domingo, 7 de março de 2010

Formando delinqüentes

O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência alguma no Brasil! FEYNMAN, Richard P, O Senhor está brincando, se. Feyman?

Desencantada viúva enfrentava problemas escolares com seu filho, com 13 anos de idade. O adolescente já havia sido reprovado em exame de colégio católico. Na "segunda época", por não responder oralmente o nome das pirâmides do Egito, foi condenado a repetir o ano letivo. A senhora dispensou aqueles serviços "educacionais", colocando o moleque numa escola protestante. O garoto voltou a apresentar problemas, desta feita com a matemática, mas ela tomou a tempo as providências. Diariamente, durante uns tres meses, ajudava-lhe a compreender como elaborar soluções dos problemas que paulatinamente eram ministrados.
.O filho colaborou. Sofrer nova humilhação era por demais aterrorizante. Ao cabo, sabia quase tudo de cor. Na prova semifinal, todavia, obteve nota zero!.A estupefata mãe foi ao professor para conhecer a razão de tão frustrante resultado; .Recebeu a mais insólita notícia: o filhinho havia colado toda a prova!
- Mas como, professor? Todo dia lhe tirava a lição, e ele, em que pese me dizer que para nada lhe serviria tanta bobagem, ainda assim, para não passar vexame, ele que tinha orgulho de si, recitava-me com perfeição. Meu filho não tinha a menor necessidade de cola. Talvez desse cola para alguém, então.
-Então vamos ver, disse o cético professor.
Passadas duas semanas, o professor chamou o zerado na frente de todos:
-A mamãezinha desse colega de vocês veio me reclamar do zero que ele levou.
O garoto empalideceu.
- Este rapaz, repetente de uma boa escola, parece que gostou de ficar marcando passo!
De pálido, o garoto ficou rubro de vergonha.
- Ele mesmo irá provar que mereceu o zero! Elabore o Teorema de Pitágoras e a Fórmula da Baschara no quadro-negro, para todos apreciarem!
Seria uma barbada, se o menino não estivesse com sua personalidade tão abalada, fragilizada. O pavor tomou conta de si. Lembrou-se da humilhação recentemente passada naquela prova oral, viu seus colegas rirem de sua situação, olhou a cara perversa do abjeto professor, e simplesmente teve uma pane mental. Nada realizou. O professor abriu o sorriso, e lascou:
-Viram só? Depois vem os pais reclamarem que o ensino é mal ministrado, de má qualidade, que somos injustos, e tudo o mais. De que adianta eu ficar aqui ensinando coisas para desinteressados, com tendências até criminosas, porque colar é falsidade ideológica, ou não?
Pode ir embora garoto, e diga para sua mãe procurar um reformatório à sua personalidade!
Cabisbaixo, motivo de chacota, e mesmo indiferença dos amigos, chegou em casa dizendo que nunca mais colocaria seus pés numa escola, posto conter melhor caráter do que aqueles que se arvoravam donos do conhecimento. Todavia, alterou todas as notas, matriculou-se num colégio de arrabalde, e assim iniciou sua carreira de crimes e vigarices, cuja trajetória e desfecho aquela sofrida mãe se eximiu de me reportar.
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Não sei a cidade, tampouco a época em que isso aconteceu. Hoje em dia ninguém repete ano por causa de uma matéria, parece haver melhor compreensão e paciência, mas não vem ao caso. O que deprime é o modo como a maioria dos professores de escolas para crianças, em geral mal-pagos, e por isso muitos recalcados, em tratam seus alunos - como pestes, delinqüentes, malandros, espertinhos, desinteressados, mal-educados de casa.
O superego é um juiz malévolo, como seu inconsciente é um carcereiro obtuso: velando sempre tão zelosamente sobre seu segredo, ele acaba por designar o local onde se esconde. BACHELARD, GASTON, cit. QUILLET, PIERRE: 61
Os pupilos acabam assumindo a imagem que os mestres projetam, e assim construímos esta beleza de sociedade - hipócrita, safada, medíocre - sempre pronta a julgar e apontar defeitos nos semelhantes, conquanto não lembra de seus próprios erros, e de sua contribuição para formar seres infelizes, porque voltados apenas à satisfação egoísta de pífios caprichos encobertos por falsa moral, salvo alguma rara excessão.
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