segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Malthus, Darwin, Marx & Bolsa-família

Nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, por em dúvida verdades adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois o pesquisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe fecham, de antemão, o caminho da compreensão objetiva. Goldman, L. 33
BRASÍLIA - O tamanho do desafio para erradicar a pobreza extrema não deve ser medido apenas pelo custo extra de bilhões de reais de um reajuste do Bolsa-Família no Orçamento da União. Obstáculo tão ou mais grave aparece nos indicadores de educação. Entre os beneficiários do programa com mais de 25 anos, a grande maioria (82%) não completou o ensino fundamental e 16,7% ainda se declaram analfabetos. (Estadão, 5/12/2010)
O Residencial Nova Conceição, em Feira de Santana (BA), foi o primeiro empreendimento para famílias com renda de até R$ 1.395 entregue no País e recebeu duas visitas do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na campanha presidencial, Dilma levou ao ar no horário eleitoral gratuito o condomínio como exemplo bem-sucedido de política pública para os mais pobres.De lá para cá, desligadas as câmeras da campanha, o "condomínio" apresenta personagens com dramas reais. O presidente da Associação de Moradores do Residencial Nova Conceição, Edson dos Santos Marques, 27 anos, diz que o calote tem aumentado no empreendimento porque boa parte dos moradores tem como renda apenas o benefício do Bolsa Família. (Idem, 21/1/2011)
Darwin veio com a obviedade. Disse que o mais apto sobreviveria - fosse unidade, ou espécie. Ora, disso já sabiam os espartanos - por isso em vez de dar-lhes cultura, como faziam os almofadinhas atenienses, os apolíneos tratavam de apurar a raça, preservando apenas os filhos fortes e hígidos, aptos ao combate, que "aos fracos abate e aos fortes só pode exaltar". Toda força dessa maravilhosa fisicultura greco-romana impregnou de imediato as mentes dos símios, de modo que desde então colhemos séculos de convulsões e catástrofes sociais.
Toda a teoria darwineana da luta pela existência é simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da teoria da população de Malthus. WALLACE, A.R. e YOUNG, R., Sciences studies, 1971, p. 184; cit. JAPIASSÚ, H. 1978: 56.
Fazendo as contas malthusianas e darwineanas, a equação marxista não tinha erro: os proletários se multiplicariam exatamente pelas contas do dito reverendo; e os operários, os menos aptos, por não deterem os meios-de-produção, tenderiam a desaparecer. Se alguém iria morrer de fome, jamais seria quem detivesse os meios-de-produção. Como contestar a obviedade? Então, para apurar a divisão entre aptos e não aptos, Marx cingiu o mundo em duas classes - patrões e empregados. Individualmente é óbvio que o patrão deve ser mais apto, mas os operários, unidos, jamais seriam vencidos! A maioria esmagadora não pode perder para a minoria. Mesmo sendo todos doentes, a maioria unida se fazia mais apta. A minoria que morresse de fome! Com exceção dos ex-proprietários fundiários, não sei de mais gente morrendo de fome na União Soviética. Também não sei de ninguém que gostasse de viver naquele deserto de criatividade ocasionado pela apurada ciência marxista. “A lógica tem sido o veneno que lentamente tem paralisado todas as forças da imaginação do homem. Em nome da lógica foram condenadas descobertas científicas e invenções poéticas, explorações de sonhadores e evasão de clarividentes.” (Soupault, P., cit. Oliveira, Nietzsche, Freud e o Surrealismo: 41)
Segundo Darwin, a evolução dá-se por seleção natural. Pela lógica jamais o Estado deveria socorrer o mais fraco. Ajudar os pobres significa agir contra o progresso. Seria uma tentativa para promover a sobrevivência dos inaptos, ao invés de o ajuste. Então o Estado deveria ficar fora do caminho e permitir que os pobres e imprevidentes a sofrer as conseqüências naturais de suas maneiras irresponsáveis.
Sabemos que toda criação humana é imperfeita, de modo que tudo se tenta aprimorar, inclusive e especialmente a própria ciência. Muitas descobertas passadas, como a luz elétrica, por exemplo, hoje logram decisivas participações em nosso cotidiano. O motor do avião foi dispensado em troca da turbina, as asas nem são mais necessárias, mas o Sputnik não seria possível antes do avião. Poderíamos delinear um spaceshuttle sócio-político, uma inclusão social desconhecendo essas proposituras lavradas quando a vela era a rainha da noite? Supondo que quase tudo de Malthus, Darwin e Marx seja imprestável, não poderíamos aproveitar pelo menos algum artefato? Pois o material contém vício redibitório. Qualquer peça, por menor que seja, condena o edifício que se quer.
A asserção de que o marxismo-leninismo, ideologia basilar da União Soviética, tinha alguma coisa a ver com a verdadeira ciência foi um puro artifício retórico, um dos maiores logros deste século, embora propaganda deste tipo fosse ensinada a todas as crianças dos países comunistas. DESCAMPS: 139
Os alimentos são produzidos por cooperação entre patrões, que detém as máquinas a tecnologia, a logística, enfim, além da simplória detenção das terras, ¨& operários remadores, que realizam e consomem o que realizam.
A visão da evolução como uma crônica competição sangrenta entre indivíduos e as espécies, um desvirtuamento popular da noção de Darwin da 'sobrevivência dos mais aptos', dissolve-se diante de uma nova visão de cooperação contínua, forte interação e dependência mútua entre as formas de vida. A vida não conquistou o globo pelo combate, mas por um entrelaçamento. As formas de vida multiplicaram-se e tornaram-se complexas cooptando outras, e não apenas matando-as. SAGAN, D., cit. DAWKINS, R.: 288
Somos todos patrões, até mesmo naquela União Soviética. Quando o operário mandava enrolar o pão, ou trocava por outra coisa, ele não era o dono, o proprietário, o explorador do serviço, o patrão?
Podemos julgar uma filosofia por seus frutos. A visão reducionista-mecanicista-materialista cultivou inúmeras dicotomias, cismas, fragmentações, alienações: alienação de si (o vácuo espiritual) e, por conseqüência, dos outros; alienação da natureza (autômatos não podem sentir muito por outros autômatos - se somos apenas máquinas, podemos muito bem nos apoderar do máximo possível, conquistar e explorar a natureza por completo); a dicotomia entre conhecimento e valores, meios e fins, mente e matéria, universo de matéria e universo de vida, entre ciências e humanidades, entre ricos e pobres, industrializados e de Terceiro Mundo, entre gerações presentes e gerações futuras.( Lemkow: 15)
Questões de sobrevivência, de alimentos, exceto em pirataria não se resolvem por dialéticas, muito menos por ações coletivas. Foi um átomo que causou o Big-Bang. É o indivíduo que produz a riqueza. Quanto mais indivíduos produzirem riqueza, o que tem o pobre a perder, senão somente a ganhar?
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade. SMITH, A. cit. DOWNS: 56
O processo é recordado por Priestley (cit. Falcon: 73): "Os ricos obrigam-se, pelas leis naturais da economia e pelos ditames morais da natureza, a difundir sua riqueza às camadas menos favorecidas."
E o que acontece se teimarmos em arrancar os frutos dos ricos para "dar aos pobres"? Grosso modo os ricos ficam mais pobres; e os pobres em nada ficam mais ricos. Recebem quiçá a metade, porquanto Robin Wood também precisa se alimentar, e muito. e por fim consomem sem produzir.
Em períodos de recuperação, empreendedores iniciam novos projetos e contratam trabalhadores até então desempregados.  Os desempregados geralmente estão dispostos a trabalhar por um salário menor e dispostos a aprender novas habilidades em um novo ambiente de trabalho.  Esses novos negócios se transformam em grande fonte de crescimento econômico, permitindo um aumento do padrão de vida. Sem esses novos negócios, não haveria absolutamente nenhum crescimento do emprego.  Em economias pós-recessão, são esses novos negócios os responsáveis por absorver o excesso de mão-de-obra.  Isso porque as maiores e mais velhas empresas não estão dispostas a correr o risco de contratar novos empregados, e já se ajustaram à necessidade de operar com menos mão-de-obra.  Até que esses novos negócios surjam, o desemprego tende a persistir.  E é exatamente isso que está ocorrendo agora nos EUA. , Como o governo está destruindo a economia americana, 5/12/2010)
Os países que menos tiram dos ricos para dar aos pobres melhoram a vida dos pobres. Os que mais subtraem dos ricos para dar aos pobres são os que mais empobrecem, na exata medida de sua pretensa justiça.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, não terá dificuldade para encontrar a pobreza absoluta que ela prometeu erradicar até o fim do mandato, como um dos principais compromissos da campanha. Quase 5,3 milhões de famílias - a grande maioria dos brasileiros que permanecem na condição de miseráveis - já são beneficiárias do programa Bolsa-Família, de transferência de renda .Estadão, 5/12/2010
A propósito, lembro do Programa do Leite, iniciativa do amoroso impostor presidente Sarney. À pergunta sobre o lugar que o governo estocava o leite correspondia a resposta que vinha do tambo, e era imediatamente distribuído. Perguntado aonde, a resposta era "pelo Brasil afora". Perguntado, por fim, alguma comprovação da entrega dos milhões de litros, a resposta era que "os beneficiários eram analfabetos, e não assinavam recibo", O resultado disso é que vários ministros, que antes eram funcionários subalternos de multinacionais, viraram empresários de redes de comunicação. A julgar pela presença de Sarney naliderança da base aliada do deste governo recordista em defenestrar ministros por corrupção, e aquilatando o modo como se encaminham vultosas quantias, e a quantidade crescente de indigentes pelas ruas, tenho a impressão que tudo se repete, porém de modo aviltado:
BRASÍLIA - O ministro do Planejamento disse que houve um erro em R$ 12 bilhões nas receitas brutas estimadas no projeto de Lei do orçamento de 2011. (Estadão, 7/12/2010)
Líder do PTB, Gim Argello era suplente e virou senador em 2007 após a renúncia de Joaquim Roriz, envolvido em corrupção. Em pouco tempo, ganhou espaço e respeito do governo federal, principalmente da ex-ministra e presidente eleita, Dilma Rousseff. Em troca da lealdade ao governo, Gim conseguiu um presente político: ser o relator do Orçamento da União, de R$ 1,3 trilhão para 2011. Cabe a ele elaborar toda a proposta orçamentária – incluindo as emendas parlamentares – a ser votada pelo Congresso até o fim deste mês. O destino das emendas feitas pelo próprio senador para 2010 mostra que, no mínimo, Gim Argello não tem controle sobre o rumo e o uso do dinheiro público que lhe diz respeito. Estadão, 4/12/2010 
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Na mosca. Eis o destino do suor brasileiro:

TCU vê indícios de pagamento
a 'fantasmas' em obra do PAC


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