quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dos pelegos



A história é uma coleção de quadros com poucos originais e muitas cópias.
TOCQUEVILLE, Alexis,
O Antigo Regime e a Revolução: 24
Mussolini montou o teatro legislativo com protagonistas supostamente representantes das classes trabalhadoras.
A mecânica social marxista obedece a mesma estrutura lógica da mecânica fascista, ambos tomam os homens como peões num tabuleiro de xadrez, peões que podem não só ser sacrificados, como também ter seu sacrifício 'racionalmente' defendido e justificado. PEREIRA, Pereira, J.C.: 140
Às entidades patronais o ficcionista concedia subsídios às custas de emissões inflacionárias, enquanto endereçava a maior parte dos impostos recolhidos sutilmente dos próprios operários especialmente ao sítio da indústria bélica, aos fabricantes das toscas armas que seriam empunhadas pelos "protegidos" operários para morrerem nos campos talados de minas e canhões. Era justo remunerar as empresas, especialmente aquelas mais amigas, coadjuvantes do espetáculo. Dessarte, o próprio Duce se constituía em pelego-mor, à montaria da elite econômica.

É a eclosão da personalização do poder. Foi assim que surgiu a tirania nas cidades helênicas dos séculos VII e VI. Foi assim que se desenvolveu a ditadura na República Romana do século I A.C. Como fiel da balança das classes novas e tradicionais. MUSSOLINI, Benito, cit. Nações do Mundo: 55
Por vinte anos o maestro agradou a imensa platéia de gregos e troianos, cristãos e ateus, bispos, peões e cavalos, comunistas e capitalistas, trabalhadores e oportunistas. Como bem sabemos, entretanto, acabou trucidado por todas as facções que ele próprio criara, pendurado de cabeça para baixo feito carneiro à gaúcha, num mísero posto de gasolina milanês.
* * *
Nosso ducinho lhe seguiu à risca, até se antecipando no desfecho.
Afinal, o que não aprende o homem, quando o elefante, submetido a
treinamento, vira acrobata, o urso fica saltador e o asno dá-se em espetáculo?

ERASMO DE ROTERDÃ, De pueris: 53
Mussolini, Hitler, Mustafá Kemal Pacha, Roosevelt e Salazar... Todos eles para mim são grandes homens, porque querem realizar uma idéia nacional em acordo com as aspirações das coletividades a que pertencem. VARGAS, Getúlio, cit. MONTEIRO, Góis, A Revolução de 30 e a Finalidade Política do Exército: 187
O Pai-dos-pobres & Mãe-dos-ricos passou direto à memória; a artimanha, contudo, até hoje prevalece, na performance de incontáveis clones, giletes produzidas em escala industrial.
Entrevistado nos anos 80, o idealizador da CLT, Segadas Vianna, expressou com clareza o cinismo da cultura política das elites jurídicas ligadas à classe dominante, mesmo durante a época áurea do populismo de Getúlio. 'Sindicalismo no Brasil é uma utopia, é uma farsa, não é? Naquele tempo ainda mais'. FRENCH, J. D.: 45.
Durante o regime militar os partidos foram tornados vacas-de-presépio. Novamente a ribalta se deslocou aos porta-vozes operários, para que esses brilhassem mais do que o todo, mera platéia. Em contra-partida, cabia aos novos atores manter suas respectivas plêiades sob controle, para que estas não viessem, pela força concentrada, virar algum camburão oficial.

O show eleitoreiro voltou à carga em toda a América Latina e, quase como denominador comum, se oferece como panorama uniforme para a ressurreição do velho caudilhismo militar latino-americano, ao ascenso das aristocracias sindicais e à estréia eleitoreira de ex-guerrilheiros arrependidos. Toda essa fauna responde a uma tática fascista... Mais uma vez, milhões de cartazes pelas ruas, múltiplos comerciais televisivos com personagens que esboçam sorrisos hipócritas ao carregar crianças maltrapilhas em falso gesto protetor. Sucedem chamadas radiofônicas apregoando repetitivamente as mesmas promessas de mais trabalho e desenvolvimento. Enormes avisos publicitários portam rostos cínicos nas ruas; batalhões de adventícios entoam o nome de seus futuros verdugos, enquanto politicastros — uns mais demagogos ou mafiosos que outros — chegam, erguidos nos ombros de fornidos mercenários, em enormes palanques instalados nas praças das principais cidades da América Latina. Multidões famélicas assistem ao vivo e em cores os supostos redentores em quem depositam vãs esperanças ou de quem receberam, como prebendas baratinhas, algum dinheirinho ou miseráveis sacolas com mantimentos. SABA, Pablo - www.anovademocracia.com.br
Muitos astros foram desta maneira produzidos: no âmbito que lhes competia, colocavam-se dispostos para protestar contra os malvados patrões e o governo elitista, capitalista, ditatorial, protetor dos fortes. Quando recebido nos quartéis, os subservientes eram aquinhoado com algum subsídio, uma hora-extra qualquer, um reajuste zero-vírgula, e assim podiam retornar ao piquete demonstrando seu alto zelo e persistência, o êxito da missão, o espírito guerreiro que justificava a liderança entre os oprimidos, estes que por sua vez, diante das circunstâncias, resignavam-se e até lhes aplaudiam.
O modelo monopolista sindical que temos é fascista. Só que o corporativismo fascista falava, pelo menos, na harmonização dos interesses de toda a sociedade, em oposição à luta de classes que o ex-recente líder socialista Mussolini conhecia bem. Conseguimos combinar resíduos do corporativismo fascista com o mercantilismo colonial e acabamos reduzidos à condição de súditos, não de cidadãos. CAMPOS, Roberto, O Estado do Abuso, Jornal do Comércio. P.Alegre, 22/05/1995: 4.
Entre os pobres, ele acusa os ricos; e entre estes, em meio a sorrisos, ajuda construir os bretes que encerram o rebanho.
A historiadora Maria Lígia Coelho Prado, coordenadora do Seminário Internacional Perón e Vargas, Aproximações e Perspectivas, realizado no início do mês, vê Lula como administrador de uma contradição: busca se apresentar como 'pai dos pobres' e, ao mesmo tempo, atende aos interesses dos banqueiros e grandes empresários. Ela analisa o que há de herança varguista no atual governo.
O Sul, 22/5/2008.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso inflamado, durante a posse da nova direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A centenas de sindicalistas presentes, Lula disse que 'esta é a hora de se reivindicar salários, aumentos de conquistas e mais direitos trabalhistas'.
Lula fala como 'sindicalista' e diz que é hora de pedir. - Estadão, 2/8/2008
O poder de compra dos trabalhadores, como de resto de toda a Nação, depende da incidência dos juros e impostos. Neste país, a tunga simplesmente dobra o preço das mercadorias e serviços, para depois ser repartida entre cuecas e meias dos amigos mais chegados do rei.

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