A oração de Hipócrates é impactante; porém, contrária aos objetivos dos criadores de Deus. Se Ele é hegemônico, ela é impossível - o mal precisa existir..O mêdo constitui a base do dogma religioso, bem como de muitas outras coisas na vida humana RUSSELL, Bertrand, Porque não sou cristão: 57A boa Medicina trata o ser humano, e não a doença
HIPOCRATES
Mas eu não deixarei de tocar, em minha física, em várias questões metafísicas e particularmente nesta: que as verdades matemáticas, as quais chamais de eternas, foram estabelecidas por Deus e dele dependem inteiramente, assim como todo o resto das criaturas. Não receai, peço-vos, garantir e publicar em toda a parte que Deus é quem estabelece estas leis na natureza, assim como um rei estabelece leis em seu reino. DESCARTES, Carta à Mersenne,1630.
Incrivelmente a teologia vem assim pautando quase todas academias, como se houvesse algum resquício de lógica, de racionalidade além da mesquinhez, do egoísmo desmedido de seus inventores. A Medicina só podia escorregar por suas veredas.
Racional deriva de ratio, dividir. O apelo simétrico, contudo, restringe a possibilidade de um conhecimento abrangente, e por isso mais eficaz.
A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio, ou seja, o conhecimento concreto ou tradicional. O racionalismo serve apenas para aprofundar a inexperiência a partir do qual ele foi originalmente gerado.Segmentos acadêmicos per se são excludentes, e o exercício medicinal ainda requer especialização hipertrofiada, método supostamente mais preciso. Ao tirar de foco movimentos periféricos, o investigador desdenha vetores mais remotos, em geral responsáveis pelo objeto no qual se detém.
FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39
Na rotina diária, nem sempre percebemos que tudo que existe é de certa maneira controlado por forças e interações invisíveis aos olhos. Nossa própria existência, do nascimento até a morte, é influenciada por essas forças. Elas controlam as menores partículas subatômicas e as grandes galáxias a bilhões de anos-luz de distância.* * *
OLIVEIRA, A., Depto Física, Univ. Fed. de S. Carlos - http://cienciahoje.uol.com.br/133058
Até o advento das fundações científicas, as doenças eram combatidas por sacerdotes, curandeiros, feiticeiros, bruxos e alquimistas. Julgava-se que a invocação ao espírito seria forte para extirpar o sofrimento mais intenso da humanidade. DEUS, principalmente, sempre foi invocado, e até hoje, a julgar por inúmeros depoimentos, parece ter nesta tarefa sua principal função. Então, quando a peste assolava pelas pradarias, os sacerdotes convocavam o povo para se reunirem nas rezas. Como resultado, a praga se disseminava a plena velocidade.
Quando COPÉRNICO e GALILEU demonstraram que não tínhamos assim, tanta importância para Ele, que não éramos mais o centro do Universo, mas que DEUS havia composto o monumental como engenheiro, com tudo melimetricamente calculado, em perfeito ordenamento, o homem, à Sua imagem e semelhança, também partiu a tudo calcular. A concepção da natureza elaborada pelo Grande Arquiteto do Universo, portanto uma máquina perfeita, tornava tudo previsível. Para DESCARTES, (Regras para direção do espírito) não apenas os vegetais e os animais, mas também o próprio corpo humano seriam máquinas.
E deveras se podem perfeitamente comparar os nervos da máquina que vos descrevo aos tubos das máquinas destas fontes; os seus músculos e os seus tendões, aos outros diversos engenhos e molas que servem para as mover; os seus espíritos animais, a água que as movimenta, de que o coração é a nascente e as concavidades do cérebro são as aberturas.Nem foi assim, tão original: ANDRÉ VESÁLIO (cit. HENRY, John: 38), em 1543, já havia proposto o De humani corporis fabrica. O trilho bem servia à nova loco motiva: “A analogia com a mecânica animal tinha por efeito reduzir o maravilhoso, negar a espontaneidade do existente e garantir a ambição de uma dominação racional no curso da vida humana.” (CANGUILHEM, G., Ètudes d'histoire et de philosophie des sciences: 221; cit. DESCAMPS, C.: 91)
DESCARTES, cit. ALQUIÉ, Ferdinand, Galileu, Descartes e o Mecanismo: 66
A gravidade do sulco cartesiano agravou o equívoco, e a humanidade se precipitou pela verêda:
A partir dessas considerações, podemos então nos questionar como a filosofia de Descartes influenciou as concepções de saúde e doença, na medicina moderna, e que ainda hoje se mantém imperativa nos sistemas de saúde.Dessarte, até hoje há quem desse modo nos descreva, compostos por uma espécie de sistema hidráulico, irrigado por “tubos” capazes de encaminhar a constante circulação dos fluidos. Nas artérias e nas veias, nestes “tubos”, circula o sangue. O trânsito é movido pelo motor denominado coração. Contração e dilatação produzem a pressão e impulsionam o movimento pelas artérias, tudo baseado em ações mecânicas de trações e inchamentos.
Ediara Rabello Girão Rios , Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral. GLEISER, Marcelo: 164A natureza funcionaria de acordo com o dimensionado padrão, e tudo no mundo material podia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes. Todavia, a identificação dessa partes, e de suas causas, foi paulatinamente se tornando cada vez mais complexa. Diante da chuva de incidentais, de dados inexplicáveis, o segmento haveria de se repartir ainda mais, na faina da especialização, tornando o erro, que já era grave, monumental. Sem dúvida é justamente esta faina, ironicamente, que conduz a disciplina aos labirintos, como de resto as acadêmicas em geral. Ao fomentar a especialização e desprezar o conhecimento abrangente, todavia, tal trem epistemológico tem conotação própria de dinâmica desenhada para rápida intervenção, e contribui para o desenvolvimento tecno-estratégico; não suporta, todavia, o selo científico.
A medicina é prima-irmã da matemática. A própria designação médica nos remete à medição. Somente é suscetível de medida o que se torna aparente. Talvez por isso os médicos sejam quase unânimes em apontar causas físicas como fatores preponderantes que precipitam a "doença invisível" denominada stress. A lista é longa, mas se presume que eliminando pelo menos parte, ou de preferência toda, o vivente possa se colocar inacessível à mazela. Os doutos recomendam atividades e abstinência de inúmeras práticas, entre as quais despontam o lazer, em conjugação com atividades físicas. A vida sedentária prejudica o ordenamento vital, tanto quanto o consumo de álcool e fumo. A maioria dos estressados de fato apresentam esses chamados vícios; porém, estes não são causas, e sim conseqüências das mentes fracionadas.
É esse o erro de Descartes: a separação abissal entre corpo e a mente, entre substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com funcionamento mecânico de um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o raciocínio, o juízo moral e o sofrimento adveniente da dor física ou agitação emocional poderiam existir independentemente do corpo. Descartes pensava que o calor fazia circular o sangue, que as finas e minúsculas partículas do sangue se transformavam em espíritos animais, os quais poderiam mover os músculos. Porque não censurá-lo por uma dessas noções? A razão é simples: há muito tempo que sabemos que ele estava errado nesses aspectos concretos, e as perguntas sobre como e por que circula o sangue receberam já uma resposta que nos satisfaz completamente. O mesmo não sucede com as questões relativas à mente, ao cérebro e ao corpo, em relação as quais o erro de Descartes continua a prevalecer. Para muitos, as idéias de Descartes são consideradas evidentes por si mesmas, sem necessitar de nenhuma reavaliação.Isso foi de certo modo superado. Atualmente os profissionais avaliam efeitos psicossomáticos, de modo que os diagnósticos contemplam a maior gama de disfunções. Por isso o nível de stress é medido pela pressão sanguínea, mas do tratamento se encarregam os psiquiatras.
DAMÁSIO, Antônio R.: 113
Qual a margem de êxito na eliminação do fantasma por esses profissionais? Mínima.Não sei se o senhor adivinhou a ligação secreta entre A Questão da Análise Leiga e O Futuro de uma Ilusão. Na primeira, quero proteger a psicanálise dos médicos; na segunda, dos sacerdotes. Quero entregá-la a uma categoria de curas de alma seculares, que não necessitam ser médicos e não podem ser sacerdotes. FREUD, em carta a PFISTER; cit. revista Piauí:11/ 2010
A quem caberia, então, tratar essas cisões que estendem os pensamentos por vetores frontais, cada qual puxando as cordas para si, até rebentá-las? A resposta ofereço com a segurança do fio-de-ariadne. a cura do stress e em grau máximo da esquizofrenia somente é possível através do entendimento da Filosofia, sua formação, extensão, certezas e principalmente seus enganos, cátedra estranha à à Medicina, e de resto à maioria dos profissionais, mesmo os proclamados superiores..
A cultura do stress* * *
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