quarta-feira, 2 de junho de 2010

O pai de Jesus Cristo

Se é difícil olhar, por um instante, para o semblante da morte que ameaça paralizar o nosso braço, mais difícil ainda é resistir, durante toda uma vida, aos prejuízos e rotinas que ameaçam asfixiar a nossa inteligência.
OS VALORES MORAIS - O Homem medíocre, de José Ingenieros
O grego FLAVIUS VALERIUS CONSTANTINUS, latinizado CONSTANTINO I, CONSTANTINO MAGNO, ou CONSTANTINO, O Grande (272 -337) ganhou título de AUGUSTO em 306 à missão de recuperar a hegemonia do Império Romano.
Constantino teve uma boa educação - especialmente por ser filho de uma mulher de língua grega e haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilingue própria da elite romana - e serviu no tribunal de Diocleciano depois do seu pai ter sido nomeado um dos dois Césares, na altura um imperador júnior, na Tetrarquia em 293.
O que ele fez foi levar o trono para casa. O Grande trocou Roma por Bizâncio, decretou o grego além do latim como língua oficial, e alterou a designação de imperador. Queria ser chamado de basileu, doçura em remessa à basílica, não ao quartel. O primeiro Papa. Pronto.
O Primeiro Concílio de Niceia (cidade da Anatólia, hoje İznik, parte da Turquia) durante o reinado do imperador romano Constantino I, o primeiro a aderir ao cristianismo. Considerado como o primeiro dos três foi a primeira conferência de bispos ecuménica (do Grego oikumene, mundial) da Igreja cristã. Lidou com questões levantadas pela opinião Ariana da natureza de Jesus Cristo: se uma Pessoa com duas naturezas (humana e Divina) como zelava até então a ortodoxia ou uma Pessoa com apenas a natureza humana.
Embora algumas obras afirmem que no Concílio de Niceia discutiu-se quais evangelhos fariam parte da Bíblia não há menção de que esse assunto estivesse em pauta, nem nas informações dos historiadores do Concílio, nem nas tres Atas do Concílio - o Símbolo dos apóstolos, os cânones, e o decreto senoidal. O Cânone Muratori, do ano 170, portanto cerca de 150 anos anterior ao Concílio, já mencionava os evangelhos que fariam parte da Bíblia. Outros escritores cristãos anteriores ao Concílio, como Justino, Ireneu, Papias de Hierápolis, também já abordavam a questão dos evangelhos que fariam parte da Bíblia.*
A nova figura levava grande vantagem sobre o primitivo HADES. CRISTO poderia ser aferido, por visível, ainda em vida. Não necessitava a morte do corpo para o ser humano conhecer sua alma, como pretendeu SÓCRATES ao cair no conto de HADES. 
A Igreja Católica Romana utilizou , a partir do ano 400 d.C., isto é, desde que "conheceu" a mitologia grega através de PLATÃO, a versão chamada Septuaginta. O Novo Testamento (do grego: Διαθήκη Καινὴ, Kaine Diatheke)Bíblia cristã, arquitetada a partir de uma suposta tradução de escritos hebraicos para o grego, feita antes mesmo do fechamento do cânone hebraico na tradição judaica. Assim, a segunda parte da Septuaginta inclui material estranho à Bíblia Hebraica, fontes diferentes e divergentes, inclusive do original já talhado em grego.
O problema era justamente encontrar um modo de conciliar a divindade de Jesus Cristo com o dogma preferencial de um único DEUS, e ao mesmo tempo humano, compondo uma Trindade Santíssima. Eis a razão do concílio.
Não é incomum o vêzo de simular aptidões e qualidades consideradas vantajosas, para colorir a sombra do cenário querido. Qualquer ideologia** busca mascarar, pintar a realidade de acordo com o interesse, com a conveniência do pintor. E para tanto, valem todos os recursos - números, arranjos estatísticos, publicidades, sistemas educativos, elaboração de contrastes, terrorismos, ameaças e seduções, aglutinação e apresentação de prosélitos, metáforas e variados jogos de cena. A história registra, contudo, sempre se abater algum vento inesperado, forte para levantar a saia do travestido. Pois este exíguo engenho está na hora de perder o seu vestal de tecido palimpsesto, plágio estendido em requintados artifícios, subterfúgios e defesas, na esperança de salvo-conduto. A criativa solução foi de encontro aos anseios dos novos dominadores. A votação final foi 300 votos a favor da divindade de CRISTO, contra 2 desfavoráveis.
Como poderia o primeiro cristão desconhecer que seu estandarte subira aos céus, ressuscitado às vistas de algumas testemunhas, sem vestígio na sepultura há apenas tres dias de sua morte? Subsiste a resposta: era a única maneira do Primeiro Concílio de Niceia conciliar a natureza humana com a divina, a excepcional, a única. Dessarte o "pai de Jesus" estipulou também a Páscoa, celebrada no domingo seguinte aos plenilúnios após os equinócios da primavera.
CONSTANTINO leu a obra completa de PLATÃO (República: 361) e recuperou o estandarte: "Se o justo aparecer na terra, será açoitado, atormentado, posto em cadeias, cegado de ambos os olhos, e, finalmente, depois de todos os martírios, pregado numa cruz, para chegar á compreensão que o importante neste mundo não é o ser justo, mas parecê-lo." 
"Segundo Eusébio de Cesaréia, o primeiro historiador da igreja cristã, falecido em 341, foi o próprio imperador CONSTANTINO, O Grande, quem lhe confessou ter tido as duas visões que o convenceram de que Cristo o escolhera para missões extraordinárias." Mimoso. A coincidência do primeiro historiador surgir somente depois de tres séculos, no local e no tempo de CONSTANTINO, e ainda assim não muni-lo já não digo com o Novo, porque ainda não elaborado, mas sequer com o Velho Testamento, já seria mais do que suficiente para falsear essa estória. O que me diz a Wiki sobre este notável coadjuvante?
Tornou-se amigo de Pânfilo, com quem teria estudado a Bíblia, com a ajuda da Hexapla de Orígenes e de comentários compilados por Pânfilo, na tentativa de escrever uma versão crítica do Antigo Testamento.
Sim, "teria estudado a Bíblia" ainda com ajuda, e somente o Velho Testamento? Mas e o Novo, motivo pelo qual se debatia como Cristão, e que elevou e manteve CONTANTINO no trono? Só se o Novo ainda não existisse...
"Efectivamente, parece que um dos manuscritos da Septuaginta, preparado por Orígenes, terá sido trabalhado e revisto pelos dois, a crer em Jerónimo."
Ah tá. Mas a julgar pelo estilo dialético, de ponta a ponta, sugerindo mesmo uma costura, e considerando o amigo de HEXAPLE semi-analfabeto, não vejo heresia em incluir SANTO AGOSTINHO como roteirista preponderante da novela bíblica. É duro, mas fazer o quê? Há muito mais. De antemão cogito a óbvia heurística: JESUS CRISTO não passa da diabólica invenção, ao fito de satisfazer os torpes caprichos inpunemente, irresponsavelmente, porquanto esta responsabilidade só é exigível post mortem. À la SÓCRATES. Ironicamente, o que PLATÃO nunca quis.
Para cumprir suas elevadas missões, o iluminado CONSTANTINO não se furtou em promover incontáveis crimes, entre registrados e incontáveis não descritos, mas presumível pelas batalhas. O contador da estória da cruz primeiro se desvencilhou da mulher; em seguida, casou com a filha de sete anos de idade do Imperador em exercício, obteve apoios no usurpador africano LÚCIO DOMÍCIO ALEXANDREA, cortou o suprimento de trigo à Roma, mandou matar o novo sogro, liquidou com o cunhado,e por fim também destinou a garota já adulta ao condomínio familar, à sete-palmos de fundura.
E assim se despachou o credo das trezentas sumidades, o novo ícone romano, forte para receber o apoio quase unânime de todos que jamais ouviram falar nisso tudo:
Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. Mas quantos àqueles que dizem: 'existiu quando não era' e 'antes que nascesse não era' e 'foi feito do nada', ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus é uma hipóstase ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e mudança, a estes a Igreja Católica anatematiza.
O exemplo ainda mais fulgurante dessa falsidade ideológica viria sob os auspícios da Renascença, encenação que vemos repetida diariamente, a todo instante, em cadeias de rádios, televisões e jornais, tudo sob concessão governamental:
O mundo barroco pode ser descrito também como um grande teatro, onde cada homem deve ocupar o seu lugar. O mais belo dos teatros é o centro do mundo católico romano: a praça de São Pedro em Roma. A literatura, as artes, a filosofia giram em torno de Deus, de suas exigências e da salvação.
JAPIASSÚ, H., 1997: 81
Não é frequente o caso em que a manipulação ideológica da religião com fins políticos é o catalisador real de tensões e divisões e, às vezes, da violência na sociedade?
PAPA BENTO XVI.
Folha de São Paulo, 9/5/2009
Bidú. A participação eclesiástica na sociedade, portanto na política, é de sua função primordial:
A interpretação religiosa assenta nessa mesma biguidade: una est religio in rituum varietate, proclama Ficino, que, na Teologia Platônica – título revelador – desenvolve o acordo entre o platonismo e o cristianismo. ‘Eis a razão porque, quem quer que leia seriamente as obras de Platão, nelas encontrará, evidentemente, tudo, mas em particular essas duas verdades eternas: o culto reconhecido de um deus conhecido e a divindade das almas, onde reside toda a compreensão das coisas, toda a regra de vida e toda a felicidade. E tanto o mais que, sobre estes problemas, a maneira de pensar de Platão é tal que, de entre outros filósofos, foi a ele que Agostinho escolheu para modelo, como sendo o mais próximo da verdade cristã, afirmando que, com pequenas alterações, os platônicos seriam cristãos.’
Que sentença penal merecem esses que ludibriam gerações e mais gerações, per seculum ad seculorum?
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Nota
* É improvável que este trio formulasse algo ligado a JESUS CRISTO.
Justino, nasceu em Flávia Neápolis (atual Nablus), na Síria Palestina ou Samaria. A educação infantil de Justino incluiu retórica, poesia e história. Como jovem adulto mostrou interesse por filosofia e estudou primeiro estoicismo e platonismo.
JUSTINO, nascido um século depois de CRISTO, "foi introduzido na fé diretamente por um velho homem que o envolveu numa discussão sobre problemas filosóficos e então lhe falou sobre Jesus. Ele falou a Justino sobre os profetas que vieram antes dos filósofos, ele disse, e que falou "como confiável testemunha da verdade". Eles profetizaram a vinda de Cristo e suas profecias se cumpriram em Jesus. JUSTINO, convencido de que a filosofia grega tende para Cristo, abraça a causa.
Ora, a filosofia grega tinha até estipulado, por
PLATÃO, a vinda do justo. Seria este o profeta?
Ou seja - até agora, pelo menos, nada havia de Sagrada Escritura, pelo menos o Novo Testamento.
De Santo Ireneu de Lião há escassa informação e muitas coisas são pouco exatas. Teria nascido na Asia proconsular, pelo menos em alguma província em seu limite, na primeira metade do século II. Não se sabe a data certa de seu nascimento. Está entre os anos 115 e 125, ou entre 130 e 142 segundo outros autores. Fora de questão, pois.
E de Papias de Hierápolis (c.e 65 - 155 d.C), então, nem falar. "Infelizmente restaram apenas as citações de Eusébio da obra de Papias, que desapareceu por volta de 1341 dos catálogos da Biblioteca de Estames, um mosteiro cisterciense."

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Para Karl Marx a ideologia é instrumento de dominação que age através do convencimento (e não da força), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica Frankfurtiana consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Por isso, a ideologia cria uma “falsa consciência” sobre a realidade que visa a modo de suprir , morder e reforçar e perpetuar essa dominação. (Wikipédia)

Um comentário:

  1. A ciência deve começar com os mitos e com a crítica dos mitos.-
    Karl Popper

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