Future-1 já chegou na SiderALL Base

Foca Liza entrevistou
o Comandante 010.

O senhor vem precedido de enorme cartaz. A platéia quer esmiuçar a bagagem trazida da Estação-Primeira do Futuro. Como estão as coisas por lá?

Esqueça meu número. Sou o Agente pra Frente. O fator primordial com que por lá se lida é justamente isso: o tempo.
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Muito quente? Mau tempo? Aeroporto fechado? Neve? Tsunami?
Nada, vivente. A preocupação paira sobre tempo sim, mas aquele que passa, o que se vive, o que tem fim.

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Seja mais claro, senhor Agente!

Preocupa-nos a quase centena que recebemos, especialmente com os últimos, o que faremos.
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Qual a dúvida?
A coisa ficou mais complexa, mas ninguém se aflige, ou corre. A pressa trás a morte depressa. Aprendemos a coletar o tempo de todos. Isso significa, em primeiro plano, o dos presentes, juntos ou distantes; e inclui-se, por tantas inferências, os tempos que já não são visíveis, ou aguardam conferências. São por demais relevantes.

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Quê confusão. Mas bah, tchê, índio véio. Ôigalê!

Até bicho no salão se vê. Em algum nicho vira emaranhado, mas o quê fazer? Somos nós e nossas circunstâncias. Elas estão cada vez mais amplas, desgarradas de modo espantoso; porém, se não as salvarmos, não nos salvamos. Ao reparar a ecologia, vem ao semblante a alegria.

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Concordo. Mas se vale o tempo invisível, como remunerá-lo?
Esqueça hábitos antigos, como guardar papelucho. A sociedade é de amigos; e não há nenhum gorducho. En passant, coexistem o gaucho e o gaúcho, mas ainda não se cumprimentam. Muito engraçado.

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Não fuja da questão, por favor.

Conta-se muito naufrágios, afogados em furados sufrágios. Reais de cem, desde Féliz HC não mais se vê. Eles migraram a ilha deserta, propriedade de gente muito esperta. Circundam-lhes tubarões, crocodilos e outros répteis. Ao centro, em paredes de aço, ergue-se o templo aos semideuses, Querem bem protegê-los. Estão inacessíveis ao laço, pois.

Não vêem nem a cor do dinheiro?
O real deveria ser verde, pela esperança. Quê esperança! Sumiu, com a cor apropriada. Do Triângulo das Bermudas não tem volta. É bilhete-azul. Mas sabemos onde se esconde. Jaz deitado por baixo dos panos com o remanescente de Cuba, alguns míseros austrais, e os petrodólares, da Venezuela, em preto ou vermelho, mas não rubro-negros.

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Mas que conversa. E daí?

Dinheiro, só pelo Paraguai. Nem neto enxerga o vil objeto.

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Afinal, que moeda circula?

São muitas, mas nenhuma transportada por mula. É mula lá, e nós aqui. Escambo sofisticado, se preferir. Meios de troca: informação, música, técnica, idéia, sonho, conhecimento, arte, cultura, humanismo, compaixão, solidariedade, gratidão. Mister o respeito ao indivíduo. Ele é o átomo que causa o Big-bang. Massa é na pizzaria. Som e luz. Isso é que vara o EspaçoTempo.

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Muito lírico. Até sonho é moeda de troca. Queria saber como ele transita. Ademais, dispensam a pizza. Vivem de luz, como atocha a australiana.
Passear pela vizinhança não cansa. O passageiro se alimenta, dorme, trabalha, caminha, ama, vive feliz, quase do mesmo modo como se conhece aí, no passado. Se tiver alguma farinha no saco, passa bem. Quem nada tem, na carona vem. Pessoal gosta de coisas simples: futebol, praia, samba & cerveja.
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Quase igual. Não fossem as taxas e os juros cobrados pela farinha, depois de tropeçarmos em pobres ao relento, teríamos um replay. Que inveja! Seria força da lei, nobre mensageiro?
De fato, o povo está bem mais culto, civilizado. Ninguém se vale de medida provisória. Qualquer indivíduo é capaz de traçar sua própria História, pelo menos, e ela não tem volta. Nada é provisório. O tempo passa, e define. Quando apto, o cidadão redige a Constituição que lhe é compatível, e a registra erga omnis*. É o primeiro a querer preservá-la. À consagrá-la, cumpre.

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E a arrecadação? Tramitação burocrática?

Nada se cobra. Tudo é patrocinado. Existe apenas um cartório no globo, on line 24 horas for you. É o bastante. O resto é ranço daquele gatuno palerma, tal de João VI.

Gostaria de acrescentar uma curiosidade; mas antes, se me permite, tenho que fazer contato com minha base. Eles pensam que tudo transcorre naturalmente. Não cogitam que a civilização ainda esteja embrulhada em carma espartano.
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* Termo jurídico do Império Romano. Assegura o direito (também a obrigação) perante todos os demais.