Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte.
Se é vermelha tinge a outra de vermelho.
Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã.
É língua muito transitiva a dos pássaros.
Não carece de conjunções nem de abotoaduras.
Se comunica por encantamentos,
E por não ser contaminada de contradições
A linguagem dos pássaros
Só produz gorgeios
Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava
sob os véus de mendaz sabedoria.
Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
CRÍTIAS, tio de PLATÃO, e líder dos Trinta Tiranos .
A crença fundamental dos metafísicos
é a crença na oposição de valores.
NIETZSCHE, Além do bem e do mal: 10
Desde as priscas eras o homem se defronta com adversidades. A primária foi inoculada dentro de si mesmo. Coube a PLATÃO formatá-la. O articulista primeiramente cingiu o homem em duas facetas. O corpo, preso à Terra, dela depende; mas a alma, como o pensamento, poderia vagar aos céus. “A cisão é a fonte da exigência da filosofia”, assevera HEGEL. (Differenzschrift; cit. CICERO, A.: 73) Nenhuma cisão pode ser fonte. Trata-se de mera técnica, com objetivo pré-definido, a partir de um preconceito.
"Deve-se ter em mente que lógica, para Hegel, é realmente sinônimo de metafísica” (RUSSELL, B., 2001: 355)
Repartir o objeto, ainda mais etéreo, é estratégia de domínio, conveniente para legitimar confusa formulação original. O preco, contudo, é alto, demasiado alto. "A separação metafísica da alma e do corpo teve efeitos desastrosos sobre a filosofia." (Idem, Por que não sou cristão: 43) Apuramos uma civilização completamente esquizofrênica.
Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal,A tanto, o mestre do embuste cuidou de nos instrumentar. Duas perenes instituições se encarregam da educação, e regulam os inevitáveis confrontos: a religião, no fito da prevalência da força divina, e a justiça dos homens, caso aquela seja muito fraca para elidir as celeumas terrenas. "... os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu. (BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 20)
torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas:. 5
Depois de si próprio, é o semelhante o maior inimigo. Para vencê-lo, a experiência indica a reunião da maior quantidade de força possível. Eis a razão do convívio de tantos deuses com as armas e artimanhas.
Mesmo os ateus estão de acordo acerca de que não há coisa que mais mantenha os Estados e as Repúblicas do que a religião, e que esse é o principal fundamento do poderio dos monarcas, da execução das leis, da obediência aos súditos, da reverência dos magistrados, do temor de proceder mal e da amizade mútua para com cada qual; cumpre tomar todo o cuidado para que uma coisa tão sagrada não seja desprezada ou posta em dúvida por disputas; pois deste ponto depende a ruína das Repúblicas. BODIN, Jehan, cit. CHEVALLIER, M., Tomo I: 55Com DEUS na alturas, as porfias terrenas são aquilatadas por sua Voz, a vox populi, pela maioria, pelo Estado, força capaz de derrotar qualquer grupo, ou individualidade. Apenas Leviathan está autorizado a ser "o lobo homem."
O único meio para isso é que todos consintam em renunciar a seu próprio poder e em transferi-lo para uma única pessoa (uma pessoa física ou jurídica, como por exemplo uma assembléia), que, a partir de então, terá o poder suficiente para impedir o indivíduo exerça seu próprio poder em detrimento dos outros. BOBBIO, N., Thomas Hobbes: 41Muitos fatos, até contemporâneos, corroboram a primata sandice.
"Não é freqüente o caso em que a manipulação ideológica da religião com fins políticos é o catalisador real de tensões e divisões e, às vezes, da violência na sociedade?" (PAPA BENTO XVI, Folha de São Paulo, 9/5/2009)
Assim é que a força tomou o lugar central do pensamento geral, o lar convergente de todas as determinações.
No homem primitivo era o medo, acima de quaisquer outras emoções, que o levava à religião. Esta religião do medo – medo da fome, de animais selvagens, de doenças e da morte – revelava-se através de atos e sacrifícios destinados a obter o amparo e o favor de uma divindade antropomórfica, de cujos desejos e ações dependiam aqueles temerosos sucessos. Como o entendimento do homem primitivo sobre as relações de causa e efeito era pobremente desenvolvido, essa religião do medo criou uma tradição transmitida, de geração a geração, por uma casta especial de sacerdotes que se postara como mediadora entre o povo e as entidades temidas. Essa hegemonia concentrou o poder nas mãos de uma classe privilegiada, que exercia as funções clericais como autoridade secular a fim de assegurar seu poderio. Nesse ínterim se verificava a associação dos governantes políticos à casta clerical, na defesa dos interesses comuns. EINSTEIN, A. cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 139O tempo transcorreu, mas a obssessão permaneceu. A Renascença confirmou a eficácia do elemento.
A Academia Platônica, fundada por Marsilio Ficino, com consentimento de Cosme de Medici, elabora com efeito uma doutrina destinada a uma larga difusão, por longo tempo benéfica à manutenção da hegemonia cultural florentina, mas da qual os Medici são os primeiros a tirar vantagem concretamente. LARIVAILLE, P.: 161.O homem se quedava completamente traído pelo efeito que ardentemente buscava. Um notável obscuro foi forte para dobrar a humanidade, empacotando-a para presente. MARCÍLIO MARQUES MOREIRA (O Pensamento Político de Maquiavel:14) o retrata: “O secretário da República florentina era amigo das leis e teórico empírico da força.”
O miserável quadro pintado por MAQUIAVEL encontrava respaldo na própria ciência natural. DEUS dera o impulso inicial; agora os astros mantinham a coesão através de suas próprias expensas.
O conceito espiritual do reino de Deus degenerou numa instituição eclesiástica, jurídica, política, militar, financeira que, substituindo a força do espírito pelo espírito da força, fez da Civitas Dei uma Civitas Terrena, com o agravante que esta cidade terrena é acintosamente proclamada como sendo a cidade de Deus. ROHDEN, Huberto, Filosofia Contemporânea: 28E dê-lhe provar e medir intensidades e relações de força - da gravidade, dos exércitos, do capital, da raça.
A tradição filosófica do Ocidente, em todo caso desde o século XVII, foi profundamente influenciada pelo desenvolvimento da física matemática e das ciências naturais fundamentadas na experiência, na medição, na pesagem e no cálculo. Tudo quanto não era redutível a grandezas quantificáveis foi, por isso mesmo, considerado vago e confuso, alheio ao conhecimento claro e distinto.PERELMAN, Chaïm, Ética e Direito: 672O dualismo cartesiano, ao criar a bifurcação mente-matéria, observador-observado, sujeiro-objeto, moldou o pensamento ocidental, poucos filósofos discordando dele, cujos mais notórios foram Spinoza e Schopenhauer. GOTTSCHALL: 189COPÉRNICO, GALILEU, DESCARTES e NEWTON empurraram a humanidade à inércia do pêndulo, no jogo das forças gravitacionais. A estrela de belém, digo, do além, trouxe ao mundo os mais gordos reis magos da dialética, plêiade capitaneada por HOBBES, MALTHUS, HEGEL, COMTE, DARWIN, MARX e FREUD.
Toda a teoria darwineana da luta pela existência é simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da teoria da população de Malthus. WALLACE, A.R. & YOUNG, R., Sciences studies, 1971: 184; cit. JAPIASSÚ, H. 1978.“A dialética hegeliana é idealista, pela primazia concedida ao espiritual sobre o material. Feuerbach, na própria escola de Hegel, iniciou a conversão do idealismo para o materialismo, obra esta completada por Karl Marx.” (GOLDMAN, L.:15)
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A idéia errada de que vivemos num mundo de recursos escassos tem feito mais que impedir a maioria das pessoas a atingir o sucesso econômico. Ao longo dos séculos esta visão negativa de escassez do mundo tem sido responsável por guerras, revoluções, estratégias políticas e sofrimento humano de imensas proporções. PILZER: 14.
"Marx explica que a força revolucionária do operário nas sociedades burguesas 'nasce da contradição entre sua natureza humana e sua existência vital que é a negação manifesta, decisiva e total dessa natureza'.” (SARTRE, Jean-Paul, O Fantasma de Stálin: 32)
“A história da psicologia, depois de Descartes, poderia ser escrita como seguindo um movimento dialético entre a ciência da psiquê e uma ciência naturalista do homem que recusara tanto o dualismo metafísico quanto o metodológico.” (FRAISSÈ, Paul, cit. PENNA, Antônio Gomes: 32)
"Há muito estou convencido da importância de aprofundar a teoria das forças sociais que podemos comparar, em larga medida, às forças da dinâmica que agem sobre a matéria." (SOREL, G., Greve Geral Política: 195)
“Consciente ou inconscientemente o Mein Kampf, de Hitler, deve muito a Maquiavel, Darwin, Marx, Mahan, Mackinder e Freud.” ( DOWNS, Robert: 8)
“Marxismo e Psicanálise como ciências não seria o casamento da violência com o charlatanismo?” (EVANGELISTA, Walter, in OLIVA, Alberto, Org., A Questão da Cientificidade em Teorias de Conflito: Marxismo e Psicanálise; Epistemologia: A Cientificidade em Questão: 213)
"A nova geração, pelo menos, devia ser ajudada a libertar-se dessa fraude intelectual, a maior talvez da história de nossa civilização.” (POPPER, Karl, 1998: 85)
Não há dúvidas, Sir POPPER. Felizmente a concepção mecanicista foi pela própria Física desativada, mas a estratégia dialética mantém prestígio.
Como proceder a reaproximação entre massa e energia, espírito e matéria, a reintegração mental, a reunificação do ser humano com sua própria alma em primeiro plano, para depois compor uma sociedade não anônima, mas harmônica?
Pois se a ciência tudo complicava, e a religião e a política ainda tudo mistificam, nessa fim da decadência, digo da década, permanece no firmamento o já secular horizonte:O pedaço de matéria nada mais é senão uma série de eventos que obedece a certas leis. A concepção de matéria surgiu em uma época em que os filósofos não tinham dúvidas sobre a validade da concepção 'substância'. A matéria era a substância no espaço e no tempo; a mente, a substância que estava só no tempo. A noção de substância tornou-se mais vaga na metafísica no decorrer dos anos, porém sobreviveu na física porque era inóqua - até a relatividade ser inventada. Um pedaço de matéria, que tomávamos como uma entidade persistente única, é na verdade uma cadeia de entidades, como os objetos aparentemente contínuos em um filme. E não há razão pela qual não possamos dizer o mesmo quanto à mente: o ego persistente parece tão fictício quanto o átomo permanente. Ambos são apenas uma cadeia de eventos que têm certas relações interessantes uns com os outros. A física moderna nos permite dar corpo à sugestão de Mach e de James de que a 'essência' do mundo mental e do mundo físico é a mesma. RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 74Esmero-me para atender o pedido supra. Trarei maiores detalhes do desfecho, por goleada, dessa mais importante revanche da história das ciências, da filosofia, e por conseguinte, da própria civilização. Adianto uma pista:
A Teoria de Cordas** (ou supercordas) é uma teoria que se propõe a unificar a descricão das interacões fundamentais. Em particular, acredita-se que ela representa um caminho para a descrição quântica da interacão gravitacional, possibilitando uma conciliação entre a Mecânica Quântica e a Relatividade Geral. Na teoria de cordas as partículas elementares correspondem a diferentes formas de vibracão de cordas que se propagam no espaço. A interação entre partículas corresponde à interação entre cordas.A Teoria das Cordas acompanha o canto dos pássaros, pois não?
BRAGA, Nelson Ricardo de Freitas. - http://omnis.if.ufrj.br/~braga/cordas
Venturoso Ano Novo.