sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Oportuna tragédia


O governo sempre cresce mais rapidamente durante crises, sejam elas guerras ou depressões. Uma crise é a desculpa perfeita para dar ao governo mais poder e dinheiro para 'resolver' o problema, ao mesmo tempo em que o partido da situação paralisa a oposição. E isso vale para qualquer país do mundo.
Por que o estado cresce? (E o que podemos fazer quanto a isso)
O Brasil tem cerca de 1.200 militares na força de paz. Já gastou R$ 700 milhões em cinco anos. Agora decidiu correr. Contingente extra poderá mais do que dobrar o efetivo. O aumento ocorre após a chegada de cerca de 10 mil soldados americanos na cidade. 'Os americanos têm um senso muito agudo de imagem, e são conhecidos por fazer muito bem guerra psicológica', declarou nosso comandante. Há permissão da força da ONU de que os EUA respondam com tiros se forem atacados (Será que isso serve de aviso até para nossos destemidos pracinhas?). A terraplanagem já está feita, e os contêineres que abrigarão quartos, banheiros, escritórios e refeitório começarão a ser montados em breve. Além do benefício às famílias dos militares, o governo brasileiro decidiu liberar o total de R$ 375 milhões para ações no Haiti, incluindo os US$ 15 milhões que serão doados pelo Brasil ao país caribenho. Do total dos novos recursos, R$ 205 milhões serão destinados para o Ministério da Defesa, R$ 35,3 milhões para o Ministério de Relações Exteriores e R$ 135 milhões para o Ministério da Saúde. Lula determinou ao ministro José Gomes Temporão (Saúde) a instalação de dez UPAS (Unidades de Pronto-Atendimento de Saúde) no Haiti. As unidades serão usadas para ajudar no socorro às vítimas do terremoto, assim como na reconstrução do sistema de saúde pública do país. Folha de São Paulo, 21 e 22/1/2009

O Brasil hasteou e mantém duas bandeiras diante do palácio de Porto Príncipe. Cerca de 20 carros militares brasileiros, entre eles 10 blindados, além de 150 homens, foram levados ao palácio. A opção não foi à toa. Na terça-feira, 20 helicópteros Black Hawk dos EUA aterrissaram no mesmo local, uma atitude que incomodou os militares brasileiros, oficialmente responsáveis pela segurança do Haiti. Ontem, aliás, o Brasil passou por um constrangimento. Durante a entrega da comida, dois helicópteros americanos pousaram no local. O vento chegou a derrubar uma das bandeiras brasileiras. Estadão, 23/1/2010

O presidente da Bolívia anunciou que seu governo pediria às Nações Unidas uma reunião de emergência para 'repudiar e rejeitar a ocupação militar dos EUA' no Haiti.
Pois de fato parece haver contundentes razões à ironia de DAVE LETTERMAN:
“Amanhã estaremos transmitindo a entrega do Oscar para 137 países que nos odeiam”.
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Relutava tocar no assunto, até por respeito às famílias enlutadas, mas o massacre das notícias faz-me também escorregar pela verêda. O Caribe não é nossa praia. Narro-lhe de ponta-cabeça.
Não há, e pelo jeito nunca haverá, alguém imortal, isto em acepção física, bem entendido. Desaparecimentos são tão naturais como nascimentos, sejam por acidentes, ou não. Do mesmo modo, doenças e sofrimentos não se constituem em anomalias, senão que corriqueiro na vida de todos, sem exceção. Admito que possamos e até devamos de algum modo tentar minimizar a via-cruxis; mas julgarmo-nos capazes de elidi-la, ou rogar pela ação de um Provedor, parece-me não apenas sandice, senão que a mais pura manifestação de prepotência e presunção. No último caso lembro do fiel que entrou na Igreja para agradecer a DEUS pelo reestabelecimento de sua saúde. Ao sair do templo, morreu atropelado.
O fato é que nós não suportamos o extraordinário negativo e não programado. Trata-se da velha diferença entre a morte-morrida: esperada e muitas vezes libertadora; e a morte-matada, que leva as almas de modo brusco e sem aviso. O mistério se instala quando esses eventos se confundem, como foi o caso da Ilha Grande, quando o deslizamento ocorreu na virada do ano. Ou na viagem inaugural de um supernavio, como o Titanic.
Roberto DaMatta, Desastres, sofrimentos e orações. 23/1/2009
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Impressiona a aparente disputa de vaidades no meio de escombros. Como esta prática não é de caserna, mas apropriada a salão-de-cabeleleiros, é trivial concluir que a refrega é por algum rescaldo.
Os americanos sofrem diretamente os efeitos caribeños. Milhares de balseiros se arriscam por aquelas águas repletas de tubarões, no afã de encontrar as costas do colosso, largas para serem empoleradas por fugitivos de todos recantos, sejam mexicanos, salvadorenhos, do Porto Rico, até brasileiros, mas principalmente cubanos. Agora, ameaçado pela virtual emigração dos sobreviventes haitianos, Tio Sam trata de acomodá-los onde estão, no que se mostra prudente. Mas e nosotros, macaquitos brasileños, qual motivo nos leva a tamanho e exclusivo interesse, a ponto de hostilizarmos o grande e infinitamente mais rico enfermeiro, e de exigirmos até mesmo o comando da operação? E desde quando elegemos diretrizes para interferências em terra estranha, seja por qualquer razão, e para lá ainda se destinarem nossas parcas economias, por fundo-perdido?

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O terremoto atingiu 3 milhões de pessoas, matando mais de cem mil, com 200 mil feridos, e 600 mil desabrigados. Segundo a ONU, 132 pessoas foram retiradas com vida.
Estamos acostumados a assistir gestos de solidariedade em acidentes de caminhões.
Para facilitar o resgate, o pessoal saqueia a carga.
Onde o homem nada encontra para ver e pegar, nada tem para fazer.
NIETZSCHE, F. W., Da utilidade e do inconveniente da História para a vida; 74
Que carga possuiria a reduzida cidadela? Qual maior motivo suporta nossa ambulância, a ponto de destinar milhões e milhões à gente completamente estranha, distante, e que não lhe escolheu para nada? Que responsabilidade exige tamanha obrigação? Que humanismo requer sacrificar a própria pátria em prol do estrangeiro?
De uma pista nos informa Roseann Kennedy. O que fulgura é a megalomania que nos acomete, afã de liderar o mundo inteiro só no plá.
Desde que acompanho a vida pública tenho visto muitos governos incompetentes. Mas, nunca vi tanta incompetência no encaminhamento dos negócios públicos como no governo Lula... E nós, brasileiros, contribuintes, que pagamos seu salário para que exerça seu cargo com um mínimo de seriedade, como ficamos?
SOARES, José Celso de Macedo, Incompetência, 22/1/2010
Se alguém destinar o fruto do próprio trabalho à benemerências dificilmente encontrará contestação. Todavia, raro alguém deste modo proceder. Do mesmo modo, quando os governos destinam vultosas quantias para cobrir a indigência, isto parece irrepreensível. Esquece o analista: como o Estado nada produz, ele só faz cortesia com chapéu alheio.
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Proliferam-se protestos nas redações de jornais:
Fazer doação de quase meio bilhão de reais, para onde já se doa muito é de uma irresponsabilidade sem limites e ainda, por medida provisória. Será que estamos vivendo dias de império?
Lacordaire Constantino Ribeiro. Folha de São Paulo, 22/1/2009
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"As autoridades brasileiras continuam a desrespeitar o povo brasileiro sofrido e desamparado. O governo faz doações em dinheiro extremamente elevadas para os padrões do Brasil e nenhuma instituição se levanta contra este absurdo." (Eduardo Braga, idem)
Enquanto isso,
O estoque da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFI) subiu 1,64% em março, para R$ 1,267 trilhão, depois de ficar em R$ 1,247 trilhão em fevereiro. Os dados constam de relatório do Tesouro Nacional.
UOL/ECONOMIA, 22/4/2009
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Ademais, benemerências sóem nem chegar no porto.
Morro abaixo, água acima, nem sempre a verba federal para governos e prefeituras é aplicada em casos de “calamidade pública”, como atesta o Tribunal de Contas da União: foram 65 casos em 2007, 59 em 2008 e 66, em 2009. A restauração de uma rodovia em São Paulo de Olivença (AM) ficou no papel, e a 'simulação de uma situação de emergência' ficou só na simulação mesmo, em São Borja (RS). A Receita investiga.
http://www.claudiohumberto.com.br/principal/index.php = 23/1/2010
E mesmo que depois de tantas voltas alguma coisa alcance o alvo, o contribuinte paga tal êxito pelo valor mais caro, por obrigado ao compulsório intermediário.
A burocracia é necessariamente ineficiente porque não opera dentro do sistema de lucros e prejuízos do mercado. Sem a pressão para economizar recursos, até mesmo os burocratas bem intencionados acabam gastando sobremaneira. E, é óbvio, a maioria dos burocratas não é bem intencionada. A sua única motivação é aumentar o próprio poder, a própria renda e os próprios benefícios, os quais eles ganham ao aumentarem o número de burocratas sob seu comando no organograma estatal e ao gastarem cada centavo que lhes é alocado.

Por que o estado cresce? (E o que podemos fazer quanto a isso)
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=210
A pergunta que se impõe: quantos, por iniciativa pessoal, e em qual dimensão, estariam dispostos a se sacrificarem em prol dos mais necessitados?
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O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
SELDON: 60
O cartaz do Brasil anuncia ajutórios em todas as frentes, em especial as que excedem o território. Nunca se viu maior benevolência, nem no tempo do Pai-dos-pobres & mãe-dos-ricos. É tão impossível o retorno dos impostos quanto a conferência da aplicação. O esbulho se abate sem a menor cerimônia. Vale lembrar:
"O governo não é capaz de tornar o homem mais rico,
mas pode empobrecê-lo." (MISES, L., Uma Crítica ao Intervencionismo: 21)
Há uns vinte anos anos houve estupendo programa que aumentou os impostos no subterfúgio de adquirir milhões de litros de leite para destiná-los à comunidades alhures. Quando alguém queria conferir a concretização da compra, chegava tarde: ela já tinha sido consumida. Jamais se teve notícia de algum beneficiário, mas o atravessador beneficiente, certamente por reconhecimento divino, logrou adquirir imensa rede de emissoras radiofônicas. Nada de novo no front.
O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções.
Comuna de Paris, 1871
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