sábado, 19 de maio de 2012

As forças de Gramsci

O Príncipe moderno, o Príncipe mito, não pode ser uma pessoa real, um indivíduo concreto - ele só pode ser uma organização. ANTÔNIO GRAMSCI
O que é a máfia? Uma organização de alicerces criminosos que se sofistica, investe na formação de 'quadros', infiltra-se nas instituições para conferir feição legal aos seus negócios. Ao longo do tempo senta praça no Estado mediante cooptação de agentes públicos e privados permeáveis aos atrativos da corrupção. Cosa Nostra' Dora Kramer

É ouro que lhe ri, em áscuas iriantes,
É ouro que lhe sopra, à cara gargalhadas,
É ouro que se enrola em seus braços gigantes,
E lhe enche as duas mãos de tê-lo fatigadas
SANTOS, Luiz Delfino, Algas e musgos.
Não havia mais  a costumeira inquietação daquela gente. Ou, se havia, nada mais se ouvia. O altissonante do apito, os ferros ringindo, os coturnos batendo ao redor sobrepujavam os vãos suspiros dos infortunados passageiros. A sorte estava lançada. E nada lhe mudaria de lugar. Nenhum obstáculo à chegada do implacável momento. O silêncio se fez presente, antecipando a morte. Previamente abatidos, ora resignados, milhões de inocentes seriam impiedosamente dizimados pelas forças políticas. Elas haviam começado ridículas, envolvendo platéias de desocupados em teatros de cidadelas. 
É preciso destruir o julgamento de que a filosofia é algo sumamente difícil por ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar que todos os homens são 'filósofos', e definir os limites e as características desta 'filosofia espontânea' própria de todos, isto é, a filosofia que nela está contida ANTÔNIO GRAMSCI¹
Os "homens filósofos" tomaram conta de tudo - de clubes de mães aos jornais, dos partidos ao Congresso, das praças às rádios, dos sindicatos às associações industriais,  das menores comarcas às últimas entrâncias jurisdicionais, das milícias à aeronáutica, do primário às academias, das entidades esportivas  e dos bancos, claro, principalmente desses. As lideranças precedentes preferiam cooptar - afinal, ainda conservariam lá seus privilégios.  "Não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu " Parcos recalcitrantes foram facilmente calados. O povo aplaudia: esses jornalistas não tentavam, como assaltantes, parar a locomotiva para saquear o comboio? E se vieram intelectuais e diletantes, padres e oportunistas; cantores, poetas, circences, locutores, contraventores, jogadores de futebol, artistas, operários, estudantes e desempregados, a desfraldarem o estandarte, resgate do orgulho aos novos tempos. 
"Vaccarezza é de Cabral, que é de Cavendish, que é da Turma do Guardanapo, que é a cara do Brasil que perdeu a vergonha. Merece um convite para a próxima noitada em Paris. Se ainda não tiver recebido a carteirinha de sócio,  entra como acompanhante."  (Vaccarezza mostrou que no peito de assassinos da verdade também bate um coração: ‘Você é nosso e nós somos teu’)
Tantos atos de patriotismo e amor ao próximo elevaram os indices de popularidade acima dos 100% - sim -, porque até mesmo Tio Sam concordava com o espetáculo. As cifras corroboravam o mérito dos prêmios e honrarias internacionais abiscoitado pelo semi-analfabeto. Quem poderia deter a formidável suástica, tão desenvolvimentista? Afinal, país rico é sem pobreza!

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