domingo, 8 de fevereiro de 2009

200 anos de Darwin: estórias de pernas longas

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A idéia é originalmente devida a Platão, que, sem dúvida influenciado pelas concepções pitagóricas, foi o primeiro a afirmar que o círculo, cujas partes são todas iguais entre si, é por essa razão a mais perfeita figura geométrica, e, portanto, como os corpos celestes são eles mesmos perfeitos, o único movimento que lhes é possível é o movimento circular uniforme. A tarefa dos astrônomos a partir de então foi construir um modelo matemático que explicasse os dados observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam dotados de movimentos circulares uniformes.
BEN-DOV: 19
O homem só muito lentamente descobre como o mundo é infinitamente complicado. Primeiramente ele o imagina totalmente simples, tão superficial como ele próprio.
NIETZSCHE, F., O livro do filosofo: 41

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O marketing greco-romano coloca o ocidente nos trilhos. O ser humano percorre a dupla linha estendida, supondo que ao eliminar ou ao absorver um equívoco automaticamente logra o passaporte à verdade.
Na França, desde 1789, ou se era vermelho ou branco, padre ou leigo, burguês ou socialista, reacionário ou progressista. E entre os dois grupos inimigos, as pessoas se estripavam, cortavam-se em pedacinhos, insultavam-se, desprezavam-se.
LAPOUGE, Giles
A chaga fundamental é o caráter mundano. Para elidi-la, Platão criou a alma*. O ser falha, peca; logo, o paradoxal é perfeito. Desse modo, a civilização sói tudo julgar, não no sentido da absolvição, mas da condenação. Supõe que a primária dialética afaste o erro, e com isso a parca imaginação se satisfaz:
“Somente a Idéia Absoluta é ser, perene vida, verdade que se sabe a si mesma, e é toda a verdade.” (HEGEL, G.W., cit. HEIDEGGER, M., A constituição onto-teológica da metafísica: 190)
Niels Bohr (cit. DESCAMPS, C.: 103) há século advertiu:
“Uma verdade superficial é um enunciado cujo contrário é falso".
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A evolução cultural não é determinada nem geneticamente, nem de qualquer outra forma e sua conseqüência é a diversidade e não a uniformidade. Filósofos como Marx e Augusto Comte que afirmaram que nossos estudos podem levar a leis de evolução que permitem prever desdobramentos futuros inevitáveis estão errados.
HAYEK, F.
Vejamos, pois, uma hipótese diversa, a da luminosa russa Madame Blavatsky (Helena Petrovna 1831-1891; The secret doctrine 1888; Escritos selecionados: 181; cit. LEMKOW, A.: 176):
Há três vertentes de evolução, separadas mas entrelaçadas, no esquema terrestre das coisas: a espiritual, a intelectual e a física, cada qual com suas próprias regras ou leis internas. As três vertentes são representadas na constituição do homem, no microcosmo e no macrocosmo (a própria natureza) e é isso que faz de nos os seres complexos que somos. (12)
Desse modo, não pode haver uma verdade absoluta. Ela é formada, tecida por todos os átomos do Universo, passados, ou virtuais. A eliminação do polo do engano não assegura per se o acerto do conservado, ou da instituído. Como toda a verdade é apenas precária, aguardando apenas ser falseada, para usarmos o mais tradicional termo de Popper, fica trivial concluir que não devemos, por prudência e cientificidade, jogarmos todas as fichas em apenas um caminho. Se ele for o do rio, aparentemente belo e convidativo, pode ser a mesma preferência do lobo que lhe aguarda logo ali, na curva. Todavia, quem seria este senhor Niels Bohr frente a poderosa matilha formada por Platão, Maquiavel, Descartes, Hobbes, Newton, Hegel, Darwin, Marx e Freud?
Bertrand Russell (Cit. FADIMAN, C.: 266) levantou sérias objeções a esse método científico, mormente quando estendido à sociedade:
Surge um grave perigo quando esse hábito de manipulação com base em leis matemáticas é estendido ao nosso trato com seres humanos, uma vez que estes, diferentemente do cabo telefônico, são suscetíveis de felicidade e infortúnio, de desejo e aversão. Seria, portanto, lamentável que se permitisse que hábitos mentais apropriados e corretos para o trato com mecanismos materiais dominassem os esforços do administrador no plano da construção social.
Na história das ciências e mesmo da filosofia podemos catar vários instantes nos quais a humanidade mergulhou mais profundamente na ignorância, justamente ao trocar uma percepção que era falha, por outra presunção decorrente, ainda mais nefasta:
Agora demonstrarei a estrutura do Sistema do Mundo: todo o corpo continua no próprio estado de repouso ou de movimento uniforme numa reta, a não ser que seja impelido a mudar esse estado por forças que lhe forem aplicadas. A mudança de movimento é proporcional à força motriz aplicada e ocorre na direção da reta em que a força foi aplicada. Para toda ação existe sempre uma reação igual e oposta.
NEWTON, I., cit. ROHDEN, H.: 169
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Essa contradição de idéias reproduziu-se, infelizmente, na realidade dos fatos na França. E, apesar de o povo francês ter-se adiantado mais do que os outros na conquista de seus direitos, ou melhor dito, de suas garantias políticas, nem por isso deixou de permanecer como o povo mais governado, mais dirigido, mais administrado, mais submetido, mais sujeito a imposições e mais explorado de toda a Europa.
BASTIAT, Frèderic, A Lei: 63
A confusão é latente mercê da instituição de Deus. O paradigma desnorteia completamente a humanidade. Como Deus e justiça andam de mãos dadas contra o diabo, a injustiça, todos presumem que apenas identificando o maligno obteremos a paz que só a verdade pode oferecer: "A verdade vos libertará."
A metonímia consiste no bizarro: ao supor que a verdade seja una, o ser humano despreza tudo o mais.
No aparecimento da dúvida o ser humano cogitou no livre-arbítrio. Neste caso a dialética fulgura solene, percorrendo a linha entre o bem e o mal, a verdade e a mentira, o preto e o branco, a matéria e o espírito, o consciente e o subconsciente, negativo/positivo, preto e branco. O fascismo e o comunismo monopolizaram as atenções do século da insanidade. Esquerda e direita assumiram tamanha gravidade que ninguém mais cogita em hipótese diversa. Hoje se fala em política mais à esquerda, ao centro, mas à direita todos se envergonham. Hipocrisia.
Quando o homem descobriu que a Terra não estava no centro do Universo, a lógica incitou-o a procurar o astro privilegiado. O Sol foi eleito. Deus não iria colocar a maior lanterna num canto qualquer. Pensar que o Universo não contém centro, nem pensar. Onde já se viu uma figura geométrica sem fronteiras, portanto, desprovido de centro?
Nem a física de Newton nem a biologia de Darwin disseram muito que possa contribuir para um quadro coerente de nos mesmos dentro do Universo. A biologia darwinista, quer em sua versão original bruta é determinista (a sobrevivência do mais forte), quer na versão neodarwinista com ênfase na evolução aleatória tem pouco a nos dizer acerca do porque de estarmos aqui, de como nos relacionamos com o surgimento da realidade material e muito menos a cerca do propósito e significado de qualquer evolução da consciência além da conclusão muito simples e utilitária de que a consciência parece “conferir alguma vantagem evolutiva.
FEYNMAN, Richard P., cit. GLEICK, J.: 182
A concepção heliocêntrica consubstanciada por Newton demoveu a hipótese de que éramos feito à imagem e semelhança de Deus. Se esse fosse o caso, qual a razão de habitarmos num simples planeta errante?
Pela certeza a humanidade mergulhou em tal ignorância que foram necessários quatro séculos para extraí-lo dessas entranhas, e ainda assim nem tanto assim: continuamos aprendendo nas escolas que a gravidade é produto de um jogo de forças entre as massas celestiais. E a dúvida se circunscreve de modo simplista: na defesa do criacionismo, ou da teoria da evolução:
Embora as escolas evangélicas brasileiras procurem conciliar as ideias darwinistas com o criacionismo, a verdade é que, para os defensores da versão bíblica da criação do mundo, a teoria da evolução representa um inimigo a ser combatido a todo custo. Nos Estados Unidos, a oposição ao darwinismo se tornou uma guerra que frequentemente chega aos tribunais. Nos últimos anos, muitas escolas americanas de ensino fundamental e médio simplesmente subs–tituí-ram os ensinamentos de Darwin pelo criacionismo nas aulas de ciências e de biologia. Duas dezenas de estados americanos já criaram leis que obrigam os colégios a ensinar o criacionismo ao lado da teoria da evolução. O último deles foi a Louisiana, em junho do ano passado. A manobra é constantemente motivo de processos judiciais por parte de pais de alunos – que em geral são derrotados nas decisões dos juízes.
Revista Veja, ed. 12/2/2009

Quanto a Darwin, ele se arranjou por meio de laboriosas ‘negociações’ teóricas, manipulando como podia as definições e os conceitos. O essencial é ver essas manobras como elas eram, em seu contexto, com seus lados bons e seus lados maus; e, depois disso, não procurar dissimulá-las com elogios superficiais ao 'gênio' darwineano'.
THUILLER, P.: 210
No valão das conseqüências, bizarro se tornam todos diagnósticos. Na especificidade das ciências humanas, especialmente na política, por seu liame macroeconômico, o falso sentido dialético baconiano-darwineano ainda se presta a extenso aplicativo:
A analogia sobre a crise financeira serve para mostrar que as teorias de Darwin - agrupadas no que se convencionou chamar de "darwinismo" - foram mais longe ainda: extrapolaram os limites da biologia e colonizaram outras áreas da ciência, influenciando várias esferas do pensamento humano. Mais até do que uma analogia, a evolução por seleção natural é um elemento crucial da teoria econômica moderna, segundo o economista José Eli da Veiga. 'A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo. E a economia é certamente um sistema evolutivo', afirma Veiga, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.
Estadão,08 de Fevereiro de 2009
O trilho, a tal dialética nos conduz ao labirinto. Se a estória de Adão e Eva é produto da imaginação, a de Darwin é da increpação:
“A teoria da evolução, de Darwin, de mutação acidental e de sobrevivência dos mais capazes, inevitavelmente tem se mostrado inadequada para responder a um grande número de observações biológicas.”
(FERGUNSON, M.: 149)
"Todas as etapas e estruturas anatômicas que Darwin julgou tão simples implicam, na verdade, processos biológicos imensamente complicados que não podem ser disfarçados por retórica.” (DOWNS, R. B.: 200) -

Veja:
As atochadas de Darwin

O erro metodológico de Darwin

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* Durante o século IV a.C., verificou-se, no mundo grego, uma revivescência da vida religiosa. Segundo alguns historiadores, um dos factores que concorreram para esse fenômeno foi a linha política adotada pelos tiranos: para garantir seu papel de líderes populares e para enfraquecer a antiga aristocracia, os tiranos favoreciam a expansão de cultos populares ou estrangeiros. Dentre estes cultos, um teve enorme difusão: o Orfismo (de Orfeu), originário da Trácia, e que era uma religião essencialmente esotérica. Os seguidores desta doutrina acreditavam na imortalidade da alma, ou seja, enquanto o corpo se degenerava, a sua alma migrava para outro corpo, por várias vezes, a fim de efetivar sua purificação. Dioniso guiaria este ciclo de reencarnações, podendo ajudar o homem a libertar-se dele. (Wikipédia)
Dioniso é apenas o tal Tirano de Siracusa, tirania que teve em Platão a presença e maestria.
Imagine que beleza de administração.






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