domingo, 9 de janeiro de 2011

Entre entes e antas

A primeira mulher a exercer a Presidência da República exige que todos lhe chamem Presidenta. De fato S .Exa. está incumbida do mais honroso mandato. Ocorre porém, que nem o cargo, e muito menos a Nação lhe pertencem. Ao findar seu prazo, torna-se ex. O cargo e a designação não atendem ao portador.  Eles pertencem ao povo, que lhe chama como quiser.
Preocupação tão fútil indica que a caprichosa governanta pode nos envolver em maus-lençóis. Antes de tentar impor a peculiar idéia, seu séquito formulou consulta aos dedicados às letras. Houve quem mencionasse a prescindibilidade do gravame, mas poderia S.Exa. utilizar, posto opção aceitável, não proibida por lei.
Presidente tem o emblema por referência ao verbo, e não ao contrário. É-se previdente, e não previdenta. Evidente! E nunca evidenta. Nos hospitais cabem doentes, mas não doentas. Afinal, que diferença faz o sexo em comum  enfermidade?. S  Exa. preside a Nação, e quem preside é presidente. Pre anuncia a prerrogativa - predisposto, preaquecido, prevalente, etc., e dente, a metafísica prerrogativa do ente. Não  existe videnta, embora haja visionária. Mas se formos aplicar igual terminativo colhemos presidiária. Assim como homem preside, e mulher agora também, ambos são presidentes do Brasil, e não presidento e presidenta. Não obstante soa muito mal presidenta. Nunca tinha ouvido isso. O que distingue o gênero no exercício do cargo é o artigo, não o sufixo, porquanto nem sufixo é. O presidente, ou a presidente. Precisa mais o quê?  O que obtém, e talvez aí resida a utilidade da artimanha dialética -  serão dois grupos distintos de comunicadores/consumidores: uns rebeldes, taxando-a presidente, e outros, receosos ou mais mansos de coração, de presidenta. *
Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros, quase todos os preconceitos funestos que acabo de pintar deveram seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para governá-los mais absolutamente! TOCQUEVILLE, A., 1997, cap. XII: 139
O  C.R.Flamengo anda roubando a cena. A mídia projeta a massa. Seria oportuno perguntar à senhora do  Mais Querido: será que alguém lhe toma também presidenta? A bela ex-atleta é a representante máxima da Gávea não mereceria trato de representanta?  Se Ronaldinho solicitasse aos urubús tratamento de atleto, para não ser confundido com bicha, seria atendido
Caso consultarmos qualquer senhora ou senhorita que exerça a capital função sobre a diferença ou indiferença do prenúncio, se altera alguma coisa, incomoda, ou quem sabe confunde, ou  lhe diminui ser chamada simplesmente de presidente, por certo ela ficará até espantada com a idiotice. Pois convenhamos, um galardão deste porte ainda necessitar lacinhos não apresenta o menor sentido, exceto, talvez, uma vaidade desmedida, orgulho pessoal capaz de superar o próprio status. S. Exa. excede. Por forçar tanto capricho, emerge o flagrante - a mais alta madatária sente o maior orgulho de ser o primeiro ser humano com coração de mãe -  portanto superior - a adentrar no Alvorada, e comandar a indiada. Seria a evolução natural - do paternalismo, ao maternalismo, este nunca experimentado? A revanche feminina, ou mais apropriado, feminista, por milênios de opressão? Por certo é uma questão complexa. De alta complexidade, com certeza.
Do discurso de posse da presidenta aos seus primeiros atos de governo, tudo é um show de coerência. Não há nenhum vestígio de projeto nacional, diretriz administrativa ou plano de ação. Apenas um equilíbrio perfeito entre a mistificação (a lenda da ex-guerrilheira) e a volúpia (o banquete partidário). Se a paisagem começa a parecer muito desértica, surge uma ministra para anunciar o PAC da miséria, dando continuidade ao milagre da multiplicação de slogans. O nascimento do governo Dilma vem provar, ao Brasil e ao mundo, como a inoperância pode ser exuberante.  Guilherme Fiuza  A largada “apoteótica” do governo Dilma, 11/1/2011
Vale encerrar o enfoque com a peculiar espitituosidade
A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta. (Lino Tavares, é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor.) 
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* A conceituada Dora Kramer (Estadão, 14/1/ 2011) veio a corroborar o raid da Nav's ALL
É uma idiossincrasia vã essa exigência de Dilma de ser chamada de "presidenta". Isso se for mesmo exigência dela e não invenção de marqueteiro.Não foi por implicância que a imprensa decidiu tratá-la por "presidente": é o originalmente correto - o termo "presidenta" foi incorporado ao idioma por dicionaristas -, soa muito melhor e segue a regra de substantivos usados para os dois gêneros.Mesmo auxiliares da presidente têm alguma dificuldade de se referir a ela segundo a nova norma. Sem contar que é constrangedor ver gente adulta tentando se adaptar só para agradar ao poder.No lugar de tentar impor a regra, mais adequado seria o governo se adequar à prática idiomática comum no País. Inclusive porque não é isso o que fará a afirmação feminina, muito menos determinará o sucesso ou fracasso da primeira mulher presidente do Brasil. Bom senso é como caldo de galinha: mal não faz.

Um comentário:

  1. Olá, meu nome é Dilma, estou seguindo suas notícias no DIhitt e visitei também seu blog, achei muito interessante e agora sou teu seguidor.
    Gostaria que seguisses o meu blog também: http://dilmaoprazerdelereescrever.blogspot.com/
    Abraços

    Dilma

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