Ah, se o Arruda falasse...
Jorn. ELIO GASPARI, Folha de São Paulo: 2/12/2009
O Governador de Brasilia não foi detido por causa de seus flagrantes desvios dos recursos públicos, mas por tentar obstaculizar a eterna instrução processual. Tal qual todos os precedentes, o processo seria arquivado, mas sua covardia, o medo da condenação lhe precipitou a continuar praticando os atos que vinham dando certo já por uns quinze anos. ARRUDA era dos principais negociadores de FHC para subornar os membros do Congresso Nacional, algo que vinha logrando êxito desde a aplicação do estupendo golpe bancário coberto pelo PROER, e posteriormente na alteração constitucional que permitiu a reeleição do chefe, ao infortúnio da Nação...
A negociata para a aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC foi o primeiro grande escândalo deste governo. Em maio de 97, a Folha de São Paulo apresentou gravação de conversa na qual os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, confessam ter recebido R$ 200 mil para votar a favor da emenda da reeleição. Segundo Ronivon e Maia, o filho de ACM, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) e o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) eram os intermediários das negociações que eram acertadas diretamente com o então ministro das Comunicações Sérgio Motta. Ainda conforme a Folha, o pagamento era por conta dos governadores do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL-AM), e do Acre, Oleir Cameli (sem partido). Na gravação, Ronivon dizia que os deputados Osmir Lima (PFL-AC), Chicão Brígido (PMDB-AC) e Zilá Bezerra, também haviam vendido seus votos. A oposição se mobilizou para fazer a CPI da reeleição e o governo agiu como sempre: distribuiu verbas aos deputados e senadores para elidir o inquérito.
Para confirmar a lealdade o sistema sempre foi violado:
"ACM e José Roberto Arruda não foram santos, mas o painel eletrônico do Senado também não era virgem até a cassação de Luiz Estevão. Mais de uma votação secreta já teve antes seu resultado conhecido." (CRUVINEL, Tereza, Panorama Político)
O líder do governo pediu desculpas, renunciou, foi abandonado pela quadrilha como se abandona o assecla pego pela polícia, mas foi acolhido pela grei correlata, e assim retornou glorioso à testa de funções ainda mais elevadas, para executar o mais vil espetáculo.
O Poder Judiciário finalmente cumpriu alguma função, mas ela não se resumirá em instruir livremente o processo do escandaloso
mensalão brasiliense. Talvez disso a Suprema Corte, que vem garantindo a corrupção desenfreada precisamente desde 1995, ainda não tenha se dado conta.
Já na época em que foi ameaçado pela violação do painel, o então Líder do Governo insinuou que seus atos e de ACM, do DEM, ambos partidos integrantes do Executivo, estavam à serviço do notável mandante. Imediatamente houve a negociação, e
ARRUDA saiu arranhado, mas não abatido.
"Arruda também deverá ter, na medida do possível, um guarda-chuva político do partido. Precisará, porém, preservar o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governo de envolvimento com o escândalo." (KENNEDY ALENCAR, http://os.intocaveis.com.br/GS1/GestaoDaIndignidade.htm)
Como vemos, como prêmio ao seu silêncio, abiscoitou poucos anos depois nada menos do que o governo do Distrito Federal.
Desta feita, por envolver diretamente a Polícia Federal, por estar preso, sujeito à imediatos depoimentos, a uma inédita pressão popular e da imprensa, conquanto alvo de ataques e críticas até mesmo de seus "parceiros de negócios" não será surpresa se o acuado cidadão já se valha da delação premiada, dando a conhecer não só os procedimentos e os participantes das falcatruas que motivam seu cárcere, como o histórico geral de sua conduta política desde o início na sua vida pública.
Saliente-se que o distinto Governador seria designado como Vice-Presidente na chapa de
JOSÉ SERRA, formando novamente a dobradinha PSDB/DEM. Coincidentemente vige estranheza pela preferência ao apático e quase anacrônico governador paulista na cabeça de chapa, em detrimento do correligionário governador de Minas Gerais,
AÉCIO NEVES, notável pela descendência, desenvoltura e jovialidade. De uma hora para outra, sem nenhuma razão aparente, o mineiro desistiu de concorrer pela indicação do partido, sequer aceitando a composição da chamada chapa p
uro-sangue, para muitos imbatível. A desistência pode estar ligada diretamente ao incompetente
ARRUDA, desmascarado nacionalmente, periclitando por isso, graças à sua fraqueza, vomitar o
modus operandi das quadrilhas, fato que poderia se estender ao tempo em que articulava com
MARCOS VALÉRIO, célebre introdutor do
mensalão.
A revista
IstoÉ publicou reportagem sobre aquele pioneiro "
mensalão", o qual incriminava o senador
EDUARDO AZEREDO (PSDB-MG), o ministro das Relações Institucionais de FHC,
WALFRIDO DOS MARES GUIAS, e o governador de Minas Gerais,
AÉCIO NEVES, em um esquema de arrecadação de dinheiro muito semelhante ao do aprimorado pelo PT, e descoberto em 2005. O ministro
WALFRIDO DOS MARES GUIAS é acusado de ter movimentado mais de R$ 24 milhões para a campanha de
AZEREDO, isto é, para seus bolsos; o PT também foi aquinhoado, com R$ 880 mil; e o governador
AÉCIO NEVES, que na época lutava pela reeleição à Câmara, abistoitou R$ 110 mil do esquema.
O quadro, todavia, tende ficar ainda mais negro. A Polícia Federal, em função da delação premiada, pode estar reunindo elementos que também atingiriam
SERRA, até agora incólume. Começou com o afiliado de
SERRA ameaçado de perder o mandato da prefeitura paulistana, justamente por causa da descoberta de quem foram seus investidores de campanha, fornecedores oficiais.
CBN - Lucia Hippolito Camargo Corrêa, OAS, Carioca Christiani Nielsen, Engeform e S/A Paulista doaram R$ 6,8 mi e já receberam R$ 243 mi da Prefeitura. Banco Itaú,como sempre, e a Associação Imobiliária Brasileira (AIB) complementam as doações consideradas ilegais pela Justiça Eleitoral à campanha do prefeito, com R$ 10 milhões. AIB é fechada do sindicato da habitação, Secovi.
O governador paulista na época também era Ministro de FHC, portanto colega de
MARES GUIA, e de
ELISEU PADILHA, gestor de monumental desfalque junto ao DNER, e responsável direto por permitir que as empreiteiras que lhe forraram pudessem arrancar seus lucros diretamente à beira da estrada, de todos os veículos que se obriguem a transitar.
ELISEU PADILHA , por tudo, ficou conhecido nacionalmente como
ELISMEU QUADRILHA.
ARRUDA participou disso tudo, e conhece todos os meandros, filigranas, e personagens. Não obstante,
SERRA também se imiscuiu em articular e captar recursos à campanha de FHC, em conjunto com
SERJÃO e
MÁRIO COVAS. (.
A velha e a nova 'arte de furtar') Uma de suas maiores conquistas foi arrancar da FORD e da GM* uma cifra substancial, mas insignificante às multinacionais, frente à obstaculização de importações decretadas por FHC, sob a pecha de que o Brasil não tinha dinheiro para ficar importando automóvel. Na ocasião ainda ficou garantido aos queridos investidores terrenos e instalaçoes a fundo perdido, e impostos perdoados, para que montassem seus veículos, cujo escoamento o governo também garantiria diretamente, para integrar sua gigantesca frota, em todos os estados. Em seguida FHC importou um portaviões, e enorme quantidade de tanques usados, mas isso não vem ao caso.
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