A obsessão em dominar a natureza esconde a verdadeira obsessão do homem: dominar o caos, ou, em outras palavras, ter previsões seguras que evitem a queda no abismo. Para isso, ele inventou a ciência e tratou logo de criar leis deterministas que dessem estabilidade aos fenômenos naturais. A física de Aristóteles, a mecânica de Newton ou a abóbada de Ptolomeu tinham a função primordial de ordenar os acontecimentos da natureza, explicando suas origens e tentando prever seus movimentos. PENA, Felipe, Biografias em fractais: múltiplas identidades em redes flexíveis e inesgotáveis. - Revista Fronteiras – estudos midiáticos VI(1):79-89, janeiro/junho 2004
Em breve, certamente, daremos o último passo, e a autoridade da ciência se imporá de modo completo no domínio dos conhecimentos sociais. Então, chegaremos a fazer uma política racional, como já fazemos máquinas elétricas racionais, porque construídas unicamente sobre dados positivos, e não sobre tendências subjetivas. J. Novicow, 1910. 10O ideal seria uma ordem jurídica tão bem elaborada, leis tão claras e tão completas que, no limite, a justiça pudesse ser administrada por um autômato. PERELMAN, C.: 69
O que tempos atrás era apelidado erroneamente de 'pós-modernidade' traduz-se na crescente convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza. Zygmunt Bauman, Estadão
NIETZSCHE (cit. MATOS, Olgária, A polifonia da razão, 1997: 134) não viveu para se divertir com o advento da Quântica e da Relatividade, mas a tempo de advertir:
Em algum ponto perdido deste universo cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve uma vez um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogância da história universal.
A Física substituia a estéril Filosofia, com evidentes vantagens. "A mecânica de "Newton promete um poder de previsão vastíssimo que faz com que um instante forneça todas as informações possíveis sobre o passado e o futuro do Universo." (COVENEY, PETER e HIGHFIELD, ROGER: 24)
As ciências humanas acreditaram nas coincidências, e abandonaram a própria raia, em troca do flamante pavimento numerado
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral. GLEISER, Marcelo: 164.
A concepção do universo que por sua influência alcançou aceitação geral era um mecanismo dirigido por princípios matemáticos, sem cor, perfume, sabor e som. A ciência havia estendido os limites do universo, mas convertido em máquina sem vida, que marchava de acordo com forças capazes de ser formuladas matematicamente, não a expressão poética. GUSDORF, G.: 164
Em 1822, o opúsculo Plano dos Trabalhos Científicos Necessários para a Reorganização da Sociedade» decretava:
Toda a ciência tem por fim a previdência. Porque a aplicação geral das leis estabelecidas segundo a observação dos fenómenos tem por fim prever a respectiva sucessão. Na realidade, todos os homens, por pouco instruídos que os julguemos, fazem verdadeiras previsões, fundadas sempre sobre o mesmo princípio, o conhecimento do futuro pelo passado.(...) Está, portanto, evidentemente muito conforme com a natureza do espírito humano que a observação do passado possa facultar a predição do futuro, e que o possa fazer tanto em política como em astronomia, em física, em química e em fisiologia. (COMTE, Augusto, Reorganizar a Sociedade, Guimarães Editores, 4ª Ed., Lisboa, 2002, : 146.)
Nietzsche morreu com a pecha de louco; e os sensatos, estenderam a ilusão. A Economia se restringiu à má temática; o Direito* foi remoldado, digo até entortado; a História, quanto muito, reduziu-se em parciais narraticas, capitulares; e pára entender o serpenteado platônico, tanta elucubração, mistificação & tragédia, a Psicologia e a Sociologia* tiveram que ser inventadas. "A ciência seria a única forma de moral, e religião possível. Descreve como os fatos ocorrem, transformando-os em leis a fim de poderem ser previstos." (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2003: 776-777).
A matemática é incompleta; não pode, jamais, alcançar a certeza absoluta.Kurt Gödel *-
Para garantir que o mundo esteja sempre no mesmo padrão de horário, 400 relógios atômicos foram distribuídos pelo planeta há anos. Mas, como a rotação da Terra não é sempre igual e pode ser afetada até mesmo por terremotos, esse horário absolutamente preciso marcado pelos relógios atômicos precisa ser corrigido uma vez a cada quatro ou cinco anos. Isso é feito adicionando um segundo a mais nos relógios, permitindo a sincronização do horário oficial mundial com o horário astronômico, que respeita a real rotação da Terra.
MAX BORN (cit. Brian: 374) não entendia como era possível conciliar um universo mecânico com a liberdade e a correspondente ética individual: "Um mundo determinista é, para mim, um mundo muito aborrecido” Einstein (1997: 15) já havia recolocado o instrumento no devido lugar:"As teses de matemática não são certas quando relacionadas com a realidade, e, enquanto certas, não se relacionam com a realidade." Embora até se pareça, o Universo não é um simples relógio: Koyré (cit. MATOS, Olgária, Filosofia a polifonia da razão: Filosofia e educação. - São Paulo, Scipione, 1997:107) vai além: "Resulta daí que desejar aplicar as matemáticas ao estudo da natureza é cometer um erro e um contra-senso" ...Antes pensava-se, por exemplo, que se pudéssemos conhecer todas as partículas e forças do universo, seria possível prever exatamente todo o futuro do cosmo. Já as descobertas do século XX comprovaram que isto é impossível, devido não à nossa ignorância, mas à íntima natureza da realidade. (Giulio Meazzini, A Trama Profunda do Real; revista Cidade Nova. Vargem Grande Paulista, abril de 2002: 36).
Durante a segunda metade do século XIX, a economia sofreu uma influência muito grande do avanço das ciências exatas. Invejosos de seu sucesso e prestígio e cônscios do poder das matemáticas e de sua importância para seu próprio progresso, os economistas voltaram sua análise para essa direção. ORMEROD, P. 1996: 50
Houve Augusto Comte. Pensava conhecer o futuro que estava reservado à humanidade. E, portanto, considerava-se o supremo legislador. Pretendia proibir certos estudos astronômicos por considerá-los inúteis. Planejava substituir o cristianismo por uma nova religião e chegou a escolher uma mulher para ocupar o lugar da Virgem. Comte pode ser desculpado, já que era louco, no sentido mesmo com que a patologia emprega este vocábulo. Mas como desculpar seus seguidores? (VON MISES, Ludwig: 31)
Apenas no limiar do XX é que a ciência tomou ciência, e mais ainda, consciência:
Nossa penetração no mundo dos átomos, antes vedado aos olhos do homem, é de fato comparável às grandes viagens de descobrimento dos circunavegadores... Essa descoberta, com efeito, gerou uma novíssima base para que se compreenda a estabilidade intrínseca das estruturas atômicas, a qual, em última instância, condiciona as regularidades de todas experiências corriqueiras. BOHR, N., Física atômica e conhecimento humano: 30
A ordem implicada tem sua base no holomovimento, que é vasto, rico, e em um estado de fluxo infindável de envolvimento e desdobramento, cuja maioria das leis é vagamente conhecida, e que pode ser até incogniscível em sua totalidade. Logo, ela não pode ser apreendida como algo sólido, tangível, e estável aos nossos sentidos (ou aos nossos instrumentos). BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 192O problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros. FOUCAULT, Michel, Microfísica do Poder: 5A impossibilidade de se medir, ao mesmo tempo, a posição e a velocidade dos componentes do mundo quântico trouxe enormes limitações para o entendimento humano, uma vez que tudo na Natureza é composto por essas micropartículas. BIEHL, L.V.:21
Chegamos a uma situação que envolve uma imagem diferente da natureza e, portanto, também da ciência. Não acreditamos mais na imagem do mundo como uma imensa peça de relojoaria. Chegamos ao fim das certezas. Estava implícita na visão clássica da natureza a idéia de que, sob condições bem definidas, um sistema seguiria um curso único e de que uma pequena mudança nos parâmetros produziria igualmente uma pequena mudança nos resultados. Hoje sabemos que isso só é verdade no caso de situações simplificadas e idealizadas MAYOR: 12
Na complicação o pessoal prefere o velho pragmatismo, ignorando o destino. Ruma à Marte, por não amar-te. Sorry.
Durante longo tempo o ideal do conhecimento científico foi aquele que Laplace havia formulado com sua idéia de universo totalmente determinista e mecanicista. Segundo ele, uma inteligência excepcional dotada de uma capacidade sensorial, intelectual e computacional suficiente poderia determinar qualquer momento do passado e qualquer momento do futuro. É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade. MORIN, Edgar 2000: 32
O resumo dessa ópera é que, no campo da previsão econômica, tudo ainda se passa no mundo da chutometria. E não deixa de ser engraçado observar o estilo com que os argumentos que pretensamente sustentam os chutes são articulados para lhes dar um ar de ciência exata. Jornalista-economista José Paulo Kupfe. Estadão, 21/12/2010
A Ciência Jurídica criada pela Modernidade não cumpre, razoavelmente, com seus objetivos no século XXI. O seu fundamento positivista carece de uma reflexão crítica acerca do papel que desempenha na Sociedade. AQUINO, Sérgio Ricardo Fernandes de. Apolo e dionísio: (des)conexões epistemológicas entre a ciência jurídica moderna e a política jurídica. In: Âmbito Jurídico, www.ambito-juridico.com.br
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar. (MIRANDA, Pontes, cit. Moreira, I.C. 103)
Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
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A cor do? - Paulo Betto Meirelles
Acorda
A corda está prestes a arrebentar
Ontem nó
Agora enforca
Acordou o seu mundo
Em um acorde perfeito
A cor da coragem
É fragilidade em seu peito
A corda é da cor do defeito
Que é fazer da cor
Um limite entre nós.
Acorda
A corda está prestes a arrebentar
Ontem nó
Agora enforca
Acordou o seu mundo
Em um acorde perfeito
A cor da coragem
É fragilidade em seu peito
A corda é da cor do defeito
Que é fazer da cor
Um limite entre nós.
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