domingo, 28 de outubro de 2012

O caráter ideológico das leis trabalhistas - 1/3 - O amparo darwinista

Herdam-se as leis e os direitos em profusão. Como uma eterna doença que segue sem parar, elas se arrastam de geração a geração, e se vão suave de lugar para lugar. Bom senso torna-se bobagem; benefício, tormento. Mefistófoles, in GOETHE, Fausto: 65
 O Manifesto Comunista incendiou a Europa inteira, por século a fio.  Desde Adam Smith se criara enorme proletariado, náo propriamente pela economia liberal adotada, mas por causa da Revolução Industrial. Na época do escocês existiam também grandes fortunas, mas havia pouco para comprar. A rigor nem o dinheiro, tampouco o status diferenciavam tanto assim os habitantes, Agora um homem  chegava na cidade e podia escolher, entre uma infinidade de ofertas, onde e como gastar, de que modo se divertir. Marx lograva hegemonia desprovido de adversário. Claro, a quase totalidade dos europeus não concordava com o postulado,, mas simplesmente porque tal solução não lhes interessava, não porque a vissem incorreta. Até mesmo os capitalistas se obrigavam a reconhecer que a tese de Marx espelhava a mais pura realidade. Ninguém se dava conta da sua construção por dialética - per se suscetível de discussão:
"Sejam quais forem os atrativos das descrições dialéticas de certos períodos da história, não podemos deixar de pensar que a diversidade dos acontecimentos e dos homens não se ajusta assim tanto a este esquema. O salto da antítese para a síntese aparece muitas vezes como arbitrária." (GRANGER, G.-G.: 99). "O dialético degrada a inteligência de seu antagonista. Só se escolhe a dialética quando não se tem mais nenhuma saída." (NIETZSCHE, 2000:20)

Tirante raros meteoritos, contudo, não havia algum expoente da Economia para de imediato refutar a elucubração marxista, que dirá  ela vindo com Filosofia, Ciências Naturais, ou Biológicas, até a Fisica, interligadas. Fazendo as contas malthusianas e darwineanas, a equação marxista não tinha erro: os proletários se multiplicariam exatamente pelas contas do dito reverendo; e os operários, os menos aptos, por não deterem os meios-de-produção, tenderiam a desaparecer. Se alguém iria morrer de fome, jamais seria quem detivesse os meios-de-produção. Como contestar a obviedade?  Em terra de cego basta um olho para ser rei, ou ladrão. .
A asserção de que o marxismo-leninismo, ideologia basilar da União Soviética, tinha alguma coisa a ver com a verdadeira ciência foi um puro artifício retórico, um dos maiores logros deste século, embora propaganda deste tipo fosse ensinada a todas as crianças dos países comunistas. DESCAMPS: 139
De plano foi Malthus quem mais impressionou, conferido pela devastação napoleônica: No Ensaio sobre a população, (1798), Malthus assegurava que a natureza prescrevera limites inflexíveis ao progresso humano no que toca à felicidade e à riqueza, de modo que se não houvesse guerras e epidemias o povo morreria de fome.  Darwin logo veio emprestar conotação cientifica às estatísticas malthusianas.
Toda a teoria darwineana da luta pela existência é simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da teoria da população de Malthus. (A.R. Wallace & R.Young, Sciences studies, 1971, p.184; cit. Japiassú, 1978: 56)

Quanto a Darwin, ele se arranjou por meio de laboriosas ‘negociações’ teóricas, manipulando como podia as definições e os conceitos. O essencial é ver essas manobras como elas eram, em seu contexto, com seus lados bons e seus lados maus; e, depois disso, não procurar dissimulá-las com elogios superficiais ao 'gênio' darwineano'. THUILLER, P.: 210
A civilização se mantém embarcada na quimera.


 A analogia sobre a crise financeira srve para mostrar que as teorias de Darwin - agrupadas no que se convencionou chamar de 'darwinismo' - foram mais longe ainda: extrapolaram os limites da biologia e colonizaram outras áreas da ciência, influenciando várias esferas do pensamento humano. Mais até do que uma analogia, a evolução por seleção natural é um elemento crucial da teoria econômica moderna, segundo o economista José Eli da Veiga. 'A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo. E a economia é certamente um sistema evolutivo', afirma Veiga, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Estadão, 8/2/2009.
Essas postulações mutuamente reforçadas tornaram a desgraça receptiva, dentro da normalidade. "A tentativa de impor uma verdade universal provocou desastres no domínio social e levou a formalismos vazios combinados com promessas que nunca serão cumpridas nas ciências naturais. " (FEYERABEND, P.,  Adeus à razão: 77
"Se rebobinássemos o filme da evolução e reencenássemos o processo mudando alguns detalhes do início, seriam grandes as chances de não chegarmos a nada parecido com a inteligência." (Vida inteligente)
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