terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Santa Atômica

Como? O homem seria somente um equívoco de Deus? Ou então Deus seria um equívoco do homem? NIETZSCHE, Friedrich, Crespúsculo dos ídolos: 18
Ela se renova, assim como as gerações, graças a uma atividade que constitui o melhor jogo do 'homo ludens': A ciência é, no mais estrito e melhor dos sentidos, uma gloriosa diversão. BARZUN, Jacques, cit. BERNSTEIN, Jeremy, Observación de la Ciencia. México: Fondo de Cultura Económica, 1988: 11. -

Circulam por várias capitais européias cartazes sugerindo que Deus não existe, e que portanto as pessoas devem parar de procurá-lo.
Eis uma oração verdadeira e falsa ao mesmo tempo. É certo que a figura de Deus-pai foi um artifício vitorioso. O prolelitismo angariou enorme contingente a colaborar com algumas castas. E lá se foram muitas riquezas, e vidas, em prol do ardil construído na mitológica Grécia. Mas também é verdade que estamos todos envoltos em uma teia espetacular, cujas ramificações se estendem às fronteiras do Universo, de modo que se pode inferir que um poder muito especial a tudo permeia:
No espaço aparentemente vazio há um nexo, uma vida eterna,
que une tudo quanto existe no
Universo - tanto animado quanto
inanimado -
uma onda de vida que flui através de tudo o que existe.
PARAMAHANSA YOGANANDA, Onde Existe Luz.
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Assim, descobriu-se recentemente que na natureza tudo está subordinado a uma ordem, até mesmo os fenômenos confusos, sem nexo, totalmente imprevisíveis. Esta ordem ‘superior’ é capaz de explicar eventos aparentemente randômicos - não importa se se trata de bolsa de valores, da mudança na temperatura de nosso planeta, ou da maneira que nós formulamos nossos pensamentos – e que podem ser expressos tanto em fórmulas matemáticas e físicas, quanto em belas imagens (os chamados fractals) disformes, mas com uma atraente irregularidade. Todos esses eventos têm algo em comum: o fato de serem atraídos a certos estados da natureza, o que lhes dá unidade, se bem que disfarçada. A nova regularidade dos fenômenos deu origem a uma nova ciência, que tem o ‘caos’ como tema central e na qual, um dia, deve se enquadrar a teoria das ondas.
WITKOWSKI, Bergè: 275

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Pelo fato da homogênea imensidão na qual estamos submetidos na espetacular viagem pelo EspaçoTempo, é praticamente impossível discernir a presença de Deus. Provavelmente esta é a razão da assertiva européia. Não há a menor referência, sequer em imagem, a qual cada um trata de projetá-la de acordo com sua própria imaginação. Ademais, humanos só logram compô-la segundo parâmetros racionais. Quando se trata do sobrenatural, nenhum arrazoado poderá lhe alcançar, de modo que é mesmo prudente esquecer da aventura.
O mesmo não acontece, todavia, com as figuras projetadas de Jesus, de Santa Maria e, enfim, de todos os santos. Nada disso faria diferença, mas nestes casos nossa ciência pode oferecer uma guarida, uma explicação de como os fenômenos miraculosos são alcançados por milhares de fiéis.
Só conhecemos uma realidade - a dos pensamentos. Como?
Se isso fosse a essência das coisas?
Se a memória e a sensação fossem os materiais das coisas?
NIETZSCHE, Friedrich, O livro dos filósofos: 45

* * *
A pesquisa atual se volta para a incorporação de elementos aleatórios em um número cada vez maior. Isso é verdade tanto para a cosmologia de Hawking quanto para o estudo dos insetos sociais tão qualificados como Pierre Paul Grassé ou Rèmy Chauvin, que insistem sobre o papel do aleatório no comportamento social. PRIGOGINE, I., cit. PESSIS-PASTERNAK: 39
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Depois que se descobriu que a matéria é apenas energia concentrada, e que ela não é intrínsecamente estática, posto a energia per se requerer dinamismo, e que o Universo, por tudo, flui pelo movimento, os conceitos de separação entre espírito e matéria, entre o abstrato e o concreto se tornaram desprovidos da base fática. Do macro ao microcosmo observamos o mesmo fenômeno. Para o acesso ao detalhe os quânticos estenderam a freeway: o átomo que compõe qualquer objeto se movimenta. Eletrons trocam de órbita de modo aleatório, mas também podem ser induzidos. Pois o agnóstico Bertrand Russel foi pioneiro em perceber o desdobramento. Vale a pena apreciá-lo, a quase século de distância:
O pedaço de matéria nada mais é senão uma série de eventos que obedece a certas leis. A concepção de matéria surgiu em uma época em que os filósofos não tinham dúvidas sobre a validade da concepção 'substância'. A matéria era a substância no espaço e no tempo; a mente, a substância que estava só no tempo. A noção de substância tornou-se mais vaga na metafísica no decorrer dos anos, porém sobreviveu na física porque era inóqua - até a relatividade ser inventada. A substância, tradicionalmente, é uma noção composta de dois elementos. Primeiro, tinha a propriedade lógica de ocorrer apenas como sujeiro em uma proposição, mas não como predicado. Segundo, era algo que persistia ao longo do tempo, ou no caso, de Deus, que era totalmente atemporal. Essas duas propriedades não tinham necessariamente conexão, contudo, isso não era percebido, visto que os físicos ensinavam que pequenos pedaços de matéria eram imortais e a teologia ensinava que a alma era imortal. ambos, portanto, pensavam ter duas caracter[isticas de substância. Agora, entretanto, a física nos força a considerar os eventos evanescentes como substâncias no sentido lógico, ou seja, como sujeitos que não podem ser predicados. Um pedaço de matéria, que tomávamos como uma entidade persistente única, é na verdade uma cadeia de entidades, como os objetos aparentemente contínuos em um filme. E não há razão pela qual não possamos dizer o mesmo quanto à mente: o ego persistente parece tão fictício quanto o átomo permanente. Ambos são apenas uma cadeia de eventos que têm certas relações interessantes uns com os outros. A física moderan nos permite dar corpo à sugestão de Mach e de James de que a 'essência' do mundo mental e do mundo físico é a mesma.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 74

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Tudo interage com tudo, mas a incerteza é nossa sina. Não sabemos porque o eletron, diante da presença do simples olhar, muda a trajetória. O elétron não tem olhos, nem ouvidos, nem faro, nem dor, mas ele é "sensível". O átomo capta e emite energia, e por isso é a liga fundamental.
"O choque, a ação de um átomo sobre o outro,pressupõe também a sensação.Algo de estranho em si não pode agir sobre o outro." (NIETZSCHE, F. , O livro do filósofo: 45)
Ao descobrir essas propriedades, o homem construiu a bomba atômica, que nada mais é do que uma ordem efetuada para apenas um átomo, que por sua vez transmite ao vizinho, e assim por diante, provocando a fissão generalizada:
Sendo uma energia que se comunica, pode ser cognominada tal qual difusora de informação; no mínimo, predispõe a existência de um emissor, e a própria direção. Por tudo, sempre causa reação:
A partícula ao se propagar pelo espaço emite um campo que informa esse seu movimento no sentido de um 'abre-alas que eu quero passar' (como se fosse um empurrar a distância). Literalmente falando, ela empurra a distância tudo o que está a sua frente, e certamente receberá uma reação dinâmica conveniente (o que pode até mesmo provocar uma reflexão total)
MESQUITA FILHO, Adroaldo, Debates 'Ciencialist 2003' a respeito de uma Nova Teoria a propor as bases para o entendimento da Natureza Íntima da Matéria www.ecientificocultural.com/ECC2
No entrelaçamento transcorre a mensagem, ou a luz.
Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da matéria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas interações.
TELLES JR. Goffredo, O Direito Quântico,
p. 56
Naturalmente um núcleo atômico dotado com uma elevada carga energética vai produzir um efeito compatível, e o que determina a concentração é a quantidade de vetores incidentais, ou seja, uma intensa afluência energética de input, que corresponderá de outra sorte ainda maior potencialidade de output. Em palavras mais corriqueiras: uma bateria bem carregada pode iluminar uma cidade inteira.
A ciência sem a religião é manca;
e a religião sem a ciência é cega.
EINSTEIN, Albert
Pego uma carona, e especulo:
Matéria sem espírito não tem sentido; e espírito sem matéria não é sentido.
A imagem da Santa
per se não teria maior eficácia; mas ao se tornar lar imaginário da convergência de nossas determinações, catalizando a atenção de milhares de mentes humanas, torna-se ícone poderosíssimo, capaz de proceder os milagres nessas próprias mentes, e, por extensão, nos corpos que as sustentam. A explicação pode ser científica, mas a condição é ter fé, para poder captá-los.
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Complemente:

Primeiro Ato
Uma égide científica ao poder da Santa

Segundo Ato
Em busca da cientificidade religiosa



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