A classe política brasileira faz piquenique na beira do precipício.
LUCIA HIPPOLITO, O Globo, 20/4/2009
É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino.
SAUTET, Marc, 2006: 15/86
O país atravessa o período eleitoral bastante conturbado, especialmente nas capitais. O ingresso de líderes nacionais e estaduais nos pleitos municipais tornaram algumas disputas por demais acirradas. Indices de aceitação ou rejeição apresentaram grandes oscilações. Parece até disputa de jogo de futebol, onde todos tem lá a camisa de sua preferência, e lhe acompanham por onde ela jogar. Creio haver um grave erro de enfoque. O exagero do interesse é flagrante na presidência da República. Vá lá que o rádio do Planalto permanecesse ligado, mas daí a participar da programação é querer pautar o Brasil inteiro sob a égide de uma única batuta, fato que pode ser benéfico ao maestro, que a tudo comanda conforme seu belprazer, mas aos instrumentistas significa perderem suas principais características e desejos, em prol de apenas um projeto. Perdem-se talentos regionais, importantes lideranças das cidades. que diferença faz ao Brasil a contratação ou não do serviço de limpeza da cidade de São Paulo? Exceto os que para lá se dirigem, e naturalmente aos seus munícipes, que pagarão qualquer conta, ao baiano, índio, catarina ou gaúcho o que menos interessa é o desdobramento desse contrato. Portanto, não cabe a presidente desses povos se imiscuir na seara paulistana, em detrimento dos interesses ao quarteto exemplificado pertinentes.
Poderíamos, contudo, taxar essas participações diretamente nos palanques eleitorais imbuídas de má-fé? Talvez; porém, o mais provável é ser mais uma sandice, ingenuidade que interessa, claro, mas que vê seu desempenho como algo absolutamente natural, uma vez filiada na agremiação que disputa também os campeonatos municipais.
Outro fator que vem causando acentuada ebulição é a caça aos corruptos efetuada pelo Congresso Nacional, através de rumorosa CPI, esta um tanto apagada, é verdade, mercê da habilidade política daqueles integrantes, mas principalmente o espetacular julgamento levado em cena no STF. O povo exige ficha-limpa para participar das eleições, seja candidato ou não. Com certeza os acontecimentos depurarão, pela primeira vez, os quadros da maioria dos municípios, com o que encaminha-se o saneamento da mais importante atividade de tantas que o ser humano se obriga exercer. Multidão revoltada ameaça incendiar casa de candidata
Não sou o 'estraga festas' inventando tragédias na alegria, mas transformar o dia a dia em festival de 'oba, oba' é gesto infantil, que despreza o futuro... Nenhuma olimpíada ou campeonato mundial de futebol redimirá nossas cidades, por mais obras públicas que se façam em função disso.TAVARES, F., ZH, 4/10/2009
Embora persistam grandes focos de corrupção, notadamente com as faraônicas contratações dos serviços à Copa 14 e Olimpíadas 16, e com elas o ceticismo quanto às intenções, elas devem ficar circunscritas às efemérides, inacessíveis a esmagadora maioria das cidades, dos políticos que as representam diretamente, A exposição pública, porém, os notáveis argumentos, e as condenações dos réus do Mensalão repercutirão diretamente nos executivos das grandes obras, e indiretamente na exigência do desdobramento da CPI, que envolve vários governadores e empreiteiras no buraco-negro de Carlinhos Cachoeira.
Quer dizer, então, que o governo de então vai pagar aos empreiteiros a fortuna colossal para a construção de obras da Olimpíada e o encargo de fiscalizar para que não haja corrupção pertence ao povo brasileiro? Isso soa como uma brincadeira. Ou como escárnio. SANTANA, P., Olimpíada da cegueira. - ZH, 6/10/2009Pois é possível arriscar um palpite diverso deste costumeiro. O alto e crescente grau de corrupção assistidos a partir da Nova República chegou no ápice, e ora tende arrefecer.
Tal profilaxia garante uma melhor qualidade na gestão dos recursos públicos? A julgar pelos probos candidatos, contudo, ainda assim, não. Vemos muita gente honesta, com boas intenções, também muitos palhaços, e oportunistas, e poucos velhacos. Mas honestidade não é qualificação. Quando a honestidade é insuficiente, por Carlos Tautz, A julgar pela performance dos candidatos, dificilmente nossa democracia será aperfeiçoada.Incorreu em grave equívoco quem considerou para efeito de ceticismo supostamente engajado que o processo do mensalão acabaria "dando em nada". As condenações em massa que no Supremo Tribunal Federal alcançam os generais da banda do núcleo político fecham um ciclo. Se, quando e como outro vai se abrir, veremos. Mas a descrença e a apatia até aqui sofreram um duro revés. Ainda assim, lá os juízes de maneira quase sempre unânime deram o aviso geral aos navegantes que agora se confirma: chega. Ou os políticos entendem que precisam andar nos trilhos como qualquer cidadão ou terão de arcar com as consequências legais. Um dia a casa cai
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