luz, em “flutuações” que percorrem o campo eletromagnético com freqüências altíssimas e variadas, entre quatrocentos a setecentos trilhões de ondas por segundo (2). Einstein aceitou a exceção. E a Teoria Especial da Relatividade passou a ser chamada Teoria Geral da Relatividade; ou, simplesmente, Teoria da Relatividade, “a maior obra de síntese do engenho humano até os dias de hoje”. (BRIAN, D., Einstein: a ciência da vida: 473)
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O Fio-de-Ariadne

No meado do XIX, precisamente em 1845, o astrônomo Le Verrier (3) alarmara a comunidade científica com narração de estranho fato - o planeta Mercúrio apresentava sutil irregularidade em sua órbita elíptica, no periélio, alternando o momento de sua elipse em relação ao sol por vagarosos deslocamentos. A explicação contemplava uma eventual ação de uma imaginário produto de uma força, dialética pertinente à “guerra” do magnetismo interplanetário, o jogo de “atração/repulsão”, batida verificação dialética oriunda do obtuso pensamento platônico. O desvio apresentava 532 segundos de arco por século. O avanço medido, todavia, era de 574", restando 42" percorridos que não encontravam justificativa. Einstein veio com a resposta: sua lei de gravitação dava a chance à discrepância. O eclipse solar de 29 de maio de 1919 simplesmente confirmou o acerto da hipótese.
Coberto pelas fotografias, deleitou-se o espirituoso cientista:
Agora que se demonstrou a exatidão da minha teoria da relatividade, a Alemanha vai proclamar que eu sou alemão e a França vai declarar que eu sou cidadão do mundo. Se se provasse a falsidade da minha teoria, a França diria que eu sou alemão e a Alemanha declararia que sou judeu.
EINSTEIN, Albert, cit. THOMAS, Henry & THOMAS, Dana Lee, A Vida do Grande Cientista, TRATTNER, Ernest B.: 64--
O tempo não é curto; é curvo

Além de sublimar antagonismos, evitando as estéreis emulações dialéticas, Einstein fez retornar à constelação científica sua estrêla d´Alva, a “hipótese”, apagada nas nuvens desde Bacon. O carrasco da natureza especulava:
É preciso procurar se há uma espécie de força magnética, operando entre a Terra e as coisas pesadas, entre a Lua e o oceano, entre os planetas, etc..
BACON, Francis, cit. VOLTAIRE,
Vida e Obra, Cartas Inglesas
: 19
Einstein o satisfez, sem procurar, sem precisar enxergar, ou sequer medir. Aliás, não é a força que atrai os corpos à Terra. E o espaço é curvo. O que? O espaço é curvo nas vizinhanças da matéria. Quanto maior a massa, maior é a curvatura. É esta distorção, criada em volta da matéria, que forma o contínuo espaço-tempo.
John Wheeler (cit. ROHMANN, Chris: 345) bem sintetizou:
“A massa informa ao espaço como se curvar; o espaço informa à massa como se movimentar.”
Trattner (Einstein por ele mesmo - A vida do grande cientista: 43) comenta e explica:
Foi em conseqüência disto que Einstein predisse que os astrônomos verificariam uma curvatura dos raios estelares na proximidade do Sol, sendo ela maior junto à borda do grande orbe solar e diminuindo com o afastamento, até se tornar nula. É a curvatura do espaço, e não a suposta força da gravidade que faz o projétil cair no chão depois de descrever uma trajetória curva. A própria idéia da redondeza da Terra - e da curvatura de sua superfície - é um tanto recente. Foi preciso muito tempo para que a humanidade viesse a reconhecer esta verdade. Por que? Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida. Por aí se vê que a Terra é ilimitada, porém não infinita.
Descreve-nos Asimov (Para Compreender a Relatividade, in TRATTNER, Ernest B.: 127) :
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Einstein elaborou um conjunto de equações para
demonstrar que se não houvesse matéria em parte alguma,
nem gravitação, um corpo em movimento se deslocaria
em linha reta. Havendo matéria, o espaço circundante se
deforma e o corpo em movimento segue uma trajetória curva.
..
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A Expansão (liberal) do Universo

Várias pesquisas demonstram que o caos consegue surgir até na mais simples das situações; por exemplo, quando só três partículas estão interagindo. Isso demole o mito secular da previsão e do determinismo e com ele a idéia de um universo de mecanismo de relógio. Se o passado é fixo, e o futuro permanece aberto, redescobriremos a flecha do tempo.
COVENEY & HIGHFIELD, A flecha do tempo: 31
Todos os tempos permanecem abertos, na verdade. O Universo é expansionista, por isso necessariamente liberal, tecido na infinidade de partículas complementares. A redescoberta da flecha do tempo, portanto, é impossível: ela não existe! Ou por outra, não é única. Nós é que passamos pelo tempo. Da janela do trem você pode dizer que há uma sucessão de paisagens, mas elas estão lá, estáticas, enquanto o trem as ultrapassa. Por isso é que infelizmente somos nós, e não o tempo, que nos desgastamos, tanto quanto o trem, e não a paisagem, que é ilimitada. Vamos perdendo energia ao longo da travessia.
Dessarte, são tantas flechas quanto o número de átomos siderais:
"Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (LÈVY, Pierre, cit. PELLANDA e PELLANDA: 118)
Outrossim, no "espanto" da Gravidade a simples presença de qualquer corpo, ou massa, altera o ambiente; e, como tal, a flecha almejada.
O ultrapositivista Pontes de Miranda (cit. MOREIRA: 103) superou os próprios preconceitos, e conclamou:

O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar.
Há oriente individual, mas no processo inflacionário não cabe uma direção, a proposta universal. Que me perdõem aqueles renomados pesquisadores, cujo best-seller me rendeu um manancial de subsídios. Como disse, não há flecha do tempo, mas arcos dos tempos. O futuro se expande em todas as direções, como a crosta de um balão submetido a enchimento. Sequer o passado pode ser considerado fixo: conforme a interpretação, a quantidade de dados coletados, de vetores observados, ele é alterado, e a própria História por isso se faz controversa. Como a verdade não pode ser una, porque não existe apenas um corpo, posto vários presentes, nem o álibi do engano, ou da deficiência, pode amenizar a rude parcialidade de qualquer retroprojeção. De todo modo, se entendermos o tempo como um percurso no espaço, e não dele, fica fácil supor a viabilidade de um tour, ao norte ou às pradarias, ainda que de restrita valia. Passado e futuro, pois, são apenas meras e arbitrárias demarcações, projetadas na presente necessidade do homem de dar sentido à própria existência. O tempo não passa, e esta é a razão da eternidade.
Se ela não muda, nós, pelo menos, podemos. We can change. I hope!
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Notas
1. "O movimento da onda, observado, é o de um estado de matéria e não matéria em si."
Einstein Albert e Infeld, Leopold, A evolução da Física, p. 87.
2. Fillipi, Marco Antônio, O maior cientista do Século XX, em Trattner, Ernest B.:115.
3. Urbain Jean Joseph Le Verrier (Saint-Lô, 11 de março de 1811Paris, 23 de setembro de 1877) matemático e astrónomo francês especializado em mecânica celeste. Tornou-se conhecido pela contribuição à descoberta do planeta Neptuno

Um comentário:

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