segunda-feira, 12 de julho de 2010

A falsidade ideológica do Grande Arquiteto

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus.
SÓCRATES
O subversivo comungava, mas ao cabo pouco valia. Ele próprio dava pouco valor à vida. O paraíso das ilhas gregas era infernal à condenado.
Aos segundos diz imaginar que a morte deva ser um grande bem, seja ela um sono tranquilo ou o convívio no Hades com os grandes homens que lá habitam.
PLATÃO, Apologia de Sócrates. LPM, 2009: 16
Por não ter mais nem tempo a perder, SÓCRATES resolveu antecipar a morte para arriscar ganhar a sabedoria de uma vez.
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Religiões de plano oferecem o tapete ideal à tergiversações: caráter abstrato, improvável, dialético, e por fim ideológico, pela metafísica apurada na ardilosa síntese.
Doutrinadores e crentes são unânimes: DEUS só faz bem. O mal é coisa de lobo-mau.
A ordem e a beleza que vemos no Cosmo resulta de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão, um 'demiurgo' (gr. δημιουργός), que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável
PLATÃO, Timeu: 26a
SÓCRATES & PLATÃO ainda obtém amplo sucesso, mas o que está em questão nem é tanto o peso da audiência, ou o crédito à informação, na verdade uma deformação extremada por mera suposição, e sim a prevalência do rastreamento científico, especialmente pervertido quando na ágora circulou o boato conturbador - o DEMIURGO era mesmo o Arquiteto do Universo. A linguagem divina era aquela genuinamente observada pelo também fanático órfico PITÁGORAS, e elevada ao Pantheon pela dupla fatídica, charada que os tontos terráqueos tinham que cumprir, para evoluirem:
Pitágoras apreciava a tal ponto a teologia órfica que dela fez modelo para plasmar a própria filosofia. Em decorrência disso, as sentenças de Pitágoras passam a ser chamadas sacras na medida em que são derivadas dos esquemas órficos.
MIRANDULLA, Pico della, A dignidade do homem: 73
Apenas uma mente extraordinária poderia calcular todas as forças e pêndulos de um relógio tão perfeito, capaz de tudo regular em cadenciadas batidas, do coração ao cronômetro, calculável por metros, kg, litros, mas principalmente pelo decurso exato do tempo, dos números de voltas que a Terra tinha que dar até a chegada de uma nova primavera. É dose!
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A presença de
DEUS
A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos-matemáticos.
PITÁGORAS
A pregação teológica divulga a bondade e a onipresença de DEUS. Como Ele jamais escreveu ou falou algo, sequer apareceu, exceto para um único felizardo na face da Terra, e ainda assim meio escondido, por trás de um monte, criou-se uma figura humana como se fosse Seu filho. Não se tem notícia do casamento de DEUS com alguém, mas como DEUS tudo pode, a auto-suficiência por certo Lhe é trivial. Haja imaginação!
Sei aonde, quando, por quem foi estipulado o mirante, principalmente a razão dessa configuração, bem como a lista dos gigantes sustentáculos que o estenderam, esses que à medida do tempo hão de escassear, malgrado as comunicações ensejarem o recrudescimento da vigarice. O consolo advém do fato que nenhuma ilusão pode prevalecer durante todo o tempo, entre todo mundo.
A invocação por DEUS fundamentou o desatino espartano, Roma, Florença e a Renascença; os impérios Romano, Bizantino, & o Franco-germânico, as cruzadas, o dizimar indígena, o estúpido desdobramento da Revolução Francesa, curiosamente a que desesperadamente buscou Lhe negar, e logo em seguida, NAPOLEÃO. Estendeu-se de COPÉRNICO, DESCARTES & GALILEU a EINSTEIN, com escala no rev. NEWTON; de MARX ao vigarista KEYNES; de HEGEL a HITLER; e de COMTE a MUSSOLINI, o "genial" autor da Carta di Lavoro:
Como sinal da sua estratégia de consolidação do poder fascista o duce ordena, em 1923, que o ensino religioso seja implantado nas escolas públicas de toda a Itália, bem como se agravaram as sanções judiciárias para quem ofender a religião e os padres.
www. educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2006/03/10/002.htm

A pena pelo desejo do conhecimento
Mercê da curiosidade, forte para superar a primária admoestação, o casal foi despejado da formosa moradia, e condenado a suar para sobreviver. O pior é que nenhum dos dois soube de nada, não aprenderam nada, muito menos descobriram algum segredo, nem mesmo depois da digestão, tanto que depois de alguns bilhões de anos DEUS designou seu próprio Filho, assim dizem, para ensinar tudo ao paspalhos descendentes.
O "trabalho" é esta designação latina, proveniente do castigo imposto pela degustação da maçã. Deriva de tripálio, ou seja, um "chicote tri-legal", diria o gaúcho, de tripla ponta, para ferir de uma só vez as pernas, o corpo e a cabeça de algum recalcitrante! Assim é que o trabalho vem sendo ao longo dos tempos legado aos escravos e classes mais ignorantes. Vai ver é por isso que nenhum político trabalha, mas fatura cada vez mais. Trabalho é para os que gostam de apanhar com tripalium. Preferimos surrar negros e índios, depois imigrantes. Aos europeus até os raquíticos asiáticos vinham a calhar - A U.R.S.S. simplesmente doutrinou a China por décadas, até ela se dar conta que havia importado um travesti, ainda na geração anterior à consumação do inusitado espetáculo que as cortinas arregaçadas em Berlim permitiram ver.
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A artimanha da separação para propor a religação

Na concepção cristã, o trabalho representava o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.
ROHMANN, C: 122
O confronto entre capital e trabalho é da mesma técnica que dispõe a adversidade da divina alma frente ao mundano corpo.
“Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirma a Rerum Novarum, em 1891.” ( DE MASI, D.: 47)
O objetivo é a colocação do juiz supremo, aquele que se valerá desse ser humano cingido para impor sua egoísta vontade. Separar o calor do Sol do próprio Sol? Impossível, mas se bene trovato, por que não?
O trabalho dignifica o realizador, com certeza. Distingue o ser humano do restante dos animais. Porém, mais do que o simples usufruto da realização pessoal, sempre há algum acréscimo material, uma contra-partida a favor; contrariu sensu, alguém trabalharia?
O capital somente se faz pelo trabalho, e mesmo a terra pode ser alocada em pavimentos. É o homem que empresta valor às coisas. É a produção que lastreia a moeda, não ela que cadencia a produção, embora possa obstaculizá-la pelo corte no suprimento, o que se faz com impostos, e vários outros compulsórios, rumo ao suicídio.
Não consigo dimensionar a diferença de área ocupada entre Japão e Brasil. Se o valor da terra pode ser considerado capital, coitado dos japoneses. Mas se for a mão-de-obra mais decisiva do que o próprio capital, ai do Brasil.
O trabalho dignifica e enriquece o ser humano. Como taxá-lo tal qual punição? Não encontro um motivo, sequer, para nele incluir questões teológicas, na verdade geopolíticas extrativistas, a não ser para aferir a facilidade de conduzir rebanho à tosa.
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A falsidade ideológica

Quase como é razoável e certo que Deus fará sempre o melhor,
embora o menos perfeito não implique contradição
LEIBNIZ, G.; Discurso de Metafísica.
Sir BERTRAND RUSSELL (p. 21) jamais compactuaria com o célebre ancestral matemático:
“Se houvesse um Deus, ele (ou ela, aquilo, ou eles) deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.”
A religião se difundiu graças à gigantesca falsidade ideológica estipulada na célebre expulsão do Paraíso. Calcule a pena adequada a um crime deste porte, forte para atravessar milênios de prática, sobre bilhões de vítimas. Mas ninguém precisa chamar os guardas. Como luz à mariposa, sua queda é fatal, e as duas mil e quinhentas voltas já estão cumpridas.
Posso elaborar uma obra do tamanho da Bíblia para desmanchá-la no mesmo modo cartesiano, ou então narrar direto trágicos episódios pelos quais DEUS não pode ser responsabilizado, "porque Ele é bom", conforme a vox populi, ou então focalizar a faina extremada pelo poder como bem supremo, quando a má-fé, a astúcia são toleradas porque insignificantes perto do grande Ideal. Não me apraz. Apenas tento realçar o irrecuperável prejuízo advindo dessa forja, fruto do medo em conjugação com a ganância. Não sei quantos milhões partiram cedo desta vida, levados de roldão pela insanidade de poucos. Os que sobraram, ora acessam à milhões de fontes, mas na verdade buscam apenas as figurinhas que caibam nos seus assentos. Desse modo a humanidade tem que lavrar duplo trabalho, um por causa de quem inventou a serpente. Limpar a área do veneno é uma tarefa árdua, até dolorosa. Depois, voltar-se à realidade, outra tarefa árdua, porque jamais praticada.
Eis algumas parcas razões para esquecê-Lo. Ele não vem ao caso. Com certeza. Urge Sua revogação, à nossa dignidade.
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