sábado, 12 de junho de 2010

Reforma Partidária

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Surpreendentes seriam as fotografias nos jornais do dia seguinte. Sarney de óculos escuros como os ditadores latino-americanos do passado, amparado pelo colega de PMDB Michel Temer, eleito presidente da Câmara, igualmente pela terceira vez. Barba e bigode. Este Temer merece umas pinceladas. http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/.
ROBESPIERRE, DANTON & MARAT

A democracia representativa é a celebração de um compromisso: o cidadão delega a um igual o privilégio de ser seu porta-voz. Se esse vínculo se perde, se o representante se distancia do representado, então é o próprio modelo que se descaracteriza. Depois de algum tempo, cerca de 70% dos eleitores brasileiros não se lembram do voto para deputado estadual e federal. O custo de nossas eleições parlamentares é astronômico, o mais alto do mundo, e a vigilância que o votante exerce sobre o votado é praticamente nenhuma, o que concorre para a degeneração dos partidos.
Reforma eleitoral: o ruim pelo pior
É necessário que a ciência mostre por fim sua utilidade! Ela se tornou nutricionista a serviço do egoísmo: o Estado e a sociedade a tomaram a seu serviço para explorá-la segundo seus fins. NIETZSCHE,   F., O livro do filósofo: 30
Os preparativos às eleições brasileiras chocam preceitos democráticos, e até de direito. A Nação assiste estarrecida, apatetada. Elementos dotados da mais alta cultura se prestam à total subserviência. Não titubeiam em colocar seus préstimos para atender antes de tudo seus próprios interesses, naturalmente. Trair o que lhe foi ministrado na faculdade? Discutível. Ciências Jurídicas e Sociais são postas dialéticas, suscetíveis de dupla interpretação. Uma solitária ética é tênue frente ao que vai nos autos. E se a velada conduta implica trair as  entidades que garbosamente presidem, há que se recordar: elas são políticas. Portanto, o que vale é o ponto  observado, a ideologia abraçada.  Ademais, ensina o grãmestre cretino, digo, florentino: "os fins justificam os meios". "A teoria maquiavelista relembra que o poder político é exercido, por toda parte e sempre, por uma minoria e que o poder político conta tanto quanto o poder econômico. (ARON, Raymond, La lutte des classes, 1964, p. 194; cit. SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard, Sociologia Política: 233)  Inúmeras vantagens aguardam os concordes junto aos parceiros dos novos negócios.
O comerciante está convencido de que a lógica é a arte de provar à vontade o verdadeiro e o falso; foi ele que inventou a venalidade política, o comércio de consciências, a prostituição dos talentos, a corrupção da imprensa. Sabe encontrar argumentos e advogados para todas as mentiras, todas iniquidades. Somente ele nunca se iludiu sobre o valor dos partidos políticos: julga-os todos igualmente exploráveis, isto é, igualmente absurdos... PROUDHON, P.-J., Filosofia da Miséria, Tomo I: 351.

A arrecadação do PT, PSDB, DEM e PMDB explodiu em 2008 com doações recebidas de empresas que exacerbaram, no ano passado, o mecanismo usado para ocultar a identificação dos reais financiadores dos candidatos a cargos públicos. Folha
Garantiu-me senhor do século passado: "Quando alguém chegar no topo sem anel de doutor, provará minha razão: o estudo pode até ser bom, mas não tem importância, não."  Vero. Mas por qual minerva ele deve ainda pagar o mico, em detrimento do enorme quadro que detém?  Pois negócio assim, nem na China tem..
A alegação é dobrar seu espaço de TV, caso ceda posto à grei que lhe é estranha, porque futura companheira de gerenciamento do Tesouro Nacional. É "para inglês ver", mas tem razão. A "Lei Eleitoral", costurada pelos maiores partidos, subroga-lhes o direito de maior espaço na mídia. Deveria ser o contrário. Os maiores, por demais conhecidos, nem precisam aparecer na TV. Teríamos que suportar os mimosos nanicos, mas a pergunta que se impõe é a seguinte: que absurdo critério permite o registro desses partidecos de gozação, os quais temos de esconder das crianças para elas não pensarem que todo mundo é idiota?.
Em 2008, o senador José Sarney voltou a ser manchete, principalmente das páginas policiais, quando revelada a organização criminosa da qual seu filho fazia parte. Para não deixar o filho ir para a cadeia, ele teve de disputar no ano seguinte a presidência do Senado. Foi preciso colocar a cara para bater. O poderoso coronel voltou para dar forças aos filhos, para salvá-los..
Não estamos falando de meras eleições legislativas, mas deste marco de suma importância verdadeiramente capital, único posto, por acaso considerado ápice, cujo número de candidatos paradoxalmente é insignificante, de dígito. Vamos eleger um Presidente da República, não um grupelho. Não se vota em partido, mas sim em candidato. Parece óbvio que qualquer inscrito ao Grand Prix deva ser tratado em igualdade de condições, independentemente do tamanho de sua equipe, ou de seus patrocinadores, Quando um partido abdica do seu tempo por falta de candidato, ou seja, no jargão turfístico, quando o potro apresenta forfait, por que ele pode auferir rendimento, ou influenciar o pleito executivo? Mas, dizia, a primeira alegação será esta: o espaço na TV, cedido pelo amarelado-comprado. O que lhe move, contudo, exatamente por ser patrão, são vários outros fulgurantes motivos, além de dezenas de menores. Primeiro, elimina do páreo das raridades um dos mais fortes contendores. De brinde, leva o silêncio de quem teria a obrigação de se opor às barbaridades que se tem cometido no cockpit. No começo eles até caçoavam - era coisa de bebum de 51. Agora todos se deliciam no espumante francês.
Outro partido, contudo, possuia ilustre presidenciável, cidadão com folha de serviços prestados ao seu Estado e à Nação. Sua candidatura simplesmente foi vetada porque seu partido também já havia negociado com o patrão. Coisa entre chefes de sindicatos. Um ex-presidente da República, recém ingresso neste partido, contentou-se com a honrosa chance no legislativo, e aplaudiu a canhestra decisão. Por certo encerrará com chave-de-ouro sua ilibada trajetória.
O homem moderno, no entanto, especialmente nas democracias, considera-a, a política, uma atividade suspeita. Pode-se dizer que desde os tempos de Maquiavel, com sua máxima de que os meios justificam os fins, e do Cardeal Mazarino, que acreditava ser a política um jogo de torpezas, ela passou a ser mal vista, pelo menos mais do que em épocas anteriores. SCHILLING, Voltaire, Apresentação.
Objetivo social de partido político na democracia é conquistar o poder através do voto direto. O objetivo pessoal das lideranças partidárias também, mas quanto mais diretamente, melhor. Diferentemente dos partidos, todavia, que podem cruzar gerações, pessoalmente temos a vida breve,. E como os fins justificam os meios, quando se desenhar o fim, descarta-se o meio. O partido é apenas táxi, meio, não expressão eleitoral.

A gente pode se manter por vários negócios, mas partidos vivem de votos. Qualquer um que que não tenha interesse ou possibilidade de apresentar seu candidato, perde a própria razão social. Se o procedimento for repetido, não lhe assiste nenhum motivo para continuar existindo, a não ser como fachada de arrecadação financeira.
O Senado é os que aqui estão. Reconheço que, ao longo da nossa vida, muitos se tornaram menos merecedores da admiração do país, mas não a instituição. SARNEY, J., cit. DORIA, P. Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney
O resultado dessa barafunda criada pelos estelionatários do plano cruzado*, ainda soltos e comandando tudo, é que teremos apenas duas candidaturas, entre duzentos milhões de brasileiros. A primeira cabe a subalterna aspirante a interina, designação do chefe neocaudilho até seu retorno, a tempo de curtir as olimpíadas na raia do pré-sal. "Vai ser a primeira eleição de Presidente que meu nome não estará na cédula. Vai ter um vazio lá. E para não ter esse vazio, eu resolvi mudar de nome. Agora sou 'Dilma'." ( LUÍS INÁCIO DILMA DA SILVA, Presidente do Brasil.)
Seu sparring é fruto da combinação de meia-dúzia de partners do triste espetáculo. Nada de novo no front
PT e PSDB não compartilham apenas a política econômica. Suas campanhas presidenciais compartilharam também os financiadores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Dezenove empresas, a maioria delas com interesses no governo, investiram R$ 54,1 milhões na disputa eleitoral. O Banco Itaú, por exemplo, apostou igual em ambos os 'cavalos'. www.claudiohumberto.com.br 6/4/2009
A reforma na política e o mensalão
São pessoas físicas que compõem a Nação, e não jurídicas, partidos políticos. No Legislativo, especialmente, uma casa parlamentar, por qual razão seus integrantes operam segundo os interesses da  grei que lhes permitiu a candidatura,   jamais do eleitorado apartidário que os elegeu?  Com os dois "cavalos" assim comprometidos, os restantes cento e noventa e nove milhões, novecentos e noventa e poucos mil patetas saírão de suas casas, com chuva ou com sol, morando perto ou longe, à pé, de bicicleta, de barco, carroça, à cavalo, de moto trem ou avião, para usufruir da liberdade de votar em quem quiser, desde que seja em algum da parelha.patrocinada.
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais. (Schwartzenberg: 320) 

A massa se rege por sentimentos, emoções, preconceitos, como a psicologia social já demonstrou exaustivamente. A opinião das massas formando a opinião pública será por conseqüência irracional. Não se iluda o publicista democrático a esse respeito, cunhando a expressão agora uso corrente no vocabulário político da propaganda: o ‘estereótipo’, ou seja o ‘clichê’, a ‘frase feita’, a idéia pré-fabricada, que se apodera das massas e elas, numa economia de esforço mental, como diz Prelot, aceitam e incorporam ao seu ‘pensamento’, entrando assim a constituir a chamada ‘opinião pública’. BONAVIDES, P.:45
Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121. 
Valor de emendas parlamentares sobe 371% em 6 anos
O futuro da democracia Deputados, senadores, ministros, políticos, enfim, possuem funções objetivo distantes do anseio de seus eleitores. Os representantes do povo buscam sempre maximizar votos e, na maior parte dos países, aumento do patrimônio pessoal. Políticos profissionais são a expressão maior de tudo o que degenera a democracia plena. São populistas quando podem ser e conservadores quando o momento exige. Colhem os sentimentos de multidões e transformam em legislação. 
"A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor." (Pipes:251)
A alternativa restante é que vem ganhando inédita e maciça adesão:

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* "Nem preferido da mãe, nem preferido do pai, José Sarney Filho, o Zequinha, filho do meio, é pesado de carregar. Foi ministro do Meio Ambiente de Fernando Henrique Cardoso, e mais nada." Um livro arrasador, na mesma linha de “Memórias das trevas – uma devassa na vida do senador Antonio Carlos Magalhães,do jornalista João Carlos Teixeira Gomes. www.poracaso.com

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