domingo, 6 de julho de 2008

A patologia da Medicina

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A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, e a teologia pecadores.  Martinho Lutero 
Curiosamente, o trio elencado por Lutero provém de ascendência comum. Nosso tema examina o patamar da medicina. Trata-se de uma ciência deveras hermética, privated club dos iniciados, mas pelo elevador da Filosofia podemos lograr êxito à ousadia. Embarcaremos no térreo, na sala de parto. Antes, contudo, uma volta pelo saguão, onde se põem algumas boutiques que encaminham à loja âncora.
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Todos temos obrigação de cumprir as leis. A ninguém é dado desobedecê-las, sequer alegando desconhecê-las. Mesmo entre analfabetos, não há quem ignore o significado da justiça. É certo que sua designação é impossível, Do conceito de justiça*, mas na prática não importa. Direito é "bom senso", dizem, e com isso qualquer fato é imediatamente julgado pelo transeunte.
Também são triviais as aferições sobre projetos de Engenharia, e mesmo da Odontologia. São de plano notáveis os resultados.
Já a Economia Economia & Interdisciplinaridade requer uma visão mais holística; e mesmo assim, jamais será capaz para depurar a quantidade infinita de vetores incidentais. Quanto mais planejada, mais longe da cientificidade almejada. Seus preceitos e projeções são via-de-regra improváveis - demanda tempo à constatação de qualquer certeza, e apesar do decurso, e da experiência, sói vingar o ceticismo. Não por acaso é taxada "triste ciência."
De Sociologia ninguém entende, e nem interessa. Deu pra ti, Sociologia!
Somos indivíduos; portanto, ela nada tem a ver com o ser.
À fundamental Medicina, contudo, reserva-se um Pantheon, inacessível ao comum vivente. Letras de médicos são como hieroglifos; os dados e intrumentos produzidos pelos laboratórios apenas ultraespecialistas conseguem decifrar. Pelo hermetismo adotado, a ciência medicinal, quiçá a mais importante à humanidade, permanece há muito estagnada, por isto em retrocesso, especialmente se a confrontarmos com a Física moderna, que deveria ser seu diapasão. Reexames em faculdades de medicina
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Pathos
Este é o termo que justificou o nascimento da prática medicinal. O homem haveria de encontrar meios para combater o mais terrível adversário, aquele que adentra no corpo de modo sutil, imperceptível, para logo prostrá-lo, e geralmente de morte, se não defendido. Dessarte, a patologia constitui o tronco, a principal estrada pela qual nosso detetive irá vasculhar, no fito de primeiramente pilhar, para depois eliminar o intruso que desestabiliza a saúde.
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Pharmakon
Ele foi instituído para reestabelecer a harmonia do ser humano, ardilosamente dividido entre corpo e alma pela doutrina órfica. O método terapêutico desenvolvido, no afã de ascender à cientificidade, prima por manter a separação. Bruxos, duendes e sacerdotes foram há muito banidos da função. Em praticamente todas as ciências, mas em especial na medicina, não cabe o que não pode ser mensurado; não se cogita o que não pode ser medido. Dessarte, a felicidade a maior razão do ser, é paulatinamente obscurecida, tornada desprezível, nem vem mais ao caso. Por mais indeterminado que o objetivo possa ser, contudo, era esta (eudaimonia) a meta pela qual os atenienses mais se debatiam, da filosofia à medicina, da justiça à engenharia, da persona à ciência política, e do cosmos ao átomo, por Aristarco, mas não por Platão.
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A numeração do ser
Depois da maçã, vestimos preto-e-branco, em listas horizontais, e devidamente numerados.
Daí a Platão (428-347 a. C.) foi apenas um lapso:
“Em Atenas, Eurípedes e Platão foram acusados de roubar idéias de outros autores e filósofos.” (Cits. Burke, Peter, A propriedade das idéias, tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves; Folha de São Paulo, 24/6/2001, p. 16.)
Uma das vítimas foi Pitágoras.
Na ânsia pelo que entendia como "conhecimento puro" Platão não hesitou em condenar o que não pudesse ser determinado, o mundo sensível. A famosa estorieta da caverna objetiva realçar a necessidade da educação ótica. A paidéia tinha esta incumbência: (de) formar o espírito científico, portanto, desprovido de emoções e sentimentos. Contrapunha-se à turma da alatheia, a qual privilegiava a intuição. Para arrancar o pimpolho do devaneio, era necessário "não só virar a cabeça", mas sobretudo conceder ao educador a prerrogativa da violência para torná-la. En passant, neste aspecto a escola francesa jamais titubeou:
“Os mestres-escolas da França são especialistas em pancadaria. Quando questionados a respeito, respondem que aquele povo, tal como dizem dos frígios, só se corrige a pauladas” (Erasmo de Roterdã, De Pueris, p. 70)
Infelizmente foi deste talentoso rincão que a medicina brasileira colheu a inspiração, e isso abordarei amanhã, prometo.
Para o conhecimento exato, nada melhor do que os números. Eis o liame entre o pecado, a doença e a tristeza, assinalados por Lutero:
Em conseqüência, tanto o platonismo quanto o cristianismo distanciam os seres humanos do meio que os rodeia. A natureza e a experiência eram encaradas como o mundo das modificações perturbadoras, o mundo do erro e do caos. Para o cristianismo, a dúvida e a incerteza são obra do diabo.
(Zohar, D., 2000, p. 188.)
Um flagrante traço pitagórico resplandece no seio da academia medicinal. A posologia nada mais é do que o exercício da arte da medida. Tanto a bu(r)la platônica como o esteio aristotélico tem o metron como baliza. Diversos texto platônicos, e em particular Górgias, exaltam a linguagem numeral. Epinomis, prescreve:
"A ciência dos números, dentre todas as artes liberais (?!) e ciências contemplativas, (ou seja, apenas especulações, isentas de responsabilidade porque improváveis) é a mais nobre e excelsamente divina."
Ao ser indagado por qual motivo o homem se diferenciava dos animais, o sapiente foi categórico:
"Porque sabe lidar com números."
Se atentarmos que a águia para pegar sua presa, ou o macaco para voar pelos cipós não requerem nenhuma conta antecipada, torna-se flagrante nosso rebaixamento.
Poetas, pintores e letrados foram expulsos de sua catedral. A mente (capta) do ex-secretário do Tirano de Siracusa tinha sido moldada por Sócrates, para quem o objeto da pintura era a reprodução (mimesis), não a criação.
Platão o reproduziu, mas para este amante de espartano o artista não passava de um mau imitador, forte para compor simulacros; e a poesia tornava o ser excessivamente eufórico, ou triste, de modo que arruinava a cidade por iludi-la sobre um palco de paixões.
Amathia é o cego que supõe vêr, e as artes contribuem para enganá-lo. "São dolosas, por se valerem de caricaturas."
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As exumações dos objetos e as subsequentes classificações envolvidas por ordenamentos numéricos se impuseram por gloriosas coincidências, também muitos ardis, pelo triunfo das superficialidades, e por falta de imaginação:
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral.
(Gleiser, Marcelo, p. 164)
Até o advento das fundações científicas, as doenças eram combatidas por sacerdotes, curandeiros, feiticeiros, bruxos e alquimistas. Julgava-se que a invocação ao espírito seria forte para extirpar o sofrimento mais intenso da humanidade. Deus, principalmente, sempre foi invocado, e até hoje, a julgar por inúmeros depoimentos, parece ter nesta tarefa sua principal função. Então, quando a peste assolava pelas pradarias, os sacerdotes convocavam o povo para se reunirem nas rezas. Como resultado, a praga se disseminava a plena velocidade.
Quando Copérnico e Galileu demonstraram que não tínhamos assim, tanta importância para Ele, que não éramos mais o centro do Universo, mas que Deus o havia composto como um engenheiro, com tudo melimetricamente calculado, em perfeito ordenamento, o homem, à Sua imagem e semelhança, também partiu a tudo calcular.
Platão, que já abiscoitara a revanche com Maquiavel, ora lograva a porfia decisiva no aval da formidável plêiade mecanicista que se imiscuiria, a partir de então, por quase todos os ramos da ciência; dentre os quais, a medicina. A cabeceira cartesiana da medicina
Este tipo de evolução científica se acelerou no primeiro quarto do XX, a tempo de preceder as maiores atrocidades já cometidas à civilização. Positivismo Lógico: a festa da ilusão
A comunidade já vislumbrava muito além da miragem, e o positivismo, pelo menos na Física, saiu de fininho. A medicina, contudo, como as ciências políticas, permanece enredada no material:
O Ministério da Educação anunciou fechar o cerco sobre os cursos de medicina. A intenção do rigor foi tornada pública após denúncias e protestos da Associação Paulista de Medicina (APM), da Associação Médica Brasileira (AMB), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do conjunto das sociedades de especialidades.
O preço tem sido caro, a todos:
O número de processos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça triplicou nos últimos seis anos. Em 2002, o STJ recebeu 120 recursos em ações por erro médico. Neste ano, até o final do mês de outubro, já eram 360 novos recursos autuados por esse motivo, a maioria questionando a responsabilidade civil do médico. As informações são da Assessoria de Imprensa do STJ.
Os doutores necessitam urgente socorro, para poderem nos salvar:
Os médicos precisam ficar em dia com a própria saúde. Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizada com 7.700 profissionais, revela que quase metade deles apresenta quadro preocupante de transtornos psicológicos. Quarenta e quatro por cento sofrem de depressão ou ansiedade. E a grande maioria, 57%, tem estafa e desânimo com o emprego.
(Estadão, 21/6/2008)
Como a doutrina é colocada em suspeição pelos próprios executores, talvez convenha qualquer cabo estendido, ainda que por leigo. Pela carência de outros elementos, ele pode ser útil; ou, pelo menos, por certo, não atrapalhará. Vou buscar mais algum, no paiol da Nav's ALL.
Enquanto isso, aprecie:
A cabeceira cartesiana da medicina
Do dano positivista à medicina
A importância da solidariedade na medicina

Um comentário:

  1. Oiii tudo bem??!?
    Olha eu aki dando trabalho auhauhauhuahauhaua...tudo jóia aii??? Oxiiii gostei desta frase "a matemática, pessoas tristes" so que tinha q acrescentar mais uma coisa..."a matemática, pessoas tristes e loucas" ahuahuuahuahauha
    Bjosss :P

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