quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Os graves prejuízos do mau-juízo darwineano



Se me perguntarem qual é a minha convicção mais íntima o nome que será dado a este século,  se será o 'século de ferro', 'do vapor' ou da 'eletricidade', responderei sem hesitar que será chamado o século da visão mecânica da natureza, o século de Darwin. BOLTZMAN, Ludwig, Populare Schriften Essay 1, theorethical physics and philosophical problems: 15; cit. COVENEY, P. & HIGHFIELD, R.: 135
O venerado permanece em cartaz:
Nascido no século 19, Charles Robert Darwin é o cientista mais conhecido e reconhecido no século 21, superando em notoriedade gigantes como o físico inglês Isaac Newton (1643-1727), o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) e o físico alemão Albert Einstein. RIOS, R. I., Depto. de Ecologia - Inst. Biologia - UFRJ - www.cienciahoje.uol.com.br
Nunca se vendeu tanta notícia sobre a origem das criaturas. Museus andam engalanados, e o turismo resplandece. Hotéis, transportadoras, bares, restaurantes, casas noturnas e governos agradecem. Trata-se de uma evolução natural produzida por fama artificial, mas neste caso nem vem ao caso. Encontros são sempre reconfortantes, tanto aos partícipes, como aos anunciantes e seus apoiadores.Todavia, o fulcro contém o dna da discórdia, da destruição como objeto, não como meio ou condição primária. Ele presume a concorrência vital, a competição, a comparação, o ganho e a perda. É espartano. É platônico; portanto, ficcional.
A biologia darwinista, quer em sua versão original bruta é determinista (a sobrevivência do mais forte), quer na versão neodarwinista com ênfase na evolução aleatória tem pouco a nos dizer acerca do porque de estarmos aqui, de como nos relacionamos com o surgimento da realidade material e muito menos a cerca do propósito e significado de qualquer evolução da consciência além da conclusão muito simples e utilitária de que a consciência parece conferir alguma vantagem evolutiva.  FEYNMAN, Richard P., cit. GLEICK, J.: 182
Se tal capricho ficasse circunscrito às estéreis discussões metafísicas, às incontáveis contradições bíblicas, se ele se colocasse apenas como uma alternativa religiosa justamente por propugnar a não-religiosidade e se ativesse somente no âmbito desse eixo, essa celeuma até poderia incorporar grandes exércitos, mas apenas ideológicos, como de fato assim tem acontecido. Tais discussões são de fato divertidas. Mas a "seleção natural" extrapola as concepções eclesiásticas e biológicas, indo encontrar abrigo no Direito, na Economia, na Sociologia, e em várias outras disciplinas. Por fim, o juízo darwineano compôs a justificativa, a mais útil munição aos massacres do século XX. Os resultados desta sapiência incutida e generalizada às medições de forças podem ser estipuladas pelos caracteres numerais:
"Os estados foram responsáveis por mais de 200 milhões de mortes cruéis apenas no século XX" (
A tentativa de construção, e o conjunto de técnicas que facultaria ao estatolatra moldar o tipo de sociedade que dispõe ideal, ipso facto em perpectiva antropológica, costuma perder seu sentido simplesmente diante da rebeldia metafísica da consciência humana. O Duce virou azeite de formiga, pendurado de cabeça para baixo, num posto de gasolina de uma praça de Milão, e as pedras do muro selaram o túmulo do mais famoso barbudo.
Poder-se-ia argumentar que a teoria atômica também foi responsável pelo descalabro, e nem por isso ela é desautorizada. Certo. Contudo, o que a bomba atômica provou é a existência e a potencialidade do átomo, enquanto as consequencias nazistas e comunistas demonstraram justamente que o darwinismo contém o germe da falsidade científica e ideológica.
A invenção criacionista e a creação de Wallace encampada por Darwin são desprovidas de fontes e objetividades. Nenhuma é provável. Crianças não deveriam ser molestadas.
* * *
As toscas concepções são adaptadas à física conhecida naquela época:
A natureza toda se transformou em um palco de impulsos e atrações, de dentes e alavancas, de movimentos de partes ou de elementos aos quais eram diretamente aplicadas às fórmulas de movimentos produzidos por bem conhecidas máquinas.
DEWEY, J.: 87
O edifício de Darwin ainda combinava com a grande maioria das obras políticas:
Toda a teoria darwineana da luta pela existência é simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da teoria da população de Malthus.
WALLACE, A.R. & YOUNG, R., Sciences studies, 1971: 184; cit. JAPIASSÚ, H. 1978: 56.
Isso a tornou digna de todo o crédito, mas não só isso. Como a mater, o princípio da sobrevivência do mais apto exigiu que as ciências humanas, em especial a sociologia, a filosofia, o direito e a economia, considerassem o princípio hegemônico, base onde se ergueriam as mais modernas edificações sociais.
Afinal, o que não aprende o homem, quando o elefante,
submetido a treinamento, vira acrobata, o urso fica
saltador e o asno dá-se em espetáculo?

ERASMO DE ROTERDÃ, De Pueris: 53
As constatações político-científicas, previamente colocados no fogo antagônico de Hegel, diante da escassez de recursos anunciada por David Ricardo, tendo a teoria da superpopulação alardeada por Malthus, bem como suas predições para salvar (?) a humanidade somados ao arsenal teórico justificante dos embates pela sobrevivência, de Darwin, no âmbito biológico, e de Marx, no âmbito "social", compuseram generosa carga para todos os sentimentos bélicos, de Bismarck a Lênin, de Mussolini a Hitler.
Quando o próprio mundo físico ainda não foi completamente sistematizado, pressupor ou 'descobrir' um sistema na História, sem os meios e a liberdade que a vida toma é não pensar nem como cientista nem como historiador. É de fato uma tentativa de remover dificuldade da história ao preço da destruição do seu único mérito e interesse.
HAYEK, F., Os erros do socialismo - A Arrogância Fatal: 76

* * *
Herbert Spencer (1820-1903) e Albert Schäffle (2) aceleraram o extenso comboio da insensatez. Principles of Sociology (1. vol, 1876) desenvolvem um paralelo entre a organização e a evolução dos organismos vivos e das sociedades; Social Statics fora publicado nove anos antes da Origem das Espécies, e The Man versus State veio em 1884.
Spencer (cit. SCHWARTZENBERG, R.-G: 143) mesclava a tradição racionalista dos economistas clássicos com a versão moderna da natureza - a evolução (3). Tal como Mill e Hegel, Spencer carreou ao liberalismo uma “inteligível confusão.” (SABINE, G.: 699)
Para completar, o extraordinário professor polonês Ludwig von Gumplovicz, utilizou esses conceitos em Die Sociologische Staatsidee (1892). O próprio Estado seria um produto social desse tipo de evolução, aperfeiçoado pela competição e pela luta nos embates tribais, firmando a hegemonia dos mais aptos, prisma igualmente aferido por Schäffle. (5) Em The Growth of Biological Thought, o grande biólogo Ernst Mayr critica esse essencialismo platônico, germe do idealismo de sua Alemanha. Não interessava. As relações sociais passaram a ser observadas pela “tal” lei de sobrevivência, entendida “lei do mais forte”, ou se preferir, "mais adaptável":
Depois de ter sido incorporada por Charles Darwin como uma metáfora para ilustrar o mecanismo evolutivo das espécies biológicas, foi reincorporada por sociólogos como uma confirmação oferecida pela história natural dos processos que atravessam a história humana'.
SCHWARTZ, J.: 57.

O sociólogo francês Durkheim proporciona um exemplo típico deste método que abandona gradualmente a esfera do conhecimento psicológico causal e penetra a das considerações ético-políticas ou jurídicas. Também ele insiste em estabelecer a sociologia como uma ciência natural, orientada segundo as leis da casualidade.... que 'as manifestações sociais são fenômenos naturais e, como tais, estão sujeitas às leis da natureza'.
KELSEN, Hans, (1881-1973) A Democracia: 331
* * *
O entendimento de que “da guerra da natureza, da fome, da morte, forma-se o mais nobre objeto que somos capazes de conceber: a produção de animais superiores” o menos avisado pensaria ser discurso nazista; porém, assim não o é. Esta eloqüente frase foi proferida pelo parente símio, nosso Charles (cit. CARVALHO, E.M.M.: 21).
O trem da alienação desceu a ribanceira, em desenfreada carreira. Tal como se vê na nuvem o desenho que se quer, a “força-maior” biológico-determinista encaixou no estudo de todas as ciências humanas. No parâmetro da nova moda, o universo social passou a ser descrito em ordem uniformemente acelerada. A esquerda “festiva”, por seu maior porta-voz, dedicou a edição inglêsa de O Capital ao autor da Origem das espécies:
“O livro de Darwin é muito importante e me convém como base da luta histórica das classes.” ( MARX, K., cit. JAPIASSÚ, H., 1978: 60)
Darwin recusou a homenagem, simplesmente por não entender o que teria a Seleção Natural a ver com o Socialismo. Na verdade era uma falsa modéstia. A expressão “podemos lançar um olhar profético ao futuro e ver que as espécies pertencentes aos grupos maiores e dominantes dentro de cada classe é que finalmente prevalecerão e darão origens a novas espécies dominantes” traduz a que se opõe o discurso dialético-comunista, mas é de Darwin (cit. CARVALHO, E.: 21) a autoria.
Reafirma o jurista Miguel Reale (p. 223):
“Alguns postulados fundamentais caracterizam a filosofia marxista: o primado do real sobre o ideal, a admissão da teoria evolucionista de Darwin, a concepção materialista da historia, a dialética hegeliana revisada.”
(Marx tanto se valeu do antropofágico curso que Turati e Kautsky ( cit. HAYEK, F.A: 83.) o identificaram como o “Darwin da ciência social”.
Acima dos conflitos, além do “bem” e do “mal”, pois, a teoria darwineana incitou a presença decisiva e protetora dos paladinos despóticos, do príncipe de Gramsci, ao reinado de Stálin.
Thomas Mann (cit. RICHARD, L.: 248) logo saudou a poderosa reunião da raça germânica. Seguiu-lhe, a partir de Darwin, Ludwig Woltmann (cit. JOHNSON, P.: 98):
“A raça alemã foi selecionada para dominar a Terra”.
Johnson (p. 4) complementa descrevendo a "meritosa contribuição":
“A noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo”.
Robert Downs (p. 8) já no início de sua magnífica obra confirma:
“Consciente ou inconscientemente o Mein Kampf, de Hitler, deve muito a Maquiavel, Darwin, Marx, Mahan, Mackinder e Freud.”
Downs ainda esqueceu do primordial Mussolini, mentor da hipócrita Carta del Lavoro, disseminada pela metade do globo.
A partir da direção do patrono comunista, nova leva embarcou no trem. Joseph Needham, (cit. HAYEK, F.A.: 83) em 1943, foi um dos arrastados:
A nova ordem mundial de justiça social e da camaradagem, o estado racional e sem classes, não é um desvairado sonho idealista, mas uma extrapolação lógica a partir de todo o curso da evolução, que não tem menos autoridade do que aquela que o precedeu é portanto de todas as crenças a mais racional.
Needham igualmente cometeu redondo engano, teórico e prático. Não se trata de programação ordenativa, de tática, de imposição:
“Em resumo, a evolução é um desdobrar-se de uma ordem interna existente. Mas, por ser ela inteligente e não um processo mecânico, há espaço aberto para variações criativas e respostas individuais às circunstâncias ambientais." (LEMKOW, A.: 174)

* * *
O falso sentido dialético baconiano-darwineano, entretanto, ainda se presta a extenso aplicativo:
A analogia sobre a crise financeira serve para mostrar que as teorias de Darwin - agrupadas no que se convencionou chamar de 'darwinismo' - foram mais longe ainda: extrapolaram os limites da biologia e colonizaram outras áreas da ciência, influenciando várias esferas do pensamento humano. Mais até do que uma analogia, a evolução por seleção natural é um elemento crucial da teoria econômica moderna, segundo o economista José Eli da Veiga. 'A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo. E a economia é certamente um sistema evolutivo', afirma Veiga, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.
Estadão, 8 de Fevereiro de 2009
O falso diagnóstico só pode acarretar os piores remédios.
A idéia errada de que vivemos num mundo de recursos escassos tem feito mais que impedir a maioria das pessoas a atingir o sucesso econômico. Ao longo dos séculos esta visão negativa de escassez do mundo tem sido responsável por guerras, revoluções, estratégias políticas e sofrimento humano de imensas proporções.
PILZER: 14
Então os mosqueteiros puxam suas espadas protecionistas, nacionalistas, defendendo o que absolutamente não está sendo atacado, com isso ampliando os furos pelos quais são responsáveis:
****
Ken Wilber (Up From Eden: A transpersonal view of human evolution: 304; cit. LEMKOW: 178) não permitiria que este fantasma fosse forte para selar o destino de todos:
“A teoria científica ortodoxa da evolução parece correta quanto ao 'quê' da evolução, mas é profundamente reducionista e/ou contraditória quanto ao 'como' (e porquê) da evolução.”
As palavras de Dorion Sagan (cit. DAWKING, R.: 288) igualmente apontam para a possibilidade de uma solução mais compatível com nossa espécie, não de acordo com Hobbes, ou Rousseau, mas com Locke e Smith:
A seguir, a visão da evolução como uma crônica competição sangrenta entre indivíduos e as espécies, um desvirtuamento popular da noção de Darwin da 'sobrevivência dos mais aptos', dissolve-se diante de uma nova visão de cooperação contínua, forte interação e dependência mútua entre as formas de vida. A vida não conquistou o globo pelo combate, mas por um entrelaçamento. As formas de vida multiplicaram-se e tornaram-se complexas cooptando outras, e não apenas matando-as.
De fato, a mais moderna ciência labuta com a metodologia que lhe é compatível:
Quando você compreende a requintada coexistência de opostos, entra em alinhamento com o mundo da energia, o caldo quântico, a substância imaterial, que é a fonte do mundo material. O mundo da energia é fluente, dinâmico, elástico, mutável, eterno movimento. Ao mesmo tempo é imutável, quieto, tranqüilo, silencioso, eterno repouso.
CHOPRA, Deepak
, As sete leis espirituais do sucesso: 23
A idéia cerne de Maquiavel, Hobbes, Lamarck, Malthus, Hegel, Darwin, Bentham, Marx e Sorel é furada. Que dirá seu transplante à sociologia:
Não é a adaptação bem sucedida a um dado ambiente que constitui o mais notável formador da vida, mas a teia de processos ecológicos em um sistema ambiental que forma os padrões psicológicos e comportamentais, os quais podem apoiar-se na genética. A evolução acontece não como resposta às exigências da sobrevivência, mas como um jogo criativo e necessidade cooperativa de um universo todo ele evolutivo.
LEMKOW, A. F.: 183
We can change. I hope.

Aprecie:

200 anos de Darwin. Para inglês ver.

__________
* Boltzmann defendeu o mesmo ponto de vista na palestra sobre a Segunda Lei da Termodinâmica, proferida em 1886, num festival da Academia Austríaca de Ciências.


Nenhum comentário:

Postar um comentário