sábado, 9 de janeiro de 2010

Chorai por ti, Argentina

O nacionalismo de Perón era tal que sua política agrária fez a carne esfumar-se do cardápio nacional durante 52 dias, deixou o campo exaurido e acabou com todas as reservas acumuladas durante o agitado comércio dos tempos de guerra. Como conseqüência, o general apossou-se do gás, da eletricidade, dos telefones, do Banco Central, das estradas de ferro e de tudo que tivesse pegadas forasteiras.
MENDOZA, P. A., MONTANER, C.A., LLOSA, A. V: 267
A rainha cognominava-se EVITA, a Embaixatriz, “alta atriz” do totalitarismo demagógico. A Espanha, do colega FRANCO, rendeu-lhe tantas homenagens quantas foram suas promessas em nome do povo argentino para com aqueles ancestrais. Ficou famosa a viagem do navio lotado de trigo que partiu do celeiro do Novo Mundo como dádiva e homenagem dos filhos à Pátria-mãe. Os filhos naturalmente, não viram os presentes ao opulento endereçados, tampouco foram reconhecidos, mas a dadivosa não parou mais de ganhar todo o tipo de benesses. A visita subseqüente visita à Suíça denota onde ela costumava guardar os pertences auferidos com o chapéu alheio.
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A produção se evaporou na “justiça social”. Milhares de casas foram construídas “de graça”. Como isto é impossível, alguém, naturalmente, estava pagando. Milhões de notas apontavam gastos de dificil comprovação - roupas, móveis, medicamentos, utensílios domésticos, e até dentaduras postiças. A dupla consumiu de modo mais irresponsável possível, o tesouro a ela confiada. A feira da ilusão terminou na corrupção generalizada, como sói acontecer, na bancarrota econômica, inflação acelerada, na quebra da ordem jurídico-social. PERÓN, o cleptomaníaco, colheu o ensejo, e meteu a mão sem cerimônia. No leito da morte EVITA contabilizava quatro estações de rádios e dois grandes jornais em seu próprio nome. O velório da atriz se estendeu por dez dias; no cortejo, milhões. Seus restos mortais ainda peregrinaram pelo Velho Mundo, retornando ao Prata por desejo de Isabellita, novo blefe, pretensa clone.
Trinta anos de governos militares culminaram no desafio inócuo e estéril, porém trágico, da tomada da diminuta Falkland. O combate contra a Inglaterra foi encarado como se os platinos, recém proclamados campeões mundiais de futebol, cotejassem apenas mais uma simples porfia esportiva. Não se tratando apenas de uma partida de onze contra onze, amargou a Argentina uma acachapante e previsível derrota, tragédia e lágrimas de mães desesperadas pela perdas, muitas adolescentes, colocadas numa frente de batalha absolutamente fútil.
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Houve um tempo no qual gostava de descer no porto. Com poucos passos já sentia a riquíssima atmosfera da calle Florida. Os cidadãos exibiam impecáveis ternos, e gravatas da mais moderna padronagem e feitio. As damas, ah, invejadas, queridas, passavam solenes, queixo-erguido por sobre taillers, para nenhum pequenês ter acesso. Não falo dos restaurantes, da carne selecionada, das lojas perfumadas, das ruas tão limpas quanto muitos hospitais. As noites eram repletas. Nunca vi a Boca sem festa. Raramente apareciam policiais Não havia a menor necessidade. Mendigo? Quack! Talvez em Miami, mas não em Buenos Aires.
Prostra-se novamente de joelhos a pujante ante seus próprios pares, detratores escolhidos para recomeçar as grandes falcatruas inauguradas por PERÓN e sua partner. Amarga o rico vizinho outra longa depressão, levada por “peronistas-keynesianos” invertidos. Aplicam o enxugamento monetário para aprisionar seu desiludido povo, algo que nosotros, “macaquitos, também aceitamos.
Poucos tem coragem de sair à noite. A Boca é só meia-boca. Puerto Madero? Só pretensão. Em San Isidro cavalos correm dopados. A Seleção de MARADONA virou saco-de-pancadas. Nem sei se conseguiu classificação à Copa. Dançarinos de tango largaram os salões e os palcos. Os espetáculos são pelas esquinas, a troco de qualquer troco. Motoristas de táxis não obedecem taxímetros, nem distâncias. Cobram de acordo com a imagem do passageiro. Não vacilei em me revestir com uns trapos. Garçons exigem gorgeta, independentemente do serviço que prestam. Cambistas gritam eufóricos pelas ruas centrais.
O título de 'Paris da América do Sul' já não vale para Buenos Aires. A cidade, que já vinha empobrecendo, acelerou o processo de exclusão social. Os mendigos, que antes não se viam, espalham-se por todo o centro. Sem a conotação poética do 'clochard', o homeless boêmio parisiense, mais de mil pessoas passam todas as noites ao relento na capital argentina. 3,5 milhões de argentinos não conseguem adqurir a cesta básica de alimentação e serviços. Este nível é o mais alto desde 1990, quando a economia do país havia sido arrasada pela hiperinflação. A situação social é mais grave no segundo cinturão de municípios da Grande Buenos Aires, o setor mais pobre da área mais populosa do país. A proporção de pessoas pobres passou em um ano de 38,5% para 44%. Além dos pobres, este país, uma vez denominado 'o celeiro do mundo', não consegue fornecer alimentos para 7,5% dos habitantes da Grande Buenos Aires.
Sob o titulo “La salida para la crisis es otra: alentar el crecimiento”, economista argentino comentava a teimosia, logo em seu início:
Treinta anos después un Presidente de los Estados Unidos afirmaba que 'todos somos keynesianos' en el preciso instante en que se iniciaba el regresso de la ortodoxia, el propio exito del modelo keynesiano llevo a la desmesura. El discurso argentino actual es muy semejante al repetido a comienzos de la decada del treinta. La experiencia muestra que la crisis se autoalimenta.
SCHVARZER Jorge, El Clarin, 25/10/1995: 17
A Argentina mantinha os tais depósitos compulsórios sobre 35% das poupanças individuais, enquanto obrigava aos bancos aplicarem 15% no Deutsche Bank de Nova York, no Banco Central ou em Letras de Liquidez Bancária. Por que seriam estas duas instituições as privilegiadas? Bem, é fácil supor. Sabe-se o modo como se administram as finanças do vizinho país. Em nada se diferencia de nosotros:
“Escândalo derruba diretoria do BNA - O Banco de la Nación Argentina (BNA), o maior banco do país, ficou ontem sem diretoria. Sob o impacto das denúncias de uma concorrência ilegal ganha pela IBM para o projeto de informatização do banco, toda a diretoria foi forçada a se afastar.”
Cavallo pede prisão para o secretário de Menem - O ex-ministro da Economia, Domingo Cavallo, reiterou ontem que Alberto Kohna, secretário-geral da Presidência, deveria estar preso por corrupção. Kohan é colaborador íntimo do Presidente Menem. Cavallo disse que, no ano passado, afirmou, em frente ao Presidente e ao próprio Kohan, saber do pagamento de comissões ilegais em um contrato anulado entre o Banco de La Nación e a IBM.
Argentinos não confiam no seu poder Judiciário - Buenos Aires - O Poder Judiciário argentino inspira pouca ou nenhuma confiança ao povo, depois das denúncias de corrupção ou de sujeição de muitos juizes aos desejos políticos de Carlos Menem e alguns de seus ministros. Pesquisa do Gallup informa que 89% da população pouco ou nada confiam na Justiça.
O que ora vi foi estarrecedor. Senti-me no Paraguai.
Para o escritor peruano Mario Vargas Llosa a presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner é um desastre total, e a Argentina está conhecendo a pior forma de peronismo: populismo e anarquia.
Corriere della Sera, 20/3/2009
Ruas sujas, repletas de ladrões de toda a espécie. Gente passeando de chinelos pela outrora chic, e por cima de moradores de rua. A Florida foi tomada por camelôs.
A Vila 17 de Novembro é a maior invasão de terras da história recente argentina. Remete à data em que 7.500 famílias ocuparam um terreno alagadiço do tamanho de 13 campos de futebol, em Lomas de Zamora, na periferia pobre de Buenos Aires.
Folha de São Paulo,
12/05/2009
"C. Kirchner está levando a pecuária argentina à bancarrota. Estima-se que em 2011 os argentinos farão churrasco com carne importada." (www.claudiohumberto.com.br, 16/5/2009)
"Nos últimos 40 dias, segundo associações de consumidores e consultorias econômicas, o preço da carne bovina, quitute par excellence da mesa dos argentinos, registrou uma disparada de 20% em seu preço." (http://blog.estadao.com.br/blog/arielpalacios/, 10/1/2010)
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, recomendou comer carne de porco para melhorar a vida sexual - uma receita que, segundo ela, é muito mais 'gratificante' do que tomar Viagra. Segundo ela a gordura produzida pelo porco é muito parecida com a gordura do ser humano e, portanto, é menos nociva do que a gordura da carne bovina.
Efe, Buenos Aires, 27/1/2010
Governo e Clarín estão em atrito desde meados de 2008, quando os órgãos de imprensa passaram a adotar tom crítico à gestão da presidente.
O agronegócio e a classe média são os mais descontentes com a atuação presidencial. Ontem la reina aprofundou drasticamente a crise institucional ao emitir um decreto "de necessidade e urgência" que exonera o presidente do Banco Central sob a alegação de "má conduta" e "falta de cumprimento dos deveres de funcionário público"
Buenos Aires, 9 enero (Especial de NA, por Daniel Casal) -- Y aquí radica el error estratégico del Gobierno que despierta conflictos donde puede no haberlos. La confrontación se convirtió en rasgo distintivo de la era Kirchner, hasta el extremo de generarse un estado de conflicto permanente, y más de una vez con la amarga sensación de que todo podría haberse evitado.
SILVANA ARANTES, correspondente da Folha em Buenos Aires, descreve uma sra. extremamente vaidosa. "Cristina não sai de casa sem maquiagem e perfume." Antes fosse apenas isso. O marido NÉSTOR foi denunciado por desvio de dinheiro público na campanha eleitoral de 2005, sem contar a mala-preta enviada pelo energúmeno venezuelano. Em 2003, quando chegou à Presidência, o casal declarou possuir 6,8 milhões de pesos, aproximadamente 1.2 milhões de dólares. Durante 2008 a fortuna dos K cresceu para US$ 12,1 milhões.
"Os dois países mais encrencados na América do Sul, Argentina e Venezuela, são os nossos dois maiores parceiros na região." (LEITÃO, M., O Globo, 13/1/2010)
A oposição recém cogita do impeachment à destemida Presidente.
No sempre presente efeito Orloff, o Brasil também vem padecendo na silvilização, infortúnio constantemente renovado:
Houve um tempo em que o companheiro Hugo Chávez estava sozinho. Quem imaginava, há dez anos, o nosso querido Evo Morales ser presidente? Quem imaginava que um bispo da Teologia da Libertação fosse Presidente do Paraguai?"
SR. DA SILVA , Presidente do Brasil
(Folha de São Paulo, 17/12/2008)
"FHC optou por lançar seu livro de memórias nos EUA, como se prestasse contas do seu mandato a quem de fato o colocou lá. Para quem suspirava com a idéia de ser um misto de Mitterrand e Felipe Gonzalez, parecer Carlos Menem deve ferir o orgulho." (SADER, Emir, http://www.vermelho.org.br/, 9/2/2006.
Atualmente em países como Argentina e Brasil, a classe média parece derrotada. Há alguns anos os membros dessa classe eram a chave da prosperidade de pequenas empresas e de serviços públicos de educação e saúde eficientes. Agora, parecem resignados diante da queda drástica de sua qualidade de vida. A impunidade de autoridades corruptas, assim como a insensibilidade do modelo econômico em relação aos problemas sociais, criaram uma frente de tempestade ameaçadora.
MARTINEZ, TOMAS ELOY, Presidente do Departamento de Estudos sobre a América Latina da Universidade de Rutgers, EUA, autor de Santa Evita e O Romance de Perón
Com dólares saindo pelas cuecas, só podemos aguardar semelhante desfecho.
O crescimento de grupos criminosos dedicados ao assalto, à venda de drogas, ao furto de automóveis e ao assassinato, entre outros delitos, transformou as ruas das principais cidades da América Latina em espaços cercados pelo medo.
O Globo, 22/8/2009
Impressionante a capacidade da corrupção.

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