domingo, 4 de abril de 2010

A ideologia da fé e do conhecimento



Onde o homem nada encontra para ver e pegar, nada tem para fazer.
NIETZSCHE

Uma grave patologia congênita assola a filosofia, as ciências e até a religião, nesta de modo gritante. Elas nasceram e se desenvolveram por única ideologia: privilegiar o egoísmo. A primeira lição é:
"Conhece-te a ti mesmo!..." A gratificação é imediata: ... "e conhecerás o Universo de Deus."  Isso acontece geralmente na adolescência. Tomamos consciência que precisamos saber e fazer muito mais do que brincar. Carências e limitações tem proporções aritméticas; e nossos desejos, pior ainda, geométricas. Como proceder?
O Deus cartesiano nos dá algumas idéias claras e precisas que nos permite encontrar a verdade, "desde que nos atenhamos a elas e não nos deixeis cair no erro". "O erro, o Mal entra pelo corpo, transforma o divino Bem da alma", e isso já ensinara Platão: “A terra, ou seja, a matéria, é contraposta à verdadeira natureza da alma, quer dizer, ao seu ‘ser boa’. A matéria representa o mal.” (Cit. Kelsen, 1998: 3) 
A epistemologia hegemônica aplicada no cotidiano da atenção à saúde origina-se no paradigma mecanicista e analítico de René Descartes, aliado ao empirismo de Francis Bacon, reforçado pelo positivismo de Augusto Comte, no qual o todo é dado pela soma das partes e a noção de causalidade linear é prevalente, apesar das recentes mudanças ocorridas nas teorias científicas, principalmente provindas da física. Ediara Rabello Girão Rios , Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde.)
SÓCRATES ensinou PLATÃO e o mundo a pensar, antes de tudo, em si mesmo. PLATÃO ensinou ao mundo como satisfazer a si próprio.
Nossos cérebros foram calibrados para atender este nosso exclusivo  interesse. A ciência nasceu para cumprir a nobre missão.
Em algum ponto perdido deste universo cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve uma vez um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogância da história universal. NIETZSCHE, F., cit. MATOS, Olgária, A polifonia da razão, 1997: 134 
Cabia ela descobrir os segredos de DEUS, para aplicá-lo em tecnologia. Duas bananas foram colocadas à frente do burro, para ele andar: a guerra, e a fartura.
A culpa inicial cabe a Descartes. Ele foi o primeiro a negar a sabedoria inconsciente, persuadindo-nos de que só o que era demonstrável, era verdadeiro. Rousseau substituiu-o, imaginando que não havia leis fora das desejadas pelo homem. Finalmente veio Augusto Comte, que instalou de vez a universidade no positivismo, fez as ciências humanas oscilarem para a sociologia e eliminou todo o ensinamento sério da economia. SORMAN, Guy
Nada pior do que nações massacradas por outras retro massacradas. Uma tecnologia que ponha os inimigos o mais longe possível coroa a ciência com o mais nobre motivo. Pode se constituir, todavia, numa ameaça maior, dependendo de seu detentor, de modo que não poucos culpam a própria ciencia pelo dantesco de Hiroshima. Mas todos são unânimes em chamar pela polícia quando invadidos. Eliminada a grande ameaça, todos precisam se alimentar, dormir, vestir-se, locomover-se, divertir-se mesmo, porque não, cuidar da saúde, e de preferência, serem educados. Uma tecnologia que avance na solução dessas carências mais elementares consagra a ciência fundamental a qualquer ser humano. No que mais a ciência poderia se ocupar? O resto cabe à religião.
Para a Religião é mais fácil. Ela garante a todos que DEUS nos guarda, desde que façamos exatamente como Ele diz - não mate, não roube, não traia, honre pai e mãe. Ame o próximo. Como a ti mesmo. Se alguma coisa não der certo - afinal ninguém é perfeito - DEUS compreende, e perdõa. Se seguir estes simples preceitos, você sentará em trono, em vez da cadeira dos réus do Juízo-Final.
As doutrinas de Agostinho sobre o pecado e redenção do homem são de uma clareza diáfana e foram aceitas quase universalmente, com algumas modificações pela Igreja cristã do Ocidente, até aos nossos dias. ROHDEN, H, Filosofia Contemporânea: 23
Como vemos, sair atrás da ciência, da pesquisa, cerrar esforços no sentido de avançar o conhecimento e utilizarmos o máximo de objetos, evoluir toda a tecnologia se constitui em motivo relevante, por certo o mais relevante, porque não deveria ser exclusivo. A tecnologia psicológica empregada na religião igualmente cotempla exclusivamente a clientela, pelo viés "espiritual". DEUS é uma entidade totalmente indefinida.
Platão admite que a crença em Deus não pode ser demonstrada, nem sua existência; mas fala que ela não faz mal, só bem. O mal para Platão é apenas a ignorância do bem, e ele procura demonstrar que o mal inexiste, e ninguém opta por ele de forma voluntária.
A religião, embora se diga religar, tem sua atenção voltada exclusivamente ao homem. Ela foi montada em prol do ser humano. Atendê-lo em suas necessidades, de preferência por milagres.
Ambas posturas, como vemos, tem o objetivo comum: servir ao ser humano. Vai ver por isso até mesmo o gigante EINSTEIN reconheceu: A religião sem a ciência é cega; e a ciência, sem a religião, manca.
Pois me atrevo proclamar, em letras garrafais: a ciência enxerga apenas de acordo com os olhos do ser humano. Ainda que equipados com HUBBLE, sua produção é irrisória, tão medíocre quanto o homem por ela responsável. Da religião, minha nossa, não posso supor como uma atividade que teve como primeiro objetivo tornar o conhecimento pecado, depois o amor também pecaminoso, hipótese ou experimento diverso tal coisa do diabo, e tantas metonímias pode se sustentar assim, sem praticamente nenhuma contestação. Essas infundadas pregações garantem que podem todos continuar ignorantes, desde que obedientes. É admirável isso ser permitido, e pior, acatado como a mais pura verdade, a solução definitiva!
Pois a Ciência recentemente descobriu a inexorável interação do ser humano com o Universo. Somos, pois, um fractal da Eternidade, em waveform. Cada personalidade excede, e muito, o que seus olhos ou braços alcançam. Mas isso não quer dizer que alguém possa ser sócio-proprietário, sequer de algum lote do EspaçoTempo. Não há como cercar o Espaço. Muito menos o Tempo nos pertence. O que nos cabe, isto sim, é nos adequarmos a esta indescritível relação, onde ele, o EspaçoTempo tem uma dimensão infinita, e nós, ínfimo sinal numa constelação periférica.
Ainda que possamos de certo modo comandar,por alguma coisa influir,  tudo leva a crer que dentre tudo o que existe, somos apenas os mais  insignificantes.
Ao eleger o homem como exclusivo beneficiário, como único ideal, e o resto que se dane, inclusive a natureza e os animais, a civilização cometeu seu pecado capital. Tornou-se cega ao magestoso usufruto, em troca de um impossível e pífio poder sobre tudo.

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