terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Diabo

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Nietzsche nunca se enganou: a história do pensamento ocidental era uma permanente festa a fantasia, a que dogmas e religiões do mundo compareciam vestidos de arlequim.
Naquela aflição mais antiga cabia à Igreja eleger o adversário.
O diabo passou a apanhar de todo mundo. Nunca adiantou.
Jamais morrerá. É fundamental coadjuvante.
Sem sparring, não há espetáculo, porque não há contendor.

* * *
Para Thomas Hobbes, o próprio homem é o diabo. Então necessita de um deus presente, o Estado. Por terreno, Leviathan exige alimento. Cabe ao diabo trabalhar. No ano em que o desalmado defensor apareceu duzentos livros de matemática saíram publicados. O exército divino não gostava desta idéia:
Um conselho sem dúvida bem-intencionado, atribuído a Santo Agostinho, advertia os cristãos a manter distância das pessoas que sabiam somar ou subtrair. Era óbvio que haviam firmado um “pacto com o diabo”. Toffler, A. e Toffler, H., Criando Uma Nova Civilização - A Política da Terceira Onda, p. 41
A fé cega “baliza” os pobres mortais, mas a presunção geocêntrica foi muita ingenuidade. Não fora culpa de Deus. Ele não iria enganar suas criaturas. Qualquer equívoco como este monumental vem do “gênio mau”, “manhoso e enganador”, colado na gente:
O Deus cartesiano nos dá algumas idéias claras e precisas que nos permite encontrar a verdade, desde que nos atenhamos a elas e não nos deixeis cair no erro. Koyré, 2001: 100
Seria a tal tentação? Mais simpes errar do que acertar?  Assumiria  a anomalia maior efeito gravitacinal do que tudo o mais? Não dá.  O erro, todavia, é a meta. Por incrível que pareça, o erro  é presente por projeto. O mal vem pelo corpo para transformar o divino bem da alma, e isso já ensinara Platão:
A terra, ou seja, a matéria, é contraposta à verdadeira natureza da alma, quer dizer, ao seu ‘ser boa’. A matéria representa o mal.
Cit. Kelsen, 1998: 3
Dom Quixote concorda, mas seu autor se consagrou pela indústria.
Para Marx, o diabo é o patrão. Os russos acreditaram. Lenin e Stalin não eram patrões; eram apenas ladrões, assassinos de massa.
Os EUA são pródigos em perseguir belzebú, nas vestes que vê. Na década de vinte corriam atrás dos alcoólatras. Os gangsters gostaram do grand prix; e dizimaram a população. Na de trinta, o país começou a enfrentar o ex-aliado, anjo revoltado. Na de quarenta, a Cortina de Ferro desceu sobre o palco. A platéia não pode mais enxergar. O maligno perdeu a graça, e encerrou o entedioso show.
Logo apareceram dois clones: um largou a bebida pela droga. O outro, pelo islamismo.
A droga é um produto altamente rentável. Rende votos aos caçadores; rende muito aos traficantes, aos jornais, e justifica as altas somas envolvidas. O islamismo também. Bush amealha astronômica cifra para caçá-lo. Enquanto isso, saquea-lhe o petróleo.
No Brasil, Getúlio, o suicida, deu o golpe por causa da grande ameaça. Um exército subversivo varava dentro do mato. Os 20 brancaleones do imprestável Prestes não enfrentaram nem tucanos, nem macacos, mas alimentavam-se com capivaras. Era um terror só. Gegê defendeu a cidadela. Deve ter sido mesmo um herói.
"Neste país", contrário ao paraíso, o diabo virou anjo. Nos anos de chumbo, era chumbo grosso para ele. Agora, dinheiro grosso, por mensalão. Os diabos foram anistiados, e são assim aquinhoados.
Há quem o procure nas entranhas. Coube a Freud a primazia. Não precisava procurá-lo. Sua própria mente dividia a cama com ele.

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