sábado, 15 de setembro de 2012

Crescimento da criminalidade

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.
Bertold Brecht
A criminalidade é questão nuclear, efeito atômico do Funil 2000. O fenômeno arrasa com tudo.
Número de homicídios em setembro dobra em SP em relação a 2011

Últimas 12 horas no RS
Jovem de 19 anos é morto em Garibaldi
Roubo de carros volta a atemorizar gaúchos
Especialista em segurança sugere uso de "kit assalto"
Três são presos por tráfico de drogas em Caxias do Sul 
Bar é assaltado e dono é amarrado com fio de telefone em Farroupilha
Vigilantes são presos por furto de óleo diesel em Caxias do Sul
Jovem de classe média alta é presa por tráfico de drogas em Caxias do Sul
Cinco rapazes assaltam ônibus em Caxias do Sul
Oficial escrevente do Fórum de Caxias está preso 
Quatro criminosos morrem em cercos da Brigada no RS Confrontos ocorreram em Venâncio Aires, Sobradinho e Guaporé
Acidente após assalto causa morte de dois suspeitos em Serafina Corrêa
Mulher é morta a facadas dentro de casa em Pelotas.
Homem é executado no centro de Passo Fundo durante a madrugada
Diante da impotência do Leviathan, despachamos a competente Focalisa para entrevistar a srta. Ana Lógica, ora morando numa estação espacial, autora do best-seller "Necessária consciência",
 (Publicação original  em janeiro de 2008)
Como a criminalidade pode assim evoluir? Seriam brandas as leis? Faltam policiais? Penitenciárias?
Nada disso. Repare: em apenas um dia de ação, sob o esperançoso nome de Operação Gênese. através dos 645 municípios de São Paulo, 2.191 pessoas foram presas (29/10/2009) Adiantou alguma coisa? Ademais, cadeias são universidades do crime. Investe-se um monte para pior resultado. Ninguém quer ser vizinho delas. Custa caro à sociedade qualquer internação. E quem lá se forma se apresenta ainda mais danoso à sociedade. O método da delinquência sai aperfeiçoado, movido por maior recalque. A prisão só agrava a questão, e posterga a solução.
Até a ONU está preocupada. A organização internacional pretende implantar projetos de mediação local de conflitos em comunidades carentes brasileiras. O trabalho deve se iniciar pelo Rio e S. Paulo, através do Programa Cidades Mais Seguras.
A ONU supõe tratar com gente compreensiva. Seus dirigentes devem estar com a cabeça na lua. Eles pensam, por exemplo, que através de instrução possam mudar até mesmo o regime dos talibãs. Por consenso é que jamais se extirpará as parcas condições atualmente experimentadas pelas comunidades brasileiras.
Então tem que segurar pela lei. Prometer castigos mais fortes.Homicídios aumentam em SP e delegado-geral quer pena maior  Prisão perpétua. Pena de morte, quem sabe?
Pena de morte arrisca o criminoso na hora em que está cometendo o crime. Nem isso o faz desistir. Ele supõe não ter mais nada a perder, e não poucas vezes o que quer é isso mesmo. Para a Sibéria costumavam enviar os pobres russos, sob o chicote dos soviéticos, os maiores assassinos de massa que se abateram sobre a civilização. Leis à granel introduziram sistemas fascistas, nazistas e comunistas. No entanto, todos conhecemos a magnitude dos crimes cometidos nessas infelizes sociedades.
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Que tal maior repressão, antes que o crime aconteça? Um aumento de efetivo circulando nas ruas?
É ao que se vem apelando. BM faz barreiras em avenidas e acessos de Porto Alegre para combater o roubo de veículos exceto o faturamento com multas, nada mais tem adiantado, A BM fiscalizou 553 veículos, revistando cerca de 1,2 mil pessoas. No total, 25 motoristas foram autuados e cinco veículos, recolhidos.
Se os crimes se efetivassem mais em alguns estados do que em outros, talvez pudéssemos tributar o recrudescimento a desvelo governamental.  Não é o caso. A mazela é nacional. Os batalhões tem aumentado bastante, até aritmeticamente; mas os crimes, geometricamente. Todos os estados apresentam índices a cada dia mais acentuados.
Que tal convocar o exército de uma vez?
Pode sair mais caro do que os crimes que ele elidirá. Ademais, acha justo, útil ou conveniente investir boa parte de seu trabalho para sustentar meros zeladores? E o que garante que um policial para cada cidadão não vá aumentar os crimes? Acabam se matando.
Não é a timidez - ou mesmo a ausência - do governo o que permite que a violência prolifere em bairros pobres infestados de traficantes. O que permite esse desvario é justamente o exercício governamental do seu monopólio sobre o uso legítimo da força. O problema com as favelas do Rio é o excesso de estado. www.mises.org.br, 16/3/2010
O volume criminal tem que arrefecer independentemente de legislação, ou controle. Muitas nações vivem na harmonia, no equilíbrio social e na solidariedade, sem se valerem do sabre.
Dizem que a América Latina abriga ignorantes. Falta informação, educação, enfim, defeitos pessoais.
Sim, de certo modo; mas, em alguma época ela foi melhor informada? Tínhamos mais livros, pesquisas, escolas, tvs, internets, celulares, ou o quê? Havia mais alfabetizados? No entanto, os índices criminais variavam em dígito. Ora, em três.
A desenvoltura da criminalidade não se deve a carência educacional.

Disseminar mais ainda a religião não adianta?
As Tvs tem apresentado mais cultos religiosos do que novelas, filmes e jogos de futebol. Há uma pregação incessante em algumas durante as 24 horas; e outras, alugam seus espaços madrugada a dentro. Qual sua técnica? Primeiro, rebaixam o ser humano a um patamar mais inferior do que a maioria dos animais; e após acusar o homem de todas as iniquidades, portanto admitindo seu mau caráter, surge a solução milagrosa do pensamento religioso - assim supervalorizado. Repare bem: os países muito religiosos, curioso, costumam ser os mais belicosos. Veja iranianos, iraquianos, e tantos anos. Como afirmei, antes de reunir a religião desune. Aliás, ela nisso é expert. O diabo foi criado e rotulado adversário. Se de fato existisse a sumidade, a religião deveria convencê-lo, não hostilizá-lo. Lembro de plano a guerra civil desencadeada entre os indianos, cujo resultado esfacelou o país. A Inquisição também, está lá, impregnada no EspaçoTempo, tanto quanto a atual "guerra santa."  Condutos religiosos estão de tal modo confusos que as instituições viraram excelente meio de vida para seus operadores. Um sucesso! Os pastores tosqueam ovelhas à granel - desde os cultos, e ingressando pelo plano político, mercê da comunicação de massa, através dos meios eletrônicos que domina. Nenhum setor produtivo é capaz de tão grandioso feito, tanta lucratividade, e ainda desprovida de impostos. O dinheiro que deveria irrigar as relações industriais, comerciais e de serviçoe é assim canalizado sem nenhum lastro que o legitime - ao contrário. A fé remove montanha, mas não o monte das Caymann
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Então Thomas Hobbes tem razão. O homem é o lobo do homem. Somente Leviathan é capaz de domesticá-lo. . 
O homem de fato tem se mostrado lobo de muitas coisas; e, dependendo das circunstâncias, pode até se aniquilar, como sói acontecer, mormente no anonimato da matilha. Mas o momento mais saliente é quando ele toma a chave do galinheiro, isto é, o segredo do cofre. Não escapa ninguém. A metáfora que legitima o trottoir do Brucutú, todavia, embora impactante, não traduz a realidade, que é formada em mosaicos. Encontramos dezenas de sociedades que vivem em paz, em salutar convívio entre ovelhas e leões. Nestas, o lobo é o amor da loba, o que desmonta a perfídia do Leviathan.
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Mas se não é sociológico, penal, nem psicológico, ou religioso, tampouco um problema educacional, do que se trata, afinal? Seria puramente econômico? Como devemos extirpá-lo, ou, pelo menos, estancá-lo, uma reversão, quem sabe? Como proceder? Onde foi que erramos?
Foram muitos momentos de desídia, mas fulguram alguns mais acentuados. Antes, permita-me mostrar-lhe a vizinhança, aqui do alto, longe dos tiros.Donde eles partem? Das localidades e dos tempos desprovidos de dinheiro.Não se trata de um indício relevante? Onde não há oxigenação, há desespero."Em casa onde falta pão, todos brigam, e ninguém tem razão". Nunca ouviu? "Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa quanto a falta de dinheiro", observou J.K. Galbraith.

Mas por que tanta miséria entre a gente que mora no mesmo país, no mesmo estado, na mesma cidade, no bairro à cerca, e que vivem o mesmo tempo? Não é tudo proveniente da preguiça, vagabundagem, indolência, má-vontade, má-educação, falta de religiosidade dessa cambada? Coisa de traficantes? Quem sabe formação genética? Origem racial? Ou então Marx tinha razão: a opulência se vale da pobreza. Nunca um pobre será rico! 
Mas nem combinados os ricos teriam tanta eficiência. Nem com maestro, essa.
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Que diabos! Onde quer chegar?
Trata-se de desvio econômico, sim, com efeitos sociológicos, sim, mas levados a cabo por artimanhas jurídicas, não por combinação de classes. A subversão do comportamento é fruto da ignorância, ou da ganância. Pior quando ambas aparecem somadas.
Façamos um vôo de reconhecimento, na cabeceira dos '30: os EUA amargavam uma falta de recursos descomunal. A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão. (Pipes, 2001: 183) Por mais que você se espante, tudo foi preparado!  
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Explique melhor.
A gravidade daquele paquiderme envolveu todo o sistema. São inúmeros qualificados depoimentos. Milton Friedman demonstrou. As autoridades monetárias produziram efeitos indesejáveis na economia. O Mestre de Chicago atribuiu ao tratamento errôneo da oferta de moeda, nos momentos que antecederam o New Deal. Recai ao próprio Federal Reserve a culpa pela grande depressão. (Gleiser, I: 151)  Quando começaram a respirar, lá se veio o malvado, com outro matiz: "O imposto sobre rendimentos regular, direto e progressivo é um subproduto do welfare state. Ele passou a existir ao mesmo tempo em que este foi justificado como necessário para financiar os grandes gastos que os serviços sociais demandavam." (Galbraith, 1968: 245) Foram golpes duros, e sucessivos. Primeiro, um intenso enxugamento monetário, através de impostos, restrições de toda ordem, e subsídios de outras ordens. O aumento vertiginoso dos juros para evitar a crescente especulação na Bolsa de Valores cumpriu o papel de não permitir que o dinheiro que financiava a produção. Foram milhões enviados ao exterior, até aos nazistas e fascistas, heróis na luta contra o comunismo. Depois, o gerenciamento da Nação, submetida até mesmo a militar, um honrado militar, sem dúvida, o Gen. D. Eisenhower. Não fosse mesmo a guerra, redentora, Tio Sam estaria atolado. Não por coincidência, havia enorme quantidade de leis, até a Seca; não por acaso, também foi a época foi dos gangsters. A de vocês, do mensalão; e dinheiro aos vizinhos latino-americanos, de montão. Convém um salto quântico.
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Estás a falar do século passado. Há muito os EUA praticamente baniram a criminalidade. Aborde temas mais atuais, e de preferência sobre nosso país.
Falei da remessa de enormes cifras ao exterior, em especial às Cayman. O que mais dizer do mensalão, uma podridão que chegou ao conhecimento popular? Teve outra manobra, bem popular - a do cartão corporativo, o cartão-que-vale-milhão, atos secretos que todos acabam sabedores... Além de prostrarem a economia, pelo sufoco do oxigênio que por ela deveria correr, são péssimos exemplos, mas artimanhas vitoriosas. Alguns articuladores perdem os cargos, porém como querem: ao serem dispensados, gozam férias até o fim da vida, alguns no exterior, com a carteira recheada com seu dinheiro. Veja se é possível: a própria Casa da Moeda ser invadida pelos gatunos. Seu presidente, Luiz Felipe Denucci, havia constituído "offshores" em paraísos fiscais para onde foram enviados nada menos do que US$ 25 milhões de comissão de empresas fornecedoras do órgão. Se vale tudo na cúpula, por que não entre os mais sofridos?
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Exemplo por exemplo temos mais bons do que maus. Além disso, não se pode reputar as mazelas apenas a macaquices.
Então falarei mais claramente. Além de proporcionar os maus exemplos, as nefastas ações afastam o dinheiro da Nação. Repare o que hoje acontece, já que assim quer Russomanno: ao lado de donos do laranjal da Delta
O primeiro grande golpe é que foi  decisivo. Ele aconteceu na calada da noite do dia 15 de novembro de 1995. Quem passava na Esplanada de sua capital podia ver as luzes acesas do Ministério da Fazenda. Os técnicos monitoravam uma operação que sangrou o Brasil em nada mais nada menos do que 30% de todo o dinheiro existente no país. Embarcaram a estupenda cifra num Boeing destinado ao norte. E lá se foram quase todas as notas de cem reais. Sobraram apenas algumas espalhada em colchões. Sem dinheiro em circulação todos colhem crimes de montão. Dados da Advocacia Geral da União obtidos pelo GLOBO mostram que pelo menos R$ 67 bi foram desviados dos cofres federais em 8 anos Segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a cifra é dez vezes maior.
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Péra. Ninguém tomou conhecimento do tremendo golpe financeiro ? 
Muita gente soube, sim, mas ninguém deu muita bola. Banqueiros subornaram as autoridades antes que elas se tornassem autoridades. Saiu barato. Como em livros de jogo-do-bicho e agendas de traficantes, na pasta-cor-de-rosa foram elencados os participantes do ágape. Eleito o cavalo-do-comissário, os investidores foram autorizados a saquearem as contas de seus correntistas. Parte dos depósitos dos bancos que não participaram da torpe partilha cobriram o rombo. Por isso o juro subiu. Se continuasse baixo, não ia ter dinheiro suficiente para emprestar. Os reais subtraídos se transformam em dólares nos paraísos fiscais, para em seguida voltar ao país como investimentos em bolsas de valores e aquisições de patrimônio público a preço-de-banana. Eis a razão da carência monetária que assola o país já há dois periodos de vacas-magras, contrariando até a natureza. Eis a razão maior da criminalidade em massa, mas não só isso:  do desemprego em massa, divórcios em massa, de falências empresariais e redução do PIB. Eis, portanto, a principal razão das igrejas lotarem, de obterem um trânsito cada  vez mais neutótico e acidentado, de se abarrotarem consultórios psiquiatras. Perceba, ao paralelo, o êxtase dos economistas, dos burocratas, políticos e dos advogados.  É o efeito atômico da corrupção. Ela impede que os recursos expropriados da produção cumpram o destino prometido, e esta conclusão não requer maior inteligência, ou raciocínio. Você tem aí a voz corrente:
O corrupto impede que esse dinheiro vá para a saúde, a educação, o transporte, e assim produz morte, ignorância, crimes em cascata. Mais que tudo: perturba o elo social básico que é a confiança um no outro. Sem confiança e sem um elo social, não há a vida republicana, em que prevalece a 'coisa pública' (res publica), e, assim, as pessoas andam na rua com medo da violência.Renato Janine Ribeiro - Folha Explica A República
Além do ato criminoso prejudicar a viabilização que justifica o Estado, com isso frustrando a comunidade de receber, pelo menos em parte, os valores gerados às custas de muito sacrifício, a corrupção ainda turva o tecido social, impregnando o descrédito, tornando sua face lisa, e por ela escorregam atores multiplicados. Dessarte muitas empresas nacionais e internacionais não titubeiam em adotar os mesmos critérios de lucro e crescimento. Primeiro subornam antecipadamente os futuros eleitos, como salvaguarda à sua vileza. Na omissão governamental, os consumidores abarrotam juizados especiais e de primeiro grau com queixas abusos dos bancos, operadoras de telefonia, empresas de distribuição de energia, empreiteiras, etc. Igualmente não são necessárias maiores explicações para se conceber como as atitudes desse imenso rol de escalões superiores são imitadas nas camadas inferiores.
Paralisado pela incompetência crônica que não poupa nenhum dos quase quarenta ministérios e sufocado por um rosário interminável de denúncias de corrupção, o governo federal e sua base alugada empregam mais tempo na tentativa de minimizar os estragos da bandalheira institucionalizada do que no dedicado à solução dos graves problemas conjunturais e estruturais que se acumulam e cobrem de incertezas o futuro do país. Acuados, refugiam-se covardemente nas maravilhas de um país de araque que existe apenas no imaginário deturpado desse bando que, liderado por um dos maiores blefes políticos que já se teve notícia, utiliza-se da mais indecente campanha publicitária para mentir à Nação. É só uma questão de tempo 
Se quem deve dar o exemplo demonstra tamanha certeza configurado no sucesso, como supor que aprendizes, meros espectadores ou subalternos ajam desconformes? Satisfeita?
Convencida. Credo! Nosso caminho é longo. Urge a faxina no vértice, para  que a próxima geração usufrua de base mais honesta, civilizada.
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Um comentário:

  1. César- dá para enetender fácilmente que a coisa aí no Brasil esta horrorosa. Digo-lhe sinceramente, por vezes não consigo entender como voçê vive nesse país- deve gostar muito dele... E aqui em Portugal- César? O que é que voçê imagina que está acontecendo? Pavoroso- inclassificável; este pobre, velho e glorioso País está a desaparecendo devida à Máfia Financeira Internacional e a corrupção dos políticos gentios... Voçê sabe... Um abraço.-

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